sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

MENOR DESEMPREGO DA HISTÓRIA DO BRASIL!



Fonte da imagem AQUI.

O desemprego brasileiro caiu para 4,7% em dezembro, ante 5,2% em novembro, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira. Com isso, a taxa fechou 2011 com a média de 6,0% , sendo que em 2010 ela havia ficado em 6,7%.

Os resultados de dezembro e do ano são os menores desde o início da série em 2002. Economistas consultados pela agência inglesa de notícias Reuters projetavam leitura de 4,9% em dezembro.

No mês passado, a população ocupada caiu 0,4% em comparação a novembro, totalizando 22,734 milhões. Sobre dezembro de 2010, houve um crescimento de 1,3%.

Na média de 2011, a população ocupada avançou 2,1% ante 2010, chegando a 22,5 milhões.

O salário médio do trabalhador brasileiro, em dezembro, ficou em R$1.650,00, um ganho de 1,1% sobre novembro e de 2,6% em relação a um ano antes.

Na média do ano passado, o salário médio ficou em R$1.625,46, crescimento de 2,7% sobre a média de 2010 e o maior patamar médio da série do IBGE.

CdB

O capital ou a vida?

O Sacrifício de Isaque (1635), pintura de Rembrandt

Por Frei Betto *
O melhor papai-noel do mundo mereceram 523 instituições financeiras europeias quatro dias antes do Natal: 489 bilhões de euros (o equivalente a R$ 1,23 trilhão), emprestados pelo BCE (Banco Central Europeu) a juros de 1% ao ano! Curiosa a lógica que rege o sistema capitalista: nunca há recursos para salvar vidas, erradicar a fome, reduzir a degradação ambiental, produzir medicamentos e distribuí-los gratuitamente. Em se tratando da saúde dos bancos, o dinheiro aparece num passe de mágica.

Há, contudo, um aspecto preocupante em tamanha generosidade: se tantas instituições financeiras entraram na fila do Bolsa-BCE, é sinal de que não andam bem as pernas. Quais os fundamentos dessa lógica que considera mais importante salvar o mercado que vidas humanas? Um deles é mito de nossa cultura: o sacrifício de Isaac por Abraão (Gênesis 22. 1-19).

No relato bíblico, Abraão deve provar a sua fé sacrificando a Javé seu único filho, Isaac. No exato momento em que, no alto da montanha, prepara a faca para matar o filho, o anjo intervém e impede Abraão de consumar o ato. A prova de fé fora dada pela disposição de matar. Em recompensa, Javé cobre Abraão de bênçãos e multiplica-lhe a descendência como as estrelas do céu e as areias do mar.

Essa leitura, pela ótica do poder, aponta a morte como caminho para a vida. Toda grande causa – com a fé em Javé – exige pequenos sacrifícios, que acentuem magnitude dos ideais abraçados. Assim, a morte provocada, fruto do desinteresse do mercado por vidas humanas, passa a integrar a lógica do poder, como o sacrifício necessário do filho Isaac pelo pai Abraão, em obediência à vontade soberana de Deus. Abraão era o intermediário entre o filho e Deus, assim como o FMI e o BCE fazem a ponte entre os bancos e os ideais de prosperidade capitalista dos governos europeus – que, para escapar da crise, devem promover sacrifícios.

Essa mesma lógica informa o inconsciente do patrão, que sonega o salário de seus empregados sob o pretexto de capitalizar e multiplicar a prosperidade geral, e criar mais empregos. Também leva o governo a acusar as greves de responsáveis pelo caos econômico, mesmo sabendo que resultam dos baixos salários pagos aos que tanto trabalham sem ao menos a recompensa de uma vida digna.

O deus da razão do mercado merece, como prova de fidelidade, o sacrifício de todo um povo. Todos os ideais estão prenhes de promessas de vida: a prosperidade dos bancos credores, a capitalização das empresas ou o ajuste fiscal do governo. Salva-se o abstrato em detrimento do concreto, a vida humana. O espantoso dessa lógica é admitir, como mediação, a morte anunciada. Mata-se cruelmente por meio do corte de subsídios a programas sociais; da desregulamentação das relações trabalhistas; do incentivo ao desemprego; dos ajustes fiscais draconianos; da recusa de conceder aos aposentados a qualidade de uma velhice decente.

A lógica cotidiana do assassinato é sutil e esmerada. Aqueles que têm admitem como natural a despossessão dos que não têm. Qualquer ameaça à lógica cumulativa do sistema é uma ofensa ao deus da liberdade ocidental ou da livre iniciativa. Exige-se o sacrifício como prova de fidelidade. Não importa que Isaac seja filho único. Abraão deve provar sua fidelidade a Javé. E não há maior prova do que a disposição de matar a vida mais querida.

