sábado, 2 de fevereiro de 2013

Dilma: Estamos perto de dizer que Brasil não tem pobreza extrema




No Pará, Dilma visita apartamento no Residencial dos Ipês
 “A presidenta Dilma Rousseff participou, nesta sexta-feira (1º/2), da entrega de 1.080 unidades habitacionais do Residencial Jardim dos Ipês, empreendimento do Programa Minha Casa Minha Vida, em Castanhal (PA). Durante o evento, Dilma reforçou a necessidade de uma parceria maior entre o governo federal e os municípios, principalmente no combate às desigualdades.


“Meu governo está empenhado em ajudar os prefeitos a fazerem a melhorgestão. (…) E precisamos que nos ajudem a completar o cadastro único do Bolsa Família. Temos de cadastrar todas as famílias que vivem na pobreza e na miséria. Estamos perto de dizer com orgulho ‘esse país não tem mais pobreza extrema’”, afirmou Dilma.

Segundo a presidenta, o governo tem a responsabilidade de assegurar que as pessoas tenham acesso à casa própria. Ela classificou o Minha Casa, Minha Vida como “um dos melhores e mais abrangentes programas que o governo federal tem, porque atua diretamente na desigualdade”. Para Dilma, o desenvolvimento do país depende da oferta de oportunidades iguais para todos.

“Estamos chegando perto de poder levantar-nos sobre os nossos pés, erguer a cabeça e dizer com orgulho: este país não tem mais pobreza extrema”, disse a presidenta durante cerimônia de entrega de 1.080 unidades habitacionais do Programa Minha Casa, Minha Vida no município de Castanhal, a 68 quilômetros de Belém, no Pará.

Dilma Rousseff disse que milhões de famílias saíram da linha da pobreza extrema, mas há famílias com direito a receber o auxílio do governo porque não foram incluídas no cadastro único feito pelos municípios. “Nós temos que cadastrar todas as famílias que vivem na extrema pobreza ou na miséria. Porque? Porque nós temos condições de superar essa fase da nossa história, de desigualdade, que é ter brasileiros na extrema pobreza”.

Creches

Em relação às creches, a presidenta disse que são instrumento para dar oportunidades iguais a todas as pessoas desde os primeiros anos de vida. “Queremos fazer creches para assegurar que estamos mexendo na raiz da desigualdade. Queremos que a criança das classes populares mais vulneráveis tenham acesso à mesma educação dos filhos da classe média e dos ricos”.

A presidenta disse que o governo federal tem a meta de construir seis mil creches. Além da construção, o governo garantirá dinheiro para a manutenção, incluindo contratação de professores, alimentação e equipamentos. Caso a creche seja para crianças de famílias de baixa renda, haverá um acréscimo de 50% nos repasses. “Queremos o auxílio das prefeituras todas para que a gente cumpra uma meta importante para o Brasil”.

Residencial Jardim dos Ipês


Serão beneficiadas 5,6 mil pessoas com renda familiar de até R$ 1,6 mil, a um custo total do investimento de R$ 60,22 milhões, segundo a Caixa Econômica Federal. Dividido em quatro condomínios, o Residencial Jardim dos Ipês é composto por 332 casas e 1.080 apartamentos.

As casas têm área privativa de 35m² e valor médio de R$ 38,5 mil, enquanto os apartamentos possuem 44,94m² de área e valor médio de R$ 42,8 mil, respectivamente. Alguns dos imóveis são destinados a portadores de necessidades especiais, com maior área e portas e janelas adaptadas.”

O que o medo pode ensinar


 Walker comenta em conferência a conexão entre o medo e a imaginação

Oásis / Brasil 247

A escritora Karen Thompson Walker durante conferência em Londres, para o TED
Vídeo: TED-Ideas Worth Spreading. Tradução para o português: Isabel Villan. Revisão: Gislene Kucker

Imagine que você é um marinheiro náufrago à deriva na imensidão do Oceano Pacífico. Você pode escolher uma de três direções e salvar a si mesmo e a seus companheiros - mas cada escolha vem com uma temida consequência também. Como escolher a melhor opção? Contando a história do baleeiro Essex, a romancista Karen Thompson Walker demonstra como o medo impele a imaginação, à medida que nos força a imaginar possíveis futuros e como lidar com eles.

"Nossos medos podem representar ótimos presentes da imaginação... um modo para se antever o futuro enquanto ainda existe tempo para influenciar o modo como ele vai funcionar", diz Karen Thompson Walker

Vídeo da conferência de Karen Thompson Walker:


Tradução integral da conferencia de Karen Thompson Walker:

Um dia em 1819, a 3 mil milhas da costa do Chile, numa das regiões mais remotas do Oceano Pacífico, 20 marinheiros americanos assistiram a inundação de seu navio pela água do mar. Tinham sido atingidos por um cachalote que fizera um rombo catastrófico no casco do navio. Quando o navio começou a afundar sob as ondas, os homens se amontoaram em três pequenos barcos baleeiros. Esses homens estavam a 10 mil milhas de casa, a mais de mil milhas da nesga de terra mais próxima. Nos pequenos barcos, carregaram somente equipamento rudimentar de navegação e suprimento limitado de comida e água. Esses eram os homens do baleeiro Essex, cuja história inspiraria, mais tarde, partes do romance "Moby Dick".

Mesmo no mundo de hoje, a situação deles seria realmente terrível, mas pense quanto pior ela foi então. Ninguém em terra tinha ideia de que algo dera errado. Nenhuma equipe de busca estava procurando por esses homens. A maioria de nós nunca vivenciou uma situação tão assustadora como aquela em que os marinheiros se encontravam, mas todos sabemos como é ter medo. Sabemos como é sentir medo, mas não tenho certeza se passamos tempo bastante pensando sobre o que nossos medos significam.

À medida que crescemos, com frequência somos encorajados a pensar em medo como uma fraqueza, apenas mais uma coisa de criança a descartar como dentes de leite e patins. E acho que não é por acaso que pensamos dessa forma. Na verdade, os neurocientistas demonstraram que seres humanos são equipados para ser otimistas.Talvez seja por isso que pensamos em medo, algumas vezes, como um perigo em si mesmo. "Não se preocupe", gostamos de dizer um ao outro. "Não entre em pânico". Em inglês, medo é algo que nós vencemos. É algo que combatemos. É algo que superamos. Mas, e se olhássemos para o medo de uma nova maneira? E se pensássemos no medo como um ato surpreendente da imaginação, algo que pode ser tão profundo e perspicaz quanto onarrar histórias?

