Juliana Vines, Folha de S. Paulo
Por exemplo: para provar que opostos se atraem, um trabalho de pesquisadores suíços descobriu a capacidade humana de "farejar" diferenças genéticas até em camisetas suadas.
As voluntárias relatavam que o cheiro dos homens com o sistema imunológico mais diferente era mais agradável. Inconscientemente, ao buscar parceiros com tal característica, estamos fazendo com que nossos filhos tenham um arsenal imunológico mais variado, e assim sejam mais resistentes a doenças.
Outro estudo, do psicólogo americano Arthur Aron, foi mais ousado: propôs nada menos que uma receita para deixar duas pessoas apaixonadas. Trata-se de uma lista de 36 perguntas, várias bem pessoais, que os voluntários deveriam fazer um para o outro. Sua teoria: a rápida transição do desconhecimento para a sensação de intimidade está fortemente ligada à paixão.
Entre as perguntas, estão coisas como "quando foi a última vez que você chorou na frente de alguém?", "qual é a maior conquista que você já conseguiu?" e "diga algo que você gostou em mim que você não deveria dizer a alguém que acabou de conhecer". Veja a lista.
A receita funcionou para a professora americana Mandy Len Catron, que recentemente relatou seu final feliz em um artigo no jornal "The New York Times". Ela própria, porém, faz uma ressalva à fórmula: se duas pessoas se dão ao trabalho de sentar numa mesa e testar uma receita de paixão, afinal, é porque elas já estão no mínimo bem dispostas sobre a possibilidade.
No campo da bioquímica, vários pesquisadores tentam rastrear quais substâncias fazem o cérebro emitir a sensação de paixão.
São várias: a ocitocina, hormônio relacionado à maternidade, mas também ao vínculo entre um casal, a dopamina, neurotransmissor liberado durante atividades prazerosas –ou durante o uso de cocaína–, e os opioides, também ligados ao prazer e... bom, ao uso de heroína.
Fatores Sociais
Se a biologia quer puxar a brasa da paixão para o seu lado, a antropologia estuda as consequências da natureza humana na sociedade.
O psicólogo Ailton Amélio, professor da USP especializado em relacionamentos amorosos, lembra que diversos estudos já mostraram que o amor acontece entre pessoas próximas, tanto no aspecto físico (entre moradores de um mesmo bairro, por exemplo), quanto ideológico, social e econômico.
"Em geral, o amor está mais perto do que você pensa, ou seja, em um certo raio de distância", afirma.
Para a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade do Instituto de Psiquiatria da USP, mais do que proximidade, é preciso aceitar perder o controle da situação.
"Para se apaixonar é necessário um grau de desprendimento e entrega. Conheço pessoas completamente refratárias à paixão. Se você estiver no controle o tempo todo, é possível passar pela vida ileso a esse sentimento."
Apesar de tantas teorias, o psicanalista Jorge Forbes acredita que o fator mais interessante da paixão não esteja ao alcance da ciência: "Não nos apaixonamos por quem queremos e as pessoas das quais gostamos nem sempre nos apaixonam por nós. Isso é o mais inquietante e insolúvel."
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