Participando das jornadas estudantis de 1968, constatei que estava certíssimo o Marcuse: o fervor revolucionário se transferia da classe operária, cada vez mais integrada na engrenagem de produção e consumo, para osoutsiders, aqueles que escapavam das garras do capitalismo por nele não conseguirem viver ou não suportarem viver.
Daí a importância que passei a conferir à verdadeira educação: não a formação de mão-de-obra mais categorizada para apertar os parafusos do sistema, mas a de cidadãos capazes de pensar a sociedade e conceberem e/ou apoiarem alternativas ao pesadelo dominante.
Daí a minha enorme irritação ao perceber que entidades do professorado, embora se digam de esquerda, têm uma visão pequena e mesquinha do papel dos educadores, maximizando a importância da remuneração e mandando às favas a excelente oportunidade para estimular nos jovens a formação de uma consciência crítica e solidária.
Neste domingo (4), o artigo semanal do economista Samuel Pessôa na Folha de S. Paulo, com o expressivo título de Professor brasileiro é contrário ao que deu certo em Cuba na educação, veio bem ao encontro da minha percepção:
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"Um professor em Cuba ganha um pouco menos do que um médico. Os melhores alunos do secundário escolhem ser professores.
O currículo é pouco extenso e é o mesmo para todas as escolas da ilha.
A formação do professor é centrada em técnicas de transmissão de conhecimento ligadas ao currículo padronizado.
O professor é muito supervisionado pelo Estado, não pode faltar e, se o desempenho dos alunos não for bom, poderá perder a posição.
Há poucas interrupções na aula e na maior parte do tempo os alunos trabalham em grupo sob supervisão do professor resolvendo problemas e questões. Não se perde muito tempo copiando coisas do quadro.
Infelizmente, em geral os sindicatos de professores das redes públicas brasileiras apoiam aumentos de salários, mas são contrários a todas as demais iniciativas que deram certo em Cuba".
O FRACASSO DAS ESCOLAS-PADRÃO
Decepção idêntica tive ao acompanhar bem de perto a experiência das escolas-padrão, já que então trabalhava na Coordenadoria de Imprensa do governo paulista (era um tempo em que ainda se chegava a um cargo desses apenas por competência profissional, sem necessidade de pertencer, filiar-se ou prostrar-se ao partido no poder):
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Greves de professores são frequentes em São Paulo... |
"Logo no início, foram convidados cem luminares para fazerem um diagnóstico em profundidade da educação, formulando um programa para sanar as grandes deficiências existentes.
O resultado foi o projeto daescola-padrão, que procurava fazer com que algumas escolas estaduais se tornassem ilhas de excelência, com equipamento adequado, autonomia para gerir seus gastos e incentivos aos professores.
As primeiras seriam os cartões de visita e o teste na prática. Todas as outras as seguiriam, com o passar do tempo.
Deu tudo errado.
Os professores não mostraram o mínimo interesse em participar da gestão dos recursos, no que seriam, digamos, associações de pais e mestres com poderes ampliados e recursos para investir. Isto foi visto por eles, apenas, como mais trabalho.
Também recusaram, indignados, a proposta de terem aumentos salariais desde que fizessem cursos de aprimoramento didático. Queriam receber aumentos salariais sem darem contrapartida nenhuma.
E fizeram uma interminável greve...
...e quase sempre por melhoras salariais. |
Nossa redação tinha uns 20 jornalistas, distribuídos entre a manhã/tarde e a tarde/noite. Quase todos simpatizávamos com os professores e os assalariados em geral.
Mesmo assim, era impossível não notarmos que a greve, a partir de certo ponto, foi prolongada unicamente para criar constrangimentos políticos ao governo.
Chegou o momento em que foi colocada a proposta definitiva e última do governador. Mesmo assim, os líderes do magistério mantiveram a paralisação por mais duas ou três semanas, o que não fazia nenhum sentido em termos reivindicatórios. Os motivos eram outros.
Depois recuaram, aceitando integralmente a proposta que haviam rechaçado sem nem mesmo negociarem.
O governador amaldiçoou o dia em que pensou em fazer do ensino a vitrine do seu governo. Adotou outras prioridades e para elas canalizou os recursos que iria utilizar em educação.
Os professores perderam o poder de barganha e, portanto, a chance de obter melhor remuneração. Não se deram conta de que, jogando o jogo com mais sutileza, teriam alcançado patamares salariais bem mais condizentes com sua nobre função.
Os estudantes foram sensivelmente prejudicados, pela não concretização das melhoras e também pelas greves.
Eu mesmo, acreditando no sucesso das escolas-padrão, transferi minha filha para uma delas. No final de um ano praticamente perdido, tive de levá-la de volta, com o rabo entre as pernas, ao colégio de freiras".
No:https://naufrago-da-utopia.blogspot.com.br/2016/12/nossos-jovens-merecem-uma-educacao.html
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