Saiu no Diário Oficial da União desta sexta (1º/2) a nomeação, assinada por Jair Bolsonaro e Onyx Lorenzoni, do ex-deputado federal capixaba Carlos Humberto Mannato, o Manato, que fez parte do sinistro Esquadrão da Morte, a Scuderie Le Cocq. Manato foi exercerá o cargo de Secretário Especial para a Câmara dos Deputados da Casa Civil da Presidência da República.
Só no Espírito Santo, Estado onde Manato desenvolve suas atividades, a Scuderie Le Cocq matou 1.500 pessoas, segundo o Ministério Público Federal. A organização assassina foi extinta pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região (Rio/ES) no final de 2005. Para a Justiça, a entidade abrigou e protegeu, por vários anos, pessoas acusadas de pistolagem, tráfico de drogas e roubos a bancos. A Le Cocq foi apontada, entre os anos 80 e parte de 2000, como o braço armado do crime organizado capixaba!
As investigações sobre o braço direito de Bolsonaro, Fabricio Queiroz, e suas ligações com suspeitos de assassinar a vereadora Marielle Franco, estão atualizando as informações sobre o envolvimento da Famiglia Bolsonaro com grupos de milicianos. Mas a Famiglia não se importa com isso e agora nomeia um ex-integrante da mais famosa quadrilha de policiais matadores.
Aqui, você pode ler o perfil de Carlos Humberto Mannato, o Manato, e o histórico da atuação da Scuderia Le Cocq no Espírito Santo, elaborado pelo Blog do Elimar Côrtes. Vale a pena ler e conhecer a “turma” perigosa com a qual Bolsonaro quer trabalhar.
Carlos Humberto Mannato, o Manato, já integrou os quadros da temida Scuderie Detetive Le Cocq. O registro de filiação de Manato na Scuderie Le Cocq é o de número 687. O candidato afirma ter sido filiado da Le Cocq por três anos.
A Scuderie Le Cocq teve sua extinção confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região (Rio/ES) no final de 2005.
Para a Justiça, a entidade abrigou e protegeu, por vários anos, pessoas acusadas de pistolagem, tráfico de drogas e roubos a bancos. A Scuderie Le Cocq foi apontada, entre os anos 80 e parte de 2000, como o braço armado do crime organizado capixaba.
Candidato a governador do Espírito Santo em 2000, Manato apresentou como suas principais propostas a redução da maioridade penal para 16 anos e a liberação do porte de armas para cidadãos comuns. Ele defendeu a revisão do Estatuto do Desarmamento.
Quando entrou para a Scuderie Le Cocq em 1992, Manato era médico do Hospital Evangélico. Manato teve três padrinhos para entrar na Scuderie Le Cocq: dois delegados de Polícia e um investigador. Todos já estão aposentados.
Manato entrou na vida política em 1994, quando se filiou ao PSDB. Depois, em 2001, ingressou no PDT. Iniciou sua vida no setor público assumindo a Secretaria Municipal de Serviços da Prefeitura Municipal de Serra, entre os anos de 2001-2002. Na eleição de 2002, foi eleito pela primeira vez a exercer um mandato na Câmara dos Deputados. Foi reeleito em 2006, 2010 e 2014.
Carlos Manato desistiu do legislativo em 2018 para sair candidato ao governo do Espírito Santo, com o objetivo maior de dar palanque ao candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro.
Candidato diz em nota que foi convidado por policiais amigos e que pessoas de renome faziam parte da Scuderie Le Cocq
Em nota enviada ao Blog do Elimar Côrtes na tarde de sábado (08/09/2018), a Assessoria de Imprensa do candidato Manato confirmou que ele já integrou os quadros da Scuderie Le Cocq, mas que desconhecia o envolvimento da entidade e ou de associados com a prática de crimes.
“Em 1991, Carlos Manato, na época médico, concluiu o curso da Escola Superior de Guerra (ESG), vindo a integrar a Associação dos Diplomados na Escola Superior de Guerra (ADESG). Durante o curso, alguns amigos policiais o convidaram para também fazer parte da Le Cocq, que, segundo eles, seguia as mesmas linhas da ESG. Manato participou de algumas reuniões e não se identificou com os temas, achou que era bem mais restrito ao meio militar e não voltou às reuniões. A desfiliação só ocorreu cerca de três anos depois, pois encontrou certa dificuldade devido a mudança de endereço da sede da organização”.
Prossegue a nota: “É importante frisar que Manato não teve acesso, nem conhecimento de nenhuma prática criminosa que, por ventura, tenha sido imputada à organização enquanto participou das reuniões. É importante ressaltar também que, à época, pessoas de renome e conhecidos amigos faziam parte da Le Cocq o que dava credibilidade e uma aparente segurança para que Manato também participasse dessas poucas reuniões”.
Scuderie foi acusada de proteger assassinos, traficantes e assaltantes
A Scuderie Detetive Le Cocq, que era inscrita como Pessoa Jurídica na condição de entidade filantrópica, foi extinta depois de ser acusada pelo Ministério Público Federal de abrigar e proteger grupos de extermínio, traficantes e assaltantes.
Em dezembro de 2005, o desembargador federal Guilherme Calmon, do TRF-2, manteve a decisão do juiz Alexandre Miguel, da 12ª Vara Federal no Espírito Santo, que extinguiu a Scuderie Le Cocq. A decisão que extinguiu a Le Cocq proibiu também a utilização dos símbolos da entidade em bonés, camisas, chaveiros, adesivos e outros objetos.