A lógica da vida encara o relato bíblico pelos olhos de Issac. Ele não sabia que seria assassinado, tanto que indagou ao pais onde se encontrava o cordeiro destinado ao sacrifício. Abraão cumpriu todas as condições para matar o filho. Subjugou-o, amarrou-o, colocou-o sobre a lenha preparada para a fogueira e empunhou a faca para degolá-lo. No entanto, inspirado pelo anjo, Abraão recuou. Não aceitou a lógica da morte. Subverteu o preceito que obrigava os pais a sacrificarem seus primogênitos. Rejeitou as razoes do poder. À lei que exigia a morte, Abraão respondeu com a vida e pôs em risco a sua própria, o que o forçou a mudar de território.

Se não mudarmos de território – sobretudo no modo de encarar a realidade –, como Abraão, continuaremos a prestar culto e adoração a Mamom. Continuaremos empenhados em salvar o capital, não vidas, e muito menos a saúde do planeta.

No Observatório social

Escândalo de corrupção por vazamento de cartas abala Vaticano


 


O Vaticano foi sacudido por um escândalo de corrupção nesta quinta-feira (26) depois que a investigação de uma televisão italiana informou que uma autoridade do alto escalão foi transferida após reclamar sobre irregularidade na concessão de contratos.


O programa “Os Intocáveis”, transmitido na respeitada rede de televisão privada L7, mostrou na noite desta quarta-feira (25) o que disse ser cartas enviadas em 2011 pelo arcebispo Carlo Maria Vigano, então vice-governador da Cidade do Vaticano, a seus superiores, incluindo ao papa Bento 16, sobre a corrupção.


O Vaticano emitiu uma declaração nesta quinta-feira criticando os “métodos” usados na investigação jornalística. Mas confirmou que as cartas são autênticas ao expressar “tristeza pela publicação de documentos reservados”.


Como vice-governador da Cidade do Vaticano por dois anos entre 2009 e 2011, Vigano era o número dois de um departamento responsável pela manutenção de jardins, edifícios, ruas, museus e outros pontos de infraestrutura da minúscula cidade-Estado.


Atualmente embaixador do Vaticano em Washington, Vigano disse nas cartas que, quando assumiu o cargo em 2009, descobriu uma rede de corrupção, nepotismo e clientelismo associados à concessão de contratos a companhias de fora com preços inflacionados.


Transferência


Em uma carta, Vigano conta ao papa sobre uma campanha difamatória contra ele (Vigano) promovida por outras autoridades do Vaticano que queriam a sua transferência porque estavam insatisfeitos com as medidas drásticas que ele havia tomado para poupar o dinheiro do Vaticano ao racionalizar os procedimentos.


“Santo Padre, minha transferência agora provocaria desorientação e desestímulo aos que acreditaram que era possível limpar tantas situações de corrupção e de abuso de poder enraizadas na administração de tantos departamentos”, escreveu Vigano ao papa em 27 de março de 2011.


Em outra carta ao papa em 4 de abril de 2011, Vigano afirmou ter descoberto que a administração de alguns investimentos da Cidade do Vaticano havia sido confiada a dois fundos gerenciados por um comitê de banqueiros italianos “que cuidava mais de seus interesses do que dos nossos”.


No dia 22 de março de 2011, o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone, informou que Vigano estava sendo retirado de seu posto, embora ele devesse ter ficado no cargo até 2014.


(Reuters)
(Blog do Eliomar)

Assim caminha a humanidade...

Até o final do sec XIX, os abolicionistas eram vistos como subversivos.
 
Hoje, embora continuemos vivendo em um pais racista, não existe mais ambiente para manifestações públicas de preconceito. Quando elas ocorrem, provocam imediata reação social.
 
Na primeira guerra do Golfo em 1991, muita gente dizia: "Isso mesmo, tem que bombardear o Iraque, os EUA estão defendendo o mundo livre".
 
Já em 2003, os EUA ficaram quase isolados nos órgãos internacionais, o que desencadeou numa crise de sua hegemonia.
 
Durante anos vi algumas desocupações violentas da polícia, mas agora percebo uma mobilização muito grande da sociedade contra o que ocorreu no Pinheirinho.
 
Estou certo que Alckmin terá um sério prejuizo eleitoral. Talvez já nas eleições municipais.
 
Prefiro acreditar que as coisas estão mudando para melhor.
 
Não dá para imaginar uma economia maior do que a da Inglaterra com tamanha miséria espalhada.
 
Entendo que dentro em breve este país tão desigual perceberá a importância de uma melhor distribuição de renda.
 
E se não for no jeitinho, vai ser na porrada mesmo.
 
Só que tem uma coisa: Sempre haverá ESCROTOS entre nós!
 
Em qualquer tempo na história!

