Carlos Lopes, Hora do Povo / Blog do Miro
“A principal estrela dos 16 minutos que a Globo, no último "Fantástico", dedicou às ferrovias, portos e ao (suposto) terrível descaso de Lula e Dilma para com eles, foi o sr. Bernardo Figueiredo, presidente da Empresa de Planejamento de Logística (EPL).
O show (pois reportagem aquilo não foi) constituiu-se de mentiras, falsificações e estelionatos informativos, além de uma burrice indecente por parte da repórter – o que não é surpresa – e de uma senhora algo avantajada que apresentou o programa.
No entanto, dos entrevistados, o único que mostrou uma inequívoca satisfação foi Figueiredo. Os outros, até os capachos de fé, pareciam sentir uma úlcera ou um corpo estranho adentrando-lhes, supomos, a alma. Eles sabem quando estão mentindo. O ministro dos Portos parecia constrangido – tão constrangido que assinou em seguida uma nota apontando algumas mentiras.
O único que estava, não somente à vontade, mas alegre, contente, exibindo-se para a Globo - e nem se abalou em assinar a nota conjunta do governo - era o sr. Figueiredo. O que é muito interessante, porque ele é o principal responsável pela elevação do preço do transporte ferroviário para, em média, 103% do preço do transporte rodoviário (há quase um consenso que aquele é, normalmente, pelo menos 30% mais barato que o último; exceto quando há um mágico escondendo cobras e engolindo espadas...).”
O show (pois reportagem aquilo não foi) constituiu-se de mentiras, falsificações e estelionatos informativos, além de uma burrice indecente por parte da repórter – o que não é surpresa – e de uma senhora algo avantajada que apresentou o programa.
No entanto, dos entrevistados, o único que mostrou uma inequívoca satisfação foi Figueiredo. Os outros, até os capachos de fé, pareciam sentir uma úlcera ou um corpo estranho adentrando-lhes, supomos, a alma. Eles sabem quando estão mentindo. O ministro dos Portos parecia constrangido – tão constrangido que assinou em seguida uma nota apontando algumas mentiras.
O único que estava, não somente à vontade, mas alegre, contente, exibindo-se para a Globo - e nem se abalou em assinar a nota conjunta do governo - era o sr. Figueiredo. O que é muito interessante, porque ele é o principal responsável pela elevação do preço do transporte ferroviário para, em média, 103% do preço do transporte rodoviário (há quase um consenso que aquele é, normalmente, pelo menos 30% mais barato que o último; exceto quando há um mágico escondendo cobras e engolindo espadas...).”
Currículo
Figueiredo tem um currículo miraculoso: sob Fernando Henrique Cardoso, chefe de gabinete do presidente da Rede Ferroviária Federal, realizou os "estudos" para a privatização das ferrovias; em seguida, tornou-se presidente da principal beneficiária da privatização, a Interférrea (posteriormente denominada ALL, da qual o sr. Figueiredo foi membro do Conselho de Administração) e presidente da entidade das ferrovias privadas, a Associação Nacional de Transportes Ferroviários (ANTF); sabe-se lá como, tornou-se depois, sucessivamente, diretor da Valec, gerente de projeto do Programa de Parceria Público-Privada do Ministério do Planejamento, assessor especial da Casa Civil, e, logo, diretor-geral da ANTT - Agência Nacional de Transportes Terrestres (todas essas informações foram fornecidas pelo próprio Figueiredo: v. Diário do Senado Federal, 11/03/2008, Mensagem nº 50/2008, Curriculum Vitae, "Bernardo José Figueiredo Gonçalves de Oliveira").
Dois dias depois de sua posse na ANTT, no dia 16/06/2008, Figueiredo entregou uma nova concessão ferroviária para a ALL, a Ferrovia Novoeste S.A. (Deliberação ANTT nº 258/08). Vinte e dois dias após, entregou à ALL outra concessão, a Ferronorte S.A. (Deliberação ANTT nº 289/08). Mais 33 dias, e ele entregou outra concessão para a ALL, a Ferroban, em São Paulo (Deliberação ANTT nº 359/08).
