sábado, 4 de julho de 2015

Somos o que #Somos: sobre a #Somosificação das causas e injustiças sociais


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Somos todos seres únicos, como mostram as digitais em nossos RGs, nossos perfis em redes sociais ou quando nos deparamos com uma cicatriz em nosso corpo, resultante de uma história particular vivida. Entretanto, se olharmos mais de perto, bem de pertinho mesmo, iremos perceber similaridades em nossos comportamentos, modos de pensar, agir, gostos musicais, sotaque, cor, aparência e até mesmo nas nossas cicatrizes e histórias com as de outras tantas pessoas. Tudo isso porque somos seres que vivemos em sociedade, onde há diversos padrões culturais, econômicos, psicológicos, étnicos, políticos que nos inserem em um determinado grupo, que fala uma língua específica, se veste de forma específica e, claro, pensa de maneira específica.


Ao contrário do que comumente pensamos, nossas escolhas individuais e nossa trajetória de vida não são tão particulares e únicas, elas são resultantes de condições sociais e históricas específicas. Então, assim como eu não sou o único a pensar dessa forma que exponho neste texto, outros tantos não pensam de maneiras únicas. É claro que existem gênios, criadores que produzem coisas únicas, mas até mesmos eles criam padrões em suas criações (Picasso e o padrão cubista, Dalí e o padrão surrealista, Ramones e o punk rock, etc.), e tiveram influências de outros padrões antecessores para criar um novo. Então, não adianta correr, apesar de sermos (de alguma forma muito específica) únicos, não estamos sozinhos no mundo.

E por qual motivo eu estou falando isso? Porque, no último ano, estamos acompanhando um processo de #Somosificação das causas sociais. Se não me engano, esse processo surgiu quando o jogador Daniel Alves (brasileiro, jogador do Barcelona da Espanha) foi vítima de racismo em um jogo em que atuava pelo seu clube. Um torcedor jogou banana nele, na hora que foi bater o escanteio. Essa ação gerou revolta entre os usuários das redes sociais, que passaram a usar a hashtag #SomosTodosMacacos para se solidarizar com o jogador (Alguns falam em ação de marketing sobre o caso, mas isso é outro tópico específico). Tempos depois teve o caso de Charlie Hebdo (#JeSuisCharlie), #SomosTodosVerônica, teve  manifestação de apoio à questão do casamento homoafetivo nos EUA e, agora, o #SomosTodosMajuCoutinho, que foi o caso da apresentadora da previsão do tempo da Rede Globo, vítima de racismo nas redes sociais.

O que tudo isso tem a ver com aquilo que falei sobre não sermos seres tão únicos como achamos ser, no início do texto? Que, ao mesmo tempo que pessoas se comportam de maneira egoísta como se fossem seres únicos, sem particularidades padrões (expressadas pelos etnocentrismos, racismos, machismos, homofobias, preconceito de classe, misoginias, etc), outras parecem ter chegado a um nível de consciência que reivindica o “nós” em detrimento do “eu”. Mas não um “nós” que representa uma identidade fixa, que nos obriga a seguir o padrão de comportamentos do grupo que passamos a “ser” junto com os outros.


Por exemplo, não sou mulher, nem negro, muito menos apresento a previsão do tempo da Rede Globo e, mesmo assim, posto #SomosTodosMajuCoutinho, porque a luta por uma causa coletiva (combater o racismo) me torna um agente de mudança civilizatória juntamente com o grupo atingido em questão. Isso não me dá o direito de dizer que sinto o que eles sentem, pois não estou nem jamais estarei na pele dos negros, logo não sei o que é racismo na pele, mas eu sei o que é o racismo em sua prática e os resultados catastróficos que eles causam na sociedade (segregação social, violência, preconceito cultural, etc.), por isso que, em casos de racismo com o outro, eu me posiciono e torno-me solidário à causa. Da mesma forma com o feminismo, com os grupos homoafetivos, etnias, em suma, com as minorias vítimas de uma história banhada de sangue, que buscam espaço em um mundo extremamente desigual economicamente, politicamente e socialmente. Ao mesmo tempo que as redes sociais mostram a face mais obscura do comportamento humano, ela mostra ações que nos faz pensar que um outro mundo é possível.

Além disso tudo, tem aqueles que falam que não aderem a “moda” de se posicionar diante desses acontecimentos (com fotos, hashtags, etc). Se formos ao verbete “moda” no dicionário veremos que ela é um “conjunto de opiniões, gostos, assim como modos de agir, viver e sentir coletivos”, logo, falar de moda em ações como essa não é uma afronta crítica, nem um argumento para não fazer, porque isso é sim uma moda que, eu por exemplo, compartilho e vivencio.
O que eu quero falar com isso tudo é que – desculpem o trocadilho – quando nós somos, a gente soma.
 no: http://www.cartapotiguar.com.br/2015/07/04/somos-o-que-somos-sobre-a-somosificacao-das-causas-e-injusticas-sociais/

Estados aumentam arrecadação com ICMS da energia e da gasolina e jogam culpa na Dilma e no Governo Federal



Graças aos reajustes de energia elétrica e de combustíveis, os Estados conseguiram ampliar a arrecadação de impostos nos primeiros quatro meses de 2015. Em 17 Estados, a elevação do ICMS sobre estes dois itens reforçou o caixa, como no Pará, onde a arrecadação foi 31% maior entre os meses janeiro e abril de 2015, comparado com o mesmo período do ano passado.

Já no Rio Grande do Sul, a estimativa é de que a receita extra chegue a R$ 600 milhões. O aumento da arrecadação do ICMS na energia e nos combustíveis acaba compensando a queda da atividade no comércio e na indústria.

No fAlha

Apesar da crise, Estados ampliam arrecadação com reajustes de energia

Em meio à crise econômica e à grave situação das finanças públicas, a maioria dos Estados conseguiu ampliar em números reais a arrecadação de impostos nos primeiros meses de 2015.

Os fortes reajustes de combustíveis e da energia elétrica no semestre levaram a um consequente aumento da arrecadação do ICMS sobre esses dois itens, o que reforçou o caixa dos governadores.

Levantamento mostra que a arrecadação caiu só em 9 dos 26 Estados. Grandes economias como Rio Grande do Sul, Distrito Federal e Bahia elevaram a arrecadação em números reais.

Em Santa Catarina, por exemplo, o valor obtido com ICMS pelo consumo de energia no mês de maio pelo governo praticamente dobrou em comparação com 2014.