Lábia Universal


As autoridades dão um tratamento opaco aos processos criminais contra a Iurd, afirma ativista de direitos humanos. Foto: Rowan Moore Gerety
Poucos lugares do planeta fornecem terra mais fértil para uma mensagem de cura e prosperidade do que Moçambique. Com 90% da população tentando sobreviver com menos de dois dólares por dia, com metade das crianças sofrendo com desnutrição crônica, o país africano tornou-se um poderoso centro de captação de adeptos para a Igreja Universal do Reino de Deus, a Iurd.
Um exemplo do poder que a neopentecostal brasileira adquiriu em Moçambique ocorreu numa manhã de setembro de 2011. A Iurd promoveu o chamado “Dia de Decisões” (ou “Dia D”), um megaculto realizado no Estádio Nacional de Maputo, capital moçambicana. Teve como objetivo promover curas e demonstrações de fé e, claro, atrair novos fiéis. A igreja reuniu 42 mil pessoas no local e ainda viu outras 30 mil se aglomerarem do lado de fora, acompanhando via telão. As pessoas carregavam rosas nas mãos, símbolo do evento. A compor a massa estavam, entre ou-tros desesperados, jovens vítimas de poliomielite com suas bengalas, camponeses idosos descalços e vendedores ambulantes a sonhar com uma recompensa maior.
O megaculto marcou um ano lucrativo para a Iurd em Moçambique. O canal de televisão da igreja, a TV Miramar, ratificou-se como a líder de audiência. O seu apóstolo, Edir Macedo, foi recebido pelo presidente, Armando Guebuza. O chamado “Cenáculo da Fé”, um megatemplo para cultos, foi inaugurado em Maputo. E, por último, a concentração de populares no Dia D, que contou com a presença do primeiro-ministro Aires Ali e da ministra da Justiça, Benvinda Levy, entre outros figurões da política local.
Durante 20 anos de existência em Moçambique, a Iurd cresceu sempre além das expectativas e apesar das vozes contrárias de seus críticos. Nos primeiros anos da expansão, a Iurd enfrentou o então ministro de Cultura e Desporto, Mateus Katupha, que criticou o uso de instalações esportivas para eventos religiosos (enquanto seu atual sucessor presenciou o Dia D in loco). Em meados dos anos 1990, o falecido Carlos Cardoso, estrela do jornalismo moçambicano, publicou uma série de editoriais dizendo que a Iurd constituía uma empresa, ao invés de uma igreja, e como tal, deveria ser sujeita a impostos. -Concorrentes do canal Miramar – a TIM e a STV – têm feito reportagens sobre ex-fiéis da Iurd que entregaram as suas casas à igreja, na esperança de recompensas divinas.
Até hoje, epítetos como “Pastores Ladrões” e a “Igreja de Burla” (fraude), em homenagem à Universal, ecoam nos transportes públicos em Maputo. Descontentes com a igreja de Edir Macedo existem aos borbotões.
Num grupo de coral de outra igreja, a reportagem encontrou três personagens que lamentam ter participado dos quadros da Iurd. Graça entregou um crédito bancário no altar da Iurd para resolver um conflito com seu marido. Selma, que procurou seu filho durante 20 dias na Suazilândia e, aconselhada por um pastor, doou 1,2 mil dólares à igreja antes de tomar conhecimento do seu assassinato. E Felicidade, que interrompeu a construção da sua casa e deixou 25 sacos de cimento no quintal da igreja para se beneficiar de uma bênção anônima.
As três senhoras recordavam as exortações, entrevistas individuais e visitas à casa feitas pelos pastores da Universal, prática posteriormente considerada pelas três como mecanis-mo de manipulação.
Apesar das críticas, a Iurd estabeleceu-se como um ancoradouro na corrente principal da sociedade moçambicana. Nenhuma das queixas-crimes apresentadas contra a Iurd já logrou uma decisão judicial. A TIM e a STV cobram alto pelo enquadramento dos spots da Iurd em suas programações. A imprensa independente, apesar dos comentários ocasionalmente mordazes contra ela, deixa-se subsidiar pela propaganda. Um anúncio recente mostra um grupo de fiéis levantando retratos do presidente Guebuza durante uma “oração pela paz” da Iurd.
Tensões antigas com membros do gover-no foram resolvidas por meio de uma sutil simbiose com a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), o partido no poder. “Certo, há muitos críticos”, assentiu José Guerra, fundador e presidente da Iurd em Moçambique. “Mas a Igreja fica mais cheia todos os dias.”
Para o Dia D, a estratégia de coerção da Universal assumiu o estilo das campanhas eleitorais. Caminhões com alto-falantes percorreram de forma constante os bairros de Maputo durante dois meses, tocando uma quizomba (música típica) sob encomenda.
A base da publicidade era um pôster, onipresente nas paredes e nos esgotos de Maputo, demonstrando o poder cura-tivo da fé: um par de pés coberto de repugnantes lesões (“Antes”) e, do outro lado, outro par, saudável e sem mancha nenhuma (“Depois”). “Meu nome é Armando”, anunciava o cartaz. “Sofri com feridas nos pés durante muito tempo. Mas, no dia em que tomei a decisão de participar de uma concentração de fé, fui curado e hoje estou livre.”
