sexta-feira, 19 de junho de 2020

NEM O BRASIL, NEM O SÉCULO ATUAL, COSCOS DE NAPOLEÃO BONAPARTE

TE

dalton rosado
A IDEOLOGIA EM
 XEQUE (MATE?) 
Começo por dizer que desejo, pelo bem do Brasil, a impeachment do presidente Boçalnaro, o ignaro. 

O governo do Brasil está acéfalo, preso a um comportamento ideológico ultraconservador, de natureza odiosa, com posicionamentos primários que demonstram até mesmo desconhecimento teórico doutrinário do conservadorismo tradicional... e isto num momento de crises econômica e sanitária sem precedentes! 

No momento em que inicio este texto, São Paulo bate mais um recorde de óbitos num mesmo dia. São estatísticas de mortes das piores guerras. Morre mundialmente hoje, algo próximo a uma Hiroshima e uma Nagasaki a cada mês.

Tudo está administrativamente paralisado (é o isolamento funcional de quem defende o direito à aglomeração disfuncional e genocida), daí personagens contrários à social-democracia, como Joice Hasselmann, Luiz Henrique Mandetta, Mansueto Almeida e Sergio Moro, dentre outros, já terem abandonado o barco governamental. 

Enquanto isto, o que o governo discute é como livrar-se (sem magoá-lo) do ministro ativista que extrapolou todas as medidas e se tornou indefensável: o Vem-entrave para a Deseducação. É mole?

Só fica nesse governo quem obedece à cegueira ideológica boçalnarista, e assim mesmo com o cuidado de não ser protagonista, pois a insegurança eleitoral pessoal do presidente só é menor do que o seu despreparo para o exercício do cargo num governo republicano burguês com divisão de poderes, pesos e contrapesos. 

Por mais que incense o capitalismo liberal-nacionalista (uma contradição desde o enunciado), ele não compreende que o verdadeiro poder no capitalismo é o capital, daí sua irritação por ter compreendido mal os limites de poder de um presidente.

É que ele (sem compreender claramente, mas agindo por impulso) está mais para um imperador como Napoleão do que para Robespierre, mas a realidade do tempo lhe é desfavorável. Nem o Brasil, nem o século atual, comportam genéricos toscos de Bonaparte.

A sua confusão ideológica é tão grande que ele, afora imperador, quer ser ao mesmo tempo um monarca absolutista, o que nos remete às lutas revolucionárias da metade do século 19, entre o feudalismo e a burguesia emergente;  Boçalnaro (que, aliás, é apoiado por monarquistas atuais), estaria na trincheira dos queriam conservar um passado fadado a desaparecer. 

Assim me posicionando, quero dizer que sou sabedor, como muitos outros que querem a queda do Boçalnaro, que os problemas estariam longe de serem resolvidos com esse desenlace. Mas tudo ficaria menos ruim.
Daí eu defender incondicionalmente a sua queda, mesmo que isto implique uma nova eleição (no caso de o TSE cassar a chapa vencedora em 2018 por fraude eleitoral). 

Ou seja, apesar de minha rejeição à democracia burguesa e de me alinhar sempre com os jovens que pregam o não voto!, sou, acima de tudo, solidário aos brasileiros que morrerão inutilmente se Boçalnaro continuar sabotando o combate à Covid-19. 

Quando os deputados, em sua grande maioria, foram eleitos pelo capital e coronelismo político interiorano, caracterizando-se pela avidez por negociatas com as verbas públicas, o impeachment é mais difícil de passar e também mais demorado, a menos que houvesse um levante nacional (que pode até ocorrer, por força da degradação visível da vida social). 
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O FRACASSO DAS IDEOLOGIAS COMO FORNALHAS DO ÓDIO  – desde a derrota do feudalismo, selada com a queda em 1848 do último monarca francês (Luís Filipe) e estabelecimento da República e seus princípios burgueses, o mundo conheceu governos das mais diferentes formatações e posicionamentos ideológicos (de Bonaparte a Hitler, a Barack Obama e a Donald Trump) mas idênticos no conteúdo – a condição de meros gerenciadores e perpetuadores de um modo de produção voltado para as relações mercantis (produção de mercadorias para o mercado, sendo o próprio trabalho um mercadoria).
Foi o Marx exotérico, representando o autoproclamado comunismo científico, quem escreveu  em 1848, a quatro mãos com Friedrich Engels, o Manifesto do Partido Comunista, que defendia a revolução proletária e pretendia criar um Estado proletário como etapa de transição para uma sociedade futura, comunista, sem partido, sem Estado e sem classes sociais. 

