A torcida do Corinthians inventou de protestar contra a Federação Paulista de Futebol, a Confederação Brasileira de Futebol, a rede Globo e até a máfia das merendas do governo Geraldo Alckmin. Essas manifestações têm dois aspectos curiosíssimos, que a imprensa corporativa finge não perceber.
O primeiro é a repressão violenta dos cossacos. Quem ordena tais ações policiais? Os árbitros das partidas? Um funcionário da FPF? Alguém da Globo? Essas pessoas têm autoridade sobre as forças de segurança? É atribuição de servidores públicos impedir protestos pacíficos? Entidades privadas podem suspender prerrogativas constitucionais?
A segunda estranheza vem da impertinência política dos torcedores. A lembrança da corrupção tucana em plena massa alvinegra sinaliza para um viés inesperado no descontentamento popular. Mesmo que tudo não passe de resposta a perseguidores de torcidas organizadas (interessante maneira “pejorativa” de qualificá-las) e à chefia da PM brucutu, a simples associação demonstra uma consciência crítica livre dos condicionamentos da mídia. Da própria Globo, aliás.
É fácil apontar a incoerência dos ataques contra as mesmas instituições que financiam e promovem os sucessos do Corinthians. Mas precisamos saudar em seu exemplo a demonstração de que a defesa da cidadania começa no rompimento das inúmeras amarras cotidianas, exatamente as que parecem naturais e inquestionáveis, e que os poderosos preservam com toda a força coercitiva disponível.
Se os torcedores do país percebessem isso, mudariam muito mais do que o futebol brasileiro.
http://guilhermescalzilli.blogspot.com.br/2016/02/cidadaos-organizados.html
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