A Iurd foi a primeira igreja evangélica a se implantar em Moçambique, depois da longa e devastadora “Guerra de Desestabilização” (1976-1992).
A memória da antipatia marxista à religião, durante os primeiros anos da independência e do catolicismo paternalista do estado colonial, permitiu que a Iurd encontrasse um povo aberto a uma nova forma de expressão religiosa. Ganhou adeptos com o mesmo discurso existente no Brasil: a flexibilidade das suas orações, a ausência de regras fixas para os fiéis e, acima de tudo, pela grandeza da sua promessa de transformação pessoal.
Para cativar os fiéis, a Universal utiliza-se das mesmas mandingas e talismãs típicos das religiões afro de Moçambique, justamente as que tanto criticam por, na visão da própria Iurd, promoverem “feitiçaria”. A utilização de um óleo abençoado e um tratamento espiritual à base de envelopes com dicas a seguir (e pedidos de donativos) são de praxe. “Eles entendem de feitiçaria e tradição africana muito bem. Dão incensos, pulseiras e todas as coisas que um curandeiro dá”, afirma o Pastor Claudio Mulungo, da concorrente Igreja Maná.
A Igreja Universal, como a própria admite, tem a ousadia de prometer milagres a quem tiver a ousadia de pedi-los com convicção – muitos deles ambíguos e presenciados pela reportagem.
E todos os “milagres” do Dia D tenderam ao “infalível” frente às câmeras do Miramar. Um idoso com dores crônicas nas pernas conseguiu correr e tornou-se, nas palavras do pastor acompanhante, um paraplégico curado. Quando voltou a sentar, o senhor me confiou, em voz baixa, que seus pés recomeçaram a doer. Na lógica da Iurd, não “ser abençoado” ou não se beneficiar de um milagre qualquer significa um sacrifício insincero, uma fé insuficiente por parte do fiel. Os milagres malogrados (como o de um rapaz em cadeira de rodas, acorrentado a um cateter, a quem o testemunho público nem foi proposto, apesar do esforço feito para se levantar) não são divulgados. O mais importante é mostrar o sentimento do possível, de acreditar numa inversão da pers-pectiva calvinista: quem for um crente perfeito terá recompensa sem limite.
Dois dias antes do Dia D, Alice Mabota, presidente da Liga Moçambicana de Direitos Humanos (LDH), folheou o Código Penal, detendo-se no crime de burla – obtenção dos bens de outrem por meios fraudulentos.
A aplicação da lei a donativos religiosos poderia estabelecer um prece-dente polêmico: os partidários da Iurd defendem-se de acusações de burla por invocarem a livre e espontânea vontade dos doadores. Porém, existem casos na Iurd, afirma Mabota, que se aproximam de contratos verbais.
O escritório de serviços paralegais da Liga em Maputo recebe, com regularidade, reclamações de burla contra a Iurd, mas os queixosos sempre desistem antes de levar os seus casos à Procuradoria. Algumas disputas laborais da Iurd (por dispensas ilícitas, dívidas à segurança social, discriminação entre moçambicanos e brasileiros) foram resolvidas por acordos de indenização em favor de ex-funcionários da igreja, que já gastou mais de 100 mil dólares com isso. Várias grandes empresas estrangeiras em Moçambique já foram penalizadas dessa forma. Porém, os poucos processos de crime já iniciados contra a Iurd, segundo Mabota, são reféns de uma instrução opaca por parte da Procuradoria.
“Em um Estado normal, (esses casos) receberiam uma decisão. Mas aqui, não. É por causa do poder de influência da igreja através do medo.” As atividades da igreja de Edir Macedo em Moçambique não parecem ter suscitado o menor interesse das autoridades tributárias. “Aqui, em Moçambique”, disse Felicidade, antiga integrante da Universal, “eles (a Iurd) fazem e desfazem, porque o nosso governo aceita.”
Alice Mabota enumerou vários membros influentes do governo adeptos da igreja de Macedo. “Por que nossos dirigentes a frequentam?”, interrogou-se.
“Para mim, é o governo a cuidar de si mesmo. Quando chega a hora de votar, eles vão mobilizar todo o povo da Igreja Universal para votar neles.”
Ela vê um padrão de exploração no discurso de esperança ilimitada e sacrifício material promovido pela Universal. “O que é que vão decidir no Dia D?”, perguntou-me, dias antes do evento: “Vão decidir ter marido, vão decidir ter emprego, vão decidir serem ricos. Acha que é verdade? Mas como dizer a uma pessoa que não tem instrução para não acreditar nisso se deseja tanto acreditar?”.
No Dia D, após a “hora dos milagres”, a multidão foi instruída para voltar para casa com as suas rosas, que atrairiam todo o ruim, todo o mal no ambiente, para depois as levarem a uma Igreja Universal no domingo seguinte, a fim de serem incineradas. “As coisas mudam pouco a pouco”, concluiu Amélia, uma fiel que esperava para partir na boleia de um caminhão.
“Não vale a pena mudar de igreja só por não ver um milagre todos os dias. O Dia me mostrou que Deus existe”, insistiu. Mas eu liguei dias depois para Amélia e, até hoje, sua rosa ficou em casa.

