Só a idade provecta, a desimportância pessoal e a mídia restrita que uso permitiram que expusesse minha certeza que, por certa, se confirma – assim mesmo porque me recuso a discutir com os apaixonados, os crentes e os convictos, que fazem dos desejos esperança e contam que alguém os realize.
Só um tarado formalista ou um bacharel brasileiro poderiam aceitar que o que ocorre tem algo remotamente parecido com democracia.
O legal não é legítimo: por meios institucionais, essa gente jamais devolverá o poder.
Ao contrário de 1964, quando o golpe foi dado contra o trabalhismo e no contexto da guerra fria, esse objetiva desmontar o Brasil – e o fará.
Quem se opuser será desacreditado, desmoralizado, combatido como criminoso, condenado por crimes quer os tenha ou não cometido, ou terá morte suspeita – provavelmente em desastre de avião, que é o mais fácil.
Radicalizaram.
O dragão da maldade comanda o Judiciário, o Legislativo, o Executivo, a mídia, as igrejas, armou um exército policial paralelo – uma espécie de SS frente a Wehrmacht. A dissidência será contida em guetos, sob pressão social, e se condenará a validar, pela existência, a iniquidade.
Ou uma improvável força oculta (nem poderia, obviamente expor-se) ergue-se com a força dos terremotos por sobre a desinformação da massa e o engano dos letrados – terá que buscar no povo forças para revolver o lixo o e enfrentar águias, hienas e urubus que cercam a carniça - ou .podemos cogitar do fracionamento do país em estados menores que (dou, como exemplo, guardadas nítidas diferenças, a Iugoslávia) poderiam, talvez, viver sob menor pressão e enfrentar com eficácia os problemas sociais que infernizam – e infernizarão cada vez mais – a nossa vida.
*Nilson Lage é professor titular da UFSC
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