Semana passada vimos a primeira pesquisa de popularidade, do Datafolha, mas sem os detalhes. Muito mais interessante é analisar a pesquisa completa, pouco divulgada mas disponível aqui: (vale ler o relatório, tabelas completas estão disponíveis para download também.)
Muitos acham a participação de Dilma em programas populares uma concessão às classes médias e/ou à mídia tradicional. Mas não será marketing político para segmentos com menor hábito de consultar a mídia impressa? Por outro lado, já nas eleições se percebia a menor relutância nos segmentos de maior renda e maior escolaridade em apoiar a Presidenta.
A segmentação das intenções de voto em 2006 e 2010
Desde a eleição sabemos que Dilma é menos popular que Lula (o que é óbvio.) Enquanto este obteve 61% dos votos válidos em 2006, frente a Alckmin, ela recebeu 56%, frente a Serra, não houve transferência total da popularidade de 83%......
As pesquisas eleitorais apontavam para isso, em quase todos os recortes sócio-demográficos Dilma recebia 5 ou 6% menos de intenções de voto que Lula (última coluna da 1ª. tabela.) As vantagens de Lula sobre Alckmin, em torno de 22%, reduziram-se, para Dilma, a 10 a 12%.
Mas as pesquisas também mostravam algo muito relevante: essa diferença entre os candidatos petistas era tanto menor quanto maior a renda, escolaridade ou proximidade ao Centro-Sul e idade entre 35 e 60 anos. Em outras palavras, grupos que alguns presumem como com maior acesso e/ou interesse por noticiário.
Nesses segmentos Lula (2006) deve ter tido no máximo 5% a mais de votos válidos que Dilma (2010). No nível superior de escolaridade e renda acima de 5 s.m., provavelmente apenas 3% (como as pesquisas Datafolha de véspera em ambas as eleições ficaram muito próximas do resultado final, assumimos suas partes como inferência do voto segmentado.) Já no Nordeste ou na população em famílias até 2 s.m. de renda Lula teve até 9 pontos mais de intenções de voto que Dilma!
Na apuração da eleição (2º turno), os 45.9% de Dilma em SP, por exemplo, foram significativamente semelhantes aos 47.7% de Lula em 2006 (e apenas 2%, ou 240 mil, menos votos). O contraste é o Nordeste: os 22.8% de Alckmin saltaram para 29.4% com Serra! (quase 30% a mais, ou 2 milhões de votos).
Há preconceituosos que podem dizer “o Nordeste elegeu Dilma” ou “o Centro-sul é conservador” (isto também é imagem pré-concebida), mas da comparação entre eleições sabemos que o Centro-sul (SP, Sul, Centro-Oeste) quase não se mexeu e o Nordeste (+ parcelas de MG e Norte) foi quem trouxe quase todo o crescimento eleitoral da campanha tucana!
Assim, não importa muito saber que na classe média de SP Serra ganhou com folga (em bairros da capital chegou a 80% dos válidos) e que em quase todas as microrregiões do Nordeste Dilma ganhou, isso era o esperado. Temos sempre é que acompanhar como as coisas se deram comparativamente à situação anterior e Dilma não foi, na eleição, menos popular (ou menos votada), junto às classes médias, do que Lula tinha sido em 2006. Nem nos estados de maior renda. E mesmo com a campanha tendo sido como foi (mas foi menos votada do que uma hipotética 3ª. eleição de Lula).
Conhecimento de um candidato é algo ainda muito importante se a população não for muito politizada, sindicalizada, etc. Quem pode ter ficado em desvantagem nesse processo todo talvez tenha sido a credibilidade da mídia junto a seu público, não a da candidata governista. Salientamos esses números para demonstrar que a campanha desconstrutiva de imagem (de Dilma) ou o promessômetro tiveram muito maior impacto nos grupos com menor renda.
Essa avaliação é mais para “marqueteiros”, mas pensemos: se nas parcelas atingidas pela “velha mídia” Dilma obteve votação parecida com a de Lula e se nas parcelas com menor acesso à imprensa escrita o resultado ficou bem aquém (ainda que bom), porque se questiona tanto, agora, a participação de Dilma em programas populares? Ou seja, 2014 já está em curso...
As pesquisas de popularidade de primeiro trimestre de mandato
Vamos comparar as pesquisas de aprovação de presidência de começo de mandato (Lula 20/mar/2007; Dilma 16/mar/2011.) [2ª. tabela]
Para Dilma em mar/2011 o “ruim/péssimo” foi apenas 7%, o menor nível obtido por um presidente em início de mandato (Collor 19%, FHC-I 16%, Lula-I 10%). Sem ter tido tempo de mostrar nada de tão excepcional em políticas públicas (a Rede Cegonha foi só hoje, p.ex., Lula havia lançado o Fome Zero antes da pesquisa) essa ausência de reprovação pode ser atribuída à manutenção da sensação de bem-estar divulgada na campanha. Só uma hipótese. Mas reforçada pelas expectativas: 78% apostam que o governo será pelo menos bom ao longo do mandato.
As “classes médias”: embora Lula, em mar/2007, tenha recebido boa avaliação geral, ele chegou a 24% de “ruim/péssimo” na avaliação das pessoas com ensino superior , 20% entre aqueles com mais de 5 e até 10 s.m. de renda, 26% naqueles com mais de 10 s.m. de renda. No Sul/Sudeste chegava a 18% de desaprovação. Tudo isso em comparação com a desaprovação média nacional de 14% (Nordeste 8%).