Rowan Moore Gerety, CartaCapital

Mercadante e a revolução do ensino

Na Livraria


Em todos os governos, os ministérios, sendo interdependentes, se completam. O ideal seria que os ministros, cada um em sua área, tivessem os mesmos atributos de liderança, igual inteligência do mundo e semelhante postura ética. De nada nos vale um bom ministro de Planejamento técnico, se o governo tiver um ministro da Fazenda lerdo, que não incite os órgãos arrecadadores a agirem com presteza a fim de suprir o Tesouro dos recursos tributários. Dentro dessa visão geral da administração pública, e da condução política do Estado, todos os ministros se equivalem, diante da necessidade do país.           
O desenvolvimento econômico está relacionado com a ampliação da rede de ensino
Há, no entanto, um Ministério que supera os demais, o da Educação - porque de seu êxito depende o futuro. Nós estivemos entre os países mais atrasados do mundo no que se refere ao ensino. Até a República, a educação era privilégio exclusivo das elites oligárquicas, sobretudo nos meios rurais. Aos escravos era vedada a educação pública, e os poucos negros alfabetizados deviam esse privilégio ao humanismo de raríssimos senhores. O fim da escravidão e o trabalho assalariado não mudaram essencialmente a situação. O conhecimento, que seria a libertação dos trabalhadores pobres, significava a redução do poder dos proprietários dos engenhos e fazendas, obrigados a pagar mais a seus agregados, ou perdê-los para o êxodo rumo às cidades.            
O desenvolvimento econômico nacional que tivemos, a partir da República, está diretamente relacionado com a ampliação da rede de ensino. Temos caminhado devagar, porque o imobilismo social foi historicamente o mandamento maior das elites políticas conservadoras - como muitas delas ainda se identificam. Basta, para isso, submeter-se à paciência de examinar as ideias da senhora Kátia Abreu. Durante os quarenta anos iniciais do sistema republicano, alguma coisa mudou, mas foi muito pouca, em um ou outro estado. Nisso, e em outros aspectos da vida brasileira, a Revolução de 30 constituiu um grande avanço, com a famosa plataforma da Aliança Liberal.  
Mas – e essa é outra constatação amarga – a ampliação da rede escolar vinha sendo feita à custa da deterioração da qualidade do ensino. Isso ficou mais grave nos governos militares, e muitíssimo mais dramática nos oito anos de Fernando Henrique e Paulo Renato de Sousa, que favoreceram o aparecimento de cursos universitários privados, de péssima qualidade. Entre os absurdos, carreiras profissionais modestas foram elevadas ao nível universitário, mediante treinamento de dois ou três anos.   
Embora em alguns cursos de ciências exatas, como os de engenharia, química e física, haja ilhas de excelência no ensino particular, em direito e medicina, o descalabro tem sido espantoso. A ignorância atestada pelos exames da OAB demonstra que o ensino privado, excluídas as exceções conhecidas, se tornou uma atividade criminosa. No caso da medicina, a catástrofe é maior, porque não existem exames corporativos, como no caso do direito.
O Ministro Aloízio Mercadante começa bem, ao assumir a responsabilidade pela educação nacional. Ele identificou na alfabetização o problema maior do ensino. Embora a educação elementar seja de responsabilidade maior dos estados e municípios, cabe ao Ministério da Educação estabelecer as normas didáticas e pedagógicas. O fato é que as crianças não estão aprendendo a ler no momento certo, antes dos oito anos. Os primeiros anos da escola primária devem  ser dedicados a ensinar as criança a ler, no sentido da compreensão dialética do texto,  e a redigir, com clareza, não só ao interpretar as lições recebidas como narrar a própria experiência de vida, ou avançar no exercício da imaginação. Da mesma forma, devem, nesses mesmos anos, aprender a realizar as quatro operações básicas da aritmética, que constituem, com o alfabeto, as chaves para o entendimento do mundo.
A partir disso, tudo se torna mais fácil. Mas não podemos esperar mais vinte anos para mudar a realidade nacional. É preciso, sim, recuperar o tempo perdido, e nisso é bom reconhecer os esforços de Lula. Como todos os autodidatas, ele sabe, pelo próprio sofrimento, o que significa lutar para a aquisição de conhecimento e  enfrentar o preconceito dos “bem nascidos”  - e bem “educados”. O retirante de Garanhuns fez mais pela educação em nosso país do que todos os governos anteriores.
Em contraponto ao governo que o antecedeu, e que abandonou a universidade pública, a fim de estimular a indústria privada do ensino, Lula criou 14 conjuntos universitários federais, em seus oito anos de governo. Mesmo assim, não quebrou o recorde de Juscelino que, em seus cinco anos de mandato, criou dez universidades federais – em momento de fulgurante desenvolvimento geral do país, e de ocupação do Centro Oeste e da Amazônia Meridional.
O governo tem sabido governar, mas não consegue comunicar-se como é necessário. Lula, além das novas universidades federais, abriu 126 novoscampi de ensino superior e 214 escolas técnicas. No caso das escolas técnicas, isso não significa cumprir o plano das elites do poder, de reprodução das classes compartimentadas - que determina que os doutores devem ser filhos de doutores e os filhos dos operários, operários. As escolas técnicas podem ser, e muitas são, o primeiro e melhor passo para a formação de engenheiros.
Mercadante propõe medidas simples, como as de mudar o curriculum das escolas elementares, de forma a favorecer a alfabetização. Voltar aos educadores com a visão clara do Brasil, como foram Anísio Teixeira e Paulo Freire, ajustando  suas ideias aos recursos didáticos de nosso tempo, talvez seja o melhor caminho. Por outro lado, é preciso suprir a nossa falta de professores de excelência, contratando-os no estrangeiro, como fizemos no passado. A USP, criada com a participação de professores franceses, é um bom exemplo. Como também no passado, ao acolher os imigrantes tangidos pela crise europeia, podemos, hoje, oferecer aos professores desempregados pelas medidas recessivas naquele continente uma oportunidade em nosso país.
A universidade foi sempre uma instituição internacionalizada, como nos mostra a  História. Os grandes mestres iam de Bolonha a Cambridge na Inglaterra, passando pela Sorbonne,  Salamanca e  Praga. Mercadante falou dessa possibilidade, ao discursar em sua posse. Temos que trabalhar para que os nossos centros universitários se insiram na constelação em que se encontram essas instituições, algumas delas quase milenárias.
Estamos no caminho certo. O programa de Bolsa Família conduziu às escolas as crianças que estavam delas ausentes. O Prouni abriu a universidade aos filhos dos trabalhadores. O Enem estabelece o sistema de mérito. O envio de mais de 100 mil estudantes brasileiros a universidades estrangeiras contribuirá para o fechamento do gap tecnológico que nos separa dos países mais desenvolvidos.  Mas não devemos esquecer o grande fundamento humanístico e libertador da educação, resumido no pensamento do grande educador português que viveu entre nós e contribuiu, como poucos, para o desenvolvimento do nosso sistema educativo, Agostinho da Silva: o homem não nasceu para trabalhar, mas, sim, para criar. O que ele quis dizer é que o trabalho deve ser visto como uma expressão criadora do ser humano, e não castigo imposto pela necessidade.
Todos os ministros - voltemos ao início - são importantes e necessários, mas a missão de Mercadante é mais pesada. Dele depende o Brasil que deixaremos aos que chegam, vindos de nós.

