sexta-feira, 21 de agosto de 2015

ESPECIALISTAS QUESTIONAM OBRAS DA SABESP CONTRA CRISE HÍDRICA

Suplicy, o “chato da renda mínima”, tinha razão? Com a desigualdade subindo, o mundo começa a se render à ideia –mas não Dilma


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(Suplicy com participantes da operação Braços Abertos. Foto: Maria Eugênia Sá/Jornalistas Livres)
Eduardo Suplicy não caminha há seis meses sobre tapetes azuis no Planalto Central, rotina durante 24 anos de sua vida, mas sobre as calçadas e pedras do centro de São Paulo. Do Pátio do Colégio, onde sua cidade natal começou, à Cracolândia, de lá à zona Leste –onde for chamado. Suplicy parece ter perdido para ganhar: ser derrotado por José Serra na campanha à reeleição lhe proporcionou ser feliz no cargo de secretário de Direitos Humanos e Cidadania da prefeitura da cidade.
Nada como uma mudança de rumo, de ares, de rotina, aos 74 anos de idade. A excitação está estampada no rosto do ex-senador, sobretudo por se sentir útil no cargo, talvez como há muito não se sentia atuando em nosso pérfido Legislativo, povoado de Eduardos Cunhas demais e Eduardos Suplicys de menos. O secretário é acionado e costuma ir em pessoa resolver problemas relacionados aos Direitos Humanos: no início do mês foram os ataques xenófobos a tiros de chumbinho contra haitianos no bairro do Glicério. Suplicy também atende uma vez por semana no balcão da secretaria, aberto a qualquer morador com queixas. Enfim, o novo cenário caiu muitíssimo bem a Suplicy, e se nota.
Propus uma conversa com o secretário especificamente sobre o programa de renda mínima, após ler em vários sites internacionais (aquiaqui e aqui, por exemplo) notícias onde especialistas de vários países exaltam a ideia como uma solução possível para a crescente desigualdade no mundo. Eduardo Suplicy é citado em toda parte como um dos pioneiros em levantar a bandeira, embora no Brasil sua persistência em tratar do assunto tenha lhe rendido o epíteto de “o chato da renda mínima”. A rigor, Suplicy é o verdadeiro pai do bolsa-família: foi ele a primeira pessoa a falar sobre a necessidade de uma renda básica no Brasil e o primeiro político a aprovar projetos neste sentido.
Suplicy pode falar horas sobre o renda mínima, que é super-complicado de entender para um leigo, mas que significaria, em resumo, que todos passaríamos a ganhar o bolsa-família, cada um dos brasileiros, pobres ou ricos, sem a necessidade de explicar nada para o governo. Parece uma utopia, mas tem muita gente mundo afora apostando na ideia para diminuir o fosso entre as classes e mitigar o problema da fome. Para quem acha que é uma proposta (só) de comunistas, o presidente norte-americano Richard Nixon defendeu em 1969 algo bem parecido, que não vingou. Na verdade, há quem se refira ao programa como uma espécie de upgrade no capitalismo, um “aprimoramento”.
O espanhol Podemos, na Espanha, colocou no centro de seu programa econômico uma renda básica universal, e já foi copiado pelo rival PSOE, que prometeu uma renda mínima para os pobres, bem similar ao nosso bolsa-família. Na Holanda, a cidade de Utrecht anunciou que vai iniciar um experimento em setembro e foi imediatamente seguida por outras 30 cidades. Em 2016, a Suíça irá realizar um plebiscito para decidir se implantam um programa de renda mínima no país. Sem contar o clássico caso do Alasca, que se tornou o Estado mais igualitário dos EUA ao implantar o renda mínima em 1980.
Faz dois anos que Suplicy tenta ter uma audiência com a presidenta Dilma Rousseff para tentar criar um grupo de trabalho que discuta sua ideia, como está previsto na lei que criou o Renda Mínima, sancionada pelo presidente Lula em 2004. Suplicy está convicto de que chegou a hora de avançar além do bolsa-família e quer falar isso a Dilma. Dilma foge dele como o diabo da cruz. Eduardo Suplicy já chegou a ir a Brasília com tudo acertado e ela desmarcou de última hora. O petista não titubeou em reclamar do cano nas redes sociais.
Suplicy é um entrevistado rebelde, que só fala o que deseja, no tempo que quer. Não é fácil guiá-lo querendo objetividade nas respostas. Mas é curioso: quando fala do Renda Mínima, ele ganha ares e prosódia de mascate tentando vender alguns metros de tecido. Muda a cadência: fala tão acelerado que é difícil acompanhar.
Na saída, me deu um exemplar de seu livro Renda de Cidadania: A Saída É Pela Porta e cópias das 16 cartas que enviou a Dilma nos últimos dois anos. Um resumo da nossa conversa em seu gabinete no centro de São Paulo, com vista para o Pátio do Colégio (dias após, a secretaria mudou para a rua Líbero Badaró).
No: http://www.socialistamorena.com.br/suplicy-o-chato-da-renda-minima/

