Henry Ford ficou conhecido por introduzir a produção em série. Mas poucos sabem que para trabalhar na Ford era preciso comprovar adesão a certos valores como fidelidade conjugal, estabilidade familiar e emocional, repulsa ao álcool e à vida boêmia, apego à religião e patriotismo.
Mais sutil, o toyotismo se apropriou da capacidade flexível da produção artesanal. Passou a exigir de seus “colaboradores” capacidade de cooperação, consenso, participação, valorização dos grupos informais etc.
Já na era do Uber, as empresas inovam a partir da chamada economia compartilhada ou “economia do bico”. Nela, borram-se as fronteiras “entre consumo e trabalho, entre o que é trabalho e o que não é, entre trabalhador e consumidor, entre o trabalho e o bico, entre trabalhador-empreendedor”.
A análise acima é um resumo grosseiro de um artigo que vale a leitura. Trata-se de “Luta de classes na era do Uber”, de Marco Antonio Gonsales de Oliveira, Rodrigo Bombonati de Souza Moraes e Rogério de Souza. É dele também a seguinte passagem:
As empresas da economia do compartilhamento navegam nas oportunidades que a sociedade do trabalho, em crise, oferece: consumidores em busca de baixo preço e trabalhadores em situação de desespero.
Sendo que “consumidores em busca de baixo preço” e “trabalhadores em situação de desespero” muitas vezes são as mesmas pessoas.
Mas tudo isso fica escondido sob a aparência de “eficiência”, “versatilidade”, e até “sustentabilidade ecológica”.
Ou seja, desde a triagem moralista de Ford, passando pela apropriação do artesanato pelo toyotismo até a uberização do desespero, é de luta de classes que se trata. Mas também de luta ideológica. Disputa de hegemonia.
http://pilulas-diarias.blogspot.com.br/2017/12/uberizacao-do-desespero-luta-de-classes.html
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