sábado, 31 de agosto de 2013

O homem que vendeu o Brasil por R$ 300 milhões e nada aconteceu


Em livro, Palmério Dória revela identidade de ex-deputado: gravou colegas que venderam votos para reeleger FHC

Por Luiz Carlos Azenha

Foi o acreano Narciso Mendes, hoje com 67 anos de idade, quem usou um gravador emprestado pelo repórter Fernando Rodrigues, da Folha de S. Paulo, para comprovar que deputados federais de seu estado venderam os votos na aprovação da emenda constitucional que permitiu a reeleição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1997.

A revelação é feita no livro O Príncipe da Privataria, de Palmério Dória, que chega às livrarias hoje.

Em Brasília não era segredo o papel desempenhado por Narciso, à época deputado federal pelo Partido Progressista, de Paulo Maluf. Porém, pela primeira vez ele assume oficialmente o que fez.

Trecho do livro:
A compra dos votos para a reeleição, frisa Narciso, “se dava às escâncaras”. Seria “muita ingenuidade”, diz ele, considerar inverossímil que, no episódio da troca de cheques pré-datados por dinheiro vivo, os deputados saíssem carregando R$ 200 mil em sacolas. Afinal, em notas de R$ 100,00 seriam duas mil notas, ou o dobro se fossem notas de R$ 50,00. Duzentos pacotes de mil reais: volume considerável. “Tinha de ser em sacolas!”, diverte-se ele. O que Narciso diz é que cheques foram antecipados e, posteriormente — depois da aprovação da emenda — trocados por dinheiro.
Dois deputados renunciaram antes de serem cassados pela Câmara, ao admitirem envolvimento na tramoia: Ronivon Santiago e João Maia. Outros três, igualmente da bancada acreana, também foram citados como tendo vendido o voto.

Na época, o PSDB atribuiu a manobra a interesses paroquiais, de governadores que também seriam beneficiados pela aprovação da emenda. Porém, o livro coloca a operação no colo de Sérgio Motta, então ministro das Comunicações e principal articulador de FHC junto ao Congresso Nacional.

Narciso, hoje empresário no Acre, é dono do jornal O Rio Branco e de uma retransmissora do SBT. Ele sustenta que se opôs à emenda que garantiu a reeleição a FHC por questões ideológicas. Não concordava que pudesse beneficiar quem a promovia.

Reproduzindo um trecho de A Arte da Política, livro de FHC, afirma: “Aqui diz Fernando Henrique Cardoso: Sérgio Motta indignou-se, queria logo uma CPI na ingenuidade de imaginar que, naquela circunstância, da CPI resultasse outra coisa diferente do que culpar o governo”.

Comenta:
“Nem Sérgio Motta queria CPI, nem Fernando Henrique queria CPI, nem Luís Eduardo Magalhães [líder do governo] queria CPI, ninguém queria, porque sabiam que, estabelecida a CPI, o processo de impeachment ou no mínimo de anulação da emenda da reeleição teria vingado, pois seria comprovada a compra de votos”.
Mas, quantos votos foram comprados para que FHC pudesse se reeleger?

Nos cálculos do senador Pedro Simon, citado no livro, 150. A 200 mil reais por cabeça, por baixo, R$ 300 milhões!

Narciso acha que foram mais. Nega que, como foi acusado por escrito por FHC, tenha tentado tumultuar a tramitação da emenda.

“Como é que um desgramado, do baixo clero, do Acre, tinha poderes para tumultuar a emenda da reeleição?”, afirma Narciso.

Também rebate a ideia de que o governador do Acre à época, Orleir Cameli, assim como outros dirigentes de estados do Norte, tivessem tomado a iniciativa de promover a emenda, como sugere FHC em seu livro.
Uma mentira, diz Narciso, pois no Acre, por exemplo, Orleir Cameli não se candidatou à reeleição. Ademais, acrescenta, não foi “o pessoal do Norte” quem inventou a reeleição, muito menos a compra de votos. “Foi uma criação do senhor Sérgio Motta e do senhor Fernando Henrique Cardoso”, reitera.
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O livro O Príncipe da Privataria é, na verdade, um balanço do entorno do homem que “vendeu o Brasil”. Uma denúncia menos na linha de Amaury Ribeiro Jr. e mais na de Aloysio Biondi e seu O Brasil Privatizado.
http://bogdopaulinho.blogspot.com.br/2013/08/o-homem-que-vendeu-o-brasil-por-r-300.html

Um escândalo sobre o qual o Brasil pouco refletiu, já que a mídia corporativa se refere àquele como um período de ouro do país. É importante frisar que os principais grupos de mídia tiraram proveito direto dos negócios envolvidos na privatização.

