“O Trabalho na Uber é neofeudal”, diz o título de entrevista publicada no portal Sul21, em 13/05/2019. As palavras são do procurador Rodrigo de Lacerda Carelli, que integra o Grupo de Estudos “GE Uber”, do Ministério Público do Trabalho.
O grupo realizou um estudo sobre “as novas formas de organização do trabalho relacionadas à atuação por meio de aplicativos”. Para Carelli:
A estrutura da relação entre as empresas que se utilizam de aplicativos para a realização de sua atividade econômica e os motoristas se dá na forma de aliança neofeudal, na qual chama os trabalhadores de “parceiros”. Por ela, concede-se certa liberdade aos trabalhadores, como “você decide a hora e quanto vai trabalhar”, que é imediatamente negada pelo dever de aliança e de cumprimento dos objetivos traçados na programação, que é realizada de forma unilateral pelas empresas.
Ainda segundo o procurador:
...as ordens do empregador não são mais dadas diretamente por ele mesmo ou por um preposto qualquer. O preposto passa a ser o aplicativo.
(...)
Antigamente você xingava seu empregador porque ele não estava pagando um salário decente. Hoje em dia, os trabalhadores reclamam do aplicativo, do sistema. Ergueram uma parede entre o empregador e o trabalhador. O aplicativo consegue invisibilizar o empregador.
A comparação do entrevistado com o feudalismo faz algum sentido. Mas nas relações feudais, não havia nada de tão invisível. O servo sabia perfeitamente que reis e outros poderes o exploravam.
Tornar a exploração invisível é uma especialidade capitalista. Bem antiga, inclusive. O pagamento de salários por peças era uma espécie de “uber” do século 19. É a isso que estamos voltando.
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