Via Jornal do Brasil

Mauro Santayana

Os sanguessugas evangélicos


O Brasil descobriu que tem lobos vestidos de pastores; uma corja imunda. São os políticos evangélicos que gatunaram o Ministério da Saúde; testas-de-ferro de igrejas, apóstolos e bispos mentirosos que afirmavam haver necessidade de eleger crentes para o Congresso Nacional com um discurso de que almejavam os interesses do Reino de Deus.
Por favor, não insistam em me pedir que seja misericordioso com esses ratos alados: eles sugaram o sangue de brasileiros pobres. A única sugestão que tenho para eles é que cada um amarre uma corda no pescoço e se jogue de uma ponte para dentro de qualquer esgoto.
Por favor, não insistam comigo. Não serei compreensivo. Estou enfurecido. De nada me valerão argumentos de que esses políticos evangélicos podem ser escuma fétida, mas que pregam uma mensagem libertadora. Não tolero mais ouvir essa desculpa. Não acredito que a causa evangélica precise conviver com tanta ignomínia, desde que “salve almas”. Nenhuma “salvação” seria tão excelente que justifique essa indecência que veio à tona, mas que há tempos corre frouxa nos porões das mega “empresas-igrejas” que mercadejam esperanças.
Por favor, não insistam em me dizer que esses políticos foram inocentes úteis, ludibriados por máfias poderosas. Ora, ora, qual o grande discurso triunfalista evangélico, repetido até cansar? “Somos cabeça e não cauda!”. E agora? Depois que se ouviu tanto que a presença de políticos crentes no Congresso salgaria o Brasil, como se organizará a próxima “Marcha pela Salvação da Pátria?”.
Por favor, não insistam em me dizer que os ladrões são poucos, e que não representam o perfil evangélico. A bancada evangélica foi a maior desse escândalo das ambulâncias superfaturadas. Os crentes lideraram essa gigante maracutaia.
Se alguma igreja, que elegeu um desses congressistas, tivesse um mínimo de brio humano (nem precisaria ser brio cristão), deveria retirar do ar seu programa de televisão; pedir um tempo; expulsar seus políticos; prometer que jamais tentará eleger alguém; e fazer uma Reforma em sua teologia. Porém, sabe-se que isso jamais acontecerá, o que eles menos têm é vergonha na cara.
Por favor, não insistam em me pedir que algum dia me sente em qualquer evento, simpósio ou conferência na companhia dessas igrejas, ou que argumente sobre suas teologias e mentalidades. A Bíblia me proíbe de sentar na roda dos escarnecedores. Não devo considerá-los irmãos; esses pastores, bispos e apóstolos devem ser encarados como escroques, que merecem mofar na cadeia o resto da vida.
Por favor, não insistam que eu me cale diante de engravatados de Bíblia na mão, quando sei que eles tentam esconder sua condição de sepulcros caiados. Neles, cabe a carapuça de raça de víboras; mataram velhinhos, condenaram crianças e acabaram com os sonhos de muitas mães. Igrejas que se beneficiaram do esquema de roubo do orçamento da saúde merecem ser sepultadas numa vala comum, e tratadas com o mesmo desprezo que tratamos as empresas de fachada do narcotráfico.
Por favor, me acompanhe em minha indignação. Os líderes evangélicos não podem permanecer de braços cruzados, corporativamente defendendo meliantes fantasiados de sacerdotes.
Por favor, não esperemos que um próximo escândalo nos acorde de nossa complacência.
Há necessidade de uma reforma ética entre os evangélicos.
E ela tem que ser urgente.
Soli Deo Gloria.
Ricardo Gondim
No Maltrapilho de Abba!, via Com textolivre