Na Nota do Editor que abre o livro, Luiz Fernando Emediato pergunta: “onde estava, no reinado dos tucanos, o ministério público, o procurador geral da República, os Joaquim Barbosa daquele tempo? O chamado “mensalão” — tenha existido ou não — parece coisa de amadores diante do profissionalismo de empresários, burocratas e políticos daquele tempo. Nenhuma CPI. Nenhuma investigação que chegasse ao fim. Nenhuma denúncia capaz de levar a um processo e a uma condenação!”

Palmério Dória avança a tese de que Glauber Rocha, na década de 70, foi visionário ao dizer:
No Brasil, o gancho do Pentágono é o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), que funciona em São Paulo.  Fernando Henrique Cardoso é apenas um neocapitalista, um kennedyano, um entreguista.
Como a Central de Inteligência dos Estados Unidos deu dinheiro à Fundação Ford e esta ao Cebrap — na casa, especula Palmério, do milhão de dólares –, “o Cebrap recebeu dinheiro da CIA”.

Teria sido este o início da “inspiração” que levou FHC a adotar a agenda do consenso de Washington, que resultou na queima de R$ 100 bilhões em patrimônio público dos brasileiros.

Estimativas de crescimento da população brasileira



Segundo dados referentes a 1º de julho último, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), anunciou ontem, dia 29, que o Brasil conta atualmente com uma população estimada de 201.032.714 habitantes.

O estudo Projeção da População do Brasil por Sexo e Idade para o Período 2000/2060, corresponde a mais um capítulo da redução das taxas de crescimento demográfico em nosso país, refletindo uma tendência iniciada na década de 1970, com a queda nas taxas de natalidade.

A projeção é que, depois de alcançar o ápice de 228,350 milhões em 2042, o número de habitantes vai diminuir gradativamente a partir de 2043, atingindo a marca de 218,173 milhões em 2060.

Leia um trecho da matéria publicada na página do IBGE.

População brasileira deve chegar ao máximo (228,4 milhões) em 2042

A população brasileira continuará crescendo até 2042, quando deverá chegar a 228,4 milhões de pessoas. A partir do ano seguinte, ela diminuirá gradualmente e estará em torno de 218,2 milhões em 2060.

Esse é um dos destaques da publicação “Projeção da População do Brasil por Sexo e Idade para o Período 2000/2060 e Projeção da População das Unidades da Federação por Sexo e Idade para o período 2000/2030”, que o IBGE disponibiliza hoje (29/8/2013) na internet.

Além da projeção da população para o país e das unidades da Federação, a publicação traz projeções da fecundidade feminina por faixa etária, da mortalidade, da esperança de vida ao nascer para o país e para as unidades da Federação e do saldo migratório (imigrantes menos emigrantes) internacional e interno, entre outros indicadores.

Observa-se, por exemplo, que a idade média em que as mulheres têm filhos, que está em 26,9 anos em 2013, deve chegar a 28 anos em 2020 e 29,3 anos em 2030.

A esperança de vida ao nascer deve atingir os 80,0 anos em 2041, chegando a 81,2 anos em 2060. Já entre as unidades da Federação, a esperança de vida em Santa Catarina deve alcançar os 80,2 anos já em 2020. Nesse mesmo ano, o Maranhão deve ser o estado com esperança de vida mais baixa (71,7 anos), mas deve chegar a 74,0 anos em 2030 e, assim, ultrapassar Rondônia e Piauí, que estarão com esperanças de vida em 73,8 e 73,4 anos, respectivamente.

Em termos de saldo migratório interno, em 2020 e 2030 a projeção indica que Bahia, Maranhão, Rio Grande do Sul, Ceará, Alagoas, Piauí e Pernambuco deverão ter os maiores saldos negativos (maior número de pessoas saindo do estado), todos acima de 10 mil emigrantes, mantendo a tendência observada nas últimas décadas. A projeção aponta que o estado da Bahia continuará a ter as maiores perdas populacionais na comparação com estes estados citados, com -46,6 mil e -39,3 mil, respectivamente. Já Santa Catarina, São Paulo, Goiás, Distrito Federal e Espírito Santo devem ter os maiores saldos positivos, todos acima de 10 mil imigrantes. Santa Catarina deve se manter com o maior saldo migratório, 37,1 mil em 2020 e 34,3l em 2030. Essas tendências são as mesmas observadas nos últimos anos.

