Ela foi publicada no número de estreia do Boletim de de Análise da Conjuntura Política e Opinião Pública.
Algumas de suas conclusões:
1) as pessoas que foram às ruas são predominantemente conservadoras e elitizadas;
2) a pluralidade de participação anunciada não se concretizou na prática;
3) o manifestante pró-impeachment do dia 13 tem em média 45 anos, mais que a média dos que foram as ruas o ano passado pelo mesmo motivo (39 anos);
4) a juventude é o segmento etário que mais se distanciou das manifestações deste ano, com metade da participação do ano anterior (14% até 29 anos, perante 28%, do ano passado na mesma faixa etária);
5) cresceu este ano a participação de manifestantes com idade acima de 50 anos (40%, contra 24% no ano passado);
6) em termos de escolaridade e renda o perfil do manifestante contra Dilma variou pouco, com predominância de nível superior (76%, com 46% com ensino superior completo e 20% com pós-graduação, taxa extremante elevada, comparada à população, brasileira em geral (11% possuem ensino superior);
7) da mesma forma, a média da renda familiar mensal apurada na manifestação girou em torno de 10 salários mínimos (R$ 8.823,00), valor que menos de 3% da população brasileira alcança, e entre os manifestantes chegou a 64%;
8) a faixa de renda inferior a 2 salários mínimos, onde 71% da população brasileira se situa, segundo o Censo do IBGE, teve apenas 7% de representantes na manifestação;
9) a representação étnica presente na Avenida Paulista também difere muito da população brasileira - 70% dos que lá estiveram se autodeclaram brancos (enquanto no Brasil, segundo o Censo é de 48%) e 20% pardos (menos da metade do que esse segmento representa na composição da população total – 48%);
10) como no ano passado, o principal motivo que levou 58% dos manifestantes às ruas no dia 13 foi protestar contra a corrupção, pouco mais de um terço (39%) dos que lá estavam foram pedir o impeachment contra o governo e 22% foram reivindicar mudança na política;
11) o crescimento nas taxas de pedido de impeachment e mudança na política foram os mais expressivos em relação às manifestações do ano passado. Fora isso, manifestar-se contra o PT (21%), a favor do Brasil (16%) ou o simples apoio à manifestação (14%) compuseram o discurso vazio das ruas no dia 13;
12) pautas tradicionais, como saúde, educação ou mesmo emprego ou inflação, foram pouco mencionadas pelos manifestantes;
13) a principal forma de convocação para o ato foram as redes sociais, citadas por 73% dos manifestantes, onde se destaca o Facebook – 52%.
A íntegra da nota é a seguinte:
Quem foi às ruas pedir impeachment e fora PT
A pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo mostra que o discurso que foi às ruas no dia 13 para defender o impeachment de Dilma Rousseff é predominantemente conservador e elitizado. Embora numeroso, não pode falar em nome das classes populares nem contrariar a vontade das urnas.
A pluralidade de participação anunciada não se concretizou na prática. Nossa pesquisa apurou que o manifestante pró-impeachment do dia 13 tem em média 45 anos, mais que a média dos que foram as ruas o ano passado pelo mesmo motivo (39 anos). A juventude é o segmento etário que mais se distanciou das manifestações desse ano, com metade da participação do ano anterior (14% até 29 anos, perante 28%, do ano passado na mesma faixa etária). Cresceu este ano a participação de manifestantes com idade acima de 50 anos (40%, contra 24% no ano passado).
Em termos de escolaridade e renda o perfil do manifestante contra Dilma variou pouco, com predominância de nível superior (76%, com 46% com ensino superior completo e 20% com pós-graduação, taxa extremante elevada, comparada à população, brasileira em geral (11% possuem ensino superior). Da mesma forma, a média da renda familiar mensal apurada na manifestação girou em torno de 10 salário mínimos (R$ 8.823,00), valor que menos de 3% da população brasileira alcança, e entre os manifestantes chegou a 64%. A faixa de renda inferior a 2 salários mínimos, onde 71% da população brasileira se situa, segundo o Censo do IBGE, teve apenas 7% de representantes na manifestação.
