sábado, 23 de fevereiro de 2013

Sustentabilidade, Marina Silva?




Cabe o questionamento se realmente a criação de mais um partido – ressaltando que são cerca de 30 registrados atualmente -, autodenominado "diferente", é realmente a solução para as mazelas que afetam os nossos sistemas partidário e eleitoral

Álvaro “Varetinha” / Brasil 247

Após um longo período de ensaios, movimentações e articulações políticas, finalmente Marina Silva deu o primeiro passo para a constituição do seu novo partido, com o lançamento oficial da Rede Sustentabilidade recentemente em Brasília. Ao lado da protagonista, algumas figuras que batalham contra o ostracismo partidário a que foram relegados, tais como Heloísa Helena, Walter Feldman, Domingos Dutra e Alfredo Sirkis. A próxima tarefa dos candidatos a lideranças da nova sigla que surge é conseguir pouco mais de 500 mil assinaturas em ao menos nove estados para o registro oficial da legenda junto ao TSE.

Embora batizado de "Rede Sustentabilidade", não é raro ouvirmos quem utiliza da alcunha de "Partido da Marina". Diferentemente de um partido de massas como o PT, que surgiu no bojo dos movimentos sociais e até mesmo do PSDB, caracterizado na ciência política como um partido de quadros, oriundo de uma ruptura de uma ala mais progressista do PMDB contra o "quercismo", presenciamos a gestação de uma agremiação estruturada sobre caráter personalista.

Marina Silva, ex-ministra do meio ambiente do governo Lula por seis anos, talvez muito mais pela simbologia de sua origem humilde nos seringais acreanos que propriamente pela eficiência de sua gestão frente à pasta. Após perder muito espaço nos bastidores do PT para então ministra da Casa Civil Dilma Rousseff na corrida pela indicação a sucessão presidencial, encontra no PV um suporte para sua aventura eleitoral. Uma recepção calorosa. Após a surpreendente marca de quase 20 milhões de votos em 2010, Marina demonstrou (mais uma vez) não ser nem um pouco habilidosa nos embates internos e sem conseguir conquistar o controle da máquina partidária dos verdes, deixou o partido pela porta dos fundos. É no embalo dessa trajetória que está prestes a surgir a Rede Sustentabilidade.

Sobre seu posicionamento no campo ideológico, a declaração mais enfática de Marina Silva foi: "Nem direita, nem esquerda. Estamos à frente. Nem oposição, nem situação. Precisamos de posição". Um tanto quanto obviamente contraditória, o máximo que conseguiu nessas poucas palavras foi se igualar ao ex-prefeito de meio-expediente de São Paulo, Gilberto Kassab, quando na fundação do recém criado PSD afirmou que a agremiação não seria de esquerda, direita ou centro. Embora muito mais virtuoso na articulação de sua legenda, Kassab esteve dentre os prefeitos mais mal avaliados da última gestão, dividindo seu tempo na criação da nova sigla juntamente com a administração da maior cidade da América Latina.

O partido de Marina é amorfo. Aliás, pelo sucesso incontestável da campanha virtual da ex-verde na última eleição presidencial, em que mobilizou um grande contingente de apoiadores, sobretudo, nas plataformas de redes sociais é que se omitiu a palavra partido do nome da nova legenda, substituindo-o por rede. A fórmula adotada é a criação de um partido que negue ser partido, a utilização de um instrumento que rejeita sua essência. Para conduzi-los eis que surge uma figura puritana, de caráter assumidamente messiânico, uma vez que alguns setores já a tratam como missionária.
Cabe o questionamento se realmente a criação de mais um partido – ressaltando que são cerca de 30 registrados atualmente -, autodenominado "diferente", é realmente a solução para as mazelas que afetam os nossos sistemas partidário e eleitoral. Em que um partido arquitetado para acomodar interesses pessoais e eleitoreiros poderia contribuir para o desenvolvimento do Brasil? Na verdade, o surgimento da Rede Sustentabilidade atende a expectativa de grupos políticos municipais derrotados na disputa interna de poder em partidos com maior expressão, sedentos pelo controle de uma máquina partidária pelos benefícios da barganha política que dessa situação provém. Não há dúvidas de que a contribuição de Marina seria muito mais honesta se ela empregasse o mesmo esforço que faz para a criação de um "partido mais do mesmo" em um movimento pela reforma política.”

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