Os bancos já estão chiando contra a cruzada da presidente Dilma Rousseff para baixar os juros e aumentar o crédito. É normal, é um bom sinal. O sistema financeiro estava habituado há tanto tempo a nadar de braçada e impor ao país a sua própria "política econômica", que não se poderia esperar outra coisa.
A melhor prova de que a presidente mexeu numa ferida, e está certa na sua decisão, é que os bancos já convocaram seus "consultores" e "especialistas", todos muito bem remunerados, para criticar as medidas do governo em jornais, revistas e emissoras.
Para não dar muito na vista, eles qualificam as medidas como "populistas", de um lado; de outro, imaginem, eles se mostram preocupados com os pequenos poupadores após as mudanças introduzidas semana passada no rendimento das cadernetas de poupança.
Com Dilma não tem tema tabu nem áreas em que é melhor não mexer só porque, afinal, "foi sempre assim". No encontro que teve na semana passada com empresários para explicar as novas regras da poupança, ela cortou o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, que queria fazer média ao apoiar as medidas tomadas aproveitando um momento de alta popularidade da presidente.
"Eu tenho que fazer as coisas que entendo que deva fazer, independentemente dos índices de popularidade".
Tem sido assim desde a sua posse. Antes de completar um ano e meio no gabinete presidencial do Palácio do Planalto, Dilma Rousseff já está deixando a sua marca.
Se o governo Fernando Henrique Cardoso foi marcado pela estabilização econômica e o do presidente Lula pela inclusão social de mais de 30 milhões de brasileiros, o de Dilma vem sendo caracterizado pela coragem ao enfrentar obstáculos dentro e fora do governo para o desenvolvimento do país, que não são poucos. "A vida quer é coragem" - não por acaso, este é o título do ótimo livro de Ricardo Amaral sobre a trajetória política e pessoal da presidente Dilma Rousseff.
Foi assim na chamada "faxina ética", que marcou seu primeiro ano de governo, sem medo de enfrentar o descontentamento de líderes dos partidos da sua base aliada. E será assim de novo, quando vetar pontos do novo Código Florestal aprovado por ampla maioria na Câmara.
"Fazer o que tem que ser feito" parece ser o seu lema, até com assuntos delicados como o da Comissão da Verdade, que deverá ser instalada ainda este mês. Os nomes já estão sendo definidos. O fato é que a mulher presidente vem fazendo coisas que seus antecessores homens não tiveram coragem de fazer.
Quem a conhece sabe que Dilma não tem medo de cara feia. Ainda na semana passada, quando recebeu um aviso dos barões da mídia, repassado pelo vice presidente Michel Temer, de que eles aceitariam a convocação de jornalistas da "Veja" na CPI, mas não a do dono da Editora Abril, Roberto Civita, respondeu com apenas duas palavras: "Problema deles".
Afinal, não é a presidente da República quem convoca ou deixa de convocar alguém para depor na CPI e, além do mais, ela vem mantendo uma saudável distância dos trabalhos da comissão.
Em pleno funcionamento de uma CPI, cuja instalação foi apoiada pela base do governo, o que não é muito normal, Dilma continua tocando a sua agenda sem dar muita bola para os embates no Congresso Nacional. "O governo tem que governar. Cepeizar é com o Congresso", ouvi de um importante interlocutor da presidente na minha passagem pelo Palácio do Planalto na semana retrasada.
Na outra ponta, em que a oposição perdeu completamente o discurso da moralidade, depois da descoberta da parceria Demóstenes-Cachoeira, o eterno presidente do PPS, Roberto Freire, usou o twitter para atacar o governo e cair no ridículo.
"Isso é uma ignomínia! Dilma pede e B.C. (Banco Central) coloca em circulação notas com a frase "Lula seja louvado"", repicando piada do site de humor G17, sem se dar conta de que a "notícia" era uma brincadeira.
Seria bom também alguém avisar Roberto Freire que é falso o Facebook criado com o nome da presidente Dilma, citado hoje na coluna de José Simão, na "Folha". É uma brincadeira a frase que ele reproduziu, mas não deixa de expressar um sentimento verdadeiro para quem convive com Dilma no Palácio do Planalto.
"Se fosse para ser simpática, seria guia da Disney, e não presidenta".
Por mais que às vezes seja difícil, só não podemos perder o bom humor.
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