Mas não houve expansão da malha ferroviária. Pelo contrário, em seguida, a ANTT, sob a presidência de Figueiredo, "permitiu, sem nenhuma penalização, que as concessionárias desativassem, no todo ou em parte, o serviço de transporte ferroviário em 2/3 da malha concedida, sem realizar os diversos procedimentos relativos às solicitações de suspensão e supressão de serviços de transporte ferroviário e desativação de trechos" previstos pela própria ANTT (Resolução nº 44, 4/07/ 2002). Ou seja, sob a égide de Figueiredo, foram desativados, total ou parcialmente, 20 mil km de ferrovias, dos 29 mil km que constituem a malha ferroviária do país (ver a entrevista do próprio Figueiredo na Revista Ferroviária, março/2009, págs. 12 a 19).
Ao sabatiná-lo no Congresso, o senador Roberto Requião assim resumiu essa parte da carreira de Figueiredor:
"Com esses seus três atos relâmpagos (…), além dos 7.304 quilômetros de malha ferroviária, entregou 478 locomotivas, 14.371 vagões à ALL – da qual, através da Interférrea, o senhor foi presidente e depois membro do Conselho de Administração –, que já explorava a Malha Sul em decorrência do leilão de privatização. A ALL recebeu, não pelos bons serviços prestados, mais 4.446 quilômetros de ferrovias, 456 locomotivas, 13.548 vagões, o que representou colocar 11.750 quilômetros de linha, 934 locomotivas e 27.919 vagões nas mãos de um único operador logístico, ou seja, mais de 40% de todo o parque ferroviário nacional na empresa da qual anteriormente o senhor fazia parte como presidente da Interférrea e como membro do Conselho de Administração da ALL. (…) Essa concentração absurda de poder econômico, esse monopólio da ALL sobre 40% do parque ferroviário nacional nas regiões em que se concentra a maior parte do PIB brasileiro, ocorrida sob a sua gestão na ANTT, na minha opinião, é um escândalo. (…) É meu dever perguntar: o senhor considera ético que, durante a sua gestão na Diretoria Geral da ANTT e através de atos firmados pelo senhor, a ALL, empresa que o senhor estruturou, representou na concessão e dirigiu, cresça de modo incrível e ganhe essa dimensão gigantesca que hoje apresenta?"
Em sua resposta, Figueiredo tergiversou: por exemplo, disse que não formatou a privatização – mas isso estava em seu currículo, apresentado por ele quando foi conduzido pela primeira vez para a ANTT. O Senado recusou-se a reconduzi-lo para a ANTT, por faltar-lhe os requisitos de reputação ilibada e competência técnica.
Esse é o herói da Globo. A questão é: por que Figueiredo estava tão satisfeito, no meio de um programa que era uma mentirada contra o governo – em especial contra a presidente Dilma? Teria sido ele a fonte de tão sábios dados para a Globo?
Por exemplo: "Este ano o Brasil teve uma supersafra de grãos. E a comida ficou mais barata? Não. Porque o preço do transporte fica mais caro ano a ano".
O peso dos transportes no aumento de preços dos alimentos que houve de agosto a dezembro do ano passado, foi, a bem dizer, insignificante. Tanto assim que os transportes continuam os mesmos e o preço dos alimentos está caindo desde janeiro. O que pesou nos preços foi a especulação financeira com papéis ancorados na produção de alimentos, promovida nas bolsas de mercadorias de Chicago e Nova Iorque (hoje aNew York Mercantile Exchange – a bolsa de mercadorias de Nova Iorque – é uma filial da Chicago Mercantile Exchange. Um único grupo, com o seu entrelaçamento com os grandes bancos dos EUA, dirige a especulação mundial das commodities, com as inevitáveis consequências).