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

ONDE ESTÃO OS REVOLUCIONÁRIOS?

O ser humano assim como os animais selvagens se manifesta diante do acoamento, da adversidade. Diversos foram os exemplos de homens que sonharam com mudanças em suas sociedades, e que diante da repressão tomaram a ação como o instrumento que os levasse a encontrar novos caminhos.

Homens como Spartacus na Idade Antiga diante do regime escravocrata romano lutou por liberdade, os primeiros cristãos, séculos depois sonharam em transformar a mesma e tirânica sociedade romana através dos valores ensinados pelo mestre Jesus Cristo.

 Mahatma Gandhi na Índia que através da política da não violência enfrentou a tirania britânica que há anos afligia seu povo. Temos outros exemplos como o pastor Martin Luther King que lutou a favor da igualdade de direitos entre brancos e negros nos EUA, Karl Marx que apontou os diversos erros do capitalismo e através de suas reflexões e estudos apresentou um novo modelo econômico a ser seguido. E claro nosso ilustre argentino Che Guevara que se tornou o símbolo da revolução em todo o mundo. 

Perante essa lista de revolucionários, onde se encontra os revolucionários do século XXI? Ou será que o mundo não necessita mais desses homens e mulheres de coragem, por finalmente ter se encontrado com um modelo de vida ideal?

Vida ideal? Acredito que ainda estamos longe de chegar a este patamar. Nós brasileiros, por exemplo, temos motivos de sobra para não chegarmos a  esta conclusão. Somos um dos países que mais se paga impostos, e somos um dos povos que menos recebe assistência governamental, temos a nossa disposição serviços públicos de péssima qualidade, e porque não temos grandes manifestações em prol de mudanças?

Pagamos impostos para enchermos os cofres do governo, para novamente pagar pelos mesmos serviços oferecidos pela iniciativa privada, isto não é motivo para indignar-se? Até aqui tudo bem, muitos ainda podem pagar um plano de saúde ou até mesmo uma escola particular para seus filhos, e quem não pode pagar, merece continuar morrendo nas filas dos hospitais e seus filhos merecem continuar recebendo uma péssima educação que obviamente não será capaz de levá-los mais tarde a uma universidade?

E a corrupção que neste país não é punida? Milhares de homens como Paulo Maluf que sempre se apoderaram de dinheiro público e nada lhes aconteceu? Será que nenhuma dessas coisas não poderia servir de estopim para os homens de boa fé entrarem em ação?

E no mundo da cultura o que são esses “lixos musicais” que estão sendo oferecidos a nossa juventude já não são suficientes para clamarmos por mudanças? E os programas de TV? Meu Deus!

E a desigualdade social? É justo existir num mesmo país ou até mesmo numa mesma rua, homens que possuam em suas garagens uma coleção de carros, que usam roupas e relógios caríssimos, que viajam para o exterior para gastar dinheiro de forma fútil em cassinos e shoppings, e enquanto isso exista pessoas que não tem onde morar nem o que comer?

E a natureza? Será que ninguém se indignará contra a insaciável sede de lucros deste “maligno” sistema econômico que não se preocupa com a destruição das florestas, com a contaminação das águas, do ar e do solo, com a extinção de milhares de animais, répteis e insetos?

E nossa mulheres, que ao longo dos anos lutaram para conquistar a liberdade, independência e igualdade, hoje sua maioria aceita de forma pacata serem mais uma vez humilhadas através das “músicas” e propagandas de cerveja?

Até quando muitas mulheres permitirão que seus corpos sejam vistos como meros objetos, e “válvulas de escape” para muitos homens estressados?E nosso modelo de família, onde o respeito, o carinho e a compreensão não estão mais presentes?

Meus amigos, acredito que diante de todos estes problemas a humanidade merece que novamente se levante homens e mulheres dispostos a lutar por uma vida mais digna, igualitária e prazerosa para todos. Precisamos de novos “Gandhis”, de novos “Ches” não de novos “Neros” que assistam de forma pacífica as chamas consumirem tudo que a humanidade construiu ao logo de sua existência.

Professor Lincoln de Britto Santos, 26 de janeiro de 2012.