Uma das vítimas de policiais militares ligados à Le Cocq foi o menino Jean Alves Cunha, 14 anos, assassinado com tiros na cabeça no Morro das Torres de TV, depois de ter sido sequestrado na avenida General Osório, no Centro de Vitória. Jean foi executado uma semana antes de representar o Espírito Santo no Encontro Nacional de Meninos e Meninas de Rua, em Brasília.
No Espírito Santo, entidade teria sido responsável por mais de 1.500 assassinatos, diz MPF
A Scuderie Le Cocq foi oficialmente fundada no Espírito Santo em 24 de outubro de 1984, pautada para “aperfeiçoar a moral e servir à coletividade”. Ao pedir à Justiça Federal a extinção da Scuderie Le Cocq, a Procuradoria Regional da República apontou que a entidade teria sido responsável por pelo menos 30 assassinatos de políticos capixabas cometidos em 18 anos e quase 1.500 homicídios anuais que transformaram o Espírito Santo no segundo Estado mais violento do Brasil, naqueles anos compreendidos entre 1990 e início de 2000, quando se deu início o processo de extinção.
A organização surgiu no Rio de Janeiro, em 1965, quando um grupo de policiais decidiu vingar a morte do detetive Milton Le Cocq. Cara de Cavalo, o bandido que matou Le Cocq, foi exterminado com mais de 100 tiros e seu corpo coberto com o cartaz de uma caveira.
Aliado de Manato, Magno Malta presidiu CPI que apontou os crimes da Le Cocq
Em 1998, o Congresso Nacional abriu a Comissão Parlamentar de Inquéritos (CPI) do Narcotráfico para apurar diversos crimes País afora, inclusive a atuação da Scuderie Detetive Le Cocq no Espírito Santo. A CPI Nacional do Narcotráfico teve como presidente o então deputado federal Magno Malta.
A CPI do Narcotráfico, presidida por Magno Malta, chegou a indiciar diversas autoridades capixabas por suposta ligação com a Le Cocq. Eram pessoas filiadas à Scuderie Le Cocq e acusadas de crimes que variavam da receptação de carros roubados à organização de assaltos a banco, passando por assassinatos e tráfico internacional de drogas.
Ao acolher pedido do Ministério Público Federal para extinguir a Scuderie Le Cocq, a Justiça Federal alegou também que a Scuderie Le Cocq “tem natureza paramilitar e persegue objetivos ilícitos em detrimento de órgãos e interesses da União”. Além disso, a Scuderie Le Cocq “intervém na apuração de crimes em que supostos associados estariam envolvidos, para assegurar-lhes impunidade”.
No Espírito Santo, entre a sua criação e até o início de 2002, a Scuderie Le Cocq chegou a ser formada por mais de mil associados, entre jornalistas, policiais civis, militares, advogados, delegados de Polícia, magistrados, coronéis, políticos, médicos, engenheiros, bicheiros, dentre outros.
Em maio de 2002, a Anistia Internacional divulgou um relatório em que o Espírito Santo era citado como um Estado em que os “defensores dos direitos humanos sofriam ameaças crescentes” e classificou a Scuderie Le Cocq como “uma estrutura paramilitar”, “com poderosos grupos econômicos e políticos no Estado, incluindo membros dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário”.
Há 25 anos, policial civil foi executado com tiro na nuca dentro da sede da Le Cocq: claro, crime está impune
Um dos casos mais emblemáticos envolvendo a Scuderie Le Cocq foi o assassinato do investigador de Polícia Derneval Gonçalves Pereira, o Russo. Ele foi executado com um tiro na nuca, em outubro de 1993, dentro de um dos banheiros da sede administrativa/social da Le Cocq, no bairro Bento Ferreira, em Vitória.
Russo foi assassinado como queima de arquivo, assim como ocorreu com todos os pistoleiros – policiais e integrantes da Le Coc – envolvidos no assassinato do então prefeito da Serra, José Maria Miguel Feu Rosa, e do seu motorista Itagildo Coelho de Souza; e também envolvidos no assassinato do advogado Carlos Batista de Freitas – que defendia justamente os acusados do duplo homicídio.
O prefeito e seu motorista foram assassinados por pistoleiros capixabas em 8 de junho de 1990, na cidade de Itabela, na Bahia, onde José Maria Miguel Feu Rosa tinha uma fazenda. Carlos Batista foi sequestrado e morto em janeiro de 1992. De acordo com investigações, Russo teria atraído Carlos Batista – de quem era amigo e paciente – para o local onde foi torturado e morto a tiros, na Serra.
A morte de Russo foi praticada durante uma reunião onde estavam presentes dezenas de associados – a maioria policiais – na sede da Scuderie Le Cocq. Uma delegada de Polícia Civil, também ‘lecoquiana’ e que estava na entidade na hora do crime, mandou retirar o corpo do policial Russo de dentro do banheiro e levar para a calçada.
A mesma delegada ainda mandou lavar o local (banheiro) e a área externa por onde o corpo de Russo foi arrastado, retirando, assim, o sangue e prejudicando o trabalho da Perícia Criminal.
Vinte e cinco anos se passaram e até hoje a Polícia Civil capixaba “não conseguiu descobrir” quem matou o policial Derneval Gonçalves Pereira, o Russo, dentro da Le Cocq.
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