por Luiz Carlos Azenha
O texto de Josias de Souza sobre a decisão de FHC de reconhecer o filho com a jornalista da TV Globo omite todas as questões essenciais:
1. Por que a mídia poupou FHC durante 18 anos, se o nascimento do filho era um segredo de Polichinelo?
2. Por que soubemos do filho de Renan Calheiros com uma jornalista quando a criança era bebê, mas do filho de FHC só soubemos "oficialmente" depois de 18 anos?
3. Por que soubemos da suspeita de que uma empreiteira ajudava a sustentar o filho bebê de Renan Calheiros mas nada soubemos sobre quem pagou as contas do filho de FHC durante 18 anos?
4. Quem pagou para manter o filho e a mãe do filho de FHC exilados na Europa durante 18 anos?
5. FHC comprou o silêncio da mídia?
6. A Globo recebeu vantagens para exilar mãe e filho na Europa?
7. O senador FHC exilou mãe e filho para poder concorrer à Presidência?
O texto de Josias de Souza a respeito é um exemplo acabado de jornalismo vagabundo. Ele apresenta um elenco de casos históricos, a maioria dos quais não tem qualquer similitude com o de FHC.
Ele não diz que a "aventura" de Lula foi de um homem então viúvo e que o Jornal Nacional, em 1989, colocou no ar uma reportagem com Miriam, a mãe de Lurian, acusando Lula de ter pedido que ela abortasse a filha, denúncia depois incluída também na propaganda eleitoral de Fernando Collor de Melo. Na ocasião, o jornal O Globo chegou a escrever um editorial pregando que o eleitor tinha O Direito de Saber.
Ninguém, de fato, está livre de seus "impulsos biológicos". Porém, pessoas distintas reagem de formas distintas. Alguns dão nome aos filhos, outros permitem que a criança seja registrada como de pai desconhecido (FHC), exilam mãe e filho na Europa (FHC) e contam com o acobertamento da mídia durante 18 anos (FHC).
Por que?
Segue o texto:
FHC vai reconhecer filho que teve fora do casamento
Fernando Henrique Cardoso decidiu reconhecer formalmente o filho que teve com a jornalista Mirian Dutra, da TV Globo. Deve-se a informação à repórter Mônica Bergamo. A notícia encontra-se nas páginas da Folha, edição deste domingo (15). Tomas Dutra Schmidt tem, hoje, 18 anos. Depois de consultar advogados, FHC voou, na semana passada, para Madri. É na capital espanhola que reside Miriam Dutra. Ouvido, FHC negou que tenha viajado para cuidar do papelório do filho.
Apresentou como motivo da viagem uma reunião do Clube de Madri. Procurada, Miriam resguardou-se: "Quem deve falar sobre este assunto é ele e a família dele. Não sou uma pessoa pública". A repórter e o ex-presidente tiveram um caso amoroso na década de 90. Ele era senador. Ela trabalhava na sucursal brasiliense da TV Globo. Do relacionamento resultou um filho. Nasceu em 1991. FHC e Mirian acordaram guardar segredo do episódio, mantendo-o na seara privada.
FHC era casado com Ruth Cardoso, com quem tivera outros três filhos: Luciana, Paulo Henrique e Beatriz.. Em 1992, Miriam deixou o Brasil. Virou “correspondente” da Globo em Lisboa. Antes de assentar-se em Madri, passara por Barcelona e Londres. Em 1993, convertido em ministro da Fazenda de Itamar Franco, FHC viu o sigilo sobre o filho extraconjugal converter-se num segredo de polichinelo. O nome de Thomas já corria de boca em boca nos subterrâneos da política. A despeito disso, Miriam sempre guardou zeloso silêncio.
FHC não se furtou a contribuir financeiramente para o sustento de Tomas. No curso dos dois mandatos como presidente, encontrou Tomás uma vez por ano.
Fora do Planalto, FHC passou a encontrar-se com o filho mais amiúde. No ano passado, participou da formatura de Tomas no Imperial College, em Londres. Hoje, Tomas mora nos EUA. Estuda Relações Internacionais na George Washington University. Informações de alcova sempre se imiscuíram no cotidiano da política.
Nos EUA, Clinton viu-se imerso numa crise nascida de um caso com uma ex-estagiária da Casa Branca. Antes, houve Kennedy, que se dividira entre Jacqueline e Marilyn. Houve também Roosevelt, que oscilara entre Eleanor e uma secretária. Na França, só à beira da morte Mitterrand trouxera à luz a amante Anne Pingeot, reconhecendo-lhe a filha. Entre nós, histórias de lençol são injetadas na biografia de homens públicos desde o Império.
Dom Pedro 1º impôs à imperatriz Leopoldina a marquesa de Santos, sua amante. Livro de João Pinheiro Neto menciona o amor secreto de Juscelino por Maria Lúcia Pedroso. Os diários de Getúlio Vargas falam de uma "bem-amada." Em 89, Collor trouxe para o centro da arena eleitoral Lurian, filha de uma aventura de Lula. Os petistas reclamaram da "baixaria". E logo se descobriria que Collor recusava-se, ele próprio, a emprestar o nome a um filho gerado fora do casamento.
No início de agosto de 1998, o PDT, então incorporado à coligação que dava suporte à candidatura presidencial de Lula recorrera ao mesmo expediente sujo. O partido de Brizola, vice na chapa do PT, lançara em sua página na internet artigo sobre o filho de FHC com a jornalista. Diferentemente do que ocorre nos EUA, no Brasil a conduta sexual não costuma ser levada em conta na hora da escolha de um presidente. Melhor assim, diga-se. O político, como o advogado, o jornalista, o operário ou qualquer outro, não está livre de seus impulsos biológicos.
É tolice associar a pulsão sexual ao desempenho funcional. Busca-se um presidente, não um santo. Apesar disso, os políticos brasileiros sempre hesitam em reconhecer a paternidade de filhos gerados fora do casamento. No caso de FHC, a hesitação durou quase duas décadas.
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