Em locais como Mato Grosso e Bahia, a arrecadação com os setores de combustíveis e de energia corresponde a mais de 35% do total obtido com o ICMS, imposto que é a base dos caixas estaduais.

O aumento nas contas de luz no início do ano foi de até 48%, com reajuste médio de 23%. Com a elevação da tarifa bem superior à inflação e a alíquota de imposto mantida igual, o valor obtido pelos Estados aumentou.

A verba extra pode compensar a arrecadação menor com a indústria e o comércio, já que o ICMS é muito sensível à diminuição da atividade econômica.

O governo do Rio Grande do Sul estima que, neste ano, a receita extra decorrente dos aumentos tarifários chegue a R$ 600 milhões. O volume é suficiente para quitar um terço de um mês da folha de pagamento, que o Estado vem sofrendo para manter em dia.

"Os preços administrados, como energia elétrica, têm subido absurdamente e esse é um imposto do qual não se foge", afirma o secretário da Fazenda de Pernambuco, Márcio Stefanni.

O professor de direito tributário da Universidade Federal da Bahia Helcônio Almeida afirma que energia, telecomunicações e combustível são hoje os grandes contribuintes dos Estados devido às alíquotas "altíssimas" e pelo regime de arrecadação "insonegável", junto às concessionárias.

"A crise dos Estados não é maior por conta disso. Não tem como deixar de pagar conta de luz ou do combustível ou do telefone. Quando se fala em aumento de energia elétrica, pode-se colocar na conta um aumento de imposto também."

O Rio de Janeiro teve a maior queda de arrecadação entre os Estados no período, mas o governo diz que houve uma mudança no método de contabilidade neste ano.

Ainda assim, segundo a Secretaria da Fazenda, as receitas do ICMS recuaram, entre outros motivos, devido à incerteza na indústria do petróleo, o que prejudicou a arrecadação e provocou até atrasos em pagamentos.


No Luiz Müller Blog, via http://www.contextolivre.com.br/2015/07/estados-aumentam-arrecadacao-com-icms.html

Remédio chinês que desacelera Alzheimer entrará em fase de testes clínicos

via: http://www.contextolivre.com.br/2015/07/remedio-chines-que-desacelera-alzheimer.html


'Os EUA podem hoje desligar a internet de qualquer país'


Hartmut Glaser diz que há avanços na proposta para uma governança global da internet
"A visita da presidente Dilma Rousseff aos Estados Unidos, nesta semana, teve como um de seus objetivos virar a página do mal estar criado nas relações bilaterais pelas denúncias de que a Agência de Segurança Nacional americana (NSA) teria espionando figuras do alto escalão do governo brasileiro.

 

Foram tais denúncias, feitas pelo ex-funcionário da NSA, Edward Snowden, que levaram Dilma a cancelar uma visita oficial ao país em 2013. Dois anos depois, ainda é impossível ter garantias de que esse tipo de espionagem não possa voltar a ocorrer, segundo Hartmut Glaser, secretário-executivo do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), entidade que administra a distribuição de endereços eletrônicos e zela pelo bom funcionamento da rede no país.

Segundo Glaser, porém, um dos resultados positivos do caso foi dar ao Brasil protagonismo em uma área que tende a ganhar importância nos próximos anos: a busca pela formulação de um sistema de governança internacional da internet.
O secretário-executivo do CGI diz que, em parte pressionados pelo escândalo da NSA, os Estados Unidos concordaram em abrir mão da tutela que, desde os anos 90, exerciam sobre a chamada Corporação da Internet para Designação de Nomes e Números (ICANN), entidade que administra questões técnicas fundamentais ligadas a internet, como a distribuição de domínios.

Por que isso é importante? Segundo Glaser, o problema é que hoje, tecnicamente, os Estados Unidos podem 'desligar a internet' de qualquer país.
Na terça-feira essa transição foi um dos temas discutidos em São Paulo na iniciativa conhecida como NetMundial, encontro que contou com a presença do presidente da ICANN, Fadi Chehadé, e com o Ministro de Administração do Ciberespaço da China, Lu Wei. Confira abaixo a entrevista concedida a BBC Brasil pelo secretário-executivo do CGI durante a reunião:

BBC Brasil: Dois anos após o escândalo da NSA, em que avançamos no que diz respeito às garantias contra esse tipo de espionagem?

Glaser: É muito difícil responder isso de forma direta. Acho que, para começar, nunca foi provado que o problema denunciado pelo Snowden estava ligado a internet. Pode ser que a espionagem tenha ocorrido via telefônica, por celular. Na abertura de nosso evento da NetMundial, o ministro chinês (Lu Wei) lembrou que em tudo (o que diz respeito a rede) há um lado positivo e um negativo. Temos cada vez mais usuários na internet – o que é bom. Mas isso de fato também aumenta o risco de existência de hackers e de uma invasão indesejada.

Dilma e Barack Obama se encontram nos EUA

BBC Brasil: Mas então não há como limitar a espionagem ou a exposição de alguns dados na rede?
Glaser: Você nunca vai ter uma estrada que não tem acidente. Ou melhor... na realidade, é muito fácil acabar com todos os acidentes da (Via) Dutra: basta fechar a Dutra. Mas isso é aceitável? Não. O mesmo ocorre com a internet. Há alguns anos teve um juiz que mandou 'desligar' o YouTube (no Brasil). O que aconteceu: em vez de resolver um problema, criou milhares de outros. Precisamos tomar cuidado com os extremos. A internet é uma ferramenta essencial, muito útil, mas deve ser usada com critério. Não é culpada de nada.
BBC Brasil: Como avançamos?
Glaser: Um passo importante é treinar os usuários a lidar com essa nova realidade. Muita gente acaba expondo os seus dados e a sua intimidade nas mídias sociais, por exemplo. Na minha época, algumas meninas mantinham diários escondidos. Hoje, os jovens revelam tudo no Facebook. Isso é parte de uma revolução, uma expressão de uma nova sociedade que está surgindo. Não sou contra mídias sociais, mas é preciso tomar cuidado com informações pessoais. Até com o telefone é preciso cuidado. Não dá para entregar a sua vida de bandeja. Milhares de empresas, quando contratam alguém hoje, fazem a varredura na internet e redes sociais. Dá para saber se um candidato tem uma vida noturna agitada e etc. Então (proteger nossos dados e intimidade) não é algo que depende do CGI, da ICANN ou do governo, depende de todos nós.

