1. Na política, Bolsonaro patina, derrapa, escorrega quase todo dia. Em seis meses, não conseguiu formar uma base de apoio no Congresso. Cometeu erros primários na relação com o Legislativo e quis medir forças com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Perdeu terreno na negociação da reforma da Previdência, cedendo espaço e protagonismo na sua possível aprovação.
2. O partido do presidente, o PSL, mais atrapalhou do que ajudou. Foi pivô do principal escândalo até aqui, o caso das candidaturas de laranjas nas eleições passadas, que levou à queda de Gustavo Bebianno da Secretaria-Geral e transformou o único ministro da sigla, o do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, em um morto-vivo na Esplanada. No Congresso, o PSL arrumou confusões desnecessárias, expôs divisões na bancada e nada fez para liderar uma base aliada.
3. O modelo de Bolsonaro governar emitiu sinais trocados de janeiro para cá. Começou parecendo uma gestão descentralizada, com núcleos delineados (militares, Moro, Guedes, entre outros). Nos tempos recentes, no entanto, Bolsonaro tomou as rédeas e, muitas vezes de maneira atabalhoada, tem dado as cartas, trocando peças e anunciando medidas.
4. A política externa não surpreende. É tacanha, da veneração ao governo Trump (EUA) a retóricas ideológicas. No G20, porém, Bolsonaro entrou no jogo: teve de puxar o freio do blá-blá-blá bravateiro para se enquadrar na liturgia do diálogo.
5. Na economia, o governo comemora o acordo Mercosul-União Europeia. Mesmo tendo a digital de gestões passadas, o mérito de quem o celebrou fica. De resto, as fichas estão na Previdência, enquanto o PIB está em baixa e outras medidas adormecem no escaninho de Guedes.
6. Fiador ético do governo, Sergio Moro está nas cordas com as mensagens graves da Lava Jato. Será defendido por Bolsonaro até quando não for mais útil para o presidente.
TOQUE DO EDITOR — Bolsonaro começou seu governo acreditando que poderia encenar no Palácio de Planalto o show de besteiras ultradireitistas com que seus filhos e o Rasputin de Virgínia tolamente sonhavam.
Sua realização mais notável no semestre findo foi a sétima que faltou na enumeração do Colon: conseguiu reerguer espetacularmente o movimento estudantil, plantando sem querer a semente de uma indispensável nova esquerda, agora que a versão genérica das últimas décadas, após apostar tudo na conciliação de classes e perder até o último centavo, já nada mais tem a oferecer.
Finalmente, depois de ter sido colocado no seu lugar aqui (pelo Alcolumbre e pelo Maia) e lá fora (pelo Macron e pela Merkel), Bolsonaro acaba seus péssimos primeiros seis meses aparentemente decidido a deixar a pauta neofascista de lado e jogar o jogo tradicional da velha política (aquela que ele vinha vituperando após comer nesse prato por apenas três décadas...).
A boa notícia é que, se ele realmente tomar o rumo para o qual o sistema o empurra, ao invés de sustos e sobressaltos voltaremos a ter mais do mesmo de sempre.
A má notícia é que, nesse caso, provavelmente teremos de aturá-lo por mais três anos e meio (O horror, o horror!), ao passo que, insistindo no show de besteiras, ele não esquentaria cadeira.
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