sábado, 5 de outubro de 2013

Dois pesos, duas medidas

STF

por Wálter Maierovitch
  
Preocupa o tratamento diverso dado aos dois “mensalões”. Não precisa ser operador do Direito para perceber as diferenças, sem entrar no mérito de condenações e absolvições. Na Ação Penal 536, os tucanos procuraram reduzir danos e difundiram a expressão mensalão mineiro. Como os partidos políticos, pela Constituição, têm “caráter nacional” e são unos, não cabe adjetivar de mineiro. Portanto, mensalão tucano.

O mensalão tucano voltou-se à reeleição do então governador mineiro Eduardo Azeredo em 1998. No “mensalão petista” houve contrafação delinquencial, pois, no quesito originalidade, a primazia ficou com o mensalão tucano. O operador dos dois esquemas era o mesmo, o empresário Marcos Valério. Agora, no quesito compra de consciências, os tucanos caíram na recidiva. Antes da recaída houve compra de votos de parlamentares que propiciaram alteração constitucional para permitir a reeleição presidencial de Fernando Henrique Cardoso.

Essa compra de votos não deu em nada e triunfou, com o prêmio da impunidade, o pactum sceleris de quadrilheiros que propiciou a candidatura de FHC, o qual, nas urnas e em eleições livres, conquistou o segundo mandato. Esse quadro de compra de voto parlamentar não sensibilizou o então procurador-geral da República da época, Geraldo Brindeiro. Nem se cogitou da teoria do domínio do fato, que, no Brasil, está recepcionada com o título de codelinquência e se apoia em regra expressa do Código Penal: “Quem concorre para o crime incide nas penas a ele cominadas”. No particular, havia indícios com lastro na suficiência a autorizar uma opinio delicti por parte do Ministério Público.


Com efeito, e em termos de tramitação processual, a Ação Penal 536 no STF move-se, com se diz no popular e com ironia, em ritmo de “lesma reumática”. Dos dois lados desses graves e semelhantes sistemas delinquenciais com hierarquias, instituições bancárias coniventes, dinheiro público, lavagem de capitais e ofensa à ordem democrática, financeira e tributária, são apontados como protagonistas o atual deputado Eduardo Azevedo e o ex-ministro, já condenado, José Dirceu.

Azeredo goza de foro privilegiado junto ao Supremo Tribunal Federal e os copartícipes do mensalão tucano, sem prerrogativa de função, respondem em grau inferior de jurisdição. No “mensalão petista”, ao contrário, o STF decidiu pelo processo único em face de conexão probatória, algo, por evidente, também presente no mensalão tucano. Assim, José Dirceu e a raia miúda que não gozaria de foro privilegiado como regra restaram, pela vis atrativa,  julgados pelo próprio STF.
O réu também poderá, posteriormente, bater às portas do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do STF. Terá, assim, garantido o duplo grau de jurisdição. Algo impossível aos condenados na Ação Penal 470. No STF e na Ação Penal 470 só teremos reexame e a alcançar as imputações onde foram lançados quatro ou mais votos absolutórios: embargos infringentes.

Não bastasse, surgiu uma novidade absoluta. O ministro Luiz Fux, relator sorteado, sustenta, como informado pelos jornais, que pretende limitar os embargos infringentes à discussão de teses e não à reavaliação das provas. Tudo como se estivessem os ministros em sede de edição de súmulas vinculantes ou numa academia de letras jurídicas. E os embargos infringentes, desde a sua origem nas ordenações do reino, têm natureza de reconsideração da condenação, com reexame amplo da prova e da adequação penal tipificada em lei.


Por outro lado, o ministro Joaquim Barbosa não cumpriu a promessa de colocar em pauta de julgamento a Ação Penal 536. Depois de eleito presidente, declinou da relatoria com apoio no Regimento Interno e passou os autos ao ministro Roberto Barroso.

Como se percebe, a raia miúda do mensalão tucano foi julgada, em primeira instância, mais rapidamente que o detentor de foro privilegiado Eduardo Azevedo, que nega a autoria e se esforça para manter a velha imagem de Catão das Alterosas.
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AS QUESTÕES SOCIAIS COMO CASOS DE POLÍCIA


Vários companheiros -- começando pelo sempre solidário Carlos Lungarzo, da Anistia Internacional -- escreveram à rede Carrefour para manifestar seu inconformismo com o procedimento adotado no caso de Claudinéia Freitas Santos, a diarista desempregada que, num momento de desespero, tentou roubar dez bermudas e dois sapatos para seus filhos.

A todos o Carrefour respondeu o mesmo:

"A empresa não prestou queixa, mas tomou as providências cabíveis para casos de furto, que é a de acionar as autoridades policiais".

Entrega o destino de Claudinéia nas mãos do Estado, que "assume a posição de acusador" porque "o caso foi definido como crime de ação penal incondicionada".

Ou seja, a empresa lavou as mãos, escorada nos formalismos:

"Em outras palavras, o Carrefour não tem legitimidade para autorizar a revogação da fiança decretada pela Justiça".

Então, estamos conversados.

Assim como em Os Miseráveis, que lembrei no meu artigo inicial, cada vez que um Valjean qualquer surrupiar um pão do Carrefour, a empresa o entregará à Polícia e vai dar suas responsabilidades por encerradas.

Não terá o mínimo interesse em verificar se o furto foi motivado pela falta de dinheiro para comprar drogas ou pela falta de alimento para evitar que uma criança morresse de fome.

Dá tudo no mesmo.

Porque questão social e caso de Polícia são a mesma coisa, na ótica que se depreende das afirmações dos porta-vozes do Carrefour.

E, para não desembolsar 300 reais numa fiança nem entregar alguns vestuários e cestas básicas para uma pobre coitada, a empresa perdeu a oportunidade de exibir uma face humana -- aquela que seu gerente deveria ter mostrado, liberando Claudinéia, já que não houvera prejuízo.

