sábado, 26 de dezembro de 2009

Direto do sopé

por Alain de Botton, em As Consolações da Filosofia

O cristianismo, segundo a exposição nietzschiana, brotou da mente de escravos tímidos do Império Romano, que não tinham fibra suficiente para escalar ao topo das montanhas, e assim construíram para si uma filosofia que elegia o sopé como o lugar ideal. Os cristãos haviam desejado desfrutar os verdadeiros ingredientes da satisfação (ascensão social, sexo, proficiência intelectual, criatividade), mas não tiveram coragem de enfrentar as dificuldades que tais privilégios exigiam.

Passaram, então, a modelar um credo hipócrita condenando o que almejavam, mas eram fracos demais para tentar obter e, ao mesmo tempo, glorificar o que não desejavam mas que possuíam por acaso. A impotência tornou-se "generosidade"; a inferioridade, "humildade"; a submissão a pessoas odiadas, "obediência"; e, segundo as palavras de Niietzsche, a "incapacidade de vingar-se" foi transformada em "perdão". Todo e qualquer sentimento de pusilanimidade era revestido de santidade e distorcido para parecer "uma conquista voluntária, algo escolhido, uma proeza, uma realização". Adeptos da "religião do comodismo", os cristãos, em sua escala de valores, haviam dado prioridade ao que era fácil, não ao que era desejável, e desta forma drenaram o potencial da vida.

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