É mais fácil ver esta ligação entre medo e imaginação em crianças pequenas, cujos medos são com frequência extraordinariamente vívidos. Quando era criança, morei na Califórnia, que é, vocês sabem, na maior parte, um lugar muito agradável para viver. Mas para mim, uma criança, a Califórnia era também um pouquinho assustadora. Lembro quão apavorante era ver o lustre que pendia sobre a mesa de jantar balançando para frente e para trás durante o menor tremor de terra, e algumas vezes não conseguia dormir à noite, aterrorizada porque o Big One (terremoto) poderia nos atingir enquanto estávamos dormindo. E o que dizemos sobre crianças que têm medos como este é que elas têm uma imaginação vívida. Mas num certo ponto, a maioria de nós aprende a deixar para trás esse tipo de visões e cresce. Aprendemos que não há monstros escondidos debaixo da cama, e que nem todo terremoto destrói edifícios. Mas talvez não seja coincidência que algumas de nossas mentes mais criativas não conseguiram deixar para trás esse tipo de medo quando adultos. A mesma imaginação incrível que produziu "A Origem das Espécies", "Jane Eyre" e "Em Busca do Tempo Perdido", também gerou preocupações intensas que assombraram a vida adulta de Charles Darwin, Charlotte Bronte e Marcel Proust. Assim, a questão é: o que podemos aprender sobre o medo com visionários e crianças pequenas?

Bem, vamos retornar ao ano de 1819 por um momento, para a situação que enfrentava a tripulação do baleeiro Essex. Vamos dar uma olhada nos medos que a imaginação deles criava enquanto estavam à deriva no meio do Pacífico. Vinte e quatro horas tinham se passado desde o naufrágio do navio. Era hora de os homens fazerem um plano, mas eles tinham muito poucas opções. Em seu fascinante relato do desastre, Nathanel Philbrick escreveu que esses homens estavam tão distantes da terra quanto era possível estar de qualquer lugar na Terra. Os homens sabiam que as ilhas mais próximas que poderiam alcançar eram as Ilhas Marquesas, a 1.200 milhas de distância. Mas tinham ouvido alguns rumores assustadores. Diziam que essas ilhas, e várias outras nas redondezas, eram habitadas por canibais. Então os homens imaginaram-se chegando à praia apenas para serem mortos e comidos no jantar. Um outro destino possível era o Havaí, mas, em razão da estação do ano, o capitão tinha medo de que fossem atingidos por tempestades terríveis. A última opção era a mais longa, e a mais difícil: navegar 1.500 milhas em direção ao sul, na esperança de alcançar uma determinada região de ventos que poderiam finalmente empurrá-los em direção à costa da América do Sul. Mas sabiam que a extensão dessa viagem esgotaria seus suprimentos de comida e água. Ser comido por canibais, ser abatido por tempestades, morrer de fome antes de atingir a terra. Esses eram os medos que dançavam na imaginação desses pobres homens, acontece que, o medo a que escolhessem dar ouvidos decidiria se viveriam ou morreriam.

Bem, poderíamos simplesmente designar esses medos por um nome diferente. E se em vez de nomeá-los como medos, nós os chamássemos de histórias? Porque isso é realmente o que o medo é, se você pensa nisso. É uma forma não intencional de contar histórias que todos nascem sabendo fazer. E medos e contar histórias têm os mesmos componentes. Eles têm a mesma arquitetura. Como todas as histórias, os medos têm personagens. Em nossos medos, os personagens somos nós. Medos também têm enredos. Têm começo, meio e fim. Você embarca no avião. O avião decola. O motor falha. Nossos medos também tendem a conter imagens que podem ser, em cada pedacinho, tão vívidas como as que você encontraria nas páginas de um romance. Imagine um canibal, dente humano afundando na pele humana, carne humana assando sobre uma fogueira. Medos também têm suspense. Se fiz meu trabalho como narradora hoje, você deve estar imaginando o que aconteceu com os homens do baleeiro Essex. Nossos medos provocam em nós uma forma de suspense muito semelhante. Como todas grandes histórias, nosso medos focalizam nossa atenção numa questão que é tão importante na vida quanto é na literatura: O que acontecerá depois? Em outras palavras, nossos medos nos fazem pensar sobre o futuro. E humanos, a propósito, são as únicas criaturas capazes de pensar sobre o futuro dessa maneira, de projetar-nos à frente no tempo; e essa viagem mental no tempo é mais uma coisa que medos têm em comum com a narração.

Como escritora, posso dizer-lhes que grande parte do escrever ficção é aprender a predizer como um fato em uma história afetará todos os outros acontecimentos, e o medo funciona dessa mesma maneira. No medo, exatamente como na ficção, uma coisa sempre leva a outra. Quando estava escrevendo meu primeiro romance, "The Age Of Miracles", passei meses tentando imaginar o que aconteceria se a rotação da Terra subitamente começasse a diminuir. O que aconteceria a nossos dias? O que aconteceria a nossas colheitas? O que aconteceria a nossas mentes? E foi somente mais tarde que percebi quão semelhantes eram essas perguntas àquelas que eu costuma me fazer quando criança, assustada, no meio da noite. Se um terremoto nos atingir esta noite, eu costumava a me inquietar, o que acontecerá à nossa casa? O que acontecerá à minha família? E a resposta a essas questões sempre teve a forma de uma história. Portanto se pensamos em nossos medos como mais do que apenas medos, mas como histórias, devemos pensar em nós mesmos como os autores dessas histórias. Mas tão importante quanto isso, precisamos pensar em nós mesmos como leitores de nossos medos, e como escolhemos ler nossos medos pode ter um profundo efeito em nossas vidas.

Bem, alguns de nós leem naturalmente os medos mais exatamente que outros. Recentemente li um estudo sobre empreendedores bem sucedidos e o autor descobriu que essas pessoas tinham um hábito que ele chamou de "paranoia produtiva", o que significa que essas pessoas, em vez de descartar seus medos, essas pessoas fazem uma leitura detalhada deles, elas os estudam, e então traduzem aquele medo em preparação e ação. Dessa forma, se seus piores temores se tornarem realidade, suas empresas estão preparadas.