Profissionalmente, embora detestasse tal trabalho, já tive de zelar pela imagem de muitas companhias. Cheguei a conquistar prêmios nacionais e internacionais por meu desempenho.

Pois bem, em minha atividade de relações públicas eu avaliaria como catastróficos os danos causados à imagem do meu cliente num caso como este.

Pode-se até compreender que um gerente mais realista do que o rei corra a chamar a Polícia em episódio na qual não havia a mínima necessidade disso.

Mas, é ao rei que compete dar a última palavra.

Então, um diretor do Carrefour deveria vir a público para deixar claro que, embora a rede tenha sido fundada na França, não aprova nem repete a inclemência face aos miseráveis que Victor Hugo criticava nas autoridades francesas do século 19.

Pois, há sempre a chance de uma queixa dessas, que não fere a letra da Lei mas estupra o espírito da Justiça, ser recebida por autoridades brasileiras igualmente insensíveis.

E de uma mãe de 10 filhos acabar na prisão por causa de dez bermudas e dois sapatos, assim como Jean Valjean passou 19 anos em trabalhos forçados por causa de um pão.

Com a diferença de que Claudinéia é uma senhora de carne e osso, levando vida das mais sofridas, e não um personagem literário.

Felizmente, a Justiça paulista voltou atrás nesta 2ª feira (9), revogando o mandado de prisão que expedira quatro dias antes, de forma que a diarista responderá ao processo em liberdade.

A péssima repercussão junto à opinião pública fez com que começassem a corrigir uma situação de iniquidade extrema.

Espanta, no entanto, que o caso tenha ido tão longe.

E que, antes da intervenção da imprensa e dos blogueiros, tendesse a reeditar a desumanidade do capitalismo selvagem, supostamente deixado para trás.

A Constituinte e os donos do Brasil



Por Luiz Gonzaga Belluzzo

No 25º aniversário da Constituição-Cidadã, não posso negar ao improvável leitor de minha coluna as palavras de Ulysses Guimarães na sessão de promulgação da Carta Magna.

"A sociedade foi Rubens Paiva, não os facínoras que o mataram. Foi a sociedade, mobilizada nos colossais comícios das Diretas-já, que, pela transição e pela mudança, derrotou o Estado usurpador. Termino com as palavras com que comecei esta fala: a Nação quer mudar. A Nação deve mudar. A Nação vai mudar. A Constituição pretende ser a voz, a letra, a vontade política da sociedade rumo à mudança. Que a promulgação seja nosso grito: - Mudar para vencer! Muda, Brasil!"

Há quem diga que o Brasil, ao promulgar a Constituição de 1988, entrou tardia e timidamente no clube dos países que apostaram na ampliação dos direitos e deveres da cidadania moderna. Submetidos, ao longo de mais de quatro séculos, à dialética do obscurecimento que regia as relações de poder numa sociedade marcada pelo vezo colonial-escravocrata e, depois da Independência, pelo coronelato primário-exportador, os brasileiros subalternos deram na Constituinte passos importantes para alcançar os direitos do indivíduo moderno.



Diante das palavras otimistas de Ulysses, no entanto, ocorreu-me relembrar que a vitória na Constituinte não conseguiu eliminar as consequências da derrota na campanha pelas diretas. A busca açodada pelo voto indireto no Colégio Eleitoral não prescindiu da cumplicidade de muitos que estavam na oposição, mas temiam a "radicalidade" de um governo eleito pelo povo. Constrangidos a participar dos comícios, tais "oposicionistas" acenavam com a mão esquerda para os cidadãos aglomerados nas praças, mas cuidavam de livrar a direita para montar os arranjos da eleição indireta. Por isso, os náufragos do regime militar conseguiram chegar à praia, acolhidos pelo bote salva-vidas capitaneado pela turma do deixa-disso.

A campanha pelas diretas promoveu uma forte mobilização popular, mas não teve forças para derrubar as casamatas do poder real que, desde sempre, comandam nos bastidores a política brasileira. Essa turma não tem o hábito de dar refresco ao inimigo. Em suas fileiras abrigam-se os liberais que apoiam golpes de Estado, as camadas endinheiradas e remediadas que mal toleram a soberania popular e as gentes midiáticas que abominam a opinião divergente.

A democracia dos modernos, seus direitos e contradições, são conquistas muito recentes. Digo contradições porque o sufrágio universal foi conseguido com sacrifício entre final do século 19 e o começo do século 20. Mas já em 1910, Robert Michels cuidava de denunciar a deformação da represe
ntação popular promovida pelo surgimento de oligarquias partidárias, fenômeno que nasce e se desenvolve no "interior" dos sistemas democráticos.

Os direitos econômicos e sociais nasceram da luta política das classes subalternas. Entre o final dos anos 30 do século passado e o desfecho da Segunda Guerra Mundial a presença das massas assalariadas e urbanas no cenário político impôs importantes transformações no papel do Estado. A função de garantir o cumprimento dos contratos, de assegurar as liberdades civis e os direitos políticos, apanágio do Estado Liberal, é enriquecida pelo surgimento de novos encargos e obrigações: tratava-se de proteger o cidadão não-proprietário dos mecanismos cegos do livre - mercado, sobretudo dos azares do ciclo econômico.

Em 1992 os cara-pintadas acorreram às ruas para pedir o impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello. Antes de morrer, Ulysses compreendeu que a campanha popular pelas eleições diretas e a Constituição ainda sofriam o assédio insidioso, persistente e renovado do velho arranjo oligárquico que pretende controlar a vida dos brasileiros.

