Alexandre Tombini, presidente do BC: uro alto, panaceia para todos os males (Foto: Valter Campanato/ABr) |
Ora, que diferença fará mais 0,5 ponto percentual na taxa básica nos preços do atacado e do varejo? Nenhuma, nada, nadinha.
Em abril, o Copom iniciou esse novo ciclo de alta nos juros básicos, depois de quase dois anos sem aumento, e elevou a Selic para 7,5% ao ano. Desde agosto de 2011, a taxa vinha sendo reduzida sucessivamente até atingir 7,25% ao ano em outubro de 2012, o menor nível da história. Nas três reuniões seguintes, em novembro de 2012, janeiro e março deste ano, o Copom optou por não alterar a taxa.
O aumento dos juros veio justamente no dia em que o IBGE anunciou que o PIB do país cresceu apenas 0,6% no primeiro trimestre, em relação ao trimestre anterior.
Não é preciso ser nenhum gênio em economia para saber que, quando a atividade econômica está desaquecida, como mostra o PIB, o melhor a fazer é justamente o oposto do que o Copom fez: juro alto desaquece ainda mais a economia.
Essa história de que a inflação está alta é outra tremenda cascata. O IPCA, índice oficial, acumulado em 12 meses estava em 6,59% em março e em abril recuou para 6,49% - dentro da chamada banda de flutuação da meta inflacionária, que são 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo de 4,5%.
Como era de se esperar, a Fiesp esculhambou a decisão do Copom: segundo a entidade empresarial paulista, a alta do juro reduzirá a capacidade de crescimento da economia brasileira. “É preciso quebrar paradigmas, o Brasil precisa de um choque de competitividade, investimento e produção, e não da mesmice do aumento de juros”, disse o presidente da entidade, Paulo Skaf.
Mesma opinião tem o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), Carlos Cordeiro, para quem o aumento da Selic vai prejudicar o crescimento econômico. “A elevação da Selic pela segunda vez consecutiva no ano é um desastre do ponto de vista econômico e social. Não existe a ameaça de descontrole inflacionário e vai frear ainda mais o ritmo do crescimento econômico, a expansão do crédito, o fortalecimento da produção e do consumo e a geração de empregos”, disse.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) vai no mesmo tom. Em comunicado, a entidade alegou que a elevação da taxa básica de juros impõe mais dificuldades para a indústria, que já está estagnada, retomar o crescimento. “Como acaba de mostrar o comportamento do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre, a indústria permanece estagnada. Segundo a CNI, neste cenário, o aumento nos juros é ainda mais prejudicial ao setor, justamente o de maior capacidade de recuperação e de contribuição à retomada da economia. Sem uma participação expressiva da indústria, o país cresce pouco.”
Segundo a CNI, a inflação alta no Brasil decorre de problemas estruturais da economia brasileira, como o elevado custo dos serviços, setor que não sofre concorrência das importações e repassa rapidamente os aumentos de custos para os consumidores.
A entidade cobrou medidas complementares, além da política monetária, para lidar com o problema. “Para a CNI, a elevação isolada dos juros não é a melhor forma de enfrentar essa equação, porque prejudica a expansão dos investimentos e dificulta o aumento da oferta”, concluiu o comunicado.
A única notícia boa que trouxe a elevação da Selic é que, por causa da fórmula em vigor desde o ano passado, que atrelou a remuneração da caderneta de poupança aos juros básicos, o rendimento da aplicação subiu de 5,25% para 5,6% ao ano.
De acordo com levantamento da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), a mudança na taxa Selic deixa a poupança mais rentável que a maioria dos fundos de investimento. Apenas nos casos em que os fundos cobram taxas de administração baixas e o dinheiro fica aplicado por mais tempo, a caderneta torna-se menos vantajosa.
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