Dizem que amigo verdadeiro é o que fala mal de você pela frente. Por esse critério, o Facebook estaria cheio de amizades genuínas. Mas vejamos o que diz Siva Vaidhyanathan sobre o tema no livro “Mídia antissocial: como o Facebook nos desconecta e enfraquece a democracia”.
Na “Ética a Nicômaco”, diz ele, Aristóteles descreve três formas de amizade. A primeira é baseada na utilidade mútua. Pode ser facilmente desfeita ou mesmo esquecida. É uma amizade de conveniência e comércio. A segunda é baseada no prazer. Fica em algum lugar entre o erótico e o tribalismo. Um vínculo forjado por experiências ou condições em comum. Ambas podem desaparecer à medida que as condições da vida mudam.
Já a terceira e mais significativa forma de amizade é baseada no reconhecimento da bondade em outra pessoa. É o “amor fraternal ”, uma das mais elevadas formas de amor. Contudo, ela, certamente, não surge de um clique e alguns comentários no Facebook. Pouco frequente, exige esforço, paciência e sabedoria.
Concorde-se ou não com essa classificação, Aristóteles acerta ao dizer que nós nos relacionamos com diferentes amigos de maneiras diferentes, em termos diferentes. Além disso, o pensador grego também dizia que toda amizade é política. A pólis teria sido forjada e apoiada por uma rede formada pelos três tipos de amizade descritas por ele.
Se Zuckerberg tivesse considerado a limitação do foco de Aristóteles na pólis local (e não global), talvez compreendesse que o Facebook é incapaz de enriquecer um sentimento de amizade ou criar uma cidadania global, conclui o autor.
E que ódio e intolerância jamais passariam por ser amizade.
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