quarta-feira, 27 de maio de 2015

PSDB dividido: “Nós não temos um projeto de país”





Quem colocou o dedo na ferida, expondo a divisão interna do partido, não foi nenhum bolivariano inimigo, mas o próprio vice-presidente do PSDB, Alberto Goldman, que enviou nesta terça-feira uma carta à direção da legenda na qual escreve com todas as letras o que está no título desta coluna:
“Nós não temos um projeto de país”.
Já constatei isso várias vezes aqui no blog, mas parece que agora caiu a ficha dos tucanos, revelando uma divisão interna do maior partido da oposição, que a mídia amiga já não pode esconder. Para Goldman, ex-governador de São Paulo muito ligado a José Serra, o partido até agora não conseguiu explicar ao eleitorado o que teria feito se tivesse vencido as eleições presidenciais. Não fez isso durante toda a campanha eleitoral do ano passado e não apresentou nenhuma proposta nas recentes propagandas na televisão, limitando-se a detonar o governo petista.
O primeiro vice-presidente do partido reclamou também que “a falta de debate interno se agravou no período recente de Aécio Neves”, que assumiu o comando do partido antes de se candidatar à presidência da República, depois de um longo domínio do alto tucanato paulista . Goldman lembrou que o PSDB não discutiu internamente até agora qual posição tomar nos debates sobre a reforma política e o ajuste fiscal proposto pelo governo.
Isso ficou claro na noite de terça-feira durante a votação do projeto de reforma política apresentado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Até o último momento, eternamente em cima do muro, os tucanos não sabiam o que fazer. Diante de mais um racha no partido, Aécio impediu que o PDSDB fechasse questão a favor do distritão defendido por Cunha. Resultado: 21 tucanos foram  a favor, mas 28 votaram contra.
D. Eduardo I derrotado
A defecção do PSDB, um aliado de ocasião do presidente da Câmara para desgastar o governo Dilma, contribuiu para a primeira grande derrota de D. Eduardo I e Único nos seus próprios domínios. O estilo imperial de Eduardo Cunha, tratorando até seus mais fieis aliados, levou-o a uma derrota humilhante e lhe mostrou que não pode tudo. Todo poder tem seus limites.
A sua proposta prioritária de adoção do voto distrital nas eleições parlamentares foi derrotada por 267 a 210, quando precisava de no mínimo 308 votos para mudar o sistema eleitoral. Até no PMDB lhe faltaram votos: 13 deputados do seu partido votaram contra a proposta de Cunha.
No Senado, seu parceiro Renan Calheiros, outro aliado-desafeto do governo, também saiu derrotado na primeira votação do pacote do ajuste fiscal em que foram aprovadas restrições ao seguro desemprego e ao abono salarial. O resultado foi bem apertado (39 a favor e 32 contra), mas representou mais uma vitória de Dilma-Temer contra Renan-Cunha na queda de braço travada entre o governo e o Congresso.
A cada dia sua agonia, no ganha e perde da guerra política, que parece não ter fim.
Vida que segue.

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