Os brasileiros - alguns hoje se manifestam nas ruas - foram submetidos a um processo de "esquecimento coletivo" promovido por uma conspiração de silêncio. A conspirata envolve não só os governantes esbirros do conservadorismo, os senhores da mídia, mas também o sistema educacional - do ensino básico ao superior - empenhado em formar analfabetos funcionais ou, na melhor das hipóteses, especialistas incapazes de compreender o mundo em que vivem.

A estrutura de classes no Brasil é muito original: na cúspide, os predadores que disputam os despojos da riqueza velha; no meio, os trouxas e os espertalhões ideológicos das camadas falantes semi-ilustradas; lá embaixo, os "ferrados" que tentam desesperadamente emergir da miséria.

Se não restringisse suas fontes aos idiotas funcionais do cosmopolitismo caboclo, os editores da revista The Economist nas duas matérias de capa que trataram do Brasil teriam a oportunidade de escapar dos extremos ridículos: na primeira capa, a exaltação precipitada; na segunda o besteirol fecundado nas ideologias que levaram a economia mundial ao desastre financeiro. Perceberiam que as lideranças das classes dominantes brasileiras e seus porta-vozes na mídia estão sempre alinhados com o que há de mais expressivo no caquético capitalismo brasileiro.

O arranjo social do atraso preconiza uma sociedade submissa ao rentismo, refém da estagnação, prisioneira da defesa da riqueza estéril alimentada pelo fluxos de "hot dollars". Imobilizados nos pântanos do parasitismo, os bacanas e sabichões acovardam-se diante dos azares da incerteza, avesso aos riscos de construção da nova riqueza. Aí está desvelado, em sua perversidade essencial, o "segredo" das reivindicações anti-sociais dos vassalos do enriquecimento sem esforço cevado por taxas de juros absurdas. Clamam pelo aumento do desemprego. Este é o alto preço que o presente agrilhoado ao passado cobra do futuro.

* Luiz Gonzaga Belluzzo é economista, professor e consultor econômico

Fonte: Valor

Joaquim Barbosa é vendedor de ilusão




Ao encampar a tese da denúncia construída pelo PGR/MPF Antonio Fernando de Souza, o relator Joaquim Barbosa teve como garantia a atuação do PIG bem como a conduta indutora do então presidente do STF Ayres Britto.
Por óbvio contou também com a performance de coadjuvantes contumazes e/ou eventuais, vide os votos proferidos na AP 470.
Mensalão é MENTIRÃO
Para desilusão da ensandecida torcida oposicionista, os ERROS do julgamento da AP 470 são hoje evidentes e notórios.
Joaquim Barbosa e sua trupe conduziram o STF para uma encruzilhada, uma autêntica sinuca de bico ou um xeque-mate.
É insustentável a condenação, pois tem como premissa um crime impossível.
Observe.
Não existe qualquer documento que comprove a afirmação de que o dinheiro - os quase 74 milhões - pertencessem ao Banco do Brasil. Existem sim diversos documentos comprovando que o dinheiro pertencia exclusivamente à empresa privada e multinacional Visanet.
Não existe qualquer documento que comprove a afirmação de que nenhum serviço publicitário foi realizado. Existem sim diversos documentos e milhares de testemunhas de que centenas de serviços publicitários foram realizados: Reveillon de Copacabana 2003; Festa do Peão Boiadeiro em Barretos; XVIII Congresso da AMB em Salvador 2003 com a presença de mais de três mil magistrados; Rede Globo veiculou peças publicitárias e recebeu por isso mais de R$ 5 milhões; patrocínios aos consagrados atletas olímpicos Guga, Adriana e Shelda; exposição África no circuito CCBB no RJ, SP e DF; além de outras dezenas de atividades publicitárias de fácil comprovação.
Portanto, como afirma o jornalista Raimundo Pereira em sua revista RETRATO DO BRASIL e também no recém lançado filme: Mensalão AP 470, STF, Julgamento Medieval; é mentirosa a tese de desvio de dinheiro público do BB. Aqui o link do filmehttp://www.megacidadania.com.br/mensalao-ap-470-stf-julgamento-medieval/
ANULAR O MENTIRÃO
Diversas pessoas desejam saber como proceder para auxiliar na anulação do MENTIRÃO.
Nosso entendimento é de que temos algumas tarefas como ampliar a divulgação dos ERROS da AP 470, divulgar mais e mais o filme produzido pela revista RETRATO DO BRASIL (link acima), inundar o STF com mensagens via e-mail’s, cartas e similares, além de comparecer, divulgar e/ou assistir transmissões dos eventos sobre os ERROS da AP 470 como o do dia 14/10 no RJ com a presença de João Paulo Cunha. Aqui o link do evento com JPChttps://www.facebook.com/events/606413392735681/
Por óbvio, cabe às entidades organizadas, sindicatos e suas centrais sindicais, parlamentares e seus partidos políticos, universitários e centros acadêmicos, organizarem núcleos de debate e divulgação dos ERROS da AP 470 e suas consequências para toda a sociedade, posto que eles, os ERROS, ultrajam o estado democrático de direito.
A seguir três links de postagens importantes:
2) AP 470: “detalhe” induziu TODOS ao erro absurdohttp://www.megacidadania.com.br/ap-470-detalhe-induziu-todos-ao-erro-absurdo/
É DEVER DE CONSCIÊNCIA DE TODOS QUE TENHAM CONHECIMENTO DOS NOTÓRIOS E EVIDENTES ERROS COMETIDOS PELO STF NA AP 470 EXIGIREM A ANULAÇÃO DA FARSA.
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sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Drogas estão mais puras, baratas e disponíveis, diz pesquisa



Plantação de coca em zona rural de Puerto
Asis, na Colômbia / Luis Robayo/ AFP

“Guerra às drogas” falhou, dizem cientistas. Tratamento e prevenção deveriam ser prioridade

Rafael Gregório,CartaCapital

As substâncias ilícitas estão mais disponíveis, mais puras e mais baratas do que há 20 anos. Esta é a conclusão de um estudo do conceituado grupo canadense International Centre for Science in Drug Policy (Centro Internacional para a Ciência em Políticas de Drogas), publicado na revista científica British Medical Journal Open

Entre as principais conclusões, destaca-se a redução média de 80% nos preços da maconha, da cocaína e da heroína à disposição atualmente nos Estados Unidos em comparação com o que ocorria no início dos anos 1990. Descontada a inflação, houve quedas radicais de preços também na Europa e na Austrália – a pesquisa não aborda o mercado brasileiro. Também chama a atenção o aumento da pureza dessas drogas, que chega a 161% no caso da maconha europeia. 