BBC Brasil: O seu argumento faz sentido quando o tema são informações pessoais colocadas em mídias sociais. Mas o caso de e-mails confidenciais de chefes de Estado parece diferente, não?

Glaser: Não tenho acesso aos dados do governo brasileiro, mas, pelo que soube, na época (do escândalo da NSA) o software usado (nas correspondências oficiais) era um software comum, sem muita proteção. Algo que já recomendamos ao governo, e eles estão trabalhando nisso, é que deveria haver uma rede própria (para essa troca de e-mails entre autoridades), que não seja uma rede comercial. Houve a instalação de uma fibra ótica ligando todos os ministérios, mas cada um tem a sua autonomia, seu próprio orçamento, falta uma ação coletiva.

Houve um despertar para essa responsabilidade. Tanto a Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados) quanto o pessoal da área militar, que também faz parte do governo, se preocuparam e estão trabalhando para ampliar a segurança. Não quero ficar mencionando nomes de empresas, fornecedores e softwares. Mas eu tomo alguns cuidados e meu computador nunca foi invadido. Pela natureza do que eu faço, pode ser que tenha gente que queira acompanhar minhas mensagens. O governo deveria ser o primeiro a se consultar com especialistas. Nesse sentido, também houve falhas do lado do governo.

Edward Snowden expôs rede de espionagem da NSA
BBC Brasil: A ICANN deveria deixar de estar sob tutela americana em alguns meses. O que isso significa?

Glaser: Em 1998, quando a internet passou da área militar para a acadêmica, a ICANN, uma ONG sem fins lucrativos, surgiu para administrar os nomes de domínio. Isso ocorreu justamente para que a rede pudesse sair das mãos do governo americano. Mas um cordão umbilical não foi cortado: o Departamento de Comércio ainda tem controle sobre as atividades (dessa ONG). Desde o início, havia a previsão de que essa relação deveria terminar. Em 98 e 99 se falava que em dois ou três anos já se acharia uma alternativa. Estamos em 2015 - e nada.

Depois das revelações de Snowden, a presidência brasileira foi envolvida (nesse debate). Em Nova York ela anunciou que iria atuar para chegar a um acordo sobre princípios globais da internet - quase que um código de ética. O CEO da ICANN conversou com a presidente e o primeiro encontro da NetMundial foi organizado em abril de 2014 para debater o tema.

Os Estados Unidos se apavoraram com esse movimento. O Snowden fez um baita estrago. Envergonhou os americanos, que costumavam levantar a bandeira do respeito à privacidade e dados pessoais. Até então, os Estados Unidos eram os grandes heróis da internet. Os ruins eram sempre os outros, os hackers da China, os russos.

Em fevereiro de 2014, os americanos finalmente anunciaram que estava na hora de deixar a ICANN e permitir uma governança global (da internet). Agora, eu faço parte de um grupo de 30 pessoas que está estudando a melhor forma de fazer essa transição. Há uma série de pré-requisitos. Um deles é que a nova governança da rede deve ser multisetorial. Além de governo, precisa incluir empresas, acadêmicos e ONGs. Nós, brasileiros, já fomos acusados de querer assumir a internet por realizarmos a NEtMundial. Isso nunca passou pela nossa cabeça.

BBC Brasil: Por que interessa quem está no controle da ICANN?

Glaser: A internet é como uma árvore. No topo estão alguns computadores em que estão registrados os chamados top level domains - o que está a direita do nome de domínio. No caso do Brasil é o .br (ponto br), no da França o .fr, no da Alemanha .de. Esse código está em 13 computadores e o computador principal está nos Estados Unidos. Então, se por algum motivo eles desligarem o .br (ponto br) desse computador, todos os domínios do Brasil deixam de existir. Na prática isso quer dizer que hoje o poder de desligar a internet está nas mãos de um país e as pessoas questionam isso. Nos computadores do CGI, tenho 3,7 milhões de domínios do Brasil. As minhas salas são controladas. Sei quem entra, quem sai. Há um sistema de identificação com impressão digital. Mas se eu fosse mal intencionado poderia entrar e desligar seu domínio ou seu provedor.

BBC Brasil: O que o senhor está dizendo, então, é que, tecnicamente, hoje os Estados Unidos poderiam desligar a internet da China ou do Brasil?

Glaser: Poderiam. Por isso países com a China e a Rússia sempre fizeram certa oposição aos Estados Unidos e quiseram participar (de um novo sistema de governança da internet). Na realidade, no ano passado os chineses aderiram a esse modelo setorial. Eles estavam querendo sair e criar uma internet própria, o que fragmentaria a rede. Em um encontro em Buenos Aires na semana passada, a Índia também aderiu a uma internet para todos trabalharem juntos. Hoje a grande expectativa é em torno da Rússia. Mas estamos convergindo para uma solução: uma internet, um protocolo, uma forma de comunicação que precisam ter um gerenciamento global representativo.


BBC Brasil: Seria como uma espécie de ONU da internet?

Glaser: Não é uma ONU porque os membros não são só Estados ou governos. Há essa composição multisetorial, com todos os setores da sociedade representados. Pode até ser que a ICANN mantenha seu papel, mas seria preciso mudar seu estatuto, sua forma de eleição e representação. Teríamos de cortar esse cordão umbilical com os Estados Unidos e dar autonomia para a entidade. Provavelmente ela vai precisar de um diretor da Índia, um da China e um do Brasil. Hoje você tem cinco ou seis americanos, cinco ou seis europeus - dois terços na mão do mundo desenvolvido. E África, Ásia e América Latina ficam de fora. Temos um latino-americano em um board de vinte e uma pessoas. É muito pouco.

BBC Brasil: Qual o prazo para a transição?

Glaser: O contrato da ICANN com o governo americano vai até setembro e havia a expectativa de que a transição poderia ocorrer neste momento, mas vimos que não será tão fácil. Já se fala em um adiamento de seis meses - para março. Possivelmente, também poderia haver outro adiamento para junho ou julho. Há muitos detalhes e minúcias para serem resolvidos. Não vamos atropelar esse processo.

BBC Brasil: Essa entidade global não precisaria ter princípios e valores definidos para cuidar da 'governança da internet'? Ao incluir países acusados de censura na rede, como China e Rússia, que tipo de desafios pode ter de enfrentar?