Públicos
No Brasil, os portos públicos permitiram que nossa corrente de comércio (exportações e importações) aumentasse de US$ 121,344 bilhões (2003) para US$ 482,285 bilhões (2011). O pequeno recuo de 2012 (US$ 465,728 bilhões) nada teve a ver com os portos, mas com a primarização das exportações, diminuindo a parcela de manufaturados e aumentando a parcela de bens primários (commodities).
Evidentemente, isso não quer dizer que não haja problemas: na própria matéria da Globo, o único dado real é um viaduto, obra do PAC, que encontra-se paralisado. O problema é falta de investimentos públicos – mas a Globo e o sr. Figueiredo preferem doar o patrimônio público a monopólios estrangeiros.
E, como é claro na lavagem de porco (nos perdoem os suínos) servida no "Fantástico", não é para exportar manufaturados que eles querem privatizar os portos, mas para escalpelar o país dos seus minérios e da sua fenomenal produção de alimentos.
Pela privatização anterior do sr. Figueiredo, já sabemos onde isso acaba: ferrovias desativadas, portos abandonados, o país em crise pelo estrangulamento da infraestrutura e logística, e algumas multinacionais fazendo a farra às nossas custas.
Figueiredo tem um currículo miraculoso: sob Fernando Henrique Cardoso, chefe de gabinete do presidente da Rede Ferroviária Federal, realizou os "estudos" para a privatização das ferrovias; em seguida, tornou-se presidente da principal beneficiária da privatização, a Interférrea (posteriormente denominada ALL, da qual o sr. Figueiredo foi membro do Conselho de Administração) e presidente da entidade das ferrovias privadas, a Associação Nacional de Transportes Ferroviários (ANTF); sabe-se lá como, tornou-se depois, sucessivamente, diretor da Valec, gerente de projeto do Programa de Parceria Público-Privada do Ministério do Planejamento, assessor especial da Casa Civil, e, logo, diretor-geral da ANTT - Agência Nacional de Transportes Terrestres (todas essas informações foram fornecidas pelo próprio Figueiredo: v. Diário do Senado Federal, 11/03/2008, Mensagem nº 50/2008, Curriculum Vitae, "Bernardo José Figueiredo Gonçalves de Oliveira").
Dois dias depois de sua posse na ANTT, no dia 16/06/2008, Figueiredo entregou uma nova concessão ferroviária para a ALL, a Ferrovia Novoeste S.A. (Deliberação ANTT nº 258/08). Vinte e dois dias após, entregou à ALL outra concessão, a Ferronorte S.A. (Deliberação ANTT nº 289/08). Mais 33 dias, e ele entregou outra concessão para a ALL, a Ferroban, em São Paulo (Deliberação ANTT nº 359/08).
Mas não houve expansão da malha ferroviária. Pelo contrário, em seguida, a ANTT, sob a presidência de Figueiredo, "permitiu, sem nenhuma penalização, que as concessionárias desativassem, no todo ou em parte, o serviço de transporte ferroviário em 2/3 da malha concedida, sem realizar os diversos procedimentos relativos às solicitações de suspensão e supressão de serviços de transporte ferroviário e desativação de trechos" previstos pela própria ANTT (Resolução nº 44, 4/07/ 2002). Ou seja, sob a égide de Figueiredo, foram desativados, total ou parcialmente, 20 mil km de ferrovias, dos 29 mil km que constituem a malha ferroviária do país (ver a entrevista do próprio Figueiredo na Revista Ferroviária, março/2009, págs. 12 a 19).
