quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Cristiano Ronaldo e a luta de classes na Itália


No início de julho, trabalhadores de uma fábrica da Fiat ameaçaram parar por dois dias devido à contratação de Cristiano Ronaldo pela Juventus, de Turim.

O time é controlado pela empresa e os trabalhadores que ameaçavam entrar em greve pertencem à unidade de Melfi, no sul da Itália. São cerca de 7 mil operários diretos e 3 mil indiretos.

O movimento considera inaceitável que a empresa venha pedindo enormes sacrifícios a seus trabalhadores, enquanto gasta centenas de milhões de euros para contratar um único jogador de futebol.

Claro que os trabalhadores têm toda razão. Mas descontando possíveis manobras para lavagem de dinheiro, o elevado montante envolvido na operação não se deve a uma suposta maluquice dos donos da Fiat.

Há décadas, supersalários são pagos a atletas, cantores, atores etc. Se ganham muito acima da média mundial, o fato é que sua atuação alavanca valores muito maiores.

Calcula-se que somente o futebol europeu movimente 35 bilhões de euros anuais. A contratação do jogador português representa uma pequena fração desse total: cerca de R$ 450 milhões.

Em “Teorias sobre a mais-valia”, Marx usa como exemplo o trabalho de uma cantora. Ao se apresentar em um cabaré, o talento dela está sendo explorado pelo proprietário do lugar.

Ou seja, não é preciso ser operário para gerar valor para o capital. Desse ponto de vista, a atividade de Cristiano seria tão produtiva quanto a dos trabalhadores mobilizados.

Do ponto vista da luta de classes, porém, o episódio denuncia não só a enorme concentração de riqueza e patrimônio, como mostra que radicalizações podem surgir até onde menos se espera.

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