Glaser: Essa entidade não vai ser a polícia da internet. Não vai zelar pelo conteúdo. É muito mais uma entidade técnica. O CGI no Brasil não avalia conteúdo. Somos quase que uma junta comercial. Se você quer uma vida na internet, abre um registro conosco. Como você usa isso? Deve seguir as leis do país, a Constituição. Se a Justiça chega para mim e diz: eu quero saber quem é o dono desse IP, esse endereço da internet, respondemos. Mas não somos censura, não temos filtro.

BBC Brasil: Algumas pessoas acham que estão imunes à lei na internet?
Glaser: O Google por exemplo tem publicado imagens de casais no topo de prédios ou na praia em momentos de intimidade (as imagens são captadas para o Google Maps). De certa forma isso é invasão de privacidade, mas intimidade se faz em casa, certo? A tecnologia criou uma nova realidade e as pessoas têm de se conformar com algumas coisas e aprender a lidar com isso. Precisamos nos acostumar a essa vida nova. Além disso, incitação a bagunça, nazismo, racismo, terrorismo, tudo isso já está proibido pela lei. A internet é só mais uma mídia, o que você não publicaria em um artigo de jornal não pode publicar na internet."

A corrupção, seu charme e desapontamento


Wanderley Guilherme dos Santos, Segunda Opinião

"Fui apresentado à corrupção pelo brilhantismo radiofônico de Carlos Lacerda; às tragédias que se seguem a denúncias morais vazias, pelo chocante episódio do suicídio de Getúlio Vargas. Ainda não estreara na vida adulta e aprendi a suspeitar do facilitário da difamação, mas sem por a mão do fogo por personagem pública alguma. O estandarte moralista acobertava o repúdio da classe média a políticas trabalhistas; o discurso popularesco cobrava dízimos posteriores pouco confessionais. Assim era, assim continua. Comparações internacionais não inocentam, tampouco devem ser desprezadas. O jogo entre a virtude aparente e o possível deslize impõe permanente vigilância e habilidade inovadora à esquerda no mundo inteiro. Não é diferente no Brasil.

O conflito entre esquerda e direita adotou tom agudo, na linguagem, nas ameaças anônimas ou declaradas, na hostilidade pública. O processo Lava Jato expressa claramente a estrutura de um confronto em que nenhum dos lados tem liberdade para sair sem prejuízo da posição em que se encontra. Do lado fortemente apoiado pelos conservadores, procuradores e juízes só podem se aventurar a mais severidade com risco de ingressar de vez na ilegalidade. Ao mesmo tempo, se se mostrarem mais de acordo com a rotina usual desses processos parecerá derrota, concessão às demandas da esquerda.

À esquerda, por seu turno, está vedada a aceitação pacífica da tese de um esquema de extorsão e suborno operando na Petrobrás. Não lhe convém, contudo, nem está conforme a história ou o presente da esquerda, se solidarizar integralmente, sem restrição ou condições, com o destino dos investigados atuais ou futuros. O cabo de guerra ficará provavelmente estacionado onde se encontra, até a intervenção de terceiros, Executivo, Judiciário ou Legislativo. Ou seja, a polícia federal continuará prendendo, os procuradores investigando e os juízes interrogando, enquanto advogados, líderes partidários e agentes políticos insistirão na crítica de que o processo é politicamente discriminatório. Não têm muita saída, exceto se algum lance inesperado alterar a dinâmica do confronto.

Ao lado, Executivo, Judiciário e Legislativo olham uns aos outros sem ousadia para a iniciativa que desequilibraria o cabo de guerra em uma ou outra direção."

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Não são só os evangélicos: a redução da maioridade é um 1º aperitivo da bancada da bala


Eles
Kiko Nogueira, DCM

"Uma das vantagens de se poder acompanhar as sessões da Câmara ao vivo é a oportunidade de ver o desenrolar dos debates quentes. A desvantagem é a certeza de que tudo o que é ruim sempre pode piorar.

Na noite em que Eduardo Cunha deu seu golpe regimental para aprovar a redução da maioridade penal, brilharam aliados seus que estão tão à vontade no plenário quanto num camburão ou num Cidade Alerta.

A bancada da bala tem 21 membros na Câmara. O relator da PEC 171 é um deles, o deputado Laerte Bessa, do PR. Em sua proposta original, o ex-delegado da Polícia Civil do Distrito Federal propusera a diminuição da idade penal para todos os crimes.

Bessa se disse “cansado dos esquerdistas” que lhe faziam oposição. Sobre as condições do sistema penitenciário, acha que “os estados darão um jeito de arrumar esses presídios”. O destempero é um traço particular. Em 2009, foi chamado ao palco de um show de Elza Soares em Brasilia.

Uma vaia estrepitosa o recepcionou. Bessa perdeu a classe. “Isso é um desrespeito, seus vagabundos, seus frouxos. Muitos de vocês que estão me vaiando são os mesmos que eu já coloquei na cela”, afirmou, chamando o pessoal para a briga.

A bancada da bala é a bancada evangélica por outros meios. A agenda é a mesma, o grande líder é Cunha, a desinteligência é equivalente, mas há suas peculiaridades. Sob o nome eufemístico de “Frente Parlamentar da Segurança Pública”, congrega homens das polícias militar, civil e federal, além do exército e dos bombeiros.

Como ocorre com os pastores e bispos, usam a patente como epíteto eleitoral. Assim temos figuras como Delegado Edson Moreira, Delegado Éder Mauro, Delegado Waldir, Capitão Fábio Abreu, Capitão Augusto, Major Olímpio, Cabo Daciolo e Cabo Sabino, entre outros. Os Bolsonaros estão nessa também.

São financiados pela indústria de armamentos. A Taurus, a Aniam (Associação Nacional da Indústria de Armas e Munições) e a CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos) pagaram por campanhas. Treze dos membros são gaúchos (as fábricas estão sediadas no Rio Grande do Sul).

O termo “delegado” vem dos programas de rádio e televisão que grande parte deles apresentava e que têm uma audiência cativa. Costumam ser citados com frequência por gente como Datena ou Marcelo Rezende.

Estão absolutamente em casa. Recentemente, o Capitão Augusto presidiu a Câmara a convite de um membro da cúpula.

José Augusto Rosa só anda vestido em sua farda da PM paulista, é orgulhosamente a favor da ditadura — ah, essa democracia — e acha que as torturas foram “fatos isolados”.

