Para aquele que se aventura a investigar o conflito no Oriente Médio, o desafio não é pequeno. O tema é atual e delicado, envolve muita dor, angústia e temores.
Narrativas nacionalistas e unilaterais deturpam os fatos e disputam a imaginação da opinião pública mundial. Por isso, mais do que narrar, é preciso permitir que cada qual construa sua própria visão, consciente e lúcida, dos acontecimentos.
Alguns esclarecimentos se fazem necessários. Primeiro, o conflito assume feições cada vez mais religiosas na medida em que crescem os fundamentalismos na região, tanto o judaico como o islâmico. Mas suas causas não são religiosas.
Segundo, o conflito se alastra há muito tempo, mas não é milenar. A civilização islâmica caracterizou-se pela tolerância em relação ao judaísmo e ao cristianismo, permitindo que houvesse minorias religiosas vivendo pacificamente no Islã.
Salvo raras exceções, muçulmanos, judeus e cristãos sempre conviveram nos diferentes Estados islâmicos, desde o advento do islamismo em 622 d.C. até o final do Império Otomano - islâmico - em 1918......
Terceiro, as designações de “árabe” e “islâmico” são distintas. Ser árabe refere-se a uma etnia e cultura. Árabe é a aquele que fala a língua árabe e vive em um dos 22 países árabes existentes. 90% dos árabes são islâmicos, mas na realidade podem professar qualquer religião ou mesmo ser ateus.
Antes da criação do Estado de Israel, em 1948, havia árabes judeus vivendo em todo o Oriente Médio e norte da África. Chegavam a constituir 5% da população da Palestina. Falavam a língua árabe, tinham uma cultura árabe mesclada às tradições judaicas próprias, e conviviam pacificamente com os árabes islâmicos e cristãos do Islã.
Ainda hoje, o Irã, que não é árabe, mas persa, possui a maior comunidade judaica do Oriente Médio. São judeus que vivem no Irã há dezenas de gerações e muito se orgulham de sua cultura persa milenar. A convivência milenar se evidencia no templo de Sara Khatoon, na província de Isfahan, compartilhado por judeus e muçulmanos.
Por fim, dois esclarecimentos; primeiro, o povo palestino é árabe. Mas cada país árabe é diferente do outro. Palestinos não são sírios, nem poderiam ser libaneses, egípcios ou mesmo jordanianos, quanto mais sauditas, tunisianos, ou marroquinos. Segundo, e não menos importante, ser judeu nem sempre equivale a ser israelense. Tradicionalmente falando, o judaísmo refere-se a uma religião, cultura e comunidade. Existem mais judeus vivendo fora do que dentro de Israel.
Arlene Clemesha, via Com textolivre
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