Ao sabatiná-lo no Congresso, o senador Roberto Requião assim resumiu essa parte da carreira de Figueiredor:
"Com esses seus três atos relâmpagos (…), além dos 7.304 quilômetros de malha ferroviária, entregou 478 locomotivas, 14.371 vagões à ALL – da qual, através da Interférrea, o senhor foi presidente e depois membro do Conselho de Administração –, que já explorava a Malha Sul em decorrência do leilão de privatização. A ALL recebeu, não pelos bons serviços prestados, mais 4.446 quilômetros de ferrovias, 456 locomotivas, 13.548 vagões, o que representou colocar 11.750 quilômetros de linha, 934 locomotivas e 27.919 vagões nas mãos de um único operador logístico, ou seja, mais de 40% de todo o parque ferroviário nacional na empresa da qual anteriormente o senhor fazia parte como presidente da Interférrea e como membro do Conselho de Administração da ALL. (…) Essa concentração absurda de poder econômico, esse monopólio da ALL sobre 40% do parque ferroviário nacional nas regiões em que se concentra a maior parte do PIB brasileiro, ocorrida sob a sua gestão na ANTT, na minha opinião, é um escândalo. (…) É meu dever perguntar: o senhor considera ético que, durante a sua gestão na Diretoria Geral da ANTT e através de atos firmados pelo senhor, a ALL, empresa que o senhor estruturou, representou na concessão e dirigiu, cresça de modo incrível e ganhe essa dimensão gigantesca que hoje apresenta?"
Em sua resposta, Figueiredo tergiversou: por exemplo, disse que não formatou a privatização – mas isso estava em seu currículo, apresentado por ele quando foi conduzido pela primeira vez para a ANTT. O Senado recusou-se a reconduzi-lo para a ANTT, por faltar-lhe os requisitos de reputação ilibada e competência técnica.
Esse é o herói da Globo. A questão é: por que Figueiredo estava tão satisfeito, no meio de um programa que era uma mentirada contra o governo – em especial contra a presidente Dilma? Teria sido ele a fonte de tão sábios dados para a Globo?
Por exemplo: "Este ano o Brasil teve uma supersafra de grãos. E a comida ficou mais barata? Não. Porque o preço do transporte fica mais caro ano a ano".
O peso dos transportes no aumento de preços dos alimentos que houve de agosto a dezembro do ano passado, foi, a bem dizer, insignificante. Tanto assim que os transportes continuam os mesmos e o preço dos alimentos está caindo desde janeiro. O que pesou nos preços foi a especulação financeira com papéis ancorados na produção de alimentos, promovida nas bolsas de mercadorias de Chicago e Nova Iorque (hoje aNew York Mercantile Exchange – a bolsa de mercadorias de Nova Iorque – é uma filial da Chicago Mercantile Exchange. Um único grupo, com o seu entrelaçamento com os grandes bancos dos EUA, dirige a especulação mundial das commodities, com as inevitáveis consequências).
Públicos
No Brasil, os portos públicos permitiram que nossa corrente de comércio (exportações e importações) aumentasse de US$ 121,344 bilhões (2003) para US$ 482,285 bilhões (2011). O pequeno recuo de 2012 (US$ 465,728 bilhões) nada teve a ver com os portos, mas com a primarização das exportações, diminuindo a parcela de manufaturados e aumentando a parcela de bens primários (commodities).
Evidentemente, isso não quer dizer que não haja problemas: na própria matéria da Globo, o único dado real é um viaduto, obra do PAC, que encontra-se paralisado. O problema é falta de investimentos públicos – mas a Globo e o sr. Figueiredo preferem doar o patrimônio público a monopólios estrangeiros.
E, como é claro na lavagem de porco (nos perdoem os suínos) servida no "Fantástico", não é para exportar manufaturados que eles querem privatizar os portos, mas para escalpelar o país dos seus minérios e da sua fenomenal produção de alimentos.
Pela privatização anterior do sr. Figueiredo, já sabemos onde isso acaba: ferrovias desativadas, portos abandonados, o país em crise pelo estrangulamento da infraestrutura e logística, e algumas multinacionais fazendo a farra às nossas custas.
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