Está tentando fundar o Partido Militar Brasileiro. “É o primeiro assumidamente de direita”, afirma. O número ainda não foi definido. Existem algumas opções: 18 (“É a idade do alistamento militar obrigatório”), 38 (“Por causa do famoso três oitão”) e 64 (“Em homenagem a nossa revolução democrática”).

Alberto Fraga, o coordenador da bancada, já avisou que vai apresentar um projeto de lei para liberar o porte de armas para os congressistas. É de se imaginar o que pode acontecer. Você terá saudade do tempo em que o Congresso era um circo e não um faroeste."

Como tirar proveito de seus inimigos segundo Plutarco


Por incrível que pareça, há maneiras saudáveis de lidar com nossos inimigos
Paulo Nogueira, DCM

Plutarco (66 – 120), grego de Queronéia, é objeto de admiração como grande biógrafo. Ele escreveu Vidas Paralelas, um clássico no qual comparou personalidades similares da Grécia e de Roma; os generais César e Alexandre e os oradores Cícero e Demóstenes, para citar dois exemplos. Sabe-se que o dramaturgo Shakespeare se inspirou na obra de Plutarco para compor alguns de seus dramas históricos. E que o ensaísta Montaigne utilizou as histórias narradas por Plutarco para fazer a maior parte de suas reflexões filosóficas.

Mas Plutarco foi mais que um biógrafo. Ele sofreu a influência da escola estóica, fundada pelo grego Zenão, caracterizada sobretudo pela consideração do problema moral, em que o equilíbrio deveria ser o ideal do sábio. Escreveu belos tratados de conduta moral que ainda hoje podem ser lidos. Alguns podem ser facilmente encontrados no Brasil. A editora Martins Fontes juntou dois deles num só volume de pouco mais de 120 páginas, numa edição caprichada. Ambos são atuais, como toda obra filosófica de primeira categoria. Um deles mostra como distinguir bajuladores e amigos. O outro fala como se deve lidar, da melhor forma possível, com os inimigos. O título dado pela editora, baseado neste último, é irresistível: Como Tirar Proveito de Seus Inimigos.

Plutarco não traz uma visão malandra, como se pode pensar numa primeira e rápida leitura do título, mas decente, sábia, e nem por isso menos útil. Ele recorre a outro filósofo grego, Xenofonte, para dar início a seu pequeno ensaio: “É próprio de um homem ponderado tirar proveito de seus inimigos”. E depois cita mais um pensador grego, Diógenes, para mostrar o coração, a alma de sua tese: “Como me defenderei contra meu inimigo? Tornando-me, eu próprio, virtuoso”.

Os inimigos, reflete Plutarco, como que nos obrigam a andar pela linha reta, uma vez que seus olhos estão continuamente sobre nós, ávidos por captar nossas faltas e propagandeá-las. Eles exercem uma espécie de censura benigna sobre nós. Impedem-nos de sermos moralmente frouxos. É ai que tiramos proveito deles, segundo Plutarco. “A inveja de nossos inimigos é um contrapeso à nossa negligência”, diz ele. “Além disso, nós nos vingamos utilmente de um inimigo afligindo-o com o nosso aperfeiçoamento moral”.

Plutarco recomenda generosidade com os inimigos. Ele cita uma história exemplar. César, numa das guerras civis romanas, derrotou Pompeu, a quem sempre admirou. Uma de suas primeiras ordens foi para que fossem reerguidas as estátuas derrubadas do grande general batido e morto. Disse sobre isso Cícero a César: “Ao reerguer as estátuas de Pompeu, você consolidou as suas”.

O aperfeiçoamento moral de que tanto fala Plutarco incluía um esforço dedicado e paciente para louvar os inimigos e evitar rancor diante de seu sucesso. O que há de mais belo nesse esforço, como ele destaca, é que assim ficamos cada vez mais longe da inveja do sucesso não apenas dos nossos inimigos – mas sobretudo dos nossos amigos."

O que há por trás desse empenho em aprovar a redução da maioridade penal?


O discurso dos datenas e outros valentões da TV e do rádio, que deixam os midiotas excitadinhos e enche de tesão certos deputados mal resolvidos sexualmente, não tem muito a ver com a questão da violência, já devidamente desmentida como justificativa para essa ruptura por muitos estudos e indicadores.

O que está por trás desse movimento — e que dificilmente você vai ler na chamada grande imprensa — é o novo mercado de escravos.

Ele se institucionaliza no sistema de penitenciárias privadas, objetivo final desse processo.

Quanto vale a mão de obra de centenas de milhares de jovens cheios de energia, obrigados a trabalhar em penitenciárias privadas para reduzir a pena?

Além disso, imagine ainda receber do Estado para manter essa clientela ocupada e longe das ruas. Excelente negócio, que movimenta muito dinheiro.

Não por acaso, o estado de São Paulo é pioneiro nessa iniciativa: alguns oficiais da PM paulista, quase todos reformados, atuam como consultores e lobistas desse movimento.

Seria preciso um grande esforço de reportagem para demonstrar com dados concretos esse jogo.

Para os Jornalistas Independentes e as mídias alternativas, aqui vão algumas dicas:

1. O mercado privado de presídios movimenta dezenas de bilhões de dólares por ano, sem contar os serviços de apoio.

2. O setor é dominado globalmente por dois núcleos com origem nos Estados Unidos — as corporações Wackenhut Corrections e a Correction Corporation of América (CCA), que controlam dois terços do "mercado" de encarceramento.

3. Calcule o valor desse mercado: a população carcerária dos Estados Unidos é a maior do mundo, com 2,3 milhões de presos. Cresceu 780% nos últimos 30 anos, com o sistema de encarceramento privado — que "estimulou" a cultura da privação de liberdade como alternativa preferencial de pena. O custo anual por detento vai de US$ 25 mil a 30 mil.

4. A superlotação era de 39% acima da capacidade em 2011.

5. As duas corporações atuam também em outros setores, como a segurança privada. Uma delas, a Wackenhut, está investindo pesadamente no Brasil desde 2010. Seu braço nesse setor, a G4S, é a maior empregadora cotada na Bolsa de Londres, com faturamento anual declarado equivalente a R$ 24 bilhões. No Brasil, já incorporou cinco empresas especializadas em transporte de valores, segurança eletrônica, vigilância etc.

