A CHINA CAPITALISTA E A NOVA
CONJUNTURA ECONÔMICA MUNDIAL
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CONJUNTURA ECONÔMICA MUNDIAL
"Uma por uma, as fábricas fecharam e deixaram nosso solo
sem nem pensar nos milhões e milhões de trabalhadores
americanos que foram deixados para trás. A riqueza da
nossa classe média foi arrancada de suas casas e
depois redistribuída ao redor do mundo."
(Donald Trump, em seu discurso de posse)
As sociedades mercantis têm a economia como astro-rei e a política gira na sua órbita. Assim, as mudanças de mãos na vitória da guerra de concorrência de mercado, decorrentes do desenvolvimento das forças produtivas numa determinada região, alteram o comando geopolítico que é o instrumento serviçal de regulação da economia.
Quando a vontade política, ditada por questões de interesses eleitorais, interfere no curso natural da lógica capitalista, contrariando as suas rígidas leis de funcionamento, ocorre um conflito inconciliável dentro de um mesmo modo de relação social e os resultados econômicos são desastrosos.
Nestes tempos de globalização dos mercados, a transferência dos meios de produção de mercadorias de uma região para outra, com alteração profunda dos custos de produção e encurtamento do tempo de circulação que vai da produção das mercadorias até o retorno aumentado do capital (ciclo de reprodução do capital — D=M=D’) altera a hegemonia política anteriormente estabelecida, daí decorrendo um conflito de graves proporções. Leitmotiv das guerras mundiais do séc. 20, tal fenômeno volta a suceder.
Quando, ademais, tal mudança implica uma redução da massa global de mais-valia e de valor, ocorre um somatório de problemas. Verifica-se uma guerra mercadológica dentro de espaços cada vez mais reduzidos e se inviabilizam as administrações financeiras estatais e privadas, o que corresponde a um conflito inconciliável dentro da lógica econômica mercantil.
Fábrica fechada em Michigan, EUA. |
A China, e agora a Índia, com suas mercadorias de baixo custo de produção industrial, estão fazendo um enorme estrago nas relações mercantis mundiais e alterando profundamente as relações de poder econômico mundial (e, como consequência, de poder político).
Após a terceira revolução industrial ditada pela difusão do saber tecnológico aplicado à produção de mercadorias, graças à livre e imediata possibilidade de comunicação e à conveniência da transferência de unidades fabris em face da concorrência de mercado para regiões antes meramente agrícolas (como são os casos da China e da Índia), promoveu-se um êxodo rural para as áreas urbanas em ritmo acelerado como jamais tinha sido visto na história da humanidade.
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Os resultados de tais fenômenos estão sendo decisivos para a nova configuração mundial de poder e é isto que agora se coloca com a desintegração da União Europeia e o ressurgimento das posições nacionalistas e populistas que tanto encantam os eleitores, muitos deles saudosos do tempo dowellfare state dos países ricos. Pari passu, grassa a desintegração política e econômica nos países pobres que estão fora do processo.
O mundo entra em ebulição política e econômica.
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CHINA PASSA AGORA A CONVIVER COM OS
FANTASMAS DO MODELO QUE ESCOLHEU
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Mas, nem tudo são flores para os chamados países emergentes no mundo capitalista; os sintomas colaterais deletérios da entrada destas nações no contexto econômico mundial já denunciam que o buraco é mais embaixo.
Como sabemos, o capitalismo necessita de crescimento incessante do consumo de mercadorias para manter a sustentação da relação social pela forma-valor, representada pelo dinheiro, como modo minimamente viável.
Mas, para seu infortúnio, a capacidade de consumo das mercadorias tem limite e a redução de renda per capita global e do poder de compra diminui ainda mais tal limite. Esta é uma contradição básica e irresolúvel entre a necessidade imperiosa do aumento da produção ad infinitum e o limite de consumo humano, que determina a capacidade de absorção pelo mercado das mercadorias produzidas.
A China, país de 1,5 bilhão de habitantes, outrora com 80% da população rural extremamente pobre, ofereceu ao mundo capitalista mão-de-obra barata, isenção de impostos, manipulação cambial e quebra de qualquer respeito à lei de patentes.
Estavam, assim, formadas as condições para a tempestade perfeita no processo de crise capitalista atual com a globalização da produção de mercadorias e o deslocamento desta dos centros tradicionalmente produtores para a China (e também para a Índia e a Indonésia, esta última com mais de 260 milhões de habitantes).
Nos últimos 30 anos a China cresceu vertiginosamente sob os fundamentos capitalistas, com o PIB aumentando de US$ 309 bilhões em 1985 para USS 10,4 trilhões em 2014 (crescimento de 3.300%).
Entretanto, como no capitalismo tudo tem efeito colateral negativo, a China esbarrou no limite interno da expansão dentro de tal sistema, passando agora a conviver com os fantasmas do modelo capitalista que escolheu. São eles:
a) acúmulo de reservas cambiais em dólares estadunidenses, fruto da exportação one way, sem que possa desovar tais recursos, pois isto evidenciaria a insustentabilidade da moeda internacional;
b) endividamento do setor privado com montante de dívida privada de 251% acima do PIB em desaceleração (Estados Unidos, 260% do PIB; Japão, 415% do PIB);
c) mercado interno incapaz de compensar a queda nas exportações, principalmente em meio à crise no setor imobiliário, com encalhe de verdadeiras cidades fantasmas sem possibilidade de venda, provocando a queda no preço das habitações (5,0% em janeiro e 5,7% em fevereiro de 2016) e redução na venda de cimento, importante segmento industrial;
d) deslocamento da produção para países vizinhos onde a mão-de-obra é ainda mais barata, como o Camboja, com salários de U$$ 80 mensais, aliado ao uso crescente da robotização, modo de produção que elimina valor e postos de trabalho; e) bolha de valorização artificial no mercado de ações, fruto da migração especulativa financeira; etc.
A diminuição acentuada do crescimento do PIB chinês, que era prevista para 6,8% em 2015, “aumenta a pressão para baixo”, segundo disse no ano passado o vice-ministro-presidente Zhiang Gaol. Agora, a previsão é de crescimento do PIB é de 6,7% para 2016, numa demonstração de renitente pressão de queda. Tudo isso prenuncia um terremoto interno e mundial.
Assim, a China necessita desesperadamente do livre comércio internacional para poder se manter sustentável industrial e economicamente, sob pena da insatisfação social provocar uma guerra civil ou um movimento belicista mundial, uma vez que a volta para uma vida rural é impossível nesta altura dos acontecimentos. Um colapso da China implicará um efeito dominó, afetando todo o sistema financeiro planetário.
Assim, a China necessita desesperadamente do livre comércio internacional para poder se manter sustentável industrial e economicamente, sob pena da insatisfação social provocar uma guerra civil ou um movimento belicista mundial, uma vez que a volta para uma vida rural é impossível nesta altura dos acontecimentos. Um colapso da China implicará um efeito dominó, afetando todo o sistema financeiro planetário.
Os países afetados pelo fenômeno da industrialização dos países emergentes da Ásia, por sua vez, sairão prejudicados caso adotem medidas protecionistas de mercado, porque verão minguar o comércio internacional e a produção de mercadorias; além disto, a crise do sistema financeiro será danosa para as suas finanças públicas.
O cenário de tempestade perfeita para o capitalismo, repito, está montado. E só há uma saída para que a paz mundial seja mantida: a viabilização da vida social sob outros parâmetros, com a superação do capitalismo.
(por Dalton Rosado) https://naufrago-da-utopia.blogspot.com.br/2017/01/dalton-rosado-o-cenario-de-tempestade.html
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