O estudo identificou um crescimento também na apreensão de drogas por parte das autoridades. No caso de Peru, Bolívia e Colômbia, os três maiores produtores mundiais de folhas de coca, esse crescimento chegou a 200%. Contudo, os autores ressalvam que “isso não diminuiu a disponibilidade de cocaína em pó nas ruas”. 

A pesquisa se baseou em dados de programas antidrogas dos Estados Unidos, da União Europeia e da Austrália. Também estiveram à disposição relatórios do UNODC (Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime) dedicado a estudar o tráfico e consumo de drogas no mundo. 

Para os autores, as conclusões evidenciam a falência do modelo de criminalização de usuários e traficantes em detrimento de ações de saúde pública. Regra geral no planeta desde a doutrina da “guerra às drogas” proclamada pelo ex-presidente americano Richard Nixon, em 1971, o combate criminal – e, por vezes, bélico – não impediu que o tráfico de entorpecentes ilegais somasse 350 bilhões de dólares em movimentação anual, segundo estimativa da ONU. 

“Esperamos que [as conclusões] realcem a necessidade de reexaminar estratégias que enfatizem o combate ao uso e a redução do fornecimento ao invés de prevenção e tratamento”, dizem os autores. 
Eles sugerem ainda que os governos deveriam passar a avaliar suas políticas sobre drogas com base nas incidências de males relacionados ao uso de entorpecentes, como overdoses, transmissão de doenças e incidência de menções a substâncias ilegais em atendimentos do sistema público de saúde.”

Articulação Aécio-Marina passa pela Globo



João Roberto Marinho, editor do jornal O Globo, procurou Guilherme Leal, da Natura, e transmitiu a informação de que a chapa dos sonhos da família mais poderosa do Brasil seria formada pelo tucano Aécio Neves e pela ainda sem partido Marina Silva, que, nesta sexta-feira, anuncia seu destino; em nota, senador estendeu o tapete vermelho: "o PSDB continuará trabalhando para apresentar um projeto alternativo ao que está aí, com a permanente preocupação com algo extremamente caro a ex-senadora e a todos nós brasileiros, assegurar ao Brasil um desenvolvimento sustentável"; será que sai casamento sob as bençãos da Globo?


Família mais poderosa do Brasil, com patrimônio somado de mais de US$ 21 bilhões, os Marinho, da Globo, sempre se notabilizaram por influenciar o destino político do País. Apoiaram os militares, ajudaram a eleger Fernando Collor e deram apoio irrestrito à eleição e à reeleição de Fernando Henrique Cardoso. Os três governos do PT foram uma espécie de ponto fora da curva, na lógica política do Projac.

Por isso mesmo, a família parece estar decidida a, novamente, usar sua força para tentar influenciar o processo político. Nesta última semana, quando já parecia clara a derrota da Rede Sustentabilidade no Tribunal Superior Eleitoral, João Roberto Marinho, um dos donos do grupo e editor do jornal O Globo, fez chegar ao empresário Guilherme Leal, sócio da Natura e vice de Marina Silva na disputa de 2010, que os Marinho têm uma chapa dos sonhos: Aécio Neves e Marina Silva. Desnecessário dizer que a dupla teria apoio irrestrito da Globo em 2014. A informação foi transmitida ao 247 por fonte próxima à Globo e confirmada por apoiadores de Marina Silva.

Nesta sexta, a ex-senadora anuncia seu destino político. Ela promete uma decisão coerente, ou seja, dificilmente será candidata a presidente por outro partido. O que não impede que se filie para poder participar do jogo.

Ontem, em nota, Aécio Neves, estendeu o tapete vermelho para Marina. Leia abaixo:

Acompanhamos desde o início o esforço de Marina Silva para formação da Rede, e fomos solidários a ela, inclusive, quando a truculência do PT se fez mais presente na tentativa de impedi-la de alcançar seu objetivo no Congresso.

Lamentamos a decisão do TSE, mas temos que aceitar e respeitar a decisão da Justiça.

Mantemos a posição que já externamos em outras oportunidades: a presença de Marina Silva engrandece o debate democrático de ideias.
De nossa parte, o PSDB continuará trabalhando para apresentar um projeto alternativo ao que está aí, com a permanente preocupação com algo extremamente caro a ex- senadora e a todos nós brasileiros, assegurar ao Brasil um desenvolvimento sustentável.

Senador Aécio Neves (MG)
Presidente nacional do PSDB

Cartório, auto-complacência...e sincericídio



Alfredo Sirkis, Blog do Sirkis

 “O Brasil da secular burocracia pombalina, do corporativismo estreito e da hipocrisia politico cartorial falou pela voz da maioria esmagadora do tribunal.  A voz solitária de Gilmar Mendes botou o dedo na ferida na forma do juz esperneandi. O direito de, literalmente,  espernear.

 Para mim não foi surpresa alguma, nunca foi uma questão de fé --Deus não joga nesta liga--  mas de lucidez e conhecimento baseado na experiência pregressa. Eu tinha certeza absoluta que se não tivéssemos uma a uma as assinaturas certificadas, carimbadas, validadas pela repartição cartórios de zonas eleitorais íamos levar bomba.

