Em artigo na Folha de 10/06/2018, o historiador Hilário Franco Júnior lembra que o futebol surgiu antes da consolidação dos estados nacionais. Teria, assim, uma vocação “tribalista”. Daí, diz ele, não faz sentido querer “transformar o tribalismo em nacionalismo.”
No último mundial de clubes, por exemplo, dizer que "o Grêmio é Brasil" despreza importantes “rivalidades tribais”. Tanto os torcedores do Internacional como os de todos os outros times vencedores daquela competição ficaram contra o tricolor gaúcho. Os sentimentos tribais teriam ficado acima de um “hipotético sentimento nacional no qual não se viam representados”.
O fenômeno não é exclusividade de nosso futebol. O historiador lembra a recente final da Liga Europa entre Atlético de Madrid e Olympique de Marseille. Nos respectivos países, as torcidas rivais de cada time queriam a derrota de seus conterrâneos. “Tratava-se de assunto tribal, não nacional”.
Para Franco Jr.:
...paixões violentas podem surgir tanto de sentimentos tribais como de sentimentos nacionais, mas estes últimos são mais difíceis de serem controlados devido ao seu alto grau de institucionalização e seus amplos recursos materiais e humanos.
A livre circulação dos atletas fez surgirem “verdadeiras seleções internacionais agregadas sob bandeiras tribais”. Desse modo, já “não é necessário esperar quatro anos para ver os nomes mais talentosos atuando lado a lado; basta acompanhar os principais campeonatos nacionais europeus e suas competições continentais”.
Por isso, não se pode esperar que a Copa do Mundo seja “instrumento de pacificação entre países de boa vontade”, como queria seu criador, Jules Rimet. “Basta que seja uma disputa esportiva limpa dentro e fora do campo”.
E mesmo isso já é pedir muito!
https://pilulas-diarias.blogspot.com/2018/06/o-futebol-entre-o-tribalismo-e-o.html
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