E às vezes, claro, nossos piores medos se tornam realidade. Essa é uma das coisas que são tão extraordinárias sobre o medo. Vez por outra, nossos medos podem prever o futuro. Mas talvez não possamos nos preparar para todos os medos que nossa imaginação inventa. Então, podemos distinguir entre os medos que valem a pena ouvir e todos os outros? Penso que o final da história do baleeiro Essex apresenta um exemplo esclarecedor, ainda que trágico. Depois de muita deliberação, os homens finalmente tomaram uma decisão. Aterrorizados pelos canibais, decidiram abrir mão das ilhas mais próximas e em vez disso embarcaram na rota mais longa e muito mais difícil para a América do Sul. Depois de mais de dois meses no mar, os homens ficaram sem comida, como sabiam que poderiam ficar, e ainda estavam bem distantes da terra. Quando o último dos sobreviventes finalmente foi recolhido por dois navios que passavam, menos da metade dos homens tinha sobrevivido e alguns deles tinham recorrido à sua própria forma de canibalismo. Herman Melville, que usou esta história como pesquisa para "Moby Dick",escreveu anos depois, e em terra firme, cito: "Todos os sofrimentos desses pobres homens do Essex poderiam, dentro de todas probabilidades humanas, ter sido evitados, se eles, imediatamente após deixar o naufrágio, tivessem se dirigido direto para o Taiti." Assim, a pergunta é: por que esses homens se aterrorizaram com os canibais muito mais do que com a extrema possibilidade de inanição? Por que foram influenciados por uma história muito mais do que pela outra? Olhe por este ângulo, ali começa uma história sobre leitura. O romancista Vladimir Nabokov disse que o melhor leitor tem uma combinação de dois temperamentos muito diferentes, o artístico e o científico. Um bom leitor tem uma paixão de artista, uma disposição de ser apanhado na história, mas, com a mesma importância, o leitor também precisa da frieza de julgamento de um cientista, que age para acalmar e complicar as reações intuitivas do leitor à história. Como vimos, os homens do Essex não tiveram problemas com a parte artística. Eles imaginaram uma variedade de cenários horríveis. O problema foi que eles deram ouvidos à história errada. De toda as narrativas que os medos deles escreveram, eles responderam somente à mais sinistra, à mais vívida, àquela que era mais fácil para a imaginação deles criar: canibais. Mas, talvez se tivessem sido capazes de ler seus medos mais como um cientista, com mais frieza de julgamento, teriam dado ouvidos ao conto menos violento mas mais provável, a história da inanição, e se encaminhado para o Taiti, exatamente como o triste comentário de Melville sugere.

E talvez, se tentássemos ler nossos medos, nós também seríamos com menos frequência influenciados pelo mais indecente entre eles. Talvez então passássemos menos tempo nos preocupando com assassinos em série ou desastres de avião, e mais tempo dedicado aos desastres mais sutis e lentos que enfrentamos: a silenciosa sedimentação de placa em nossas artérias, as mudanças graduais em nosso clima.

Assim como as histórias mais matizadas na literatura são com frequência as mais ricas, assim também podem ser mais verdadeiros nossos medos mais sutis. Lidos de maneira correta, nossos medos são um dom surpreendente da imaginação, um tipo de clarividência diária, uma forma de antever o que poderia ser o futuro quando ainda há tempo para influenciar como esse futuro se desenrolará. Adequadamente lidos, nossos medos podem nos oferecer algo tão precioso como nossas obras de literatura favoritas: um pouco de sabedoria, um pouco de perspicácia e uma versão da coisa mais ardilosa - a verdade. Obrigada. (Aplausos)”

O que está por trás da eleição no Senado



Antonio David: “Renan é sujo igual a todos os outros – inclusive o outro candidato – mas a diferença é que todo mundo (inclusive a classe média) sabe que Renan é sujo”. 
Foto: Antonio Cruz/ABr

Eleição para presidente do Senado em si mesmo é algo que pouco interfere na conjuntura, muito menos na luta de classes. Apesar disso, as movimentações e opções que os partidos fazem é sintomática de posições que, essas sim, têm importância na conjuntura.
A eleição de Renan mostra o óbvio: a força que a direita fisiológica tem no Brasil. (Vale lembrar que provavelmente o presidente da Câmara será também do PMDB). O que não é obvio é: como o PT conseguirá avançar nas mudanças dependente que o governo é do parlamento e estando o governo preso a partidos como o PMDB?
Para refletir sobre isso, vale destacar um trecho da entrevista de André Singer ao Brasil de Fato: “Veja o que foi o papel do PMDB na campanha eleitoral de 2010: foi de brecar as medidas mais radicais que o PT tinha proposto em seu IV Congresso, como, por exemplo, a redução da jornada de trabalho e a taxação das grandes fortunas. O PMDB brecou essas duas coisas, que no final não entraram no programa da presidente Dilma”.
Qual é o problema? O problema é que criticar a política de alianças do PT é fácil, sobretudo quando a crítica é no varejo. É fácil criticar o apoio a Renan na eleição. Qualquer um critica. O problema é que crítica séria tem de ser no atacado, ou seja, o problema não é apoio, eleição, mas a estratégia do PT. E aí a coisa complica. Porque a estratégia que prevê alianças com a direita, que fortalece o agronegócio, que financia a imprensa golpista com publicidade etc., é a mesma que está aumentando o emprego e a massa salarial, diminuindo a pobreza e a desigualdade, viabilizando a expansão do ensino, cotas nas universidades etc.
É possível jogar fora alianças com a direita, e seguir avançando? É possível jogar fora a “governabilidade”, e seguir avançando? É possível corrigir os erros, mudar tudo o que tem de atraso na política do governo, e seguir avançando no que tem de bom, sem “governabilidade”, sem maioria no Congresso?
Para a esquerda, essa é a questão central, ou uma das questões centrais. Não tenho resposta pronta no bolso. O que eu sei é que não dá para se acomodar, como se a estratégia de conciliação e de composição fosse boa, como também não dá para dar uma resposta simplista, como uma parte da esquerda faz.
A oposição (PSDB, DEM, PPS) não tem discurso. O governo FHC foi um fiasco e onde eles governam as coisas vão mal. Mas eles precisam fazer oposição, pois esses partidos representam o capital financeiro, que não apenas está insatisfeito com o governo, mas sabe que o desenvolvimentismo do governo fere seus interesses de classe. E como esses partidos não têm o que falar, qual é o discurso? Ética na política, moralidade, corrupção. Já vimos esse filme antes: UDN, Jânio, vassourinha…
Renan é sujo igual a todos os outros – inclusive o outro candidato – mas a diferença é que todo mundo (inclusive a classe média) sabe que Renan é sujo.
Como o candidato do governo foi um candidato descaradamente sujo, a oposição aproveitou a oportunidade para posar de preocupada com a Ética e a moralidade pública. A imprensa ajudou, e eles de certa forma conseguiram o que queriam. O que eles queriam não era ganhar a eleição. O objetivo era alimentar, na classe média, a ideia de que eles são éticos, preocupados com a moralidade. E de fato saíram com pontos positivos junto à classe média. Graças a Deus, o povo não se preocupa com eleição de presidente do Senado.
O que falar do PSOL? Não surpreende a posição do PSOL, de apoiar a candidatura de Pedro Taques. Afinal, para quem o PSOL fala? Para a classe média. O povo nem liga para o PSOL, exceto em Belém e no Rio.
Que ideias o PSOL alimenta? De que o grande problema do Brasil é a corrupção e de que o PT é corrupto. Portanto, não surpreende.
Mas… ao embarcar na candidatura alternativa organizada pelo PSDB (sim, para os ingênuos que não sabem, a candidatura de Pedro Taques foi organizada pelo PSDB), o PSOL não fez outra coisa senão ajudar o PSDB a posar de arauto da Ética e da moralidade. Posição coerente nessa eleição teria sido votar nulo.
Em tempo: o grande problema do Brasil não é a corrupção, mas a desigualdade.
Antônio David é mestrando em filosofia na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da 
No, viomundo.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Mais trabalho, menos choro