 A ministra relatoria fez uma defesa quase sindicalistas de seus cartórios de sua “lisura” . Gilmar Mendes mostrou claramente o anacronismo deles na era digital. Prevaleceu a suposta  “dura lex sed lex” mas que pode também ser traduzido, no caso, pelo mote: “aos amigos, tudo, aos inimigos, a Lei”.  E o PT já tinha avisado que “abateria o avião de Marina na pista de decolagem”.

 Mas não ter entendido que o jogo seria assim e ter se precavido a tempo e horas foi uma das muitas auto complacências resultantes de uma mística de auto ilusão.

 Para ser direto em bom carioquês: “demos mole”.

 Marina é uma extraordinária líder popular, profundamente dedicada a uma causa da qual compartilhamos e certamente a pessoa no país que melhor projeta o discurso da sustentabilidade, da ética e da justiça socioambiental. Possui, no entanto, limitações, como todos nós. As vezes falha com operadora política comete equívocos de avaliação estratégica e tática, cultiva um processo decisório ad hoc e caótico e acaba só conseguindo trabalhar direito com seus incondicionais. Reage mal a críticas e opiniões fortes discordantes e não estabelece alianças estratégicas com seus pares.  Tem certas características dos  lideres populistas embora deles se distinga por uma generosidade e uma pureza d’alma que em geral eles não têm.

 Não tenho mais idade nem paciência para fazer parte de séquitos incondicionais e discordei bastante de diversos movimentos que foram operados desde 2010. A saída do PV foi precipitada por uma tragédia de erros de parte a parte. Agora, ironicamente, ficamos a mercê de algum outro partido, possivelmente ainda pior do que o PV.

 Quanto à Rede, precisa ser vista de forma lúcida. Sua extrema diversidade ideológica faz dela um difícil partido para um dia governar. Funcionaria melhor como rede propriamente dita –o Brasil precisa de uma rede para a sustentabilidade, de fato--  mas, nesse particular,  querer se partido atrapalha.

 Ficarei com Marina como candidata presidencial porque ela é a nossa voz para milhões de brasileiros mas não esperem de mim a renúncia à lucidez  e uma adesão mística incondicional, acrítica. 

Minha tendência ao  “sincericidio”  é compulsiva e patológica. Nesse sentido não sou um “bom politico”. Desculpem o mau jeito. Hoje tenho oito horas para enfrentar um leque de decisões, todas ruins em relação ao que fazer com uma trajetória limpa de 43 anos de vida política.  Mas vou fazê-lo sem angústia de coração leve e mente aberta.” 

Censura de um certo partido na internet

Foto da fundação do Partido da Social-Democracia Brasileira.
O doutor Cardoso, Sociólogo que criticava a ditadura militar, não gosta (ou não gostava) de censura.
Tancredo Neves, avô de um tucano conhecido dos dias de hoje, (que nunca fez parte do PSDB), também não gostava de censura ou de ditadura.
Mário Covas, ex-governador e um dos fundadores do PSDB, também detestava censura.
José Serra, que exilou-se no Chile e fez parte de um grupo que combatia a ditadura, também detesta (ou detestava) censura.
Sobre o último, uma curiosidade: Ele fez parte do grupo Ação Popular (esquerda cristã), que era vítima constante da ditadura militar e da censura.


Levando tudo isto em conta, então por que é que diabos os militantes de um certo tucano denunciam e censuram imagens dele?
E depois falam que Dilma e o PT é que querem a censura.
Quem realmente quer censurar quem?
Vão mesmo contrariar a sua história?

Esquerda ou direita: qual o cerne ideológico da classe média?


