domingo, 12 de junho de 2011

GOVERNO EM DISPUTA

A repercussão do caso Palocci entre as hostes da blogosfera reacendeu um debate interessante: o que significa apoiar um governo? Para usar apenas a terminologia negativa, nos dividimos em duas facções: a dos manipulados pelo PIG (entre os quais fui incluído) e a dos adesistas acríticos (forma pela qual os rotulo).

Emir Sader listou no seu blog treze lições extraídas desse caso. Chamo a atenção para a última: "Fazer política, exercer o poder não é atividade técnica, nem de repartição de cargos, mas uma combinação de persuasão e força, isto é, construção de hegemonia"......
É uma tese de Gramsci. Não vou descer às minúcias teóricas, apenas digo que concordo com tal afirmação. E seguindo essa linha de raciocínio, mais um embate se impõe a todos que querem ver esse governo pendendo para sua vocação social, "de esquerda": a privatização dos aeroportos.
Os aeroportuários sinalizam com a possibilidade de cruzar os braços diante de tal iniciativa. Conforme nos informa Juliana Sada, no Escrevinhador, as assembléias realizadas pela categoria durante essa semana tiraram o indicativo de suspensão das atividades contra a privatização. Com toda justiça, entram na pauta também o aumento do piso salarial, a revisão do Plano de Carreira e melhoria nas condições de trabalho. Lembremos que eles, bem como militares controladores de vôo, foram massacrados quando do fatídico acidente da TAM em Congonhas.
Até dias atrás, Palocci conduzia pessoalmente esse processo. Apesar das críticas, mais uma vez tentava passar incólume pelas opiniões divergentes. A primeira conseqüência para os usuários seria o aumento das tarifas, variando de 30 a 100%. Os leilões começariam pelas unidades mais lucrativas: entre as 67 administradas pela Infraero, Guarulhos e Campinas, campeões de rentabilidade, seriam as bolas da vez, juntamente com Brasília. A maioria dos demais aeroportos é deficitária para remunerar o capital oriundo da iniciativa privada. Regressamos no tempo? Como nos idos FHC, “privatiza o filé e estatiza o osso?”.
E aí que está o nó górdio da questão. Para além das questões técnicas, que mostram as desvantagens da privatização, há o preço político, que é impagável. O esgoto da Veja está em polvorosa. De seus bueiros saíram os seguintes comentários:
Dilma Rousseff, sem ser contraditada, atravessou a temporada eleitoral enfileirando falatórios que acabou de jogar no lixo. “Eu não entrego o meu país”, disse, por exemplo, em 10 de abril de 2010. “Não vou destruir o Estado, diminuindo seu papel. Não permitirei que o patrimônio nacional seja dilapidado e partido em pedaços”. Reeditou a falácia em 7 de outubro: “Nós somos contra a forma, o conteúdo e o sentido das privatizações”.
Mais uma vez, não é preciso ser manipulado pelo PIG para enxergar que o governo está atuando de forma paradoxal, em contradição com tudo que foi feito na campanha. A direita está dando as cartas, como sempre, exceto nos melhores momentos do governo Lula. Imagino que anomenklatura do PT possua pesquisas qualitativas que apontem o peso da militância - em particular da militância digital - como desprezível na correlação de forças vigentes.
Melhor é se aliar com o PMDB.
PMDB que não tem qualquer escrúpulo com relação à privatização. Aqui em Goiás, por exemplo, o PMDB foi defenestrado do governo do Estado pelo PSDB, basicamente por dois motivos: primeiro, por tratar os funcionários públicos pior que animais (ausência de concursos, contratações regidas pelo trio apadrinhamento, compadrio e nepotismo, e os atrasos de mais de três meses no pagamento) e o segundo, pelaprivatização da usina de Cachoeira Dourada, responsabilizada pela falência da CELG, mesmo com a exorbitante majoração das tarifas públicas.
O editorial da Carta Maior de hoje faz interessante relação entre a privatização da eletricidade em São Paulo (que lá foi conduzida pelos tucanos): "No momento em que o governo federal oficializa a concessão de importantes aeroportos nacionais à iniciativa privada - em nome da eficiência e porque o Estado não dispõe de R$ 5 bi a R$ 6 bi para investir no setor, embora tenha reservado R$ 57 bi aos rentistas da dívida pública no 1º quadrimestre - o colapso elétrico em SP encerra lições oportunas".
E aí, o que faz quem apóia o governo?

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