quarta-feira, 19 de maio de 2010

A mão que detém o poder



 
  
No último domingo, tive uma visão. Era 2001 e ele tinha acabado de assumir a presidência. Seu país tinha sido atacado. Quem atacou, foi porque, antes do novo presidente assumir, seus antecessores impuseram, por décadas e mais décadas, o mais legítimo terror sobre a humanidade ao atacarem populações indefesas com suas armas terríveis e poderosas e com seus exércitos ferozes e armados até os dentes.

O país do novo presidente, também o maior império da Terra, assassinara, a sangue frio, centenas, milhares, dezenas de milhares, centenas de milhares de homens, de mulheres, de crianças e de velhos indefesos, de civis que jamais haviam feito mal a outro ser vivo, muitos deles nem a uma mísera galinha. Morreriam todos como animais. E seria o país do novo presidente que mataria gente inocente daquela forma falando em “democracia”, em “liberdade” e em “terrorismo”
Contudo, esse homem não matou ninguém. Nem mandou matar. Nem permitiu que matassem. Ele tinha as mãos limpas, como ser humano. Podia escolher, e escolheu: não iria matar seus agressores, os agressores do povo que ele deveria comandar pelos próximos quatro anos.
Ergueram-se os clamores de setores da sociedade. Pediam reação, pediam sangue, e não o de seus agressores, exatamente, mas até o de compatriotas deles na falta do sangue dos culpados, mesmo que tais compatriotas fossem inocentes da agressão que o império sofreu.
Mas a nação do novo presidente ardia por vingança, alegando que inocentes, entre os seus, haviam sido mortos em ataque não menos insidioso do que aqueles todos que aquele império mesmo também perpetrara, ainda que, do alto das próprias arrogância e desfaçatez, negasse até a morte.
Todavia, o novo presidente, enquanto recebia as pressões, dizia a si: “Por que tenho que continuar com essa insanidade? Isso não pode continuar assim. Todos continuarão perdendo”. Ele e o seu grande e poderoso país perderiam muito, inclusive, pois nunca saberiam quando inimigos, ainda que mais fracos em confrontos diretos, os atacariam de surpresa de novo, e, assim, viveriam com medo, enquanto durasse o desentendimento.
Mas, por outro lado, o novo presidente do império sabia que, para não ir à guerra, teria que negociar a paz.
Mas como negociar com quem queria matá-lo? E se fizessem exigências inaceitáveis, se exigissem barbaridades que prejudicassem a outros seres humanos e até ao seu povo? E não eram seus agressores aqueles que, além de agredi-lo e ao país que agora governava, agrediam ao seu próprio povo? E as pressões, como não terminar sendo apeado do poder por elas, por aqueles que almejavam o sangue daqueles que os agrediram?
No entanto, ele teria uma cartada para arriscar. Acabara de assumir a presidência da República. Tinha o apoio de seu povo e o mundo ouviria as suas palavras. No entanto, se não dissesse o que um dos lados queria ouvir, seria estraçalhado. Certamente acabaria fora do poder. Seria chamado de demagogo, de traidor, de covarde...
Contudo, e se tivesse sucesso? Em vez de uma boa guerra faria um relativo acordo, mas que, pelo menos, salvaria milhares e milhares de vida, talvez até mais.
Interrompo a narrativa, neste momento, para expor ao leitor que, dependendo da mão que detivesse o poder após os ataques de onze de setembro de 2001, se tal poder estivesse na mão de um homem como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva talvez este tivesse optado por uma cartada desesperada em benefício do diálogo e da paz, salvando, assim, uma miríade incontável de vidas.
Retomo a narrativa.
Ele foi aos meios de comunicação para um pronunciamento ao mundo. Sim, ao mundo. Porque ele detinha poder suficiente para que o mundo o ouvisse. Era o presidente dos Estados Unidos da América e queria que o mundo o ouvisse sobre o que faria depois de sua nação ter sido atacada, de compatriotas seus terem sido mortos de uma forma covarde, desumana, bestial, enfim.
Faria isso pelos filhos daquela nação, para que não passassem a viver sob o signo do medo e para que efetivamente alguns tantos entre eles não voltassem a ser chacinados, ou pelos filhos inocentes das nações que agrediram a sua, os quais não poderiam pagar pelos crimes de alguns poucos entre os seus.
Assim sendo, o novo presidente discursou à humanidade:
-- Estou aqui para dizer o que posso e o que não posso fazer, o que quero e o que não quero fazer e para pedir que o mundo escolha o que farei.
-- Posso pisotear centenas de milhares e até milhões incontáveis entre o povo dos que me agrediram e aos meus. Tenho esse poder. Posso eliminar as vidas de muitos dos filhos das nações que agrediram a América, mas não posso ter certeza, ou dar garantias, de que matarei os culpados pelo ataque que meu país sofreu.
-- Por isso, o que quero fazer é não atacar, é negociar, é ver até onde meu país pode ceder. E, se não puder ceder, renunciarei ao cargo para o qual meu povo me elegeu, porque não mancharei esta mão que detém o poder com o sangue de inocentes. Mas devo dizer que tampouco poderei impedir que o meu povo, atacado, ferido e insultado, escolha, para o meu lugar, alguém que faça o que não quero fazer.
-- Esta decisão está nas mãos de agressores e agredidos dos dois lados, portanto, e não na minha. Se quiserem me ouvir, e se quiserem se falar, e se quiserem negociar, eu, em nome dos votos que recebi, negociarei. A humanidade deve decidir, pois a decisão opcional à que propus não pode ser tomada por um só homem.
Em minha visão, “Lula” se reuniu com os afegãos, com os iraquianos, com todos aqueles com os quais tinha que se reunir para negociar concessões de ambos os lados. E deu certo, porque houve uma tentativa, porque agredidos e agressores dos dois lados entenderam que a alternativa seria muito pior, e todos já haviam perpetrado suas vinganças, e todos teriam, assim, muito o que perder se acordo não houvesse, e por isso acordaram, e por isso houve paz.
Como se vê, tudo depende da mão que detém o poder.


 Escrito por Eduardo Guimarães

Nenhum comentário:

Postar um comentário