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“A impaciência revolucionária é um fenômeno eminentemente pequeno burguês”
(frase atribuída a Mao Tsé Tung)
Por Raul Longo(*)
Evidente que a ideologia independe da classe social, mas os comportamentos identificam os de cada classe independentemente da ideologia à que se reivindicam.
Tive isso muito claro numa discussão sobre Luchino Visconti que, oriundo da nobreza, era comunista. Foi por volta do ano 2000 e o acesso à parafernália da informática e novos meios eletrônicos de difusão cultural, hoje entretenimento, ainda era restrito a uma minoria.
Em conversa paralela numa reunião de amigos, não dei atenção ao dono da casa que concentrava a conversa com os demais acusando algo de ser uma merda. Alguém ao lado me cochichou indignação por ele estar ser se referindo a um clássico da cinematografia universal: “Morte em Veneza”.
Indignei-me também e lembrando não gostar da linguagem literária dos filmes de Godard ou Bergman, afirmei que nem assim classificaria de “merda” a obra desses mestres. Expliquei quem foi e qual o significado de Visconti para a 7ª arte. Também contei sobre o escritor Thomas Mann e o cinema expressionista alemão reportado no “Morte em Veneza”.
Foi meu erro. Apesar de identificados como esquerdas e militantes lulistas, tomaram como ofensa o fato de alguém que não tinha sequer um aparelho de TV deter informações que não eles não possuíam. Acusaram-me de prepotente e não quiseram mais saber de amizade.
A informática popularizou-se tanto que certamente já não se sentem mais ameaçados quando alguém expõe alguma informação que desconheçam, pois recentemente encontrei a esposa do casal que me cumprimentou muito reconciliadora. Tudo é bastante compreensível considerando que em centros pequenos raramente se depara com alguém que exceda a um nível médio de informações, como é ocorrência comum nas cidades maiores onde normalmente não se sente obrigação de saber mais do que a maioria.
Talvez ainda por essa falta de circulação de informações, pontos de vista, percepções e opiniões divergentes é que há pouco provoquei outra discussão com amigos comentando as manifestações de junho como resultado da sistemática e permanente campanha da mídia contra o governo. Apesar de candidatos pelo PT, coesa e peremptoriamente esses amigos não admitiram nenhuma possibilidade de interferência midiática, convictos de que as manifestações foram espontâneas e provenientes do que consideram falho no governo.
Tentei argumentar concordando com a falta de reações do governo Dilma em alguns aspectos, mas não haver outra justificativa para uma mobilização que não se verificou nem mesmo em momentos de incomparáveis maiores dificuldades à população. Não aceitaram e garantiram que desde o início a mídia se posicionou contra as manifestações.
Como não deixaram expor o que percebia, desisti de tentar e depois usei o correio da internet para enviar imagens e textos da mídia enaltecendo o movimento, e considerações de observadores nacionais e internacionais com a mesma conclusão comum à grande maioria dos que buscaram analisar os motivos daquelas manifestações. E, claro, ironizei desculpando-me por concordar com aquelas opiniões contrárias às de suas certezas.
Dias depois, tentando retomar a mesma discussão, um deles demonstrou-se ofendido com minhas brincadeiras, mas pedi para não retornarmos a uma conversa inútil se impossível aceitar o que se comprovava pelo material que enviei.
Tentei entender porque tamanha dificuldade em concordar com a percepção de tantos analistas e acabei concluindo que se deva ao fato de aqui – como deve ocorrer em outras partes e com todos os partidos – no diretório do Partido dos Trabalhadores haver muitos envolvidos em projetos pessoais que, por maior esforço ou oportunidade, estreitaram relações com o governo federal. Imaginei provável que os amigos se sintam preteridos, transferindo suas mágoas às lideranças nacionais, inclusive Dilma e Lula a quem, na oportunidade seguinte, um deles conferiu todos os adjetivos empregados pela direita. Só faltou o “apedeuta”, porque de resto entrou até o “mau pai” do Collor de Melo!
Dizer o quê? Nada!… Até porque isso da classe média, de direita ou esquerda, adotar os preconceitos da elite, é típico. Mas cometi a bobagem de tentar alguma ponderação sugerindo sempre haver os que cometem erros e deslizes, numa rápida lembrança ao caso dos “Aloprados”. Imediatamente afirmou que ali é que Lula prejudicou Gushiken.
Espantado, lembrei que Gushiken não teve nada a ver com o caso dos “Aloprados”. Insistiu: “- Claro que sim.” Imaginei ter se confundido e lembrei se tratar do caso em que se envolveu o churrasqueiro, natural daqui de Florianópolis; mas então se uniram e pela experiência anterior senti que tentariam me convencer do que sabia não ser verdade. Também indisposto com o mórbido oportunismo, considerei melhor deixar a conversa. Afinal, como candidatos devem ter lá suas razões, mas não sou filiado a partido algum e embora acostumado às assimilações dos discursos da mídia, ainda me é impossível aceitar métodos de manipulação e falsificação de denúncias sem fundamentos. Mesmo quando empregados por quem se identifique como esquerda.
Aí também não tem nada a ver com classe social ou ideologia. Seja discutindo com rico, pobre ou remediado; comunista ou capitalista, a experiência indica que isso de domínio do fato só no STF e o melhor seria enviar o que encontrasse do histórico do que foi citado.
Insistiram para que ficasse, mas sorri me despedindo e prometendo enviar pela internet o que não me deixariam falar ali. No computador, em casa, foi só consultar por “Escândalo dos Aloprados” e copiar o trecho em que são relacionados os nomes dos envolvidos. Novamente fiz acompanhar os pedidos de desculpas por não haver qualquer indicação sobre Gushiken no verbete do Wikipédia.
Aí um escreveu suas dúvidas sobre minha amizade, já que me recusei a ouvir a relação de companheiros que acredita terem sido abandonados por Lula, inclusive Gushiken a quem a seu ver o ex Presidente teria abandonado. Como entre os citados se incluem alguns de meus correspondentes, respondi oferecendo transmitir-lhes suas impressões para conferir o que pensam e sentem a respeito. E copiei trechos de notícias sobre visitas de Lula à Gushiken no Hospital 9 de Julho e Sírio Libanês, onde faleceu após 12 anos de tratamento de câncer no estômago que provocou seu pedido de exoneração em 2006.
Pensei em explicar que não votei em Dilma ou Lula para serem companheiros de sindicalistas ou coo partidários, mas pelo povo brasileiro. Talvez pudesse também escrever que não votei esperando que em 10 anos mudassem os 500 da história da sociedade brasileira, como Fidel mudou a de Cuba, já que desde Salvador Allende não confio no voto como arma mais adequada para mudanças tão abruptas. Mas adiantaria tentar demonstrar que com o surgimento da máfia russa após o fim da União Soviética e tentando entender os motivos da China reassumir a economia capitalista, concluo as utopias como incompatíveis a imediatismos pretensamente revolucionários?
Dizem que Mao Tse Tung afirmava que a impaciência revolucionária é um fenômeno eminentemente pequeno burguês. Não sei se é verdadeira a autoria, mas a frase me faz mesmo lembrar a proverbial paciência chinesa de tão longa história.
Poderia ter escrito também que jamais votaria em qualquer candidato esperando que fizesse um governo perfeito, pois me parece impossível ou irreal um governo perfeito num sistema imperfeito. Mas será que adiantaria?
Depois encontrei também o outro amigo que igualmente demonstrou não ter mais motivos para continuar sendo meu amigo. É triste, mas o que fazer quando os ideais não correspondem aos fatos?
Como dizia Cazuza, sempre há quem precise de alguma ideologia pra viver.
*Raul Longo é jornalista, escritor e poeta. Mora em Florianópolis e é colaborador do “Quem tem medo da democracia?”, onde mantém a coluna “Pouso Longo”.

domingo, 29 de setembro de 2013

E os partidos brotam como grama. Ou será como erva daninha?



