sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Partidos Social-Democratas europeus que adotaram a Terceira Via Neoliberal estão rachando e se enfraquecendo!

Partidos Social-Democratas europeus que adotaram a Terceira Via Neoliberal estão rachando e se enfraquecendo! - Marcos Doniseti!

Pedro Sánchez defende reformas moderadas para promover mudanças na economia e na sociedade espanholas. Mas ele foi derrubado do cargo de Secretário-Geral do PSOE pelas lideranças mais conservadoras do partido. Agora, ele disputará as eleições primárias que o PSOE convocou para este ano e tentará voltar ao cargo, com o apoio dos eleitores do partido.

As velhas e tradicionais legendas social-democratas europeias que aderiram à Terceira Via Neoliberal de Tony Blair e Anthony Giddens estão rachando e se enfraquecendo cada vez mais.

Estes são os casos do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), do PSF (Partido Socialista Francês), do Partido Trabalhista britânico e do Partido Democrático italiano.

A única exceção a este processo é o PSP (Partido Socialista Português), que lidera um governo progressista moderado de coalizão bem sucedido em Portugal.

1) Espanha - PSOE: O partido, liderado por Felipe González, foi o segundo mais votado na eleição para o Parlamento espanhol e acabou permitindo que o Partido Popular (Direita neoliberal), vencedor da eleição, mas que não conseguiu a maioria absoluta, continuasse governando a Espanha.

Assim, o PSOE acabou abrindo mão de fazer uma aliança com o Podemos, liderado por Pablo Iglesias, que conquistou uma votação muito próxima à do PSOE na eleição para o Parlamento espanhol.
Felipe González fez o tradicional PSOE adotar as políticas neoliberais da Terceira Via e ajudou na manutenção do governo do PP (liderado por Mariano Rajoy), o que provocou grandes divisões e conflitos no partido. 
Isso gerou uma grande crise no PSOE, que levou à renúncia de Pedro Sánchez do cargo de Secretário-Geral depois que a maioria dos líderes da legenda ficaram contra a sua liderança. 

Com isso, o PSOE está cada vez mais dividido entre suas alas mais conservadoras (liderada por Felipe González) e as mais progressistas (lideradas por Pedro Sanchéz).

Em algum momento esta divisão poderá levar a um racha ou a um brutal enfraquecimento do partido, que poderá perder seus eleitores mais conservadores para o PP ou para o Ciudadanos, e os seus eleitores mais progressistas poderão debandar para o Podemos.

E este racha poderá acontecer ainda em 2017, quando o PSOE irá realizar eleições primárias para escolher o seu novo líder. 

2) França - PSF: Já o segundo (o PSF) governa a França, mas tem um Presidente da República (François Hollande) que fez um governo totalmente neoliberal e que é tão impopular que sequer tentou a reeleição. A reforma trabalhista, extremamente impopular, que Hollande impôs acabou sendo rejeitada pela maioria dos deputados do próprio PSF.
François Hollande fez um governo neoliberal e impôs uma reforma trabalhista extremamente impopular. Seus baixos índices de aprovação levaram-no a desistir da reeleição. No entanto, o seu ex-ministro da Economia (Emmanuel Macron) é o favorito para vencer a eleição presidencial.  
E agora, nas primárias do partido, os eleitores do PSF literalmente se rebelaram contra as políticas neoliberais de Hollande e escolheram Benoît Hamon, da ala mais esquerdista da legenda e que é um forte crítico do governo francês, para ser o candidato à Presidente da República.

Isso fez com que uma parte dos eleitores de Manuel Valls, ligado a Hollande e que é um defensor das políticas deste, se disponha a votar em Emmanuel Macron, candidato independente e de perfil mais moderado e centrista, abandonando a candidatura de Hamon.

Assim, existe o risco de Hamon (que tem 16% nas pesquisas) não passar para o 2o. turno (que contará com a presença mais do que certa de Marine Le Pen, que lidera as pesquisas com 26% das intenções d voto) pois também temos a presença de um candidato mais à Esquerda, que é Jean-Luc Mélenchon (líder da Frente de Esquerda), obtém 10% dos votos.

Assim, a divisão entre as duas candidaturas mais progressistas poderá fazer com que o 2o. turno seja disputado entre a Extrema-Direita (Marine Le Pen) e um direitista (o neoliberal Fillon ou o moderado Macron).
Emmanuel Macron (ex-ministro da Economia do governo de Hollande e que saiu do Partido Socialista) foi o maior beneficiado pelo escândalo que atingiu fortemente a campanha do direitista Fillon e tornou-se o favorito para vencer a eleição presidencial francesa. 
Somente uma eventual união, já no 1o. turno, entre Hamon e Melenchon é que poderia evitar esse desastre histórico para as forças mais progressistas da França de ficar de fora do 2o. turno da eleição presidencial.

3) Reino Unido - Partido Trabalhista: Já no Reino Unido, o novo líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, enfrenta as fortes resistências dos deputados da legenda, quase todos comprometidos com as políticas Neoliberais da Terceira Via de Tony Blair, enquanto que a base política e eleitoral trabalhista, na sua maioria, rejeita tais políticas.

Inclusive, a maior parte do eleitorado trabalhista votou a favor do Brexit, contrariando totalmente a posição dos deputados da legenda, favoráveis à manutenção do Reino Unido na União Europeia.

Assim, Corbyn fica numa corda bamba, tendo grandes dificuldades para liderar um partido tão dividido.