A representação étnica presente na Av. Paulista também difere muito da população brasileira, 70% dos que lá estiveram nesse domingo se autodeclaram brancos (enquanto no Brasil, segundo o Censo é de 48%) e 20% pardos (menos da metade do que esse segmento representa na composição da população total – 48%).
Como no ano passado, o principal motivo que levou 58% dos manifestantes às ruas nesse domingo foi protestar contra a corrupção, pouco mais de um terço (39%) dos que lá estavam foram pedir o impeachment contra o governo e 22% foram reivindicar mudança na política. O crescimento nas taxas de pedido de impeachment e mudança na política foram os mais expressivos em relação às manifestações do ano passado. Fora isso, manifestar-se contra o PT (21%), a favor do Brasil (16%) ou o simples apoio à manifestação (14%) compuseram o discurso vazio das ruas de domingo. Pautas tradicionais como saúde, educação ou mesmo emprego ou inflação, foram pouco mencionadas pelos manifestantes. A principal forma de convocação para o ato foram as redes sociais, citadas por 73% dos manifestantes, onde se destaca o Facebook – 52%.
Corrupção
A grande maioria considera que tanto Dilma quanto Lula estão envolvidos em esquemas de corrupção denunciados pela Operação Lava Jato (93% e 98%, respectivamente) e dois terços (66%) deles acham que Dilma deve sofrer impeachment e seu vice convocar eleições já neste ano. Ainda que com larga distância, a segunda opção mais apontada como o que seria melhor para o Brasil é que as Forças Armadas devem intervir, destituindo Dilma e mudando o governo (10%), opção que não fazia parte do leque de medidas elencadas ano passado. A expectativa de que o impeachment venha de fato a acontecer aumentou significativamente. Em 2015, 40% dos manifestantes acreditavam de fato nessa hipótese e hoje 70% apostam que haverá o impeachment.
Para esses manifestantes a corrupção é o principal problema do país (segundo 66%), superando de longe problemas como educação (7%), inflação e saúde (4%, ambos). O governo Lula é indicado como o governo em que houve mais casos de corrupção (58%), com mais de 10 pontos percentuais acima da percepção que os manifestantes tinham de seu governo em 2015 (47%) e seguido pelo governo Dilma (27%), ambos com larga distância para o governo de Collor (7%), terceiro colocado. Predomina entre os manifestantes a ideia de que hoje aparecem mais denúncias porque, de fato, a corrupção aumentou desde o governo Lula (78%, 10 pontos percentuais a mais em relação ao ano passado).
Crise política ou econômica?
A despeito da qualificação social dos manifestantes de domingo, a percepção que 85% possuem é que, comparando com cerca de 10 anos atrás, o país está pior (muito pior segundo 75% deles), muito embora, apenas metade considere que sua própria vida tenha piorado no mesmo período (48%). Para 29% a vida pessoal melhorou e 21% não observaram mudanças.
Praticamente a totalidade dos presentes na manifestação avalia negativamente o governo Dilma (97%). Porém, em relação à economia, no ano passado eram mais pessimistas, 95% tinham expectativa de que a inflação ia aumentar e hoje 77% têm essa impressão. Do mesmo modo, 94% no ano passado acreditavam que o desemprego ia aumentar e hoje essa taxa é de 86%. Apesar de a crise econômica ter se revelado menor que a expectativa dessa camada no último ano, 86% consideram que este governo não pode resolver os problemas econômicos do país.
Na opinião de metade dos manifestantes (48%) o principal responsável pela atual crise econômica são todos os membros do governo, 19% atribuem a responsabilidade da crise unicamente à presidenta Dilma Rousseff e 18% a Lula. Quanto a quem poderia solucioná-la, 25% não sabem e 21% atribuem essa competência ao Congresso Nacional, enquanto 16% acreditam que a oposição pode resolver e 12% apostam em Aécio Neves.