O saudoso Leonel Brizola dizia que programa partidário se encontra à venda em qualquer banca de revista.
Longe de querer menosprezar a política, Brizola, com a sua frase, apontava para um dos maiores problemas da jovem democracia brasileira, que é a falta de substância ideológica dos partidos.
A afirmação do ex-governador foi feita há uns 20 anos.
Permanece atual.
É só ler o noticiário, que informa sobre a criação de mais duas agremiações no país, uma tal de Solidariedade, criada pelo notório Paulinho da Força, e outra cuja sigla é Pros, abreviatura de Partido Republicano da Ordem Social, criada por um obscuro político de nome Eurípedes Júnior, ex-vereador de Planaltina do Goiás.

Os dois partidos nascem com o objetivo de ascender ao poder - da pior maneira.
O Solidariedade, que plagia o nome da organização sindical polonesa que derrubou o comunismo no país, está aí para servir ao PSDB, mais especificamente ao senador Aécio Neves e sua tentativa de suceder Dilma Rousseff.
Nenhuma novidade nisso.
O notório Paulinho da Força é dessas pessoas que fazem da vida pública um meio de resolver problemas da vida privada.
Já o Pros foi criado com a ajuda de integrantes do governo federal e deve, portanto, abrigar parlamentares do chamado "baixo clero" que não se acham confortáveis em seus partidos e veem esse novo como uma oportunidade para melhorar seus cacifes.
Claro que apoiando o governo. 
Com os dois, já são mais de 30 partidos no Brasil.
É impossível que em meio a tantos, de tão diferentes orientações ideológicas, os nossos políticos não achem nenhum que caiba em seus figurinos.
Mas o movimento de proliferação de siglas não para por aí.
Há ainda a Rede marineira, patrocinada por poderosos empresários que apostam numa "terceira via" como a melhor maneira de derrotar o "lulopetismo", e até organizações de extrema direita.
Por trás de todos existe uma rede de negócios extremamente dinâmica e uma legislação que permite essa deturpação de propósitos.
Nesse ritmo, em breve o país poderá comemorar a criação do seu 100º partido político em pouco tempo.
E a tão necessária reforma política vai ficando cada vez mais distante. 
Já é quase um palavrão...
http://cronicasdomotta.blogspot.com.br/2013/09/e-os-partidos-brotam-como-grama-ou.html

O tamanho do obstáculo de Aécio Neves



É mais fácil encontrar geladeira cor-de-rosa que Aécio Neves ser presidente do Brasil.Olha o obstáculo que Aécio Neves vai ter que ultrapassar.

Como preparar a opinião pública para uma guerra

Documento do Ministério da Defesa britânico revelado pelo The Guardian aconselha “reduzir a sensibilidade pública às consequências inerentes de uma operação militar”

As forças armadas deveriam evitar as cerimônias de repatriação de soldados mortos em combate e usar mais mercenários e tropas de elite para neutralizar o rechaço a conflitos armados que existe na opinião pública britânica desde as guerras do Afeganistão e Iraque. Segundo um documento do Ministério da Defesa publicado nesta sexta-feira (27) pelo jornal The Guardian, o governo deveria “lançar uma campanha constante e clara para influenciar nas áreas mais importantes da imprensa e da opinião pública” buscando recuperar o apoio popular que existiu na guerra das Malvinas e na Irlanda do Norte.


(Fonte http://www.archives.gov/research/ww2/photos/images/ww2-84.jpg)

O documento aconselha “reduzir a sensibilidade pública às consequências inerentes de uma operação militar” e “inculcar a ideia de que o serviço implica sacrifícios e que estes riscos foram assumidos com plena consciência”. Uma maneira de atenuar esta sensibilidade é diminuir o número de mortes em combate: o informe recomenda fazer um maior uso dos veículos de combate não tripulados.

Outro caminho é mudar a “proporção” das mortes. Nesta particular avaliação dos riscos, o Ministério da Defesa britânico estima que uma coisa são mercenários ou membros de forças especiais como o SAS e outra são os integrantes das forças regulares. Neste último caso, o impacto público é muito maios e começa quando os meios de comunicação divulgam a identidade do soldado morto que costuma ter cerca de 10 e poucos anos e tem na foto uma expressão luminosa carregada com toda a desolação da morte. “As pessoas resistem muito melhor à morte de integrantes das forças especiais. A morte de 19 membros das SAS nas Malvinas não gerou grande comoção”, assegura documento.

O inferno mais temido do Ministério da Defesa é a repatriação de soldados mortos e sua repercussão pública nos meios de comunicação, desde a chegada do caixão no aeroporto até a passagem do carro fúnebre com as pessoas nas calçadas jogando flores e chorando, tudo implacavelmente transmitido pelos noticiários. Entre 2007 e 2011, 345 militares britânicos morreram em combate e foram repatriados com todas as honras. O informe do Ministério da Defesa sugere cerimônias menos vistosas e dramáticas.

A ideia gerou indignação entre os familiares que a qualificaram de “brushing the deaths under the carpet” (varrer os mortos para debaixo do tapete). “Combatem e dão a vida. Por que temos que escondê-los? Seria francamente escandaloso”, disse ao Guardian Deborah Allbitt, cujo marido, Stephen, morreu no Iraque.

A necessidade de preparar a opinião pública e convencê-la da inevitabilidade da intervenção militar é o fio condutor do informe. “Historicamente, uma vez que a população esteja convencida de que o conflito lhe diz respeito, ela está disposta a respaldar uma guerra com todos os seus riscos”, assinala o documento.

As Malvinas e a Irlanda do Norte são os casos citados como exemplos desta efetiva preparação da opinião pública. Afeganistão e Iraque são os exemplos contrários. “As pessoas estão muito mais informadas e nossos oponentes são muito mais sofisticados na exploração da informação na internet. O resultado é que convencer a nação se tornou muito mais difícil, mas não por isso, menos essencial”, indica o informe.

