
De lá para cá, pequenas mudanças ocorridas nas probabilidades eleitorais ganharam destaque no noticiário, principalmente quando registraram um aumento, ainda que leve, das chances de sucesso do principal candidato da oposição, o senador mineiro Aécio Neves (PSDB). Por isso, chama atenção o comportamento da imprensa na sexta-feira (20/6), quando o Ibope publica o resultado da pesquisa realizada entre os dias 13 e 15, logo após o início da Copa do Mundo.
O leitor procura uma reportagem sobre o assunto nas primeiras páginas e fica frustrado, principalmente porque, na véspera, alguns comentaristas haviam observado um movimento ascendente no mercado de ações, com a expectativa de nova sondagem desfavorável à reeleição de Dilma Rousseff.
Mas não há manchetes sobre a pesquisa do Ibope: o único jornal que traz a informação na primeira página é o Estado de S.Paulo, num pequeno texto de apenas seis linhas. A Folha de S. Paulo e o Globo omitiram a informação em suas capas e o jornal carioca praticamente escondeu os índices numa página interna, sem gráficos nem as costumeiras análises.
E o que dizem, afinal, os números do Ibope?
Os números apontam uma recuperação da vantagem da atual presidente, com seus dois principais adversários caindo exatamente 3 pontos porcentuais cada um. Mas o mais interessante – e que a Folha e o Globo omitem – é que o teto potencial de votos na atual presidente da República subiu para 51%, o que indica que o efeito do intenso noticiário negativo pode estar se reduzindo.
Fora do contexto
As análises publicadas pelos jornais apresentam uma meia-verdade e uma mentirinha. A meia-verdade está presente na afirmação da Folha e do Globo, que escolhem destacar uma suposta queda na avaliação positiva do governo. Os analistas sabem que não é boa prática avaliar esse item apenas na resposta direta à questão específica. Como o contexto da pergunta é absolutamente desfavorável à presidente por conta do intenso noticiário negativo, é preciso analisar o número de eleitores que consideram o governo “ruim ou péssimo” – e esse índice não se alterou, permanecendo em 31%.
Sob um clima adverso, é preciso levar em conta que boa parte das respostas que afirmam considerar “regular” ou “razoável” a situação – sempre associada majoritariamente a quem está no poder – é influenciada pelo estado de espírito criado na mídia. Assim, boa parte dos eleitores que apontaram o governo como “regular” está dando uma resposta positiva, mais próxima de “bom” do que de “ruim ou péssimo”. Portanto, essa meia-verdade tem o tamanho de uma grande mentira.
O Estado de S. Paulo, afirma que “Copa não altera cenário presidencial”. Trata-se de uma mentirinha, pois os números indicam, sim, uma mudança na tendência das pesquisas anteriores, porque, como ensinava o mestre Edmundo Eboli Bonini, emérito professor de Estatística recentemente falecido, nenhuma pesquisa deve ignorar o contexto em que é feita a coleta de dados.
Como se sabe, quando o Ibope saiu às ruas, a imagem da presidente da República estava abalada pela vaia e os xingamentos dirigidos a ela por parte da plateia presente ao jogo inaugural da Copa. O que também pode mexer com a população é o contraponto entre a festa do esporte e eventuais ondas de violência.
Então, convém anotar que, no dia da importante partida entre Uruguai e Inglaterra, em São Paulo, as autoridades paulistas deixaram os “Black Bloc” à vontade para promover depredações na cidade. Mas o mais interessante é observar o comportamento da mídia no momento fotografado pelo Ibope: se os jornais escondem uma informação, é porque ela contraria seus interesses.
Uma mentirinha e uma meia-verdade não são suficientes para esconder esse fato."
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