A notícia, amplamente divulgada - e celebrada - pelos jornalões, dias atrás, de que as vendas deste Natal nos shopping centers caíram espantosos 1% em relação ao mesmo período do ano passado, merece alguns comentários.
O primeiro deles: a informação foi extraída de um press release da Associação Brasileira de Lojistas de Shoppings, a Alshop - um release muito mal feito, por sinal. Os jornalões simplesmente extraíram do texto oficial da entidade o que quiseram, dando destaque, evidentemente, ao número negativo.
Ninguém se preocupou em perguntar aos diretores da Alshop algumas coisinhas básicas para que a notícia tivesse condições mínimas de ser publicada.
Uma delas é sobre se essa queda de 1% ocorreu em vendas físicas, volume de mercadorias, ou em valores. Provavelmente foi em valores, mas o texto não informa.
Outro dado interessante para que o público ficasse sabendo se a retração foi ou não relevante seria saber se os lojistas aumentaram os preços de seus produtos neste fim de ano.
O release cita, en passant, o impacto que a megapromoção chamada "Black Friday" provocou nas vendas do comércio físico, mas não se aprofunda no assunto, nem traz nenhum número sobre ele - por outras fontes, ficamos sabendo que as vendas do comércio eletrônico aumentaram incríveis 26% no Natal.
O público também agradeceria se alguém explicasse a importância dos shopping centers no universo do comércio varejista brasileiro atual - se a fatia que eles ocupam cresceu, diminuiu, ficou estável; qual o perfil do público que compra nesses locais etc e tal.
Os últimos parágrafos do release contradizem o restante, que enfatiza os efeitos nocivos no setor da "crise" vivida pelo Brasil: informam que, neste ano, foram inaugurados 19 shopping centers no Brasil, e que a previsão para os próximos três anos é de que mais 114 empreendimentos sejam erguidos.
Ou é muito otimismo ou é muita mentira...
A seguir, o release da Alshop na íntegra:
PIOR NATAL DOS ÚLTIMOS 10 ANOS
ALSHOP ANUNCIA OS NÚMEROS DO VAREJO DE SHOPPING CENTER EM 2015
Tido como termômetro nacional para a indústria de shopping centers e o varejo em geral, o caderno "Desempenho do Varejo de Shopping e da Indústria de Shopping Centers em 2014/2015 – ALSHOP / IBOPE", trouxe números expressivos: de janeiro a dezembro de 2015, as vendas totais em shopping centers totalizaram R$ 145 bilhões, correspondendo a um aumento de 1,7% em relação a 2014. Em termos reais (descontada a inflação) as vendas caíram 2,82%. As vendas no período natalino - de 1º a 24 de dezembro - caíram 1% em relação à 2014.
Esses números consideram os 19 novos shopping centers, galerias, shoppings de atacado e rotativo, além dos que já operavam em 2014, e sintetiza um ano de instabilidade econômica, em que os varejistas tiveram estoques altos e os consumidores seguraram o dinheiro que tinham dentro do bolso.
"O setor varejista é muito sensível à atividade econômica. Com a atual conjuntura, já poderíamos prever que não seria possível as vendas crescerem", avaliou Nabil Sahyoun, presidente da Alshop. Ele enumera os fatores que contribuíram para a queda nas vendas: "com o crédito mais escasso, juros mais altos, dólar ao redor de R$4 e inflação elevada, não tem como obter resultado positivo nas vendas de Natal. O desemprego maior e as incertezas da economia e da Política também contribuíram para que o consumidor não gastasse".
NATAL
"A Black Friday, realizada na última semana de novembro reduziu o fluxo nos shoppings no Natal. Os valores dos presentes também ficaram entre 10% e 15% menores - o ticket médio foi cerca de R$ 100", pontua Luís Augusto Idelfonso, Diretor de Relações Institucionais a Entidade.
Mas há números positivos: as categorias de Perfumaria e Cosméticos, vestuários e Óculos, Bijuterias e Acessórios anotaram aumento nas vendas - com 8%, 5% e 3% respectivamente. As vendas de Joias e Relógios e itens de tecnologia e comunicação também se destacaram, com crescimento de 3,2% e 1,7%. Na outra ponta da tabela, as compras de eletrodomésticos caíram 2%, enquanto a categoria de móveis e artigos do lar amargou 13,3% negativos.
INDÚSTRIA DE SHOPPINGS
2015 viu a inauguração de 19 novos shopping centers no Brasil, chegando ao total de 893 empreendimentos em operação. Houve a abertura de 7 malls na região Nordeste; 2 na região Norte; 8 no Sudeste; 1 no Sul e 1 no Centro Oeste. Também houve o crescimento no número de lojas em operação, tanto nos novos empreendimentos quanto pela expansão dos que já estavam operando. Foram 1042 novas lojas, totalizando 139.738 pontos de venda.
Esses locais foram responsáveis por 1.332.910 empregos diretos (1.245.480 funcionários em lojas e 87.430 na operação dos malls), o que representa 30.400 novos postos gerados em 2015.
Os shoppings somaram uma frequência mensal de 470 milhões de pessoas - o que representa 2,3 vezes a população nacional. A previsão é de que 114 novos empreendimentos sejam inaugurados nos próximos 3 anos.