Somente uma nova eleição para o Parlamento britânico, que levasse o eleitorado trabalhista a renovar inteiramente o seu quadro de deputados, com a eleição de parlamentares comprometidos com as políticas progressistas e keynesianas preconizadas por Corbyn, é que poderiam resolver esse impasse.
Benoit Hamon (à direita) derrotou Manuel Valls nas primárias do Partido Socialista Francês, defendendo propostas como a criação de uma Renda Básica Universal e a taxação das riquezas geradas pelos robôs da 4a. Revolução Industrial. 
Mas elas não acontecerão tão cedo e, enquanto isso, Corbyn e os deputados trabalhistas vão intensificando os conflitos, agravando o racha interno.

O fato do Partido Conservador ter uma Primeira-Ministra, Theresa May, que adotou uma política mais nacionalista e que é bastante dura nas críticas ao Neoliberalismo, poderá levar os divididos e rachados trabalhistas a sofrer uma nova derrota na próxima eleição para o Parlamento, que irá acontecer apenas em 2020;

4) Itália - Partido Democrático: Governa a Itália atualmente, mas o então Primeiro-Ministro, Matteo Renzi, foi derrotado em um referendo a respeito de propostas de mudanças no sistema político do país, no qual 60% dos eleitores votaram contrários às mesmas. Isso provocou a renúncia de Renzi que, no entanto, continua sendo uma importante liderança do partido. 

O governo Renzi também promoveu a adoção de reformas neoliberais, bastante impopulares, e o PD também está dividido sobre as políticas que deveria adotar. 

Além disso, o partido que mais cresce na Itália e que lidera as pesquisas mais recentes, neste momento, é o 'Movimento 5 Estrelas' (liderado pelo humorista Beppe Grillo) e que combina, em seu programa, propostas mais progressistas (fim das políticas neoliberais e de arrocho), com outras mais conservadoras, fazendo ainda duras críticas à União Europeia. 

Assim, o 'M5S' tem grandes chances de vir a liderar um futuro governo na Itália. 
Matteo Renzi (à esquerda) foi derrotado no referendo italiano, onde o 'Não' para as suas propostas de reforma constitucional foi vitorioso 60% dos votos, provocando a sua renúncia. O 'M5S' (liderado por Beppe Grillo) condena as políticas neoliberais (adotadas por Renzi) e é o partido que mais cresce na Itália. 
5) Portugal - PSP (Partido Socialista Português): Este foi o único caso de recuperação vitoriosa por parte de um tradicional Partido Socialista europeu que tivemos nos últimos anos.

Na eleição para o Parlamento português que se realizou no final de 2015, as forças políticas mais progressistas acabaram conquistando a maioria absoluta.

Apesar da divisão dos deputados entre quatro partidos (Socialista, Comunista, Verdes e Bloco de Esquerda) os mesmos conseguiram fechar um acordo e elegeram Antonio Costa (PSP) para Primeiro-Ministro.

Com isso, as políticas neoliberais e de arrocho foram enterradas e o salário mínimo voltou a ter aumentos reais.

Desta maneira, Portugal retomou o crescimento econômico e está conseguindo reduzir o desemprego.

Por isso mesmo é que, segundo uma pesquisa divulgada em Janeiro deste ano, mostra que se a eleição para o Parlamento português fosse realizada neste momento, os quatro partidos progressistas (Socialista, Comunista, Verdes, Bloco de Esquerda) que governam o país teriam, no total, 54,6% dos votos (conquistaram 50,75% dos votos em 2015), contra apenas 36,9% da oposição formada pelos partidos PSD/CDS-PP (Direita Neoliberal; conquistaram 38,4% dos votos em 2015). 

Assim, a maioria parlamentar dos partidos progressistas ficaria maior caso a nova eleição fosse realizada agora. 

Como se percebe, a defesa ou a rejeição de políticas neoliberais está dividindo, rachando e enfraquecendo os principais e tradicionais partidos da Social-Democracia europeus. A única exceção entre os mesmos é o do PSP, pelas razões que apontei.

Tais partidos enfrentam um dilema: Eles deverão manter o seu apoio às políticas neoliberais, que são cada vez mais impopulares na União Europeia e que estão provocando sucessivas derrotas eleitorais para tais legendas? 

Ou então eles devem retomar projetos e ideias mais progressistas, de perfil keynesiano, tal como fizeram em suas origens (quando eles foram fundamentais na construção do Welfare State na Europa Ocidental no Pós-Guerra), como desejam promover, por exemplo, Jeremy Corbyn, Benoit Hamon e, em menor grau, Pedro Sánchez?
Jeremy Corbyn foi eleito o líder do tradicional Partido Trabalhista britânico (Labour Party), mas as suas propostas social-democratas e keynesianas enfrentam uma forte resistência dos deputados da legenda, que são defensores da Terceira Via Neoliberal de Tony Blair e Anthony Giddens, provocando fortes divisões entre os Trabalhistas. 

Links:

Benoit Hamon recupera propostas progressistas para o Partido Socialista Francês:


A fratura da Esquerda europeia:


Direção do PSOE entrega o governo espanhol para o PP:


Pedro Sanchéz lança candidatura para liderar novamente o PSOE:


O momento de Emmanuel Macron:


Portugal: Partidos que apoiam Antonio Costa teriam 54,6% dos votos em eleição para o Parlamento, contra apenas 36,9% da oposição (Direita Neoliberal):


Portugal: Taxa de Desemprego diminui para 10,2% com o fim das políticas neoliberais e de arrocho:


Portugal: Taxa de Desemprego era de 12,2% no final de 2015:


Emmanuel Macron ultrapassa Fillon no 1o. turno e derrotaria Marine Le Pen, no 2o. turno, com 65% dos votos:

via: http://guerrilheirodoentardecer.blogspot.com.br/2017/02/partidos-social-democratas-europeus-que.html

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