Já para Dilma os números de “ruim/péssimo” de todos os segmentos foram bem próximos à média nacional de 7% : 8% no ensino superior, 6% na renda entre 5 e 10 s.m., 13% entre os mais ricos. Para Lula, portanto, a desaprovação ia de 26% (+ ricos BR) a 8% (Nordeste), uma diferença muito grande (18 pontos.) Já para Dilma os extremos são quase os mesmos, + ricos com 13% e Norte/Centro-Oeste com 6% (demais regiões 7%), mas apresentando apenas 7 pontos de diferença entre eles.
Note-se a aprovação por escolaridade: Lula teve 54% de apoio inicial junto aos eleitores com ensino fundamental e apenas 33% junto aos eleitores com curso superior. Para Dilma foi 50% e 42%. Uma diferença de 21 pontos reduziu-se a 8! No geral, portanto, tanto a aprovação como a desaprovação de Dilma são muito mais parecidas entre as várias regiões e recortes sócio-demográficos do que foram com Lula, dispersão bem menor em torno da média. Ainda vale a tese preconceituosa de que Dilma foi eleita pelos favorecidos pelo Bolsa-família ou pelos analfabetos? Esqueça-se o que circulou de agressividade no twitter e na internet no pós-eleições, marqueteiros olharão para dados em 2014, não para as manifestações precipitadas de 2010.
Virada feminina: no 2º turno Dilma recebeu 55% das intenções de votos masculinas e 47% das femininas, situação semelhante à de Lula em 2006 (61%; 55%.) Poderíamos esperar que uma primeira pesquisa acompanhasse as urnas, já que tão pouco tempo decorreu (normalmente quem votou “aprova” e vice-versa). No entanto, agora, somente 43% dos homens aprovam o governo de Dilma vis a vis 51% das mulheres (com Lula em março/2007 foi o contrário: 51%; 45%). Somando as diferenças, que são em direções opostas, a aprovação de Dilma é 14 pontos mais feminina que a de Lula (em início de 2º mandato); isso é uma substancial novidade que não se percebe olhando apenas os índices globais de 47 e 48% que eles receberam. A que se deveria?
Importância do conhecimento em todos os segmentos: é claro que agora o nome Dilma é conhecido, já na altura da eleição apenas 2% dos eleitores ainda não sabia quem seria “candidato do Lula/PT”. Mas isso não quer dizer que todos tenham, depois, tomado conhecimento do governo. As aparições de Dilma são mais discretas, o que acaba se estendendo às ações de governo. Quando se perguntou o que se achava do governo do presidente Lula, este recebeu 7% de “não sabe” em 31/mar/2002 e apenas 1% em mar/2007. Já Dilma atingiu um recorde para uma primeira pesquisa: 12%.
Isso se dá até de modo homogêneo: 13% dos com ensino fundamental, 15% dos com ensino superior, 12% dos com renda até 2 s.m., 11% dos com renda superior a 10 s.m. não sabem avaliar o novo governo. Por pesquisas seguintes de outros presidentes a tendência é esses percentuais deslocaram-se primeiro para uma posição de “regular”, em um período seguinte irem para a desaprovação (quando as expectativas deixam de ser atendidas.) Acompanhemos, pois.
Considerações finais
As tabelas mostram dados para as pesquisas de véspera das eleições e as primeiras pesquisas de popularidade. Em rosa os segmentos onde Dilma se saiu relativamente melhor que Lula.
No geral o Nordeste é bem menos “dilmista” do que foi “lulista”, a aprovação caiu, entre presidentes, de 59 para 50%, mas a desaprovação apenas de 8 para 7%. O Sul é o oposto : a aprovação foi dos 36% de Lula para os 44% de Dilma, a desaprovação caiu substancialmente, de 18% para os mesmos 7% do Nordeste. Como as demais regiões são intermediárias dessas duas citadas, o que temos é um país bem mais homogêneo na apreciação do trabalho da presidenta, o que já se antecipava na pesquisa de véspera de eleição: Dilma teria 9% menos de preferência no Nordeste que Lula e somente 2% a menos no Sul (os dados oficiais das urnas ficaram muito próximos disso.)
Como dito antes, a hipótese é que a campanha eleitoral difamatória e/ou o promessômetro tiveram bem maior impacto no Nordeste do que no Sudeste e Sul. Se isso for verdadeiro, Dilma poderá ter um bom espaço para aumentar sua popularidade no Nordeste e em MG (e portanto na média do Brasil) quando, entre outras coisas, o S.M. de R$ 625 for anunciado em jan/2012.
Em resumo, Sudeste, Sul, mulheres, pessoas com ensino médio e superior, pessoas com renda acima de 5 s.m. são mais “dilmistas” agora do que foram “lulistas” há 4 anos atrás. Isso já se percebia desde as eleições, mas as mudanças mais dramáticas de lá para cá, percebidas pela pesquisa, foram Sul, mulheres e ensino superior, pois para estes segmentos Dilma obteve um gap de aprovação (ótimo/bom deduzido de ruim/péssimo) pelo menos 15 pontos maior que o de Lula, sendo 25 pontos de diferença na escolaridade superior! (47 na média é bem diferente de 48 ;)... ). Observe-se nas células em amarelo como a popularidade de Dilma é algo muito mais homogêneo e distribuído do que havia sido a de Lula.
Se para tais segmentos a redução do preconceito ou uma postura menos agressiva da mídia pode ter contribuído para maior popularidade de Dilma, por que o mesmo não ocorreu em regiões menos ricas, com pessoas de menor renda e/ou escolaridade? Frustração por não haver salário mínimo de R$ 600 ou, talvez, a ainda pequena exposição junto ao eleitorado?
Aguardemos as aparições de Dilma em programas na TV, as medidas de governo que forem sendo tomadas - e divulgadas, a postura da mídia e, enfim, uma nova rodada de pesquisas (que deve ocorrer entre junho e agosto).
Gunter ZibellBy: Nassif
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