terça-feira, 28 de julho de 2015

A sociedade da informação falsificada




Via Rebelion
E todos os noticiários que não temos
Fernando Buen Abad Domínguez
Tradução do espanhol: Renzo Bassanetti
Rebelión/Universidad de la Filosofía
Não conseguimos consolidar (até agora) o conjunto de estratégias indispensáveis para gerar os “noticiários” que necessitamos. Em matéria de “produção informativa”, temos sido derrotados sistemática e secularmente. Os poderes hegemônicos, dos púlpitos até os”house  organ” fizeram do controle da informação um exercício de seu poder semiótico diante do qual não temos sabido ficar a salvo com anticorpos e contrataques efetivos e invencíveis. Recém agora você  toma conhecimento?
Com seu modo de “produção de informação“, as oligarquias tem sabido nos impor todas as suas premissas alienantes e conseguido desenvolver laboratórios de guerra informativo-ideológica, de onde nos atacam sistematicamente com mentiras, confusões, calúnias e enganação que nos tem colocado de joelhos sem clemência. Bolívar dizia “pela enganação nos derrotaram mais que pela força”. Tem muita razão ele até o presente.
Eles entenderam, com toda a clareza mercantil, que “informar” é um exercício de poder que pode ser camuflado de muitas maneiras, e o transformaram também num grande negócio. Eles o usam para submeter os trabalhadores e para transformar as consciências dos povos em mercados de sucata intelectual, no qual a verdade brilha por sua ausência e é suplantada pela “espetacularidade” efêmera. Chamam-nos de “noticiários”, “imprensa”, “informativos”.... Há eufemismos a torto e a direito. Para conseguir um certo efeito de credibilidade, eles fabricam para sim mesmos um “prestígio” na medida, santificado pelos donos do negócio “informativo”, e sacralizados por uma boa lista de esbirros “intelectuais” fabricados também sob medida. Ao menos, um balanço geral desde a aparição dos primeiros boletins da igreja, dos primeiros jornais e dos primeiros noticiários lança ao presente resultados arrepiantes. Não se pode esperar coisa melhor de oligarquias que tem sido principalmente foco de ignorantes contagiosos.
Embora tenhamos muito claro o que fazer em matéria de “produção informativa” emancipadora, a práxis tem sido débil. Não é suficiente o rigor teórico nem o debate acalorado, não são suficientes as bibliografias nem as poses dos eruditos “progres” Tampouco nos servem as “panelinhas” dos críticos que falam pelas costas, incapazes de resolver os problemas que há pela frente. O avanço dos modos de produção “noticiosa” capazes de derrotar o modelo hegemônico burguês requer um plano de trabalho político de grande alcance e a partir de condições concretas.  Produzir informação de qualidade revolucionária e divulgá-la exaustivamente deve fazer parte da luta mundial generalizada da classe trabalhadora contra o capitalismo. Não há atenuantes.
Sabemos há muito tempo que um “noticiário” útil à humanidade deve ser fundamentalmente uma ferramenta organizadora em territórios concretos. Uma usina filosófica da organização para intervir corretamente em cenários específicos. Temos sabido que esses cenários específicos  são as frentes de luta da classe trabalhadora, não somente nas fábricas ou no campo contra os latifundiários, mas também nas artes, nas academias, nos escritórios, na cultura... lá onde as vozes dos trabalhadores se organizem para um luta justa é que nasce a agenda dos noticiários revolucionários.
Contudo, não é suficiente encontrar os cenários; é necessário, além disso, encontrar os vocabulários, a sintaxe, os  tons e as maneiras de contar e contagiar a alma organizativa da história revolucionária em sua escala, com as táticas dos trabalhadores e não dos informadores. Isso muda todo o desafio e o torna mais complexo, por que o faz dinâmico, porque o transforma em revolução cultural também dirigida a despojar-nos do modelo “noticioso” inoculado nos povos como se tratasse da única e melhor forma de transmitir informação. Para muitos, é impossível o parricídio em forma e conteúdo mercantil em matéria de “notícias”, mas é preciso fazer isso.
Por exemplo, a Telesur tem deixado uma marca inapagável e sem preço na enorme batalha de transformar a produção de informação numa ferramenta revolucionária dos povos para tornar visíveis suas lutas, tornando-os visíveis como protagonistas. Mas ela não conseguirá muito por si só, uma TV que, para crescer, requer que  cresçam com ela, simultaneamente, muitos outros meios de produção informativa solidários e concatenados na luta contra o modo e os meios capitalistas de informação. Necessita-se de uma ou duas mil “Prensas Latinas”, é são precisos  milhares de meios alternativos e comunitários, TVs, documentaristas, rádios, e material impresso expressando suas táticas e estratégias concretamente, mas com uma agenda de unidade sistematizada nos objetivos prioritários. Ou seja, o que não fizemos até agora.
Falamos de uma revolução mundial da produção de informação, capaz de ser inovadora por ser coletiva, democrática e revolucionária; capaz de aprender a somar vozes e fazer com elas um relato poderoso contra as mentiras e, principalmente, assegurar um método de produção no qual seja a multipolaridade dos pontos de vista o que construa fortalezas na luta unificada pela verdade e contra o capitalismo, inimigo comum da espécie humana.  
A outra parte  de nossa derrota histórica é não contar com as escolas de formação que necessitamos para a revolução da informação. Nós não necessitamos formadores “neutros”, necessitamos de cientistas da informação que tomem posição ao lado do povo na inalienável  busca da verdade e sua construção científica, necessariamente social ali onde se luta. Necessitamos compromisso estético e ético para uma revolução do pensamento que precisa da informação assim com a vida precisa do oxigênio. Esse é, nada mais e nada menos, o calibre da responsabilidade e do alcance da tarefa. É tão extraordinária sua importância que não podemos deixá-la na mão do capitalismo nem mais um minuto. Saiba disso.

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