No blog do Mateus Brandão de Souza

As saúvas e o jeitinho



A tragédia de ontem à noite no Rio, embora ainda de causa desconhecida, é resultado de algo trivial na sociedade brasileira: o jeitinho.
Por meio dele, consegue-se de tudo, desde furar a fila do supermercado até o alvará para construir um megaempreendimento.
O jeitinho, a "gorjeta", o "cafezinho", a corrupção, são sinônimos da pior praga que assola este país, câncer que se entranhou em todos os níveis sociais, em todas as esferas administrativas, públicas e privadas.
Vamos reformar um prédio velho, caindo aos pedaços?
Mão à obra, mas antes de mais nada, vamos dar um jeitinho de burlar a legislação, de facilitar as coisas, de não pagar taxas. 
E assim o Brasil caminha, em meio a grandes tragédias, a pequenos dramas, a mortes anunciadas. 
Com o jeitinho pode-se tudo. 
Até mesmo transformar a esperança de se construir uma nação forte, saudável, que dê oportunidades iguais a todos, que seja justa e solidária, num paiseco onde as leis são meras letras perdidas em alfarrábios carcomidos.
Parafraseando a antiga frase, de autor desconhecido, que se referia à força destrutiva das saúvas, é mais que oportuno dizer que ou o Brasil acaba com o jeitinho, ou o jeitinho acaba com o Brasil.

Crônicas do Motta

Pinheirinho, a esquerda e a direita



Por Mair Pena Neto

A tentativa de decretar o fim da história, com o triunfo do liberalismo e a extinção da luta de classes e do que seja esquerda e direita no campo político, vai sendo enterrada pela prática como bom e velho critério da verdade. Não é preciso se debruçar sobre conceitos e análises elaboradas. Basta olhar o que aconteceu no despejo de 1.600 famílias no Pinheirinho, em São José dos Campos, para constatar os evidentes interesses de classe e as diferentes visões políticas.

O que estava em jogo era o destino de milhares de pessoas, pobres e sem teto, que ocupavam há oito anos a área de uma fábrica falida, e os interesses do megaespeculador Naji Nahas, o dono (?) do terreno, que tem contas a prestar ao Estado e à Justiça. Uma questão social, e não de polícia, como a direita sempre a encarou. Basta ver o protagonismo da ação policial em São Paulo. Ela se dá contra estudantes, dependentes de crack, sem teto, sempre em defesa da ordem vigente, da propriedade privada e dos poderosos.

O litígio no Pinheirinho vinha se acirrando com decisões judiciais controversas e passou a ter a presença direta do governo federal, através da Secretaria Geral da Presidência, interessado numa solução negociada, que preservasse as famílias, com a construção de moradias populares no local. O governo federal estava disposto a se associar ao estadual na compra do terreno, numa ação conjunta para encerrar o impasse e evitar a violência prestes a explodir.

Mas não foi esse o entendimento do dono da área - aliás já um bairro, com casas montadas e famílias instaladas -, interessado em faturar mais com a valorização do local, que contou com os préstimos da Justiça estadual e dos governos de São José dos Campos e de São Paulo para atirar dois mil policiais, blindados e helicópteros sobre a massa, numa demonstração desnecessária de selvageria e brutalidade, que macula o estado de Direito e democrático. Justiça (apressada) e polícia (violenta), mais uma vez, se tornaram instrumento dos poderosos contra os desvalidos. E o poder público paulista amparando toda a ação é célere ao enviar os tratores logo após o despejo, demolindo os imóveis sem sequer dar tempo para que muitos retirassem os seus pertences.

A ação policial atropelou as tentativas de solução negociada em curso, que incluíam a presença no local, no momento do despejo, de um representante da Secretaria Geral da Presidência, atingido por balas de borracha. O ministro-chefe da Secretaria Geral, Gilberto Carvalho, tratou de sublinhar as diferenças entre governo federal e estadual: "Esse não é um método nosso, do governo federal. Nós achamos que tinha alguma coisa que poderia ser esgotada ainda no diálogo e, sobretudo, uma saída negociada e humana para as famílias, sem a necessidade daquela praça de guerra que foi armada."

O governo de São Paulo e o PSDB também deixaram clara a sua visão. Decisão judicial não se discute, por mais que não seja a de última instância, envolva vidas humanas e que ainda existam canais abertos para uma solução menos traumática. "O governo de São Paulo agiu em cumprimento de determinação do Judiciário, e a operação foi comandada diretamente pela presidência do Tribunal de Justiça paulista. Enquanto o governo federal só agride, o governo paulista e a prefeitura do município providenciam a ajuda necessária para minorar o sofrimento das famílias desalojadas", disse o PSDB em nota.

Essa distinção na maneira de lidar com conflitos sociais é fundamental para desmascarar os que tentam pregar a não existência entre esquerda e direita, como se tanto fizesse escolher entre uma e outra nos processos eleitorais. Esse é um discurso dissimulado do qual a direita se vale para tentar atrair os mal informados e a pouco politizada classe média ascendente. Mas, no fundo, ela continua a ser a antiga e conservadora tendência, que deseja reduzir o papel do Estado, entregando o país aos mercados, e está sempre pronta a tratar as questões sociais como caso de polícia.

Terra Brsilis