Depois, contudo, abandonou tal ideia, concluindo que cometera um equívoco teórico conceitual: graças ao seu estudo profundo da economia política, que o levou a produzir a crítica desta, deduziu que a lógica de reprodução do capital a partir do desenvolvimento tecnológico aplicado à produção faria a relação social capitalista voar pelos ares.

Não seriam portanto, os trabalhadores assalariados, produtores de valor e de capital na condição de explorados, os sujeitos da revolução vitoriosa que promoveria a extinção das classes sociais diferenciadas e antagônicas, mas a consciência social exigida e criada a partir do colapso dos próprios fundamentos capitalistas.
Os anarquistas, que na 1ª Internacional dos Trabalhadores opuseram-se aos conceitos marxistas-engelianos de propriedade estatal dos meios de produção por considerarem-na, tanto quanto o Estado, desnecessária, também não compreenderam em toda a sua extensão a negatividade destrutiva e autodestrutiva do capital, uma vez que abriam exceção para a concentração dos meios de produção em cooperativas de trabalhadores, por eles admitida. 

Bakunin e seus seguidores não intuíam que a guerra concorrencial de mercado produziria, por essa via, conglomerados de trabalhadores capitalistas poderosos, os quais derrotariam trabalhadores capitalistas menos produtivos, com o que tudo terminaria na mesma.  

As correntes comunistas e anarquistas se digladiavam na construção de organizações proletárias, e a socialdemocracia burguesa se digladiava com os capitalistas mais conservadores nas instituições do Estado republicano democrático-burguês (cujo parlamento também tinha participação dos comunistas, como até hoje ocorre). 

Todos brigavam contra todos, e ainda hoje essa luta se estabelece, cada segmento com feições mais aguerridas ou mais conciliadoras; todos tendo como base de produção social o capital estatal ou privado.

Mas até aqui, o fracasso do capitalismo, ao invés de fazer com que a roda da história direcione-se para sua superação definitiva, que somente pode ocorrer com a superação do modo de produção capitalista (União Soviética e China, de tanto continuarem usando o cachimbo capitalista, entortaram a boca), promove o retrocesso, configurado num conservadorismo odioso, capaz de negar os mais elementares ganhos civilizatórios. 

Se não, vejamos:
— por que assistimos uma advogada a dizer que é preciso estuprar e matar filhas de magistrados superiores para que as coisas mudem? 
 por que uma desequilibrada e sociopata Sara Winter ousa dizer que sabe onde os ministros do STF moram, quem são suas empregadas, etc., e que, portanto, devem tomar cuidado? 
 por que os manifestantes boçalnarianos agridem jornalistas que cumprem as suas funções de noticiar os acontecimentos (e até os fotógrafos e motoristas que os acompanham)?
 por que pessoas que até ontem conviviam fraternalmente, hoje estão de tal forma polarizadas que a divergências políticas impossibilitam qualquer convivência civilizada?
 por que profissionais da área da saúde, que reivindicam melhores condições de trabalho, são agredidos por maltas alimentadas com teorias da conspiração e ódio à ciência? 
 por que se tenta defender teses as mais absurdas, como negar a ocorrência de queimadas criminosas na Amazônia ou a existência de povos indígenas e da exclusão social dos afrodescendentes trazidos ao Brasil e às Américas como escravos (e que continuam a sê-lo, agora de forma menos chocante mas igualmente efetiva, no capitalismo)? 
Só há uma explicação para o caos estabelecido: vivemos sob a égide de formatos políticos e econômicos que estão absolutamente dissociados do conteúdo atual das relações sociais em desenvolvimento, graças ao avanço do saber tecnológico e do conhecimento humanista adquiridos pela humanidade. 

As ideologias estão em xeque; todas elas. O poder vertical está em xeque; todo eles. 

Precisamos nos reinventar, sob um novo modo de produção, como forma de exorcismo do ódio. 

Sem ódio e contra eles: Fora, Boçalnaro! (por Dalton Rosado) 

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