O primeiro deles: a informação foi extraída de um press release da Associação Brasileira de Lojistas de Shoppings, a Alshop - um release muito mal feito, por sinal. Os jornalões simplesmente extraíram do texto oficial da entidade o que quiseram, dando destaque, evidentemente, ao número negativo.
Ninguém se preocupou em perguntar aos diretores da Alshop algumas coisinhas básicas para que a notícia tivesse condições mínimas de ser publicada.
Uma delas é sobre se essa queda de 1% ocorreu em vendas físicas, volume de mercadorias, ou em valores. Provavelmente foi em valores, mas o texto não informa.
Outro dado interessante para que o público ficasse sabendo se a retração foi ou não relevante seria saber se os lojistas aumentaram os preços de seus produtos neste fim de ano.
O release cita, en passant, o impacto que a megapromoção chamada "Black Friday" provocou nas vendas do comércio físico, mas não se aprofunda no assunto, nem traz nenhum número sobre ele - por outras fontes, ficamos sabendo que as vendas do comércio eletrônico aumentaram incríveis 26% no Natal.
O público também agradeceria se alguém explicasse a importância dos shopping centers no universo do comércio varejista brasileiro atual - se a fatia que eles ocupam cresceu, diminuiu, ficou estável; qual o perfil do público que compra nesses locais etc e tal.
Os últimos parágrafos do release contradizem o restante, que enfatiza os efeitos nocivos no setor da "crise" vivida pelo Brasil: informam que, neste ano, foram inaugurados 19 shopping centers no Brasil, e que a previsão para os próximos três anos é de que mais 114 empreendimentos sejam erguidos.
Ou é muito otimismo ou é muita mentira...
A seguir, o release da Alshop na íntegra:
PIOR NATAL DOS ÚLTIMOS 10 ANOS
ALSHOP ANUNCIA OS NÚMEROS DO VAREJO DE SHOPPING CENTER EM 2015
Tido como termômetro nacional para a indústria de shopping centers e o varejo em geral, o caderno "Desempenho do Varejo de Shopping e da Indústria de Shopping Centers em 2014/2015 – ALSHOP / IBOPE", trouxe números expressivos: de janeiro a dezembro de 2015, as vendas totais em shopping centers totalizaram R$ 145 bilhões, correspondendo a um aumento de 1,7% em relação a 2014. Em termos reais (descontada a inflação) as vendas caíram 2,82%. As vendas no período natalino - de 1º a 24 de dezembro - caíram 1% em relação à 2014.
Esses números consideram os 19 novos shopping centers, galerias, shoppings de atacado e rotativo, além dos que já operavam em 2014, e sintetiza um ano de instabilidade econômica, em que os varejistas tiveram estoques altos e os consumidores seguraram o dinheiro que tinham dentro do bolso.
"O setor varejista é muito sensível à atividade econômica. Com a atual conjuntura, já poderíamos prever que não seria possível as vendas crescerem", avaliou Nabil Sahyoun, presidente da Alshop. Ele enumera os fatores que contribuíram para a queda nas vendas: "com o crédito mais escasso, juros mais altos, dólar ao redor de R$4 e inflação elevada, não tem como obter resultado positivo nas vendas de Natal. O desemprego maior e as incertezas da economia e da Política também contribuíram para que o consumidor não gastasse".
NATAL
"A Black Friday, realizada na última semana de novembro reduziu o fluxo nos shoppings no Natal. Os valores dos presentes também ficaram entre 10% e 15% menores - o ticket médio foi cerca de R$ 100", pontua Luís Augusto Idelfonso, Diretor de Relações Institucionais a Entidade.
Mas há números positivos: as categorias de Perfumaria e Cosméticos, vestuários e Óculos, Bijuterias e Acessórios anotaram aumento nas vendas - com 8%, 5% e 3% respectivamente. As vendas de Joias e Relógios e itens de tecnologia e comunicação também se destacaram, com crescimento de 3,2% e 1,7%. Na outra ponta da tabela, as compras de eletrodomésticos caíram 2%, enquanto a categoria de móveis e artigos do lar amargou 13,3% negativos.
INDÚSTRIA DE SHOPPINGS
2015 viu a inauguração de 19 novos shopping centers no Brasil, chegando ao total de 893 empreendimentos em operação. Houve a abertura de 7 malls na região Nordeste; 2 na região Norte; 8 no Sudeste; 1 no Sul e 1 no Centro Oeste. Também houve o crescimento no número de lojas em operação, tanto nos novos empreendimentos quanto pela expansão dos que já estavam operando. Foram 1042 novas lojas, totalizando 139.738 pontos de venda.
Esses locais foram responsáveis por 1.332.910 empregos diretos (1.245.480 funcionários em lojas e 87.430 na operação dos malls), o que representa 30.400 novos postos gerados em 2015.
Os shoppings somaram uma frequência mensal de 470 milhões de pessoas - o que representa 2,3 vezes a população nacional. A previsão é de que 114 novos empreendimentos sejam inaugurados nos próximos 3 anos.
http://cronicasdomotta.blogspot.com.br/2015/12/o-que-faltou-no-release-sobre-as-vendas.html
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