6. O setor de encarceramento juvenil é a joia da coroa desse sistema, porque o valor pago pelo Estado sofre pressão de ONGs que cuidam dos interesses dos menores infratores, o que faz aumentar o valor da "hospedagem" pago pelo Estado. Nos Estados Unidos, essa "clientela" cresce em média 90 mil por ano por condenações mais graves. Os que são detidos por períodos curtos ("delitos" como matar aula, tomar uma cerveja, viajar sem avisar os pais e — pasme! — arrotar em sala de aula, condutas tidas como impróprias), chegam a 2 milhões por ano.

7. Os Estados Unidos nunca aderiram à Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança e do Adolescente. O Brasil aderiu, mas se for considerado que a redução da maioridade penal significa um rompimento desse tratado, pode ser denunciado junto à ONU.

8. Nos Estados Unidos, tanto a Wackenhut quanto a CCA declaram obedecer a lei dos lobbies, mas são conhecidas, segundo John Connolly especialista em segurança pública, por burlar a lei. Imaginem como seria no Brasil, onde o lobby não é regulamentado.

Essa é uma fração dos interesses por trás da festa que fizeram os assanhados parlamentares que participaram da manobra anti-regimental de Eduardo Cunha na Câmara.

Luciano Martins Costa, via http://www.contextolivre.com.br/2015/07/o-que-ha-por-tras-desse-empenho-em.html

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Do ponto G ao orgasmo múltiplo: ciência tenta desvendar segredos do prazer feminino


Existem várias vias pelas quais os genitais se comunicam com o cérebro na mulher
"O escritor americano J. D. Salinger afirmou, certa vez, que "o corpo de uma mulher é como um violino: é preciso um músico fantástico para tocá-lo direito".

 

Acariciada da maneira correta, uma mulher pode ser transportada a um êxtase tão incrível que, por alguns segundos, o resto do mundo deixa de existir. Mas basta um errinho para que a dor, a frustração ou uma sensação de vazio tomem conta.

É uma experiência altamente contrastante com aquela vivida pelo homem. Desde que ele consiga uma ereção, alguns minutos de estimulação vigorosa geralmente resultam na ejaculação.

Por que o orgasmo é tão prazeroso? Como as mulheres sentem o orgasmo múltiplo? E o famoso ponto G existe mesmo? Esses são alguns dos mais antigos mistérios da medicina.

"Conseguimos ir até a Lua, mas não sabemos o suficiente sobre nossos próprios corpos", afirma o professor de sexologia Emmanuele Jannini, da Universidade de Roma Tor Vergata e um dos cientistas que dedicam sua carreira a tentar explicar esses mistérios.

Nos últimos anos, a comunidade científica vem acompanhando uma enxurrada de estudos feitos por esses "mestres" do sexo, e finalmente as respostas estão surgindo.

Transando em nome da Ciência

Região cerebral que processa prazer pode ser ativada por drogas e certos alimentos

Talvez a maior habilidade desses cientistas tenha sido convencer algumas mulheres a deixar suas inibições de lado e se masturbarem – ou até transarem – em nome da Ciência, incluindo experiências em inusitado aparelho de ressonância magnética.

Um dos líderes dessas pesquisas é o psicólogo Barry Komisaruk, da Universidade Rutgers, em Nova Jersey, nos Estados Unidos, que queria avaliar se as diferenças cerebrais poderiam explicar por que homens e mulheres vivenciam o sexo de maneira distinta.

A conclusão é que, apesar das diferenças, homens e mulheres apresentam praticamente a mesma atividade neural durante o orgasmo. "As semelhanças são bem maiores do que as diferenças", afirma Komisaruk. "O que observamos é uma ativação completa do cérebro, com todos os sistemas funcionando ao mesmo tempo".

Mas se a floresta inteira está em chamas, é difícil identificar as pequenas fogueiras que estavam ali no início. Os cientistas, pelo menos, conseguiram encontrar uma delas: o núcleo accumbens, uma região do cérebro que lida com o prazer e a recompensa através da liberação de um neurotransmissor chamado dopamina.

Explicação para o orgasmo múltiplo?

Diferenças neurais explicam por que homens e mulheres reagem diferentemente depois do orgasmo
Experimentos mostraram que, se tiverem que escolher, ratazanas preferem receber estímulos elétricos nessa área cerebral do que comer – tanto que algumas chegavam a morrer de fome.

Esse ponto do cérebro também pode ser ativado por cocaína, anfetaminas, cafeína, nicotina e chocolate. Não há dúvidas sobre por que um orgasmo sempre faz a gente querer mais.

Depois do clímax sexual, no entanto, surgem algumas diferenças importantes, o que pode explicar por que homens e mulheres reagem de maneira tão distinta.
Komisaruk e a psicóloga australiana Kachina Allen descobriram indícios preliminares de que regiões específicas do cérebro masculino deixam de responder a estímulos sensoriais dos órgãos genitais logo depois do orgasmo.

Enquanto isso, o cérebro da mulher continua a ser ativado.

Isso poderia explicar porque algumas mulheres experimentam o orgasmo múltiplo, enquanto os homens, não.

Anatomia do prazer

O ponto G foi tem sido objeto de investigações desde os anos 50
Se as experiências com ressonância magnética geraram alguma polêmica, as tentativas de se entender a anatomia do orgasmo foram ainda mais controversas.

O pênis tem apenas um caminho para levar as sensações até o cérebro, enquanto o aparelho genital feminino tem três ou quatro vias.

No comando da sexualidade da mulher está o clitóris. A existência desse pequeno órgão já é conhecida desde pelo menos a última era glacial, mas só começou a ser objeto de estudos científicos no século 16, quando foi descrito como uma estrutura com a função de induzir o prazer.

Já no início do século 20, Sigmund Freud, o "pai da psicanálise", afirmou que mulheres mais maduras experimentavam mais intensamente o orgasmo por estimulação vaginal do que clitorial, posteriormente irritando muitas feministas, por parecer que a falta desse tipo de clímax seria culpa das próprias mulheres.

Para tentar desmistificar o assunto, o psicólogo Barry Komisaruk e a sexóloga Beverly Whipple, também da Universidade Rutgers, conduziram, então, um estudo que examinou mulheres com vários graus de lesão na medula espinhal.

Eles descobriram que mesmo aquelas que perderam as funções normais do nervo pudendo (que leva as sensações do clitóris ao cérebro) eram capazes de sentir toques e até orgasmo na vagina e no colo do útero. "Essa é provavelmente a melhor prova de que o orgasmo vaginal existe", afirma Komisaruk.

