TIMING DE TCHUTCHUCA: GUEDES ESCOLHEU UM MOMENTO EM QUE O MUNDO PEGA FOGO PARA JOGAR GASOLINA NA NOSSA FOGUEIRA
"No frigir dos ovos, Evo foi o grande inimigo de si mesmo" |
O golpe de Estado contra Evo Morales é o desfecho de um processo de instabilidade política propiciada pelo atingimento doa limites da expansão capitalista na Bolívia.
Limite não muito bem expresso em número de PIB, mas perceptível nos indicadores econômicos do dia a dia do povo boliviano.
O resultado foi a erosão da base de apoio de Evo, levando à fragilização de sua liderança, fato já visível na derrota sofrida por ele no plebiscito sobre seu quarto mandato.
O resultado foi a erosão da base de apoio de Evo, levando à fragilização de sua liderança, fato já visível na derrota sofrida por ele no plebiscito sobre seu quarto mandato.
Político hábil ao estilo lulista, Evo acabou tendo forçar uma situação impraticável e, com isto, deu munição à direita boliviana, de matriz racista, que tenta há anos apear o presidente do poder e reverter os avanços políticos e sociais lá registrados. No frigir dos ovos, Evo foi o grande inimigo de si mesmo.
Mas, não é possível considerar a situação boliviana em separado do quadro maior internacional. No mundo inteiro, insurreições, revoltas ou impasses políticos assolam o sistema planetário de produção de valor.
No centro do capitalismo, o impeachment de Trump avança, tornando-se, cada vez mais, uma luta aberta entre a Presidência da República e o Congresso.
"Luta aberta entre a Presidência da República e o Congresso" |
Numa situação jamais vista na história dos Estados Unidos, o presidente recusa-se terminantemente a colaborar com o Legislativo, faz ameaças aos congressistas e se queixa abertamente de que estariam tentando dar um golpe de estado contra ele.
Na Europa, o drama do Brexit leva o Reino Unido a mais uma eleição e ameaça seriamente o futuro da unidade do país. Escoceses querem novo plebiscito sobre independência e os norte-irlandeses não admitem o fechamento de suas fronteiras com a República da Irlanda.
Na França, Macron se sustenta a duras penas, após a crise dos coletes amarelos, a qual foi postergada, mas nem de longe solucionada.
Na Espanha, uma crise política paralisa o país há pelo menos três anos, impossibilitando a formação de um governo, pois nenhum partido consegue alcançar a maioria. O separatismo catalão aguça ainda mais os problemas, levando igualmente a dúvidas sobre o futuro da unidade nacional.
Podemos considerar a crise planetária como estando ainda em limites civilizados no centro do capitalismo. A paralisia das instituições e a possível dissolução de estados nacionais ainda é uma forma relativamente branda de manifestação da enfermidade que assola o dito cujo neste início de século.
"A crise dos coletes amarelos nem de longe foi solucionada" |
Se formos para a periferia, a coisa fica pior, com o nível de violência muito mais intenso e com os poderes abertamente saindo de seus esquadros.
Chile e Haiti vivem levantes populares há semanas, já com mortes na casa das dezenas. O Equador era palco até outro dia de massivos protestos que quase levaram à queda do presidente.
Na Ásia, o Iraque passa por imensos levantes populares há pelo menos uma semana. Hong Kong sofre há meses com confrontos nas ruas entre manifestantes e policiais, enquanto a Indonésia é varrida por manifestações estudantis.
Onde não há levantes populares, há paralisia política e bateção de cabeça entre as forças institucionais, resultado do colapso econômico processado no mundo desde a grande crise dos anos 2008-2009.
O empobrecimento generalizado, o desaparecimento da classe média, o alto custo de vida e a estagnação econômica geram inconformidade global.
Onde não há levantes populares, há paralisia política e bateção de cabeça entre as forças institucionais, resultado do colapso econômico processado no mundo desde a grande crise dos anos 2008-2009.
O empobrecimento generalizado, o desaparecimento da classe média, o alto custo de vida e a estagnação econômica geram inconformidade global.
O impacto é maior e mais doloroso na periferia, onde o baixo poder financeiro das populações torna a situação mais dramática.
Neste quadro, as elites dirigentes mais realistas já se deram conta da impossibilidade de simplesmente seguirem adiante com suas antigas receitas de austeridade fiscal e arrocho sobre o povo.
Até bilionários estadunidenses já admitem a necessidade da taxação de suas pornográficas fortunas, além da criação de mecanismos de proteção social mínimos. E o próprio FMI mudou seu clássico discurso neoliberal e hoje pensa de modo menos ortodoxo.
Por isso, fica mais chocante a política seguida por Paulo Guedes e aplaudida pela plutocracia nacional. Com atraso de décadas, Guedes tenta implantar no Brasil o que já não é seguido em quase lugar nenhum do mundo.
"O medíocre Guedes acenderá o estopim da revolução brasileira?" |
Mais, tenta aplicar um modelo que comprovadamente conduziu a toda essa condição crítica hoje vivenciada e que faz explodir as ruas, os parlamentos e os palácios governamentais.
Guedes e sua trupe, alheios à realidade, pretendem jogar gasolina no fogo ainda brando que se aproxima do barril de pólvora brasileiro. Só conseguirão com isto acelerar a explosão.
No entanto, talvez esta seja a forma da história se acelerar e efetivar suas rupturas, com as classes dominantes apertando o parafuso e involuntariamente empurrando os subalternos para a ruptura.
Foi assim na Inglaterra e na França quando, diante da penúria social, os aristocratas resolveram impor mais impostos ao povo, daí resultando a eclosão das revoluções que acabaram levando tais insensatos a perderem tudo, de cavalos aos pescoços.
Será, então, o medíocre e lunático Guedes quem acenderá o estopim da revolução brasileira? Só o tempo dirá. (por David Emanuel de Souza Coelho)
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