CÂMARA REALIZA AUDIÊNCIA SOBRE A DÍVIDA PÚBLICA E DECIDE CRIAR SUB-COMISSÃO PERMANENTE SOBRE O TEMA

Audiência foi proposta pelos deputados Edmilson Rodrigues (PSOL/PA), Simone Morgado (PMDB/PA) e André Figueiredo (PDT/CE).
21-8-2015 - reduzidaNa mesa da Audiência Pública, a deputada Simone Morgado (PMDB/PA), Edmilson Rodrigues (PSOL/PA) e a representante da Auditoria Cidadã da Dívida, Maria Lucia Fattorelli. Foto: Magnolia Rodrigues
Dia 20/8/2015, a Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados realizou Audiência para discutir o endividamento público brasileiro. A Audiência, proposta pelo Deputado Edmilson Rodrigues (PSOL/PA), teve seu Requerimento subscrito também pela deputada Simone Morgado (PMDB/PA) e André Figueiredo (PDT/CE).
O Coordenador-Geral de Operações da Dívida Pública da Secretaria do Tesouro Nacional, José Franco Medeiros de Morais, procurou mostrar que a dívida pública é totalmente transparente e não beneficia principalmente os bancos, mas seria detida principalmente pelos fundos de pensão e fundos de investimento.
Já o representante da FEBRAFITE, João Pedro Casarotto, mostrou que a União gasta cerca da metade do orçamento com a dívida pública, e atualmente explora os estados com a cobrança de juros altíssimos, muito maiores que os cobrados, por exemplo, pelo BNDES de empresas privadas.
A representante da Auditoria Cidadã da Dívida, Maria Lucia Fattorelli, mostrou o enorme sacrifício feito para cumprir o ajuste fiscal, por meio do corte de gastos sociais, perdas salariais dos servidores públicos, privatizações e aumento de tributos. Enquanto isso, o governo lança títulos da dívida de centenas de bilhões de reais para alimentar mecanismos financeiros que favorecem os bancos privados. Denunciou que só as operações de “swap” cambial deram prejuízo líquido de R$ 57 bilhões nos primeiros 7 meses de 2015 e tudo isso virou dívida pública. O outro mecanismo corresponde às operações “compromissadas”, mediante as quais o Banco Central troca títulos da dívida pelo excesso de moeda dos bancos. Mais de R$ 1,1 trilhão da dívida pública estão sendo utilizados nessas operações, que garantem enormes ganhos aos bancos e fazem explodir a dívida. Encerrou a sua fala propondo a auditoria da dívida, prevista na Constituição (e jamais realizada), e a formação da Frente Parlamentar Mista pela Auditoria da Dívida com participação popular.
A representante do Nucleo São Paulo da Auditoria Cidadã da Dívida, Carmen Bressane, mostrou a origem fraudulenta e ilegal da dívida do município do São Paulo, refinanciada pela União em 2000 – sem o questionamento de tais ilegalidades – e que se multiplicou devido ao mecanismo de juros sobre juros. Apesar do município ter pago à União R$ 25,9 bilhões de 2000 a 2015, neste período a dívida explodiu, passando de R$ 11,2 bilhões para R$ 62,89 bilhões. A recente Lei Complementar que reduziu as taxas de juros das dívidas de estados e municípios com a União não resolve o problema dessa dívida ilegal, que deveria ser auditada.
Por fim, o advogado Ramon Prestes Bentivenha (da Articulação Brasileira Contra a Corrupção e Impunidade – ABRACCI) destacou ilegalidades do endividamento, tais como a não apresentação de documentos solicitados pela CPI da Dívida Pública, ocorrida em 2009/2010 por requerimento do Deputado Ivan Valente (PSOL/SP). Conforme Bentivenha, o pagamento da dívida pública não pode comprometer o atendimento aos direitos humanos.
Diante da relevância das informações colocadas, a Presidente da Comissão de Finanças e Tributação, Soraya Santos (PMDB/RJ) propôs a criação de Sub-comissão destinada a analisar a dívida pública, o que representa um grande avanço na luta pela auditoria da dívida pública brasileira.

