segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Evo Morales, líder excepcional


Evo Morales chegou à presidência da Bolívia há dez anos. Poucos países no mundo conseguiram em tão pouco tempo as notáveis mudanças econômicas, sociais, culturais e políticas ocorridas a partir daquele 22 de janeiro de 2006.

Não foi um mero ato eleitoral o que produziu conquistas tão colossais. A vitória eleitoral foi resultado de seculares lutas dos povos originários do altiplano andino a partir das lendárias rebeliões de Tupac Katari e Tupac Amaru, e o decisivo envolvimento das massas indígenas nos exércitos bolivianos, que juntamente com as legiões de San Martin liberaram a América do Sul. Também foram importantes o arrojo e a convicção da “chola” Juana Azurduy, promovida por Bolívar a tenente-coronel, e dos índios expulsos de suas terras ancestrais pelos colonizadores para serem explorados sem piedade nos latifúndios e nas minas.

Também foi resultado das ações dos trabalhadores do estanho e seus combates contra o capital e a dominação imperialista, que levaram à revolução de 1952; da guerrilha do Che; mais recentemente, das guerras da água e do gás e da defesa, pelos cocaleiros, das suas terras e tradições, que levaram Evo Morales a ser eleito como deputado num Congresso que terminou por expulsá-lo, até sua imbatível eleição como presidente em 2005 diante da tenaz oposição das elites locais e de Washington, que o viam com surpresa ascender à cabeça de uma revolução gestada pelos movimentos sociais. 

Conduzida por Evo através de um profundo processo democrático constituinte, a Bolívia passou de Estado oligárquico  a serviço dos Estados Unidos, racista, excludente da maioria da sua população e cultura indígenas, com uma pobreza somente comparável à do Haiti, para se transformar em um pujante Estado plurinacional soberano e independente. A nova Constituição, redigida por representantes de todos os povos originários e inter-culturais que a compõem, e aprovada em referendum nacional, teve um caráter acentuadamente anti-neoliberal  ao proclamar o papel gestor do Estado em um modelo de economia social comunitária que controla os recursos naturais em benefício coletivo dos bolivianos.

A nacionalização dos hidrocarbonetos e a redistribuição da sua renda tornou possível que a Bolívia reduzisse a pobreza em 25% e a pobreza extrema em 50%, e também que o salário mínimo subisse 87,7%. Tudo isso em relação a 2006, quando Evo assumiu a presidência

O orçamento da saúde, que em 2005 era de 195 milhões de dólares, ascendeu a 600 milhões em 2012, tendo se conseguido também uma sensível diminuição da mortalidade infantil e materna. Até esse mesmo ano, médicos cubanos tinha atendido  gratuitamente 58 milhões de pessoas, realizado 33 mil partos e 134 mil cirurgias não oculares, e operando da visão a 650 mil pacientes através da Operação Milagre, indicadores que tem continuado a se elevar com a decidida participação de centenas de médicos bolivianos egressos da Escola Latino-Americana de Medicina de Cuba.

Nos governos de Evo se  conseguiu alfabetizar a grande maioria da população iletrada, tanto em espanhol como em línguas originarias  na escolarização básica universal. O país marcha para a industrialização dos hidrocarbonetos, na qual os investimentos públicos, que tem sido os maiores da América Latina, foram muito importantes.  A economia cresce à uma média anual de 5,1%, na vanguarda da região. A demanda interna quase duplicou e é, acima das exportações, o principal motor de crescimento da economia.

Nestes dez anos surgiram 192.932 novas empresas, e a inflação está em segundo lugar entre as menores da América do Sul.  A arrecadação tributária quadriplicou e rende muito mais do que antes por que a malversação e a corrupção são combatidas sem tréguas. Da posição de penúltimo em matéria de desigualdade na região, o país passou para a quarta posição.

Nada disso teria sido conseguido sem a liderança, o carisma, a exemplar entrega ao trabalho, a sabedoria política e a coesão conquistadas em torno de si por Evo Morales. Não há revoluções nem processos de mudanças sociais sem líderes excepcionais e irrepetíveis, verdadeiros partos da historia cuja substituição exige muitos anos de acumulação cultural e política que se encarnem em equipes, onde pode haver líderes, embora não daquele porte. Com o vendaval econômico e político internacional que vem aí, é muito inteligente a proposta dos movimentos sociais para a população boliviana de reapresentar a candidatura de Evo à presidência.  

@aguerraguerra


Via Rebelión

Por Ángel Guerra Cabrera - La Jornada

Tradução do espanhol: Renzo Bassanetti

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