O maior anticomunista que conheci nestas seis décadas de vida não foi um daqueles militares raivosos que tomaram conta do Brasil por 21 anos, nem algum político defensor do "livre mercado" ou fã de carteirinha do "american way of life".
O maior anticomunista que conheci chamava-se Antonio Geraldo de Campos Coelho, era sociólogo, escrevia artigos quase indecifráveis para os jornais de Jundiaí, onde nasceu, viveu e morreu.
Também era um tipo esquisitão, noctívago, cheio de manias, que tentou ser professor, mas devido ao seu temperamento um tanto quanto explosivo, acabou cuidando de uma biblioteca de uma escola da cidade.
O Coelho, como o chamavam todos os que o conheciam, adorava discutir política, mas não essa paroquial, do dia a dia, do toma-lá-da-cá, e sim as grandes linhas de pensamento filosófico, as mais intrincadas teorias, as diversas correntes sociológicas, todo esse tesouro que compõe a civilização humana.
Procurava combater o marxismo que repudiava com paixão com argumentos que supunha sólidos, irrebatíveis.
Dizia, naqueles idos tempos da ditadura militar, que era difícil encontrar alguém de direita que conseguisse sustentar um debate com algum comunista de carteirinha.
Para ele, o Brasil sofria desse problema: a direita era burra e truculenta.
O Coelho morreu há cerca de uma década.
Acho que, se estivesse vivo, certamente reforçaria essa sua convicção de quanto tosca e primária é a direita brasileira - o noticiário e os artigos dos jornais e da internet seriam uma extraordinária fonte para fortalecer seu pensamento.
Pessoas como o Coelho, que pretendem convencer os outros com a conversa, usando o raciocínio, e não com mentiras absurdas, xingamentos, expressões de ódio de classe e puro preconceito - e até mesmo o mais rasteiro racismo - são extremamente difíceis de encontrar hoje em dia.
Nestes tempos em que a velocidade predomina, em que tudo tem de ser feito às pressas, o que se vê é cada vez mais a intolerância, o berro e a violência, substituírem a razão e o debate civilizado de ideias.
O Coelho podia, quando expunha seus pontos de vista, ser obscuro, quase ininteligível, até mesmo intransigente.
Mas ele deixava, na maioria das vezes, seu oponente numa situação complicada. Impressionava a plateia.
E, convenhamos, isso é uma maneira bem mais eficiente para convencer os outros que a sua posição é a mais correta do que chamar o adversário de "petralha" e outras imbecilidades desse tipo.
É, dá trabalho pensar..
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