O documento do Ministério da Defesa é de 2012 e foi obtido pelo Guardian graças à lei de liberdade da informação. Uns dez meses mais tarde, em agosto, o primeiro ministro David Cameron pagou o preço político de desobedecer essas recomendações, quando sua tentativa de envolver o Reino Unido na aventura militar na Síria foi derrotada por uma votação na Câmara dos Comuns em meio a um ceticismo generalizado.
Marcelo Justo
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer
No Revista Fórum

Por que tantos acreditam na revista Veja?

"Estarrece que larga porção da sociedade nativa, privilegiados e aspirantes ao privilégio, acredite nas interpretações de Veja e repita passagens dos seus pareceres mirabolantes.

O espetáculo midiático proporcionado na cobertura do chamado 'mensalão' é, em geral, estarrecedor ao revelar em toda a sua evidência o atraso intelectual e cultural dos tais cidadãos a que me referi, jornalistas e seus patrões, leitores, espectadores, ouvintes. Todos unidos na demonstração de uma parvoíce movida a raiva, ódio de classe, medo, preconceito, hipocrisia, inveja, abissal ausência de espírito crítico."



Uma capa resume tudo

Veja não surpreende. Espanta quem acredita nela entre privilegiados e aspirantes ao privilégio

Mino Carta

Reprodução

"Estarrece que larga porção da sociedade acredite nas interpretações 

de Veja e repita seus pareceres mirabolantes"

Berlusconi é o político mais bem-sucedido da Itália dos últimos 20 anos. Como se sabe, foi um desastre, e não espanta que tenha sido, com o condão de pagar agora pelas mazelas cometidas. Espanta, isto sim, que metade dos italianos tenha votado nele. Passo a falar de Brasil. A capa de Veja desta semana [semana passada] é o símbolo irretocável de um singular humor em que se misturam má-fé e estupidez. A revista da Abril mesmo assim não nos surpreende, já sabemos do que é capaz de longa data. Estarrece que larga porção da sociedade nativa, privilegiados e aspirantes ao privilégio, acredite nas interpretações de Veja e repita passagens dos seus pareceres mirabolantes.

O espetáculo midiático proporcionado na cobertura do chamado “mensalão” é, em geral, estarrecedor ao revelar em toda a sua evidência o atraso intelectual e cultural dos tais cidadãos a que me referi, jornalistas e seus patrões, leitores, espectadores, ouvintes. Todos unidos na demonstração de uma parvoíce movida a raiva, ódio de classe, medo, preconceito, hipocrisia, inveja, abissal ausência de espírito crítico.

A tigrada dita de classe média (média até agora não sei por quê) é, aliás, a própria, definitiva, irremediável prova da incapacidade de cumprir o papel que compete à burguesia. Aquele, digamos, de precipitar a Revolução Francesa. Pelo contrário, aí está a provar a ignorância, mau gosto, provincianismo, pavor da mudança. Dizia Lévi-Strauss ao definir os senhores paulistanos 80 anos atrás: “Eles se têm em alta conta e não sabem como são típicos”Illo tempore, os senhores viam em Paris o umbigo do mundo. A tipicidade aumentou, e hoje, ao comporem uma categoria muito mais vasta, substituem a Ville Lumière por Miami.

Pouparei os amáveis frequentadores deste espaço das minhas considerações a respeito das gravatas amarelo-ouro ou da descoberta do vinho que alguns carregam aos restaurantes em bolsas apropriadas. De couro cru, para o desconforto de quem sonha com estes luxos e ainda não chegou lá. Citarei a leitura escassa ou mesmo nula: há mais livrarias em Buenos Aires do que no Brasil todo. O estudo precário, a péssima lida com o vernáculo, a eterna expectativa do favor dos amigos ou do arreglo por baixo do pano.

Cabe evocar tudo aquilo que certifica a mediocridade da turma. O caos arquitetônico, isento de módulos e linhas mestras, frequentemente inspirado em Gotham City, quando não entregue à imitação de modelos de outros cantos do mundo, escolhidos conforme a veneta do dia, sem excluir telhados normandos na previsão da neve. Ou mesmo a certeza, tipicamente local, de que São Paulo é capital gastronômica do planeta, alimentada por quem até ontem mastigava espaguete regado a uísque.

Vezos burgueses, amparados em tradições seculares, ou em modismos momentâneos, carecem de maior importância, está claro. Resta o fato desta 
ferocidade desvairada, para não dizer demente, diante de um episódio, embargos infringentes justificados pelas leis, e que tanto podem abrandar as penas dos condenados quanto agravá-las, conforme esclareceu em vão o ministro Celso de Mello. Cresce, na moldura do evento, a desinformação generalizada, o desconhecimento do código e do quem é quem.

Ocorre-me um amigo que eu chamava de samurai, Luiz Gushiken, ministro de Lula no primeiro mandato, primeira vítima do “mensalão” sem qualquer culpa em cartório, de fato aquele que percebeu o papel devastadoramente daninho do banqueiro Daniel Dantas, visceralmente envolvido no processo e tão chegado a petistas de outro naipe, como Márcio Thomaz Bastos, José Dirceu, Luiz Eduardo Greenhalgh, sem contar o atual ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Gushiken morreu dia 13 passado, honrado e, receio, infeliz.

Outro injustiçado é José Genoíno, que, segundo Veja, gargalha com o voto de Celso de Mello. A malta não sabe que Genoíno é um herói brasileiro, esperançoso e iludido até as últimas consequências, acreditou que o Araguaia seria a Sierra Maestra brasileira, e, ao lado de 80 companheiros, lutou contra 10 mil soldados da ditadura. Torturado brutalmente, ressurgido das cinzas, ainda espera que o Brasil deixe de ser o país da casa-grande e da senzala. Ao contrário do que afirmam seus inquisidores a pretendê-lo “mensaleiro”, não sabe onde cair morto, se me permitem a linguagem rasteira.