A luta de classes e o respeito ao próximo

Uma das melhores maneiras de conhecer o caráter de uma pessoa é ver como ela trata os outros, principalmente os seus subordinados.

Tive uma chefe que era durona, falava grosso com todo mundo, até com seus superiores, mas mostrava muito respeito pelos office boys da redação.

Em compensação, havia um outro sujeito que vivia gritando com aquela rapaziada simpática e prestativa.

Um dos diretores de redação do Estadão com quem trabalhei era admirado justamente pelo fato de que não olhava os outros, especialmente os funcionários mais humildes, com superioridade. 

Cumprimentava todos, conversava com eles como se estivesse numa mesa de bar, se interessava - ou fingia se interessar - pelo que o pessoal dizia.

Depois que saiu do jornal fez uma exitosa carreira como executivo de multinacionais - e chegou até a ministro de Estado do governo Lula.


Apesar de todos os avanços sociais e econômicos dos últimos anos, muita gente ainda pensa que está vivendo no passado, quando havia uma estratificação muito nítida na sociedade - ricos, classe média e pobres, a grande maioria.

A classe média adulava os ricos, sonhava levar o seu estilo de vida, e descontava suas frustrações nos pobres, tratando-os como seres inferiores.

Quem é da minha faixa de idade sabe do que falo.

Empregada doméstica não podia nem andar no elevador social. 

Havia até mesmo aquelas que trabalhavam em tempo integral, moravam na casa dos patrões, dormiam em cubículos, comiam as sobras das refeições e se vestiam com as roupas velhas da patroa.

Isso nas cidades.

No campo as condições dos pobres eram ainda mais duras.

Quando me recordo desse tempo até que entendo a revolta de algumas pessoas, expressa em cartazes das manifestações de rua e em textos nas redes sociais, contra o governo federal trabalhista.

O fato é que o Brasil mudou muito rapidamente, promoveu uma ascensão social para dezenas de milhões de pessoas, e isso mexeu com a cabeça de muita gente, saudosa daquele tempo em que cada um sabia o seu lugar.

Casa Grande e Senzala, não é esse o título da obra-prima de Gilberto Freyre, e que tão bem resume as relações sociais de um Brasil ainda em formação?

Um alemão barbudo também se dedicou a esse tema e deu a esse fenômeno que se observa com tanta intensidade no país o nome de "luta de classes".

Isso no campo da sociologia.

Na esfera individual, trata-se apenas de respeito ao próximo.

Que falta que ele faz!
http://cronicasdomotta.blogspot.com.br/2015/08/a-luta-de-classes-e-o-respeito-ao.html

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

O pensamento binário é uma característica dos idiotas


"Você é daqueles que acham que criticar a polícia é defender bandido? O pensamento binário é fascinante. Para algumas pessoas, a vida é simples: é céu ou inferno. Não existe outra coisa entre um polo e outro, nenhuma área cinzenta, nenhuma dúvida, nada. Para elas, o mundo não é complexo

Leonardo Sakamoto, Blog do Sakamoto

O pensamento binário é fascinante. Para algumas pessoas, a vida é simples: é céu ou inferno. Não existe outra coisa entre um polo e outro, nenhuma área cinzenta, nenhuma dúvida, nada. Para elas, o mundo não é complexo. As pessoas idiotas é que tentam turvar aquilo que é certo, confundindo a certeza que deus nos deu.

Daí, para a vida fazer sentido, dizem que todos têm que abraçar uma ideia e simplificar o mundo ao máximo. Se você acha que isso é impossível, sem problema: eles te dão uma mãozinha, taxando você.

Por exemplo, para esse tipo, se você critica a atuação da polícia em um operação realizada em uma comunidade pobre ou afirma que há suspeitas de envolvimento de policiais em uma chacina, é um defensor de bandidos, quer a morte de policiais e deseja beber o sangue de crianças sacrificadas em nome de algum demônio. O mais feio deles.

Como já disse aqui várias vezes, independentemente de policiais estarem ou não envolvidos na chacina de 18 pessoas em Osasco e Barueri (SP), precisamos debater profundamente nossa polícia. E isso não se resume a dar bônus a quem matar menos ou aulas de direitos humanos na academia. Passa por revisão sobre o papel, os métodos e o seu caráter em nossa sociedade. Porque o sistema se reproduz no dia a dia.