O IBGE informa que a produção industrial brasileira fechou 2012 com queda de 2,7%. Em 2011, a indústria havia tido um aumento de 0,3% na produção. Em dezembro do ano passado, a produção industrial apresentou expansão de 0,4% na comparação com novembro. Em relação a dezembro de 2011, foi observada uma queda de 3,6%.
Divulgados os números, os tais analistas econômicos que infestam as páginas dos jornalões vão se banquetear. Dirão que o fraco resultado da indústria mostra que as medidas de incentivo à economia lançadas pelo governo federal ainda não fizeram efeito - se é que farão algum dia - e, em meio ao blá-blá-blá de sempre, darão a receita infalível para que os nossos industriais voltem a sorrir: menos impostos e redução do tal "custo Brasil".
Esses provectos analistas pintarão um quadro no qual o Brasil aparece em frangalhos, escangalhado por um governo que não acerta uma, pois afinal é tocado por gente que não é do ramo, uns bicões que vieram estragar a formidável festa patrocinada por impecáveis "promoters" de olhos azuis e sotaque estrangeiro.
Pura cascata.
Os nossos bravos industriais, verdade seja dita, nunca antes haviam sido contemplados com tantas benesses quanto nesses últimos anos.
Não passa um mês sem que o governo dê a eles alguma vantagem.
Só não podem querer que esse intrincado sistema fiscal brasileiro, um monstrengo montado ao longo dos anos por uma série de governantes, seja destruído agora de uma só tacada.
O fato é que, se não lucraram mais, a culpa é exclusiva deles, que, com exceções, não investem em novas tecnologias, não qualificam seus funcionários, utilizam processos administrativos arcaicos, desconhecem as regras básicas do marketing, agem como amadores num mundo controlado por profissionais.
São incompetentes, em resumo.
Por isso, por causa de sua própria incapacidade, só sabem chorar, vivem a reclamar disso ou daquilo, sempre esperando uma ajudazinha do governo.
Se querem ser mais bem-sucedidos neste regime capitalista que tanto defendem como a mais perfeita invenção do homem, a receita é simples: levantem as bundas das cadeiras e trabalhem.
cronicasdomotta

A relação incestuosa entre a mídia e o judiciário


Um livro de Merval traz um prefácio de Ayres Britto, por incrível que pareça.
Merval, o livro e o juiz
Merval, o livro e o juiz
O pior livro de 2013 está prestes a ser lançado: Mensalão, de Merval Pereira.
Cuidado, pois.
Tratando-se de Merval, não poderia ser outra coisa que não a reunião de seus artigos maçantes e previsíveis ao longo do julgamento. Conteúdo novo? Talvez na próxima. Merval provavelmente pagou um mensalinho a um estagiário para compilar os artigos e vamos ficando por aí.
O livro é revelador, não obstante.
Ele mostra a relação incestuosa entre a Globo (e a grande mídia) e o STF. O prefácio é de Ayres Britto, que presidia o Supremo durante o Mensalão.
Pode? Pode.
É legal? É.
É eticamente aceitável? Não. Exclamação.
O pudor deveria impedir o conúbio literário entre Merval e Britto.
Mas o pudor se perdeu há muito tempo. Em outra passagem amoral desse caso de amor entre mídia e justiça, o ministro Gilmar Mendes compareceu sorridente, em pleno julgamento do Mensalão, ao lançamento de um livro do príncipe dos escaravelhos Reinaldo Azevedo em que os réus eram massacrados.
Ali estava já a sentença de Gilmar.
Pilhados por uma câmara indiscreta, Azevedo se gabou da presença ilustre, aspas, do companheiro Gilmar, e este seguiu em seu caminho de defensor da justiça e da causa do 1%.
A decência e o interesse público mandam distância entre os dois poderes, a mídia e a justiça. Na Inglaterra, se o juiz Brian Leveson, que comandou as discussões sobre a mídia e seus limites, confraternizar com um jornalista, a carreira de ambos estará encerrada.
No Brasil, é pena, isso não é bem assim.
Conheço Merval há anos. Quando eu começava carreira na Veja, ele foi, durante algum tempo, editor da seção de Brasil. Não virou manchete, porque não tinha elegância ao escrever, o que naquela época era um requisito na Veja.
De lá voltou a seu habitat, o Rio. Seu tento mais espetacular, nestes anos todos de regresso ao Rio, foi ter matado Hugo Chávez numa coluna que, não gozasse ele da imunidade de porta-voz do patrão, podia ter lhe custado a mensalidade que recebe. Seu mensalão, enfim.
Reencontrei-o quando fui integrante do Conedit, Conselho Editorial das Organizações Globo.
Rapidamente, nas reuniões semanais de terça-feira no Jardim Botânico conduzidas por João Roberto Marinho, me impressionei com Merval e Ali Kamel.
Não pelo talento, não pelo brilho. Mas pela capacidade de reproduzir, alguns tons acima, tudo que a família Marinho pensava. Pareciam competir entre si, como se dissessem: “Eu concordo com o João mais do que você!” (Acho graça quando atribuem poder ideológico a Kamel: se seu patrão fosse progressista, ele seria progressista e meio. Ele não formula intelectualmente, e sim executa jornalisticamente o que os Marinhos desejam. Embora seus amigos da Veja dediquem espaço monumental à resenha de seus livros em troca de ampla cobertura da revista no JN, nenhum deles tem qualquer valor literário.)
Aquilo tudo no conselho evidentemente me incomodou. Uma vez, depois de uma reunião, fui almoçar com Luiz Eduardo Vasconcellos, sobrinho de Roberto Marinho, acionista minoritário do Globo e integrante do Conselho Editorial.
O cardápio, olhando para trás, foi suicida, para mim. Não conversei, desabafei. Disse a Luiz Eduardo, um bom sujeito aliás, que me chamava a atenção na reunião o fato de todos os participantes repetirem, basicamente, as ideias da família Marinho.
Onde alguma diversidade, onde algum esboço de pluralismo?
Alguns macaqueavam mais discretamente, outros com exuberância e estridência retórica. Era este o caso de Merval e de Kamel. Minha solidão naquele grupo era imensa, era universal, e não apenas por eu ser de São Paulo.
Merval, em seus artigos, se coloca como um Catão. Talvez um dia nosso Catão possa vir à luz do sol para explicar por que, trabalhando há tantos anos para todas as mídia da Globo, é um PJ – um artifício pelo qual ele e seu empregador pagam menos impostos do que deveriam, e ainda se concede m o direito de fazer sermões sobre moral.
diariodocentrodomundo

A imbecilização do Brasil



Nossa vanguarda. Imbatíveis à testa da Operação Deserto

Mino Carta, CartaCapital

“Há muito tempo o Brasil não produz escritores como Guimarães Rosa ou Gilberto Freyre. Há muito tempo o Brasil não produz pintores como Candido Portinari. Há muito tempo o Brasil não produz historiadores como Raymundo Faoro. Há muito tempo o Brasil não produz polivalentes cultores da ironia como Nelson Rodrigues. Há muito tempo o Brasil não produz jornalistas como Claudio Abramo, e mesmo repórteres como Rubem Braga e Joel Silveira. Há muito tempo…

Os derradeiros, notáveis intérpretes da cultura brasileira já passaram dos 60 anos, quando não dos 70, como Alfredo Bosi ou Ariano Suassuna ou Paulo Mendes da Rocha. Sobra no mais um deserto de oásis raros e até inesperados. Como o filmeO Som ao Redor, de Kleber Mendonça, que acaba de ser lançado, para os nossos encantos e surpresa.

