O Brasil é a 8ª maior economia do mundo. Segundo reportagem do El País, cairemos uma posição no ano que vem e ficaremos com o 9º maior PIB do planeta Terra. Grandes potências e países desenvolvidos disputam posições conosco no ranking das maiores economias: Itália, Canadá, Reino Unido, Rússia.
Maravilha, não?
Agora vamos à nossa vergonha.
No ranking dos países mais desiguais do mundo, “subimos” uma posição e ocupamos o 9º lugar. Se atingirmos mesmo, no ano que vem, a 9ª colocação na lista das maiores economias, estará realizada a macabra ironia histórica.
O Brasil, um país tão rico em recursos naturais, população e PIB, será a 9ª maior economia do planeta, mas também o 9º país mais desigual do mundo.
Nesta lista da vergonha temos a companhia, à nossa frente, de oito países africanos, impiedosamente explorados e violentados por países que ostentam boas colocações no ranking da riqueza.
Na última segunda-feira (26), a ONG Oxfam divulgou relatório o qual aponta que a desigualdade de renda parou de cair no Brasil, após 15 anos de queda (leia aqui).
E o que aconteceu entre 2016 e 2017, quando estagnamos no combate à desigualdade?
O governo eleito em 2014 foi derrubado por um golpe midiático, judicial e parlamentar e, no seu lugar, assumiu um governo cujas “soluções” para a crise foram basicamente duas: privatizar patrimônio público e aprovar a Emenda Constitucional do teto dos gastos.
Com esta EC, congelou-se os gastos com educação, infraestrutura, saúde e etc., ou seja, os gastos que podem contribuir para aumentar a renda média da população e a sua qualidade de vida. Segundo a Oxfam, o volume de gastos sociais do Brasil retrocedeu ao patamar de 2001 e gastamos miseráveis 5% do nosso orçamento com educação.
Enquanto isso, gastamos algo próximo da metade do nosso orçamento com o pagamento de uma dívida que nunca foi auditada. É uma caixa preta que suga algo em torno de 50% do nosso orçamento todo ano! É claro que esses gastos com a dívida pública, que vão direto para os bancos e especuladores, não entraram na EC do teto dos gastos. No dinheiro que é sugado da população e vai direto para os super ricos, ninguém toca.
A tendência, com Bolsonaro, é tal quadro desesperador aprofundar-se ainda mais.
Procure alguma declaração do presidente eleito sobre desigualdade social. Em uma pesquisa rápida, achei apenas uma de abril, em que ele fala em militarizar escolas. Só.
Seu programa econômico, ou o de Paulo Guedes, vai na linha do governo Temer, mas muito mais radical. Vender ainda mais patrimônio público e cortar ainda mais gastos sociais.
Ora, isso obviamente não vai funcionar. Vai aumentar ainda mais a pobreza e a miséria. A morte de brasileiros e brasileiras.
A direita sabe disso, mas evidentemente não pode dizer. Resta mudar de assunto e ficar gritando que o problema é a corrupção dos políticos ou que prendemos e matamos poucos bandidos.
A corrupção dos políticos deve ser combatida sim, mas a nossa grande vergonha, a chaga que impede que tenhamos soluções duradouras para os nossos problemas, é a desigualdade social. Vivemos em um mundo capitalista, em que todos têm acesso à propaganda do sistema e recebem a mensagem: para ter valor na nossa sociedade, para ter algum status, é necessário possuir bens materiais caros e “de marca” – roupas, celulares, acessórios, carros, etc.
Todos são inoculados dia e noite com a propaganda capitalista, mas poucos têm acesso aos bens de consumo que conferem respeitabilidade social. É evidente que no 9º país mais desigual do planeta a criminalidade só pode explodir. Venda a ideia de que é preciso ter bens materiais para ser alguém e não permita que a maioria da população tenha acesso a esses bens, e pronto: temos a receita para a criação de um exército de criminosos.
O que é ótimo para o sistema. Os Datenas da vida podem colocar a culpa nos assaltantes de celular, transformando-os em inimigos do país; Bolsonaros da vida podem dizer que a solução é sair prendendo e matando todos eles; e a Justiça pode fazer o serviço sujo e ainda garantir o gordo aumento dos ministros do STF e juízes. Mesmo assim, a fábrica de criminosos pé-rapados não terá fim.
A pobreza e a miséria descomunais que atingem a 8ª maior economia do planeta garantem que continuaremos a produzir os bodes expiatórios para que os verdadeiros criminosos assaltem o orçamento do país. E aí não se trata de vender uma buchinha de cocaína na praça ou roubar um par de tênis, mas tirar bilhões de dinheiro público que poderiam ser investidos na melhora da qualidade de vida da população e revertidos em aumento na renda para colocar em poucas e gordas – figurativamente – mãos.
Enquanto isso, o futuro ministro da Educação diz que é “bobagem pensar na democratização da universidade”, porque nem todo mundo gosta ou quer fazer uma faculdade. “O segundo grau teria como finalidade mostrar ao aluno que ele pode colocar em prática os conhecimentos e ganhar dinheiro com isso. Como os youtubers, ganham dinheiro sem enfrentar uma universidade”, disse o inacreditável ministro.
Quem não gosta de universidade para todos é o conluio de espoliadores que quer dar apenas duas opções para a maioria da população brasileira: ou trabalhar duro e ganhar uma miséria ou ir para a criminalidade.
Não, senhor ministro, virar youtuber não é uma opção válida. É apenas uma sugestão estúpida e cruel da sua parte.
Como é estúpido e cruel o projeto da direita para o país.
PEDRO BREIER
Pedro Breier, colunista d'O Cafezinho, é formado em direito mas gosta mesmo é de jornalismo. Nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo.
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