Isso ocorre porque são os nervos vagos, situados fora da medula, que conduzem as sensações da vagina para o cérebro. "As mulheres descrevem o orgasmo clitoriano como mais localizado e externo, e o clímax vaginal como interno e algo que envolve todo o corpo", explica o psicólogo.

A cruzada pelo ponto G

Portanto, se nervos diferentes podem conduzir sensações de partes distintas dos genitais femininos, será que algumas regiões da vagina são mais sensíveis do que outras?

O famoso ponto G foi, por muito tempo, o principal alvo das buscas de cientistas e casais. O termo foi criado no início dos anos 80 em homenagem ao ginecologista e obstetra alemão Ernst Gräfenberg. Em 1950, ele descreveu a existência de uma zona erógena na parede frontal da vagina, que correspondia à posição da uretra do outro lado.

Estudos posteriores revelaram uma complexa rede de vasos sanguíneos, terminações nervosas e reminiscências de uma espécie de "próstata" feminina na mesma área. Espalharam-se, então, os rumores sobre um "botão mágico" na vagina, capaz de detonar orgasmos poderosos.

Mas as evidências para comprovar ou refutar a existência de um ponto G ainda são imprecisas. Para complicar, ainda há um grande debate sobre a terminologia e a morfologia corretas das várias regiões internas do aparelho sexual feminino.

Entretanto, cientistas conseguiram demonstrar com consistência que existem diferenças físicas entre mulheres que experimentam o orgasmo vaginal e as que não. Em 2008, Jannini publicou um estudo envolvendo 20 voluntárias. Exames de ultrassom revelaram que aquelas que sentiam os estímulos vaginais apresentavam um tecido mais grosso no espaço entre a vagina e a uretra.

Na época, Jannini chegou a concluir que esse pedacinho do corpo seria o ponto G, mas logo repensou o assunto, com base em novos estudos. "A palavra 'ponto' sugere a existência de um botão, algo que precisa ser apertado para se obter prazer", afirma. "Isso implica uma estrutura concreta que ou está lá ou não está."

A redescoberta do clitóris

Se não for um botão, o que é o ponto G, então? Bem, cada vez mais cientistas estão chegando à mesma conclusão: que se trata de nada menos do que o clitóris.

Imagens de ressonância magnética recentemente revelaram que o órgão está longe de ser diminuto como se pensava: trata-se de uma estrutura volumosa que mede até 9 centímetros de comprimento, em foma de "Y" e que serpenteia por fora da vagina e sobe até a pelve ao longo da uretra.

Sua parte externa é, na realidade, a glande, e também a área mais sensível. Mas suas "pernas" se abrem pela abertura da vagina e se estendem pelos grandes lábios.

Tanto o clitóris quanto o pênis derivam do mesmo tecido embrionário e se diferenciam no início da gestação segundo o sexo do embrião. Mas o órgão feminino continua crescendo em resposta a hormônios mesmo depois da puberdade, enquanto o masculino não.

Outro estudo, realizado em 2009 por Rachel Pauls, uroginecologista em Cincinnati, no Estado americano de Ohio, analisou a influência do tamanho e da posição do clitóris na maneira como elas sentem o orgasmo vaginal. Com imagens de ressonância magnética de 30 voluntárias, a cientista descobriu que quanto menor a glande e quanto maior a distância entre o clitóris e a vagina, mais difícil é para a mulher chegar ao clímax.

Experimentar é preciso

Todas essas pesquisas significam que existem várias maneiras de as mulheres experimentarem o orgasmo. "Há uma boa base neuro-anatômica para diferentes tipos de orgasmos e diferentes tipos de sensações", afirma Komisurak.

Já para as mulheres que têm dificuldade de atingir o clímax durante a penetração – ou qualquer tipo de estimulação – a mensagem dos cientistas é simples: experimentem.

"Não há nada errado com essas mulheres. Todo o mundo é diferente e elas precisam explorar seus estímulos", afirma Pauls.

O psicólogo italiano Jannini concorda: "Além de curtir o sexo, curta se conhecer e entender quem você é hoje, porque amanhã você provavelmente será diferente". E não subestime a imensa variedade em oferta. "Não encare o corpo feminino como uma máquina que só pode operar de uma determinada maneira", conclui."

E por que não se cumprem as leis no Brasil?


O que não falta no Brasil é lei.

Há lei para tudo.

Dá para enquadrar desde os espertinhos até os mais torpes e violentos criminosos em um monte de artigos dos códigos Penal, Civil, de Defesa do Consumidor...

O problema não é a falta de leis - é o respeito a elas.

O brasileiro é, grosso modo, um ignorante.

Ele ignora desde os seus direitos básicos até aquilo que pode ser punido, por se tratar de uma infração à lei.


No Brasil, secularmente, as leis são manipuladas pela plutocracia a seu bel-prazer: quando ela beneficia o poderoso, ela é aplicada com rigor; quando o prejudica, é ignorada.

Todos conhecem a frase "aos amigos, tudo; aos inimigos, a lei", cujo autor se perdeu nas brumas do tempo.

Neste dias sombrios, em que a porção mais tenebrosa da sociedade ganha espaço nos meios de informação e ameaça a própria estabilidade da nossa frágil democracia, a aplicação da lei pelos seus agentes poderia ser um eficaz antídoto contra a barbárie.

Várias ações desses vândalos merecem ser punidas exemplarmente por violarem acintosamente as leis brasileiras.

Autoridades, ex-autoridades governamentais e figuras públicas são ofendidas e ameaçadas nas chamadas redes sociais da internet, como se isso fosse tão somente a expressão do direito de cidadania, numa distorção evidente do senso moral.

O exemplo mais evidente dessa ofensiva selvagem é esse adesivo para carros com a presidenta Dilma, uma das coisas mais asquerosas que vi em toda a minha vida. 

Ele é um atentado não só a ela, mas à dignidade de todas as mulheres. 

Quem fez tal imundície, quem compra e cola em seus carros tal nojeira, deveria responder pelo crime que comete.

Ou este é um país de bárbaros, que aceita e incentiva essas manifestações criminosas?

Onde estão os carolas, religiosos de todo tipo, defensores da família e dos bons costumes, os moralistas que tanto se preocupam com a sexualidade dos outros, onde estão os "homens de bem", que não reagem contra esses psicopatas?