Alguns setores da corporação estão impregnados com a ideia de que nada acontecerá com eles caso não cumpram as regras.

Agem à margem da lei em nome do cumprimento da mesma lei – ao torturar para obter respostas, por exemplo. Ou passar por cima dela em proveito próprio – o que pode ser provado pela ação de milícias e grupos de extermínio integrados, muitas vezes, pela banda podre da polícia.

Outra parte, reunindo a maioria dos policiais, segue as regras, mas sabe que a mesma sociedade está pouco se lixando para eles e suas famílias. Pagamos salários ridículos, de fome, e exigimos que se sacrifiquem em nome do nosso patrimônio.

Mudanças incluem um processo de desmilitarização da polícia. As Forças Armadas são formadas para a guerra. Em última instância, militares são treinados para matar. A polícia, por outro lado, não está em guerra com seu próprio povo. Ao menos, não deveria.

Parte da população apoia esse tipo de comportamento policial. Gosta de se enganar e acha que se sente mais segura com o Estado agindo “em guerra” contra a violência – como se isso não fosse, em si, um contrassenso. Essas pessoas são seguidoras da doutrina: “se você apanhou da polícia é porque alguma culpa tem”.

E se não se importam com inocentes, imagine então com quem, posteriormente, é considerado culpado. Para eles, é pena de morte e depois derrubar a casa e salgar o terreno onde a pessoa nasceu, além de esterilizar a mãe para que não gere outro meliante.

Enfim, reforço a ideia do último texto: mais do que um país sem memória e sem Justiça, temos diante de nós um Brasil conivente com o terror como principal ferramenta de ação policial. Os métodos eram os mesmos incorporados pela polícia na ditadura? Ah, se for em nome da minha (pretensa e frágil) segurança, não importa. Tiro até selfie.

E como também disse aqui, a polícia é um instrumento. O instrumento de uma parcela da sociedade com um grupo de poder econômico para a qual os domínios fora de seu castelo são terra de ninguém. O que acontece lá, fica por lá, desde que as coisas continuem como sempre foram.

Afinal de contas, na maior parte das vezes os que morrem são pretos e pobres, inocentes, culpados, moradores, policiais.

*Leonardo Sakamoto é professor, jornalista e doutor em Ciência Política

Acredite se quiser


James Randi, hoje com 87 anos, passou grande parte de sua vida usando a sua extraordinária habilidade de ilusionista e prestidigitador para desmascarar picaretas que se valiam de truques para tirar dinheiro dos outros, como esse monte de "pastores", "bispos" ou "missionários", que exibem seus "milagres" pela televisão por todo o mundo, ou médiuns e "cirurgiões espirituais" - uma legião de "paranormais" com poderes que deixariam o Super-Homem envergonhado de tanta incompetência.

A vida e o trabalho de Randi em prol da desmistificação dessa indústria de falsidades estão muito bem retratados no filme "An Honest Liar", dirigido por Tyler Measom e Justin Weinstein, que se encontra no catálogo da Netflix.

O documentário mostra desde o tempo em que Randi se apresentava como mágico e escapista, seguindo a trilha de seu ídolo Houdini, até os dias de hoje, quando passou pelo drama de ver seu companheiro de mais de duas décadas ser preso nos Estados Unidos por ter vivido lá com documentos falsificados.

A história de Randi é mais interessante que muitos filmes de ficção.

Sua obsessão em desmascarar os picaretas é merecedora de aplausos.

Mas o filme revela algo assustador: o fato de que muitas pessoas, apesar de todas as evidências que lhes são apresentadas de que aquela coisa extraordinária que veem não passa de uma farsa, de um truque barato, continuam a crer nos poderes mágicos do autor da "façanha".

A batalha entre Randi e o "paranormal" Uri Geller, que durou anos, exemplifica isso muito bem.

O israelense Uri Geller ficou famoso, décadas atrás, por entortar colheres e outros objetos de metal ou fazer relógios quebrados funcionarem, por meio, como dizia, do seu poder mental.

Apareceu em inúmeros programas de televisão dos Estados Unidos, deixando seus apresentadores e telespectadores atônitos.

Randi percebeu de cara que Geller era apenas mais um mistificador.

E passou a ir a todos os programas em que Geller se apresentava, fazendo exatamente as mesmas coisas que ele.

Chegou ao ponto de conseguir que dois discípulos seus, bem treinados nos truques "mágicos", passassem por uma bateria de testes científicos que durou anos - os mesmos testes que autenticaram as façanhas de Geller.