Nos últimos dez anos o País experimentou inegáveis progressos econômicos e sociais, e a história ensina que estes, quando ocorrem, costumam coincidir com avanços culturais. Vale sublinhar, está claro, que o novo consumidor não adquire automaticamente a consciência da cidadania. Houve, de resto, e por exemplo, progressos em termos de educação, de ensino público? Muito pelo contrário.

E houve, decerto, algo pior, o esforço concentrado dos senhores da casa-grande no sentido de manter a maioria no limbo, caso não fosse possível segurá-la debaixo do tacão. Neste nosso limbo terrestre a ignorância é comum a todos, mas, obviamente, o poder pertence a poucos, certos de que lhes cabe por direito divino. Indispensável à tarefa, a contribuição do mais afiado instrumento à disposição, a mídia nativa. Não é que não tenha servido ao poder desde sempre. No entanto, nas últimas décadas cumpriu seu papel destrutivo com truculência nunca dantes navegada.

Falemos, contudo, de amenidades do vídeo. De saída, para encaminhar a conversa. Falemos do Big Brother Brasil, das lutas do MMA e do UFC, dos programas de auditório, de toda uma produção destinada a educar o povo brasileiro, sem falardas telenovelas, de hábito empenhadas em mostrar uma sociedade inexistente, integrada por seres sem sombra. Deste ponto de vista, a Globo tem sido de uma eficácia insuperável.

O espetáculo de vulgaridade e ignorância oferecido no vídeo não tem similares mundo afora, enquanto eu me colho a recordar os programas de rádio que ouvia, adolescente, graciosas, adoráveis peças de museu como a PRK30, ou anos verdolengos habitados pelos magistrais shows de Chico Anysio. Cito exemplos, mas há outros. Creio que a Globo ocupe a vanguarda desta operação de imbecilização coletiva, de espectro infindo, na sua capacidade de incluir a todos, do primeiro ao último andar da escada social.

O trabalho da imprensa é mais sutil, pontiagudo como o buril do ourives. Visa à minoria, além dos donos do poder -real, que, além do mais, ditam o pensamento único, fixam-lhe os limites e determinam suas formas de expressão. O alvo é a chamada classe média alta, os aspirantes, a segunda turma da classe A, o creme que não chegou ao creme do creme. E classe B também. Leitores, em primeiro lugar, dos editoriais e colunas destacadas dos jornalões, e da Veja, a inefável semanal da Editora Abril. Alguns remediados entram na dança, precipitados na exibição, de verdade inadequada para eles.

Aqui está a bucha do canhão midiático. Em geral, fiéis da casa-grande encarada como meta de chegada radiosa, mesmo quando ancorada, em termos paulistanos, às margens do Rio Pinheiros, o formidável esgoto ao ar livre. E, em geral, inabilitados ao exercício do espírito crítico. Quem ainda o pratica, passa de espanto a espanto, e o maior, se admissível a classificação, é que os próprios editorialistas, colunistas, articulistas etc. etc. acabem por acreditar nos enredos ficcionais tecidos por eles próprios, quando não nas mentiras assacadas com heroica impavidez.

O deserto cultural em que vivemos tem largas e evidentes explicações, entre elas, a lassidão de quem teria condições de resistir. Agrada-me, de todo modo, o relativo otimismo de Alfredo Bosi, que enriquece esta edição. Mesmo em épocas medíocres pode medrar o gênio, diz ele, ainda que isto me lembre a Península Ibérica, terra de grandes personagens solitárias em lugar de escolas do saber. Um músico e poeta italiano do século passado, Fabrizio de André, cantou: “Nada nasce dos diamantes, do estrume nascem as flores”. E do deserto?”

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Jornalismo cretino



Por acaso, escutei ontem, na rádio Bandeirantes, algo que julgava impossível nesta fase da vida: o repórter perguntar a uma pessoa qualquer (o chamado "popular") o que ele achava do aumento da gasolina!
Imaginava que perguntas como essa nem o mais foca dos focas seria capaz de fazer hoje em dia.
Tolice minha.
O "novo jornalismo" brasileiro supera a mais fértil imaginação, é capaz de realizar proezas fantásticas.
Como, por exemplo, o editor dessa "reportagem" da Bandeirantes escolher respostas sobre o impacto do aumento da gasolina na vida dos entrevistados - anônimos -  mais ou menos desse tipo:
- Para mim esse aumento vai representar um gasto extra diário de R$ 50.
R$ 50 por dia!
E o repórter nem perguntou que veículo extraordinariamente gastador esse sujeito tinha, ou quanto mil quilômetros ele rodava diariamente!
Como se diz por aí, eles se merecem...
O pior é que a rádio Bandeirantes, porém, não é um caso isolado.
O jornalismo no Brasil é isso aí, virou apenas, com raras exceções, um instrumento da luta política, ou se quiserem, da luta de classes.
Dominada por "30 Berlusconis", na definição da ONG Repórter Sem Fronteiras, nossa imprensa faz tudo, menos o que deveria fazer.
De uma pobreza técnica de dar dó, com "profissionais" despreparados, alguns semialfabetizados, outros completos analfabetos, seu exercício diário é mostrar ao distinto público que o Brasil é uma porcaria, que nada aqui funciona, que a corrupção é a regra, que a inflação está descontrolada, que vai haver racionamento de energia - e que o culpado de tudo é o governo, o federal, é claro, pois, pelo menos no Estado de São Paulo, o pobre Geraldo "Picolé de Chuchu" Alckmin não faz mais em prol da população porque, novamente, o governo federal, malvado, o impede.
E, em meio a tudo isso, os tucanos querem processar a presidente Dilma por ela ter usado vermelho na televisão...
Se isso não é o fim do mundo, acho que significa que ele está bem perto
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cronicasdomotta

Pibinho mineiro



Fraude Econômica: Pibão da dupla Aécio-Anastasia é prá lá de brochante
Minas está é na merda com estes tucanos
No Língua de Trapo
 
A grande imprensa ignorou a derrapagem da economia mineira. Mas a revista Mercado Comum publicou matéria sobre o fato e reproduzo o início dela logo abaixo. Para quem desejar acessar na íntegra, clique aqui.
A imprensa, de fato, já é soldado na guerra entre partidos (guerra que pouco significa no dia-a-dia do brasileiro).

