É divertido acompanhar o teatro de hipocrisias que envolve o noticiário sobre as relações tortuosas entre a revista Veja, o bicheiro Carlinhos Cachoeira e o senador Demóstenes Torres. Analistas sagazes, cheios de fontes sigilosas para diversos fins, agora se fazem surpresos diante de obviedades que a blogosfera repete há anos. Quem eles pensam que enganam, afinal?
Mas não se trata apenas de uma chance para repensar a prática jornalística, pois a falência de credibilidade da imprensa corporativa tem raízes muito mais profundas e insanáveis. Tampouco a “descoberta” das práticas antiéticas de líderes demo-tucanos pode servir para limitar o caso à crônica da putrefação institucional brasileira. Todos aqui sabemos o que significa para qualquer partido político ter um governador de Estado ou um senador da República ligados a um empresário do jogo.
O que o escândalo de fato sugere é uma conspiração criminosa que serviu, direta ou indiretamente, para a tentativa de desestabilizar o primeiro governo Lula. Trata-se dos bastidores da campanha midiática notabilizada pela enganadora alcunha de “mensalão”. E não custa lembrar que as investigações da época chegavam ao cerne da privataria tucana e desembocaram em acusações de grampos ilegais contra o presidente do Supremo Tribunal Federal.
O esclarecimento minucioso dos papéis desempenhados por Veja, Cachoeira e Torres nas origens desses episódios seria capaz de, no mínimo, construir um painel histórico digno do período. Na melhor das hipóteses, contudo, influenciaria o julgamento dos “mensaleiros” a cargo do STF. Caso o silêncio das redações não funcione, talvez surja uma nova remessa de “surpreendentes descobertas” sobre os ministros da corte, para ajudá-lo a, digamos, corrigir o rumo de suas prioridades.
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