Mesmo assim, provando que qualquer mágico profissional possuía os mesmos "poderes" que Uri Geller, Randi teve de ouvir, nos programas de televisão de que participava, que ele simplesmente havia reproduzido, por meio de ilusões e truques, o que o israelense havia feito com seus poderes mentais.

A conclusão a que Randi chegou é que as pessoas acreditam naquilo que querem, seja lá por que razões for.

De certa forma, constroem e vivem num mundo de ilusão, no qual tudo é possível.

Esse é um fenômeno que ocorre bastante no Brasil atual.

Muitas pessoas creem realmente que o país vive uma grave crise econômica e moral, tudo por culpa de um determinado partido político.

Essa crença se origina, na maioria das vezes, na própria pessoa, em seus preconceitos e ressentimentos, mas não se pode desprezar o papel dos meios de comunicação em disseminá-la, já que eles, por terem se transformado em panfletos de propaganda ideológica, fazem questão de apresentar esta como uma nação maldita, condenada, inteiramente sem futuro - pelo menos enquanto for dirigida pelos trabalhistas.

Para tais pessoas, a única realidade que existe é aquela que querem ver, deformada e pintada em branco e preto, sem nuances ou sutilezas.

Mais vale a palavra de um "pastor", a fofoca de um vizinho, o inteiro non sense de algum texto numa rede social, que a objetividade dos fatos.

Randi desmascarou centenas de farsantes, mas não impediu que muitos deles continuassem a lucrar com seus negócios trapaceiros, já que boa parte do público preferiu ficar imerso nesse universo irreal de milagres, curas fantásticas e divindades que concedem a certos homens, os escolhidos, poderes sobrenaturais.

No fundo, cada um acredita no que quer, vive sua própria realidade, e enfrenta, dessa forma, os demônios que o assolam no cotidiano.

Paciência...

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O assassinato de Trotsky e a Lata de Lixo da História





Com depoimentos atuais e imagens históricas, o Observatório da Imprensa recupera o assassinato de Trotsky da lata de lixo da história

Neste 20 de agosto, completam-se 75 anos do atentado que tiraria a vida de Leon Trotsky por um agente do stalinismo. O assassinato não foi algo inesperado. Era parte de um esforço em eliminar qualquer ligação entre os dirigentes da Revolução de Outubro e as gerações mais jovens

Leon Trotsky lia atentamente um texto entregue a ele por seu assassino. De repente, um golpe violento na cabeça dado pelas costas com uma picareta de alpinista o jogou ao chão.

Mesmo ferido mortalmente, ele se agarrou ao assassino enquanto seus guarda-costas chegavam. Gritou para que não o matassem, para que se descobrisse o mandante do crime.

Era o dia 20 de agosto de 1940. Trotsky foi levado ao hospital ainda lúcido. Em suas últimas palavras, deixou a mensagem de otimismo a seus camaradas em todo o mundo: “Estou próximo da morte, devido ao golpe de assassino político... Por favor, digam aos nossos amigos... Estou certo... da vitória da IV Internacional... continuem”.

Antes de entrar na sala de cirurgia, se despediu carinhosamente de Natasha, sua companheira de muitos anos. Entrou em coma logo depois e morreu no dia seguinte.

O assassino 

Ramon Mercader, o nome verdadeiro do assassino, era um agente da GPU, serviço de segurança russo antecessor da KGB. Foi um crime longamente planejado pelo stalinismo. Mercader viajou para a URSS em 1937, lá permanecendo por seis meses. Depois, no México, conseguiu se aproximar pessoalmente de uma secretária de Trotsky, Silvia Ageloff.

A partir daí, se apresentou ao velho revolucionário como um simpatizante de suas idéias. No dia do assassinato, entregou um texto a Trotsky para que ele opinasse. Aproveitando-se de sua distração, assassinou-o pelas costas.

Depois de sair da prisão, em 1961, Mercader foi para URSS, onde foi condecorado com a medalha de “Herói da União Soviética”.

Stalin tenta cortar o fio de continuidade do marxismo

O assassinato de Trotsky não foi algo inesperado. Era parte de uma política consciente do stalinismo de eliminar qualquer ligação entre os velhos dirigentes da Revolução Russa de 1917 com as gerações mais jovens. Era a tentativa de cortar o fio de continuidade do marxismo revolucionário num momento em que se preparava, novamente, uma guerra mundial, com suas conseqüências revolucionárias. Existia a possibilidade de se construir uma alternativa de direção revolucionária ao redor do velho bolchevique russo.