A omissão, neste caso, é prova de conivência.
http://cronicasdomotta.blogspot.com.br/2015/07/e-por-que-nao-se-cumprem-as-leis-no.html#more

As máquinas de vender intolerância e preconceito

Para compreender onda de fundamentalismo e crimes de ódio, que se espalha por países como EUA e Brasil, é indispensável examinar papel de certos programas de TV



O crescimento dos crimes de ódio é um fenômeno global. Sustentada por preconceitos e por valores fundamentalistas, temos observado uma onda de violência desmedida em diversos lugares do planeta, exatamente no momento em que explodem os meios de comunicação, o que, em tese, deveria garantir maior acesso à informação.
ataque a igrejas das comunidades negras nos Estados Unidos, o espancamento de casais homoafetivos nas metrópoles brasileiras ou, simplesmente, de pessoas que se acredita serem homoafetivos (como num caso recente onde pai e filho foram espancados por simples manifestação de carinho), o incêndio criminoso de mesquitas na França, o massacre diário de palestinos pelo governo de Israel, são apenas alguns exemplos de aberrações que vivenciamos todos os dias.
Pior do que isto, o simples ato de ser levantada opinião contrária à dos ofensores ou dos grandes meios de comunicação também acaba resultando em ameaças, perseguições e agressões. A internet, que deveria ser o caminho da disseminação das informações transformadoras, tem sido canal de propaganda da violência moral, da étnica, da sexual e da simbólica.
Se durante o Iluminismo a luta por liberdade de imprensa e de opinião resultou numa conquista sem precedentes para a humanidade, criando os alicerces para a derrubada de impérios absolutistas, no mundo contemporâneo, na maior parte das vezes, os meios de comunicação não oferecem suporte à democratização da sociedade. Infelizmente, não são raros os exemplos nos quais a mídia de massa funciona como elemento de fomento a ódios, preconceitos e violência desmedida, como no caso do nazismo, do fascismo, e da islamofobia instaurada depois de 11 de setembro.
Os meios de comunicação, especialmente os canais de televisão, cumprem um papel decisivo no fomento ao preconceito, especialmente através da construção de arquétipos, de personagens onde o oprimido é sempre objeto de piadas. Portanto, os grandes meios de comunicação, dominados por oligopólios e grupos conservadores, também são o ponto de partida para vários crimes de ódio.
Num evento pré-campanha eleitoral em 2014, a novela Meu Pedacinho de Chão, da Rede Globo de televisão, direcionada a um público infanto-juvenil, com primoroso trabalho estético e com rara qualidade de direção e interpretação, mesmo com sua projeção atemporal, apresentou todos os personagens negros como empregados, criticou o direito de voto dado aos analfabetos, uma conquista democrática de 1988, sem questionar a origem do problema, transformando trabalhadores analfabetos em pessoas desinteressadas na aprendizagem e converteu o Coronel, vilão da história, em herói redimido, num gritante retrocesso em relação ao roteiro da novela original, que foi construída sobre o alicerce da crítica social.
O que era para ser uma obra de arte, nos momentos citados foi palco para a disseminação de preconceitos de forma subliminar, e reforço para a campanha de ódio contra formas de pensar democráticas que é exercitado no dia a dia pelos telejornais da emissora. Por sinal, as novelas da Rede Globo, com raras exceções, sempre foram instrumentos de construção de arquétipos destinados ao controle dos avanços sociais. Vejam o exemplo “do bom e do mau sem-terra” no péssimo roteiro da reprisada novela O Rei do Gado, uma “obra-prima do preconceito”.
E aqui nem falo de uma recente novela das 18 horas (Buggy Uggy) ambientada na década de setenta, que tinha um militar moralista como “pai de família exemplar”, e não fez qualquer referência aos crimes praticados durante a “ditadura verde oliva” exercitados na mesma época. Também nem falo da reiterada imposição da “ditadura da maternidade” pelas novelas como única forma concreta de realização feminina. Normalmente as personagens que não sonham em ser mães são apresentadas como vilãs ou satirizadas, em síntese: mais uma forma de preconceito propagandeado.
Nesses folhetins televisivos vemos a construção de “bons políticos” que pregam discursos de um moralismo lamentável, enquanto passam o tempo todo convivendo de forma pacífica com seus parceiros e “bons correligionários”: latifundiários, grandes empresários, jornalistas com condutas duvidosas e famílias tradicionais. Ou seja, “nas novelas globais, o bom político é sempre aquele que defende o ideário e os interesses da emissora, mesmo que estes estejam em conflitos com o avanço da democracia”.
No ano de 2011, os canais da Discovery divulgaram um interessante documentário sobre o “perfilhamento racial” nos Estados Unidos e a forma como a polícia, mesmo em Illinois, reduto eleitoral de Barack Obama, continua prendendo pessoas de forma indiscriminada e sem justificativa com base em elementos étnicos, muitos dos quais terminam na morte dos acusados, sempre negros, pela ação policial.
Em algumas situações observamos a autovitimização do opressor como instrumento de pregação do preconceito e de perpetuação do poder dominante, como nos discursos inflamados de brancos contra as políticas de cotas e de ação afirmativa, ou a patética conduta de alguns parlamentares e religiosos brasileiros defendendo o “orgulho hétero”, num claro ato de homofobia.
Aliás, enquanto o direito civil caminhou durante milhares de anos, desde a sua matriz romano-germânica, para reconhecer que não existe direito “de família”, mas “de famílias”, em suas diversas formas, observamos a lamentável tentativa de retrocesso, com a tramitação no Congresso Nacional brasileiro, do projeto de lei do Estatuto da Família, mais um arremedo de fundamentalismo, sexismo e homofobia.
O uso de símbolos opressivos ainda é pouco enfrentado na sociedade brasileira, mesmo que a violência simbólica seja criminalizada na “Lei Maria da Penha”. Este tipo de violência ainda é visto por determinados setores da sociedade como não violência, como algo que afeta apenas a subjetividade das vítimas. Assim, a violência simbólica segue servindo como ponte para diversos tipos de preconceitos, ou como porta de passagem para a violência física sem nenhum tipo de controle.
Portanto, se formos buscar a fonte da disseminação inconsequente dos crimes de ódio, não poderemos deixar de questionar o papel dos meios de comunicação de massa, ou da ação de alguns ocupantes de assentos nos Parlamentos. Enquanto aceitarmos de forma acrítica que valores conservadores sejam impostos às nossas casas todos os dias pelo rádio, televisão ou internet, ou que o presidente da Câmara vá ao púlpito do Congresso para ofender minorias, ou negarmos a violência simbólica, ainda continuaremos convivendo com a chaga do preconceito.
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