IBGE OFICIALIZA O DECLÍNIO ECONÔMICO DE MINAS

O governador Antonio Anastasia, baseado em dados que lhe foram fornecidos pela Fundação João Pinheiro, anunciou, no dia 16 de março de 2011, que o crescimento do PIB do Estado de Minas Gerais no ano de 2010 havia alcançado 10,9%, “um resultado extraordinário, superior aos países que têm forte dinamismo econômico”, afirmou na ocasião.
No entanto, estes dados não se confirmaram e o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística anunciou, no dia 23 de novembro último, ter sido o crescimento do PIB de Minas de 8,9% e não de 10,9%, como divulgou o governador. O IBGE classificou o crescimento econômico do Estado em 10º lugar naquele ano, tendo sido o seu desempenho superado pelos estados de Tocantins, Espírito Santo, Rondônia, Mato Grosso do Sul, Acre, Paraíba, Paraná, Amazonas e Roraima. O IBGE divulgou, também, que no acumulado do período de 2002-2010, Minas obteve o sétimo pior desempenho econômico do País e ocupa o 22º lugar no ranking dos estados brasileiros em crescimento de sua economia. Tais dados comprovam e não deixam mais nenhuma dúvida sobre a realidade do declínio econômico de Minas Gerais.
Em solenidade realizada com a presença da imprensa e tendo ao seu lado a Secretária de Desenvolvimento Econômico, Dorothea Werneck, a presidente da Fundação João Pinheiro, Marilena Chaves e o diretor do Centro de Estatística e Informações da FJP, Frederico Poley, o governador declarou à imprensa à época:
“Tenho a satisfação de informar aos mineiros e ao Brasil que o crescimento do nosso PIB foi de 10,9%. É um resultado extraordinário, superior, inclusive, aos padrões dos países que têm tido forte dinamismo econômico, como a China e Índia, e bem superior ao do Brasil, que foi de 7,5%. Isso sinaliza a retomada efetiva da economia do Estado e vamos continuar trabalhando para que tenhamos crescimento econômico sempre”.
Como o órgão que mede o crescimento do PIB no Estado é a Fundação João Pinheiro, o governador baseou-se em dados fornecidos por ela. Á época, de acordo com o Centro de Estatística e Informações da Fundação João Pinheiro, “a taxa de expansão do PIB mineiro de 2010 era a maior da série histórica iniciada em 1995 pela Fundação. Trata-se do melhor resultado de crescimento econômico do Estado dos últimos 15 anos. Até então, o recorde foi verificado em 2004, quando a economia mineira cresceu 5,9%”
A Secretária Dorothea Werneck, naquela oportunidade, também ressaltou que este percentual era superior ao crescimento do PIB da China e da Índia:
“Todos comemoraram a taxa de crescimento do Brasil em 7,5% e estamos anunciando 10,9%, crescimento maior do que a China (10,3%) e maior do que a Índia (8,6%). Estamos vivendo em um Estado que está com um crescimento muito acima da média e isso significa para nós, mineiros, melhor qualidade de vida através da geração de mais empregos, mais renda, através de um potencial de maior consumo ainda em nosso Estado”.
O percentual de crescimento de Minas, divulgado pelo governador, conflitou substancialmente, no entanto, com os números divulgados no último dia 23 deste mês pelo IBGE, segundo o qual o crescimento de Minas naquele ano foi de 8,9%, classificando este resultado o Estado em décimo lugar entre todas as unidades da federação. Estão na frente de Minas, Tocantins, com 14, %, Espírito Santo, com 13,8%, Rondônia, com 12,6%, Mato Grosso do Sul, com 11%, Acre, com 10,9%, Paraíba, com 10,3%, Paraná, com 10%, Amazonas, com 10% e até Roraima, com 9,6%.
No Rudá Ricci, via Com texto livre

A disputa pela sucessão de Dilma e Alckmin



  
Sobre a guerra de posição no interior do PSDB, envolvendo paulistas e mineiros, sinto que é mais uma ofensiva (ou ataque defensivo) dos paulistas que um conflito aberto entre duas forças

Rudá Ricci, Brasil 257

A disputa pela sucessão de Dilma já está em ponto de ebulição. O fator principal é o "pêndulo" Eduardo Campos, mas também a movimentação dos partidos da base aliada do governo federal.

Em São Paulo, as especulações também aumentam gradativamente, mas num nível muito inferior ao ponto de aquecimento da disputa federal. Possivelmente, em função da fome da imprensa local, que é a mesma que está no topo do ranking da grande imprensa nacional.

Isto explica a ausência de especulações públicas sobre a sucessão em outros Estados, como aqui em MG.

Reproduzo, abaixo, as projeções de Gaudêncio Torquato a respeito da sucessão de Dilma e Alckmin, publicadas no último Porandubas Políticas. Vou comentá-las, mas antes, darei meus pitacos em relação à sucessão de Antonio Anastasia, já que a imprensa local pouco faz neste sentido.

Sobre MG:
A situação não é nada confortável para Aécio e apoiadores. Já comentei o temor dos partidos aliados perderem cargos comissionados que alimentam sua existência. As dificuldades para encontrar um nome forte e confiável à sucessão de Anastasia são muitas. O nome mais apreciado, no momento, é do presidente da Assembléia Legislativa. Também é citado o nome do prefeito Marcio Lacerda, com o inconveniente dele ser do PSB, o que poderá diminuir sobremaneira o espaço de Aécio num futuro governo estadual (caso Lacerda vença o pleito) já que a possibilidade de candidatura avulsa de Eduardo Campos (ou aliança com Dilma) em 2014 acabará por amarrar Lacerda. Sem governo estadual e na possibilidade de perder a eleição federal, o destino de Aécio começa a ganhar contornos de alto risco político.”