Trotsky pertenceu a uma geração de revolucionários sem precedentes na história. Uma geração que deu respostas teóricas e políticas desde questões relacionadas à organização do partido revolucionário até a construção do poder de Estado pela classe operária.

Ele não foi apenas um dos principais dirigentes da Revolução Russa ou o organizador do Exército Vermelho, como é costumeiramente lembrado. Foi o primeiro a identificar o perigo da crescente burocratização do partido e do Estado operário soviético, que ameaçava as conquistas da Revolução de Outubro.

Dedicou sua vida, a partir da morte de Lenin, a uma luta prática e teórica para libertar o movimento operário internacional da dominação stalinista. Lançou-se numa batalha sem tréguas contra a burocratização e em oposição à desastrosa política da burocracia dirigida por Stalin.

Logo após a ascensão do stalinismo, o revolucionário russo organizou a Oposição de Esquerda e se opôs radicalmente à teoria do “socialismo num só país” defendida por Stalin. Trotsky sustentava que era impossível construir o socialismo limitado às fronteiras nacionais de um país economicamente atrasado como a Rússia. Como Lenin, acreditava que a Revolução Russa era só o princípio da revolução socialista mundial.

Trotsky dedicou os últimos anos de sua vida a construir uma alternativa à desastrosa política dos partidos comunistas, intervindo nos processos revolucionários. Realizou o que em sua própria opinião era “o trabalho mais importante” de sua vida: a construção da IV Internacional.

A perseguição implacável do stalinismo

Em 1927, Trotsky foi expulso do partido, destituído de suas funções no Estado Soviético e, no início de 1928, deportado para o Cazaquistão. No ano seguinte, Trotsky foi banido da URSS e sua condição de cidadão soviético foi cassada.

Trotsky era um homem sem nacionalidade ou cidadania. Começava, assim, uma longa jornada de exílios e expulsões que iniciou na Turquia, passou pela Noruega e pela França, até chegar, finalmente, ao México, em 1937, único país que aceitou o exílio do revolucionário russo.

O assassinato de Trotsk

Quatro anos antes do assassinato, tiveram início os famosos Processos de Moscou contra dirigentes bolcheviques. Neles, foram fuzilados velhos colaboradores de Lenin, como Zinoviev, Kamenev, Bukharin, Antonov-Ovseenko, entre outros. Durante os processos, o próprio Trotsky foi condenado à morte por ser considerado um suposto “agente sabotador do imperialismo”. Nesse período, milhares de ativistas da Oposição de Esquerda já haviam sido atacados, assassinados, presos ou deportados.

A campanha de terror tinha o objetivo de suprimir toda oposição genuinamente socialista contra a usurpação do poder feita pelo stalinismo. O alvo maior do stalinismo era atacar os que estavam junto com Trotsky. Em fevereiro de 1937, Leon Sedov, filho de Trotsky, foi morto em Paris. Às vésperas da fundação da IV, Rudolf Klement, secretário de organização da nova Internacional, foi assassinado, e o projeto de estatutos foi roubado.

Em 24 de maio de 1940, se deu a primeira tentativa de assassinato de Trotsky. Um bando de assassinos stalinistas, liderados pelo pintor David Siqueiros disparou rajadas de balas contra a casa do revolucionário que escapou do atentado.

Na segunda tentativa, conseguiram seu objetivo. Stalin havia, finalmente, liquidado o último dos grandes dirigentes bolcheviques da Revolução de Outubro.

O stalinismo foi julgado pela história

O stalinismo procurava desarticular a recém-fundada IV Internacional. Possui um grande significado o fato de Stalin, que naquele momento dirigia um Estado operário e tinha influência em partidos de massas de todo o mundo, ter de recorrer a um assassinato pelas costas de um velho de 61 anos.

Hoje, o aparato stalinista desabou. Mesmo o que resta dos partidos stalinistas rejeita a vinculação com Stalin. Por outro lado, a IV Internacional sobreviveu e está sendo reconstruída. Obviamente, o assassinato do principal dirigente da Internacional foi uma perda colossal.

Mesmo assim, o stalinismo não conseguiu suprimir o legado teórico e político do revolucionário russo. Suas obras constituem uma extraordinária contribuição para a teoria marxista. Um legado para as novas gerações de revolucionários que mantêm viva a sua luta em defesa do socialismo e da IV Internacional.