A embocadura política que as manifestações trazem é clara: 76% dos manifestantes votaram em Aécio no 1º turno das eleições de 2014 e 62% o fizeram também no 2º turno. Apenas 5% declaram ter votado em Dilma nas eleições de 2014 em (1º e 2º turno), mais uma característica que evidencia o distanciamento do grupo de manifestantes do conjunto da população nacional. Os manifestantes de domingo não votaram em Dilma e não estão satisfeitos com seu governo (91%), nem tão pouco acreditam que ela está cumprindo suas promessas de campanha (95%), o que se considera esperado para esse eleitor. No entanto, o que chama a atenção é que mesmo tendo sido o mais forte oponente ao governo atual, se houvesse nova eleição hoje Aécio teria perdido 30% de seu eleitorado, uma vez que somente 32% declaram que votariam nele. Seu principal concorrente é Jair Bolsonaro, com 27% das intenções de voto entre esses manifestantes. Ainda 17% votariam nulo e 13% em Marina Silva.
Metade dos manifestantes desse domingo (51%) afirma não ter preferência por nenhum partido político e 27% declaram preferência pelo PSDB. O PMDB tem a simpatia de 5% dos manifestantes, quase o mesmo índice dos que dizem preferir o Partido Novo.
O interesse por política é comum à grande maioria dos manifestantes, 49% afirmam ter muito interesse, um terço se diz interessado no assunto (34%) e quase a totalidade costuma conversar sobre política. O principal meio para se informar sobre política é a internet, para quase metade deles (48%), enquanto outros 16% se informam por TV (aberta e a Globo é a principal delas – 17%) ou jornais impressos (13%). O índice de participação política é baixo, 5% disseram participar de algum movimento social e 2% de sindicatos, partidos políticos ou causas sociais.
Em se tratando de política, a ampla maioria dos que estiveram nas ruas nesse domingo se posicionam declaradamente defendendo atitudes e ideias de direita (44%) ou centro (40%). E muito embora defendam que a democracia é sempre melhor do que qualquer outra forma de governo (85%), em relação à pluralidade de opiniões, quatro em cada 10 consideram que quem tem ideias diferentes da maioria pode ter suas ideias desde que não tente convencer os demais e 38% se posicionam a favor do debate de ideias, concordando com a afirmação de que quem tem ideias diferentes da maioria pode ter suas ideias e tentar convencer os demais. Há, entre os manifestantes desse domingo, uma preocupante aceitação antidemocrática, demonstrada por 11% que defendem que em certas situações é melhor uma ditadura do que uma democracia, mesma taxa dos que consideram que quem tem ideias diferentes da maioria deve deixá-las de lado e se submeter as ideias predominantes (12%). Em outra abordagem sobre a mesma questão, 13% disseram concordar totalmente e 11% parcialmente com que em certas situações é melhor uma ditadura do que um regime democrático.
A expressão mais conservadora adotada, dentre as medidas, foi o índice de concordância de metade dos manifestantes à adoção da pena de morte no Brasil (31% totalmente e 19% parcialmente a favor). Também metade deles aprova a intervenção da polícia contra manifestações (17% totalmente e 33% em parte).
A pesquisa da Fundação Perseu Abramo terá a segunda etapa realizada no ato contra o impeachment, no dia 18, e voltará à Avenida Paulista, em São Paulo, para obter dados que mostrem o perfil dos manifestantes que comparecerão, com o objetivo de fazer uma comparação entre os dados obtidos no ano passado e medir quais as diferenças entre os dois grupos opostos.
Tipo de pesquisa: Quantitativa, tipo survey, realizada face-a-face, com aplicação de questionário estruturado, de cerca de 20 minutos de duração, composto por questões fechadas.
Universo: Público presente nas manifestações dos dias 15 de março de 2015 e 13 de março de 2016, na Av. Paulista, em São Paulo.
Amostra: 534 entrevistas em 15-03-2015 e 435 entrevistas em 13-03-2016
Margem de erro: A margem de erro para a amostra do dia 15 de março de 2015 é de 4,13 e em 13 de março de 2016 é de 4,7 pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95%.
Data de campo: 15 de março de 2015 e 13 de março de 2016.
Realização: Núcleo de Estudos de Opinião Pública da Fundação Perseu Abramo.
via: http://cronicasdomotta.blogspot.com.br/2016/03/o-manifestante-antigoverno-tipico-esta.html
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