Sobre as notas, abaixo, do Porandubas Políticas:
Gaudêncio destaca a guerra de posição no interior do PSDB, envolvendo paulistas e mineiros. Sinto que é mais uma ofensiva (ou ataque defensivo) dos paulistas que um conflito aberto entre duas forças. Em outras palavras, os tucanos mineiros parecem passivos. É fato que um ataque aberto diminuiria ainda mais o brilho do verniz de Aécio Neves, mas a movimentação de Alckmin e Serra, ao final, podem provocar estrago semelhante. Tem a ver com cultura e estilo opostos. Mas também tem relação com poder econômico e paternidade do PSDB.
Gaudêncio percebe, ainda, ausência de proposta substantiva entre aecistas, incluindo seu cacique maior. Problema de toda oposição, eu acrescentaria.
Ao final das notas que reproduzo a seguir, Gaudêncio detalha um cenário em que há espaço para uma terceira força em 2014. Sua análise se concentra em São Paulo. Mas percebo que esta possibilidade ganha força a cada eleição, país afora. O sistema partidário está absolutamente desgastado e o que segura as aparências são os esquemas perversos de alianças que percorrem o Palácio do Planalto até os municípios, os programas de transferência de renda e a festa (com sabor de desforra, de um lado, e de confirmação de poder, de outro) que ainda envolve todo período eleitoral no Brasil. Esta festa é uma das expressões da tradição política brasileira, algo grupal, de origem coronelística, envolvendo toda "entourage" (coronel, cabos, apoiadores desavisados e incautos etc). É verdade que, a levar em consideração o crescente número de abstenção e votos nulos e brancos das últimas eleições, esta "brincadeira juvenil" pode estar perdendo sua atração.
Vamos aos pitacos de Gaudêncio Torquato:
A campanha está nas ruas
No Brasil, o terreno da política é sempre movediço. Há buracos aqui e ali, entrâncias e reentrâncias para entrada e saída dos atores políticos. O remelexo é constante. Idas e vindas, articulações e desarticulações ocorrem ao sabor das circunstâncias. Por isso mesmo, a campanha de 2014 ganha as ruas. A presidente Dilma, em pronunciamento em rede de TV, anuncia redução do custo da energia elétrica para os consumidores e empresas, em claro posicionamento eleitoreiro. A bandeira da luz mais barata é popular. Na esteira da insinuação da presidente, o governador de PE, Eduardo Campos, do PSB, volta às manchetes e primeiras páginas de revista. O líder do PSB, Beto Albuquerque, anuncia : depois do pronunciamento de Dilma, não há mais como esconder a candidatura de Campos.
Já os tucanos...
Enquanto isso, os tucanos fazem sua Convenção partidária, forma de revitalizar o ânimo das bases. José Serra reaparece na cena com seu primeiro discurso após perder a prefeitura de SP para o petista Fernando Haddad. E o que fazem os partidários do governador Geraldo Alckmin ? Lançam Serra na esfera da candidatura à presidência em 2014. Contra Aécio. Quer dizer, SP contra Minas. Nada de café com leite. Café de um lado, leite de outro. Aécio, por sua vez, abre o bico e descreve o travamento da gestão federal. Seu discurso é mero diagnóstico. Carece de propostas substantivas.
Cadê o projeto Brasil ?
Aliás, essa é a questão que bate na floresta tucana. Onde está o Projeto para o Brasil ? O que o país poderia esperar dos tucanos além de bicadas? As oposições estão travadas no âmbito do discurso. Falar por falar, denunciar por denunciar não leva a nada. Fernando Henrique apóia Aécio. Alckmin apoiaria Serra. Claro, até para poder tirá-lo de sua rota, que é a reeleição ao governo de SP em 2014.
Divisão de poder
Em política, tudo é possível. Inclusive, a entrega da prefeitura da Capital e do governo do Estado a um mesmo partido. Mas isso é algo bastante difícil. O eleitor tende a repartir o poder. Entrega a capital para ser administrada por um partido e o Estado por outro. Por isso, este consultor acha complicada a operação/intenção de Lula de eleger o ministro Padilha, da Saúde, como governador do Estado. Parece mais viável um candidato de outro partido, que não o PT. Esta agremiação, aliás, divide o eleitorado. Uma parte a ela se engaja, outra toma distância. A rejeição ao PT continua alta em SP. Mas o partido, sem dúvida, tem condições de jogar seu candidato no segundo turno.
Corrosão de material
Diante disso, surge a questão : quer dizer que é mais fácil para o PSDB ganhar o governo de SP ? Em tese, sim. Mas há um fator complicador. É aquilo que o marketing político batiza de "corrosão de material". São 20 anos de poder tucano no Estado de SP. Tempo considerado limítrofe para se constatar os primeiros sinais de desgaste da identidade. Explico : Identidade é a coluna vertebral do ator político, seja ele pessoa jurídica, um governo, seja ele pessoa física, o governador Geraldo Alckmin, por exemplo. Identidade é a soma do discurso, ações, propostas, ideários, atitudes, forma de governar, ao lado do plano estético - visual do governo, gestos pessoais, etc. Depois de muito tempo, essa composição vai ganhando tons de cinza ou de amarelo desbotado. O discurso fica velho. O eleitor quer distinguir um novo colorido na paisagem.
O jeito Alckmin de governar
Geraldo Alckmin é, como diz a linguagem dos setores médios, um gentleman. Educado, pessoa de fino trato, cordial, ou, para usar outra imagem, o perfil do sogro ideal. Ao contrário de Mario Covas, um perfil rompante, destemido, que exibia autoridade na fala e nos gestos. Covas era conhecido pela coragem de enfrentar todos os obstáculos. Partiu para cima de um grupo que o apupava na entrada da Escola Caetano de Campos. Alckmin, ao contrário, tem jeito de que é incapaz de matar uma mosca. O estilo é a pessoa, já diziam os clássicos da literatura. Pinço a observação para a política. A identidade do governo de SP leva muito dos traços pessoais de Alckmin. Suave, maneiroso, sem um tronco firme (uma coluna vertebral) que possa identificar a administração. Esse é o busílis, o entrave, que dificultará a reeleição de Alckmin.
Alternativas
O PMDB deverá fechar posição em torno de Paulo Skaf, presidente da FIESP. Trata-se de um perfil conhecido pelo ativismo e empreendedorismo. Skaf foi reeleito por unanimidade para a maior Federação de Indústrias do país. Mudou a feição da casa, transformando-a em foro de debates diários. Ali se vêem ministros, ex-ministros, grandes economistas e analistas da cena brasileira. Lidera ele grandes causas, como o barateamento do custo da energia, uma campanha da FIESP. Portanto, se for o candidato do PMDB e dispuser de um bom espaço de TV, poderá ser o meio termo entre o continuísmo tucano e o oposicionismo petista, que já ocupa o terreno municipal. Há, ainda, o nome do ex-prefeito Kassab. Trata-se de um grande articulador. Mas terá ele de quebrar grandes resistências a seu nome e redesenhar os costados da imagem. Além disso, sobraria para ele a disputa ao Senado. Também uma chance.
E Suplicy ?
Pois é, em 2014, haverá apenas uma vaga em disputa para o Senado. Eduardo Suplicy, o eterno senador petista, continuará a ter preferência ? Na visão deste consultor, trata-se de um perfil que também atravessa o corredor onde estão os materiais corroídos pelo tempo. Suplicy toparia ser candidato a deputado ? Minha impressão é de que o PT vai desviá-lo da Câmara Alta (Senado) e candidatá-lo à Câmara Baixa (Câmara dos Deputados).

Por que os impérios Facebook e Apple estão fadados a cair



“Nada dura para sempre: se a história tem uma lição a nos dar, é essa. É um pensamento que vem da releitura do volume magistral de Paul Kennedy, Ascensão e Queda das Grandes Potências, em que ele mostra que nenhuma das grandes nações-Estados da história — Roma; a Espanha imperial em 1600; a França em suas manifestações Bourbon e bonapartista; a República Holandesa em 1700; a Grã-Bretanha em sua glória imperial — conseguiram manter sua ascendência global por muito tempo.