Jeferson Choma
No GGN




Trotsky — Documentário

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Contradições


O Brasil é o país dos contrastes, dizem.

Acrescento: é o país das contradições.

Se não, como explicar:

1) Pessoas que nunca passaram dificuldades em suas vidas baterem panelas vazias, símbolo de carência material, como protesto contra o governo federal?

2) Que se peça a volta da ditadura, em plena democracia?


3) Que se vá às igrejas, ouvir sermões sobre o imperativo do amor entre os homens, e depois erguer cartazes, em manifestações de rua, lamentando que a ditadura deveria ter matado "todos" - uma clara referência aos "comunistas"?

4) Gente que completou a educação formal dizer que o PT, partido que, no governo federal, mais lucros deu a banqueiros e empresários, é "comunista" ou "bolivariano", seja lá o que isso signifique?

5) Gritar contra a corrupção dos políticos - do PT -, mas votar em notórios corruptos e praticar, no dia a dia, toda sorte de pequenos crimes, ilegalidades, e mesmo corrupções?

6) Proclamar a excelência da meritocracia, mas sair dando tiros em miseráveis haitianos, sob a alegação que eles "roubam os empregos dos brasileiros"?

7) Se indignar com o beijo gay da novela, mas apoiar o linchamento do suspeito, invariavelmente negro, de algum furto?

8) Que a sua vida tenha melhorado nos últimos anos, que tenha viajado mais, comido melhor, comprado mais bens de consumo, garantido financiamento para estudar numa faculdade, e mesmo assim odiar o governo dos "petralhas", responsáveis, em grande parte, por todos esses benefícios?

9) Agir, de dia, como um respeitável pai de família, "empreendedor", homem de negócios, para, à noite, usar o Facebook para vomitar as mais odiosas frases de apologia à violência, à intolerância, ao preconceito?

10) Xingar o prefeito que manda reduzir a velocidade dos veículos nas ruas para que menos pessoas morram ou fiquem feridas e o trânsito flua melhor, abominar a construção de ciclovias e de faixas exclusivas para ônibus, e reclamar que perde muito tempo para ir ao trabalho e que é difícil viver em sua cidade? 

Mais que os efeitos de uma crise política ou econômica, muitos brasileiros estão sofrendo as consequências de uma grave crise nervosa, que deveriam ter tratado já nos primeiros sintomas.
http://cronicasdomotta.blogspot.com.br/2015/08/contradicoes.html

Por que a denúncia contra o aeroporto do tio de Aécio foi arquivada


Pista em Claudio
Uma das razões que levaram o Ministério Público de Minas Gerais a arquivar a denúncia contra o senador Aécio Neves pela construção do aeroporto de Cláudio é a explicação dada pelo governo do Estado, durante a gestão do próprio Aécio, em 2009, de que o aeroporto de Cláudio fazia parte de um “amplo programa” de modernização dos aeroportos do Estado. Outra é o conteúdo de uma carta do prefeito de Cláudio, aliado de Aécio, que diz que a chave do aeroporto ficava com a prefeitura, não com um parente de Aécio.

No inquérito, não existe uma perícia sobre o preço do pista — quase 14 milhões de reais. Tampouco há um estudo independente sobre a real necessidade do aeroporto na cidade, já que Divinópolis, a menos de 50 quilômetros dali, tem um aeroporto que serve à região.

Quatro promotores que atuam na defesa do patrimônio público de Minas Gerais conduziram a investigação: Maria Elmira Evangelina do Amaral Dick, Fernanda Caram Monteiro, Tatiana Pereira e José Carlos Fernandes Júnior. Eles poderiam ter ouvido o ex-vereador do município de Cláudio Israel de Souza, o primeiro a denunciar o aeroporto como símbolo da utilização de dinheiro público para fins privados. Israel conhece toda a história.

Não há depoimentos no inquérito do Ministério Público, só documentos, e todos eles são dos órgãos oficiais, e ainda por cima emitidos no tempo em que Aécio Neves ou seu sucessor e aliado Antônio Anastasia governaram o Estado. Também foi colhida a manifestação dos advogados de Aécio.

Eu estive em Cláudio no ano passado, depois que a Folha de S. Paulo publicou a denúncia do aeroporto, e vi agora o inquérito civil sobre aeroporto, que pela segunda vez o Ministério Público mandou arquivar. Segunda vez? É isso mesmo.

