Em vez de me preocupar com a possível batida de carteira que todos achavam que Barack Obama tinha vindo dar em nós, como sempre soeu os norte-americanos fazerem por aqui, o que me deu vergonha alheia (ou seria própria?) foi o noticiário sobre o significado até de um arquear de sobrancelhas do presidente ianque no que se refere à “aspiração” brasileira de integrar, permanentemente, o Conselho de Segurança da ONU.
Li longas teses discorrendo sobre Obama ter dito que tem “apreço” pela nossa “aspiração”. Foi como se estivessem tentando decifrar o enigma das esfinges egípcias ou significados ocultos das Tábuas da Lei trazidas por Moisés do cimo do Monte Sinai. Pareceu que o futuro deste país dependeria de o “homem mais poderoso do mundo” dar ou não sua benção à tal “aspiração” brasileira, benção que dependeria do nosso “comportamento”.
Qual é, porém, a importância do Conselho de Segurança da ONU? O que, de prático, o Brasil ganharia integrando-o de forma permanente?
Além do prestígio de estar entre os membros permanentes, que hoje são cinco – Estados Unidos, França, Inglaterra, Rússia e China –, não sei dizer o que mais nos pode trazer integrar uma instância que, em 2003, foi sumariamente ignorada pelos EUA quando o genocida que ocupou a presidência daquele país antes de Obama decidiu invadir o Iraque à revelia da resolução do CS negando autorização para tanto.
Trata-se, pois, de uma vaidade brasileira. Ok, haveria prestígio. Só não sei o que faríamos com ele. Do ponto de vista econômico, por exemplo, não nos daria nada. Do ponto de vista estratégico, tampouco. Ou alguém acha que Rússia ou China recebem dos Estados Unidos alguma deferência política ou estratégica por integrarem o CS? Pelo contrário, os ianques têm mais reservas em relação a esses países do que em relação ao Brasil.
E para não dizerem que não falei de flores, tampouco sei de alguma coisa relevante que adveio da visita de Obama. Alguns acordos bilaterais e só. Nada que merecesse uma boa matéria de jornal. Concessões no comércio deficitário com os EUA? No way. Obama veio pedir, não dar. O que vale daqui para frente, portanto, é acompanhar se não haverá alguma “abertura de pernas” para os EUA visando acalmar essa mídia tão apaixonada pelo Tio Sam.
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