Foto: GOIABA (Goiabarea)/Flickr
O que isso tem a ver com a tecnologia? Bem, é uma maneira útil de pensarmos sobre duas das grandes potências tecnológicas mundiais. A primeira é a Apple. Na semana passada houve uma verdadeira torrente de reação histérica a seu balanço trimestral, juntamente com especulações febris sobre seu futuro. O mundo está hipnotizado há anos pela metamorfose da Apple de uma fabricante de computadores quase falida em uma gigante corporativa que atualmente, em alguns dias, é a companhia mais valiosa do mundo, com reservas de caixa maiores que o PIB anual de alguns países. Mas, assim como com todas as curvas de crescimento inexorável, a pergunta nos lábios de todo comentarista é: a Apple atingiu o pico?

Se você acha que “histérica” é um pouco duro, avalie isto: apesar de a Apple não ter vendido os 50 milhões de iPhones previstos para o trimestre (ela “só” vendeu 47,8 milhões) e as vendas de seus computadores Mac terem caído um pouco, de todo modo o resultado trimestral significa que em 2012 a Apple faturou mais que qualquer outra corporação em todos os tempos. E até o rendimento supostamente decepcionante de 13,1 bilhões de dólares foi o quarto maior de todos os tempos, segundo a mesma medição. E a reação do mercado de ações a essa notícia? O preço da ação caiu 10% após o pregão.

Depois há a rede social Facebook, com seus bilhões de usuários, que também é o foco de muitos comentários excitados. Recentemente, o império de Mark Zuckerberg lançou sua última arma mortífera com o nome atraente de Graph Search (busca gráfica). O novo instrumento do Facebook é apenas um algoritmo que encontra informações na rede de amigos de uma pessoa e complementa os resultados com acertos da máquina de buscas Bing da Microsoft, mas ao ler alguns comentários sobre ela você pensaria que Zuckerberg e Co. tivessem inventado uma máquina de movimento perpétuo ou uma passagem sem escalas para o inferno.

“A nova máquina de buscas do Facebook tenta construir muros ao redor da internet e manter sua horda dentro dos portões”, escreveu o webmaster de uma respeitada revista online. “É um pesadelo, e provavelmente vai dar certo.”

Na verdade, é a última tentativa do Facebook de se tornar a AOL de hoje. E afinal ela vai falhar pelo mesmo motivo que a tentativa da AOL de encurralar os usuários em seu jardim murado falhou: a internet mais ampla é simplesmente diversificada, inovadora e interessante demais. Mas, como o Facebook ocupa um lugar tão grande na consciência do público neste momento, é difícil mantê-lo em perspectiva. E é por isso que o livro de Kennedy é uma leitura tão salutar.

Assim, o que precisamos lembrar enquanto percorremos os atuais comentários superaquecidos sobre Apple e Facebook é que nada dura para sempre. Estou neste ramo há tempo suficiente para lembrar uma época em que a Microsoft era pelo menos tão predominante e assustadora quanto essas duas empresas são hoje. Avance algumas décadas e a Microsoft continua aí, mas hoje é uma gigante em dificuldades — rentável, mas não mais inovadora, tentando (até agora sem sucesso) pôr um pé no mundo pós-PC, do celular e baseado na nuvem.

Embora o eclipse da Apple e do Facebook seja inevitável, o momento e as causas de seus eventuais declínios serão diferentes. A força atual da Apple é que ela realmente faz coisas que as pessoas ficam desesperadas para comprar e com as quais a empresa tem lucros enormes. A lógica inexorável do negócio de hardware é que esses lucros vão declinar com o aumento da concorrência, então a Apple será menos rentável em longo prazo. O que determinará seu futuro é se ela poderá inventar novos produtos que criem um mercado, como iPod, iPhone e iPad.

O Facebook, por outro lado, não faz nada. Apenas oferece um serviço online que, por enquanto, as pessoas parecem valorizar. Mas para ganhar dinheiro com esses usuários e satisfazer os cidadãos de Wall Street ele precisa se tornar cada vez mais intruso e manipulador. Em outras palavras, está condenado a um excesso de intrusão. E é por isso que, no final, se tornará uma nota de rodapé na história da internet. Exatamente como a Microsoft, na verdade. Sic transit gloria."
John Naughton, CartaCapital / The Observer

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

O choro dos descontentes



O que parecia apenas uma piada - de mau gosto - virou fato: o PSDB entrou mesmo com uma representação pedindo que a Procuradoria Geral da República apresente uma ação de improbidade administrativa contra a presidente Dilma Rousseff pelo anúncio, em cadeia nacional de rádio e TV, da redução das tarifas de energia elétrica.
Os tucanos argumentam que Dilma usou a máquina pública para atacar a oposição e, assim, antecipar sua campanha pela reeleição de 2014. Segundo o vice-líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), Dilma deixou claro que não falava para a nação, mas a seus eleitores. "Ao invés de falar ao povo, ela definiu o povo como sendo contrários a seu governo ou favoráveis", afirmou. "Ela não pode se valer da estrutura do Estado para fazer campanha antecipada. A pergunta que não quer calar é será que ela vai se valer da estrutura do Estado, dos pronunciamentos, para anunciar o aumento da inflação do ano passado, do aumento da gasolina? Não é possível fazer campanha às custas do dinheiro público."
Na ação, os tucanos alegam que o pronunciamento usou recursos gráficos semelhantes aos aplicados na propaganda eleitoral de Dilma em 2010. "Ela deixou de usar o brasão da República para usar a logomarca do governo. Ao invés de aparecer o nome Dilma Rousseff, enalteceu-se o nome Dilma, justamente para enaltecer o nome que fez a campanha eleitoral, e ainda usou uma roupa vermelha que é a cor do PT."
Na mesma terça-feira, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, informou que enviará nos próximos dias à primeira instância do Ministério Público as informações prestadas pelo empresário mineiro Marcos Valério na tentativa de envolver diretamente o ex-presidente Lula ao esquema do chamado mensalão. "Estou apenas concluindo a análise para que possa efetivamente verificar se não há qualquer pessoa com prerrogativa de foro envolvida e, em não havendo, como o ex-presidente já não detém essa prerrogativa de foro, a hipótese será de envio à procuradoria da República em primeiro grau", disse.
As duas notícias, lidas isoladamente, poderiam indicar que a democracia no Brasil funciona plenamente, já que permite às minorias, no caso os tucanos, manifestar livremente sua indignação, assim como ao sistema Judiciário exercer sem impedimento de nenhum tipo as suas funções.
Lidas em conjunto, porém, indicam que há mais do que simples aviões de carreira no ar.
Mostram que para certos grupos sociais a democracia não é uma coisa boa, já que possibilita que eles, de acordo com a decisão soberana do povo, via eleição, fiquem marginalizados no processo político.
Para tais pessoas, os do contra, isso tem de acabar.
De um modo ou de outro.
Dá para entender?

cronicasdomotta