A investigação começou em 2009, quando Aécio governava o Estado. A origem é um e-mail enviado à ouvidoria do Ministério Público, por um homem que se apresenta como João Guilherme (provavelmente nome fictício).

O denunciante questiona a necessidade de construção do aeroporto na cidade que tem cerca de 30 mil habitantes e é vizinha de Divinópolis, onde já existia um aeroporto regional.

O denunciante não cita o nome de Aécio, dono de uma fazenda perto do aeroporto nem cita o fato de que o aeroporto foi construído na terra do tio-avô de Aécio, Múcio Tolentino, mas, pelos termos que utiliza, tudo indica que é para Aécio que ele quer que os promotores olhem.

Quase cinco anos depois, em 14 de fevereiro de 2014, quando Aécio tinha sido anunciado pelo PSDB candidato a presidente (não tinha sido oficializado, mas fazia campanha), promotores encerraram a investigação, com a decisão de arquivá-la, pois consideravam o aeroporto de Cláudio não representava mau uso de dinheiro público.

O nome de Aécio ou de qualquer membro de sua família não aparecem no inquérito. O nome do ex-governador só vai ser relacionado ao aeroporto em julho do ano passado, cinco meses depois da decisão do primeiro arquivamento do inquérito. Aécio já estava em campanha para presidente, quando a Folha de S. Paulo publicou a reportagem.

Com a publicação, o Ministério Público reabriu a investigação, para apurar ato de improbidade administrativa (um dos tipos de improbidade é caracterizado quando governante ignora o princípio da impessoalidade). Construir aeroporto nas terras da família não seria propriamente atitude desprovida de interesse próprio.

Mas, no último dia 7 de julho, decorrido um ano da reabertura do inquérito, os mesmos promotores decidiram mais uma vez arquivar a denúncia, e mais uma vez o inquérito só traz a versão oficial — a do governo do Estado ao tempo em que Aécio governava o Estado, e a da prefeitura de Cláudio no presente, que diz que é mentira a denúncia da Folha de que a chave do aeroporto ficava com o tio de Aécio.

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Quando estive em Cláudio, ouvi de mais de uma pessoa que no aeroporto só entrava quem o tio de Aécio deixasse. Inclusive, por generosidade dele, é que aficionados do aeromodelismo usavam o local para festivais. Também vi que o cadeado era diferente daquele mostrado em foto da Folha. Segundo um morador, a troca ocorreu depois da denúncia, supostamente pela recusa de Múcio de devolver as chaves.

Em uma conversa com o filho de Múcio Tolentino, Kedo, primo de Aécio, ouvi o que ele disse sobre a intenção de um industrial da cidade em relação ao aeroporto. “O Pedro Cambalau me disse que, se o Múcio deixasse, ele usaria o aeroporto”. Como assim, Múcio deixasse? Não era a prefeitura que tinha as chaves?

Para verificar que em Cláudio o aeroporto foi colocado na frente de muitas prioridades, não é preciso muito esforço. Nas ruas, qualquer pessoa diz que é absurdo construir aeroporto numa cidade que não tem um grande hospital.

A denúncia anônima que deu origem ao inquérito não cita o município mineiro de Montezuma, onde família de Aécio tem uma fazenda e outro aeroporto foi reformado. Mas os promotores incluem o nome Montezuma e estabelecem uma relação entre esta obra e a de Cláudio, sem mencionar que a família de Aécio também, em tese, se beneficiou com a obra em Montezuma. Os promotores preferem falar de uma suposta suspeita de superfaturamento e afastá-la por completo.

“Restou esclarecido que as obras no aeródromo do Município de Cláudio-MG referem-se à ampliação e ao aumento da capacidade, seguindo rigorosos requisitos técnicos, enquanto que as intervenções no aeródromo de Montezuma-MG referem-se apenas a duas pequenas intervenções visando à recuperação e o apoio à estrutura já existente”, escreveram os promotores.

O que vi nos dois inquéritos do Ministério Público não é o mundo real. Mas produziu efeitos na realidade política do Estado. O PSDB de Minas divulgou nota para dizer que a decisão “demonstra a exploração política injusta que o tema teve durante as eleições do ano passado”. Aécio não quis comentar. E precisava?

Joaquim de Carvalho
No DCM

Dez imagens da sociedade contemporânea

n4
Matar-se de trabalho. Ver a felicidade no “sucesso”. Consumir, descartar e devastar. Vagar sem sentido pela cidade e pela vida. Charges para compreender pós-modernidade capitalista
No Bhaz
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