Os que criticaram Lula por visitar Cuba ou por abraçar o presidente do Irã alegando que os dois países violaram direitos humanos condescenderam com os golpistas hondurenhos que todos viram mandarem suas forças de repressão espancarem, torturarem e matarem a expressiva parcela da população de Honduras que saiu às ruas para protestar contra a derrubada do então presidente Manuel Zelaya.
Meios de comunicação, políticos e cidadãos comuns que apoiaram o golpe em Honduras de forma mais ou menos clara também comemoraram a vitória suspeita dos simpatizantes dos golpistas hondurenhos em uma “eleição” sem observadores internacionais reconhecidos e que, até agora, quase nenhum país reconheceu oficialmente, sem falar que o novo governo de Honduras está mantendo a repressão à oposição tanto quanto no Irã ou em Cuba.
Como entender que esses que tomaram todos os grandes jornais, tevês, rádios e portais de internet com questionamentos a Cuba tenham se abstido de criticar Israel durante o recente extermínio de centenas de crianças pelo regime israelense na Faixa de Gaza ou que, no Brasil, apóiam tortura e condições carcerárias desumanas contra favelados oriundos de famílias miseráveis e desestruturadas que mergulham no crime?
Não, eles querem que o regime cubano solte todo preso que fizer greve de fome. Mas será que condenariam os golpistas hondurenhos se estes tivessem conseguido prender Manuel Zelaya e ele fizesse a mesmíssima greve de fome?
O regime cubano alega que os aprisionados colaboraram com os Estados Unidos em suas ações anticastristas na ilha caribenha. Pode não ser verdade, mas não entendo que a blogueira cubana Yoani Sánchez, residente em Havana, faça ataques reiterados ao regime que não toleraria divergência e não seja aprisionada.
Aliás, é bom lembrar que a blogueira denunciou, recentemente, supostas agressões físicas do regime cubano que teria sofrido junto com seu marido e que teriam tido a intenção de intimidá-la, mas a denúncia foi desmascarada por Frei Betto em artigo censurado pela grande mídia.
Não sei o suficiente sobre Cuba para opinar. Como já disse um milhão de vezes neste blog, acho praticamente impossível que um regime de um país paupérrimo sobreviva por cinqüenta anos, tendo contra si a maior potência econômica e militar da história e toda a grande imprensa mundial, se não tiver apoio popular. E o fato de haver dissidentes do regime não significa que eles representem a maioria dos cubanos.
Prefiro, pois, não usar Cuba como parâmetro para o que acontece neste país. E muito menos o Irã, a Venezuela ou qualquer outra realidade que pouco tem que ver com a nossa. Esses cínicos da imprensa e dos partidos da ditadura militar no Congresso deveriam se preocupar mais é em acabar com a tortura no Brasil.
O governo Lula ocupou-se de Honduras porque absolutamente toda a comunidade internacional fez o mesmo. ONU, OEA, União Européia, enfim, toda a comunidade internacional se imiscuiu nas questões internas hondurenhas porque ali houve um golpe de Estado. Um presidente foi retirado da cama de pijamas e deportado nesses trajes sem nenhum processo legal, numa ação que deixou claro para o mundo o que houve naquele pais.
Estou certo de que a quase totalidade dos brasileiros pensa como eu. Ninguém está preocupado com Cuba, com a Venezuela, com o Irã, com Honduras ou com Israel. Essa avalanche midiática que tenta indispor Lula com seu povo por conta de assuntos que não lhe dizem respeito diretamente só serve para exercitar os fetiches ideológicos dessa direita que é entusiasta de tudo que diz combater.
Cuba, Venezuela ou Irã são muletas retóricas da direita midiática tupiniquim. Quando não tem o que dizer sobre os crimes da ditadura que sofremos aqui, saca logo um desses países da algibeira enquanto impede o contraditório. Fala de violações de direitos humanos em outros países para não ter que discutir as que acontecem cotidianamente no nosso.
Por; Eduardo Guimarães
Nenhum comentário:
Postar um comentário