Por Fernando Brito, em seu blog
Reportagem de Cristiane Lucchesi, Sabrina Valle e Blake Schmidt, da Bloomberg, publicada ontem pela Exame traz uma indagação que deixaria qualquer investigação séria interessadíssima.
É que Sérgio Firmeza Machado, avalista de parte do pagamento da tal multa de R$ 70 milhões imposta ao pai, Sérgio Machado, pelas roubalheiras confessadas na Petrobras, ganhou, ano passado como remuneração – legal e declarada – do Banco Credit Suisse, onde era diretor, R$ 48,4 milhões (US$ 14 milhões).
É quase o dobro do mais bem pago executivo do banco em todo o mundo.
Não é a única informação intrigante: em 2013, o Credit Suisse fez um empréstimo ao Governo Antonio Anastasia, em Minas, no valor de US$ 1,27 bilhão e um mês depois vendeu o crédito a investidores com um lucro de US$ 116 milhões.
“Serginho”, claro, diz que seus negócio no banco nada tinham a ver com as falcatruas do pai, que, inclusive, seriam o motivo do afastamento entre ambos.
Edificante, não?
Hoje, na Folha, Bernardo de Mello Franco narra a vida confortável do “Sérgio Pai” em sua mansão na Praia do Futuro e a de outros “heróis da Lava Jato”, cujas delações são a base de todo o processo que Curitiba, com alguns pedaços no STF:
Não passou um único dia na cadeia e foi autorizado a se recolher ao conforto do lar, onde poderá matar o tempo entre a piscina, a quadra poliesportiva e a churrasqueira. Ele ainda terá autorização para sair de casa em ao menos oito datas até 2018, quando se livrará da tornozeleira eletrônica.
(…)Paulo Roberto Costa, o ex-diretor da Petrobras, habita um condomínio exclusivo em Itaipava, na região serrana do Rio. É vizinho de altos executivos e de um ministro do Supremo, que acumulou patrimônio como advogado de renome.
Pedro Barusco, o ex-gerente da estatal que organizava planilhas de propina, aproveita o mar em Angra dos Reis. No ano passado, foi fotografado à vontade numa cadeira de praia, dando baforadas num charuto e tomando cerveja. Ele cumpre pena em regime aberto, que dispensa a companhia da tornozeleira.
Estranhos valores morais da “moralização” em curso no Brasil.
Roubar é pecado não apenas perdoado, mas premiado, quando seguido da “deduragem” dos cúmplices, ou de supostos cúmplices.
Verdade que os denunciados foram, em geral, cúmplices ou mandantes da roubalheira. Em geral, mas todos são tratados como se fossem, exceto aqueles que, a critério da Polícia Federal, do MP e do Judiciário, “não vêm ao caso”.
E o corolário deste triunfo da moralização, que justifica jogar no lixo a vontade eleitoral do povo brasileiro, será a imolação pública de uma mulher contra a qual, nem mesmo com dezenas de delações e todos os prêmios oferecidos, não se arranjou sequer um ato em benefício próprio.
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