O conjunto das projeções incorpora as informações mais recentes sobre as componentes do crescimento demográfico (mortalidade, fecundidade e migração), obtidas através dos resultados do Censo Demográfico 2010 e dos registros administrativos de nascimentos e óbitos. Os resultados atuais substituem os da “Projeção da População do Brasil por sexo e idade: 1980-2050 - Revisão 2008”. Essas informações possibilitam uma visão atual da dinâmica demográfica nacional e estadual, considerada na elaboração das hipóteses futuras para as projeções.

A evolução das componentes demográficas no período 2000/2030 resultam em um significativo envelhecimento da população em todas as Unidades da Federação. Contudo, espera-se que em 2030 ainda existam importantes diferenciais regionais na estrutura etária da população. Em 2027 o Rio Grande do Sul já teria um número maior de idosos do que de crianças, ao passo que Acre, Amazonas, Roraima e Amapá ainda teriam cerca de 30 idosos para cada 100 crianças, valores semelhantes aos observados nas Regiões Sul e Sudeste em meados da década de 2000.

Em 2060, população terá voltado a um patamar próximo ao de 2025

A população total projetada para o Brasil em 2013 foi de 201,0 milhões de habitantes, atingindo 212,1 milhões em 2020, até alcançar o máximo de 228,4 milhões em 2042, quando começará a decrescer, atingindo o valor de 218,2 em 2060, nível equivalente ao projetado para 2025 (218,3 milhões).


Para maiores informações, acesse o link:

O Príncipe da Privataria - Leia o Primeiro Capítulo


Capítulo 1
Senador recebe um Nero:
quer botar fogo no mundo

Bombeiros acionados sem incêndio à vista — Imagine, fazer álcool
de madeira num país com tanta cana — Grupo Serjão dá adeus à
pobreza — Última exilada vive na Europa
“... mas este meu sobrinho não é de confiança.”
General Felicíssimo Cardoso, tio de FHC
“Rameira! Ponha‑se daqui para fora!”
Os gritos partem de um dos gabinetes dos senadores, ao lado da agência do Banco do Brasil, nalgum dia do primeiro trimestre de 1991. A voz é masculina e vem acompanhada de impropérios mal distinguidos e o ruído de algum objeto a rolar pelo piso. O jornalista Rubem Azevedo Lima, experiente repórter de política, que na década anterior havia assinado editoriais na página 2 da Folha de S. Paulo sob as iniciais R.A.L., detém‑se no interminável corredor no subsolo do Senado Federal para ouvir melhor. Identifica o gabinete como sendo o do senador por São Paulo Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, Partido da Social Democracia Brasileira, fundado em 1988 principalmente por dissidentes do PMDB, Partido do Movimento Democrático Brasileiro.
A porta do gabinete se abre e por ela sai uma jovem colega de profissão de Rubem.
“Rameira!”
A moça logo reconhece Rubem e para ele se dirige, chorando. Figura paternal, querida e respeitada entre seus pares, Rubem a ampara num abraço. Ela tirita. Sem dizer nada, desembaraça‑se do abraço e retira‑se subindo a escada que leva ao plenário, escada conhecida como “alegria de suplente” — outrora, ao descê‑la, algum senador tropeçou, caiu, machucou‑se feio, afastou‑se para tratamento e o suplente assumiu, dando origem ao apelido.
Por que o senador passou tal descompostura na repórter? O que o levou a perder a compostura de acadêmico e parlamentar, a ponto de usar um termo chulo, embora não muito comum em bocas chulas, e dar um pontapé no circulador de ar, origem da barulheira ouvida por Rubem Azevedo Lima? A resposta estava no ventre da repórter. Ela tinha ido comunicar ao senador que estava grávida de um filho dele, a nascer meses depois, em 26 de setembro de 1991.
A jornalista, catarinense, repórter de política Miriam Dutra Schmidt, enquanto subia aqueles degraus para o plenário, humilhada, escorraçada, deve ter decidido, ali, partir para a “produção independente”. E o senador, não menos transtornado, já avaliava os passos a dar, para evitar um escândalo que poderia vir a criar obstáculo de monta em seus projetos políticos. Projetos que incluíam objetivo maior, ainda embrionário como a criança gestada na barriga da moça: a Presidência da República. Era preciso urgente impedir que a caixa‑d’água caísse e o paiol pegasse fogo.
Entra em cena um corpo de bombeiros, formado por Sérgio Motta, José Serra e Alberico Souza Cruz — os dois primeiros, cabeças do “projeto presidencial”; o último, diretor de jornalismo da Rede Globo e futuro padrinho da criança.
Descobriram o caminho das pedras
O primeiro bombeiro citado, homenzarrão, chamado carinhosamente pelo aumentativo Serjão, era naquele momento secretário‑geral do PSDB, “um partido elétrico” segundo Sebastião Nery, pois nasceu na Eletropaulo, “filho de uma grande vontade política e uma imensa gula financeira”, como o jornalista descreve em A Eleição da Reeleição. O ano é 1988. Fazia cinco anos que o futuro núcleo do novo partido vinha gestando um projeto capaz de viabilizar a atividade política do grupo que achava o governador paulista Franco Montoro “mole demais” e seu vice e futuro governador Orestes Quércia, “duro demais”. Nesse grupo estavam ainda, entre outros, o futuro ministro da Educação de FHC, Paulo Renato Souza, e mais um paulista, o futuro governador Mário Covas.
Esse núcleo queria se livrar de Montoro, que lançou o tucano como símbolo do PSDB, e principalmente de Quércia. Era constituído em 1983 por Serjão; FHC, então senador por assumir a vaga de Montoro como seu suplente na eleição de 1978, pelo MDB — Movimento Democrático Brasileiro; e José Serra, secretário do Planejamento do governador Montoro.
O bombeiro Sérgio Motta, gordo e cheio de garra, de sorriso quase sem dentes, parecia oJoão Bafo de Onça, personagem de Walt Disney. Era amigo de Serra e FHC desde a temporada destes dois no Chile no pós‑1964. No minicorpo de bombeiros montado para evitar uma tragédia no caso Miriam Dutra, ele vai usar seus talentos de produtor de teatro e tesoureiro — exercidos na mocidade, quando pertenceu à AP, Ação Popular, agremiação esquerdista de extração cristã. Em 1963, ele atuou decisivamente para a eleição de Serra como presidente da UNE, União Nacional de Estudantes; e comprovou os talentos na coordenação da campanha de FHC para o Senado em 1978 e para a Prefeitura de São Paulo em 1985.
Sua grande jogada deu‑se ainda em plena ditadura militar, sob o governo Figueiredo (1979‑1985). Com apoio do general Golbery do Couto e Silva, que o jornalista Hélio Fernandes chamava de Golbery do “Colt” e Silva, Serjão cria a Coalbra, Companhia de Álcool do Brasil, para montar usinas de álcool de madeira, sob protesto do vice‑presidente. O civil Aureliano Chaves, naquele governo, cuidava justamente de energia. Engenheiro, mineirão, Aureliano achou aquilo um “atentado à ecologia” e “um disparate econômico” — imagine, produzir álcool de madeira num país com tanta terra, tanto canavial e tanta tradição na produção de álcool de cana!
Contando com apoio do ministro de Minas e Energia, Cesar Cals, e do próprio Figueiredo, Serjão importou 30 usinas da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a extinta URSS. Atropelou Aureliano, mas não sua lógica. Pois, das 30 usinas, uma chegou a ser instalada, mas não funcionou — duas décadas depois, continuava em Uberlândia que nem uma carcaça fantasma; as outras 29 nem sequer foram deslocadas dos trapiches dos portos: lá deterioraram e acabaram vendidas como ferro‑velho.
O rombo montou a US$ 250 milhões, dinheiro que daria para instalar rede de esgoto numa cidade com mais de 60 mil domicílios, ou cerca de 250 mil habitantes — uma Juazeiro do Norte.
“Nunca mais Sérgio Motta foi pobre nem fraco”, escreveu Nery, “nem ele nem o Grupo Serjão; tinham descoberto o caminho das pedras. Quando Montoro assumiu o governo, ele foi dirigir a poderosa e riquíssima Eletropaulo. E passou a comandar o projeto político, econômico e financeiro da turma.”
Primeiro passo: instalar a
moça em lugar melhor
O segundo bombeiro, paulistano da Mooca, nasceu José Chirico Serra mas expurgou de sua biografia o nome do meio. Devia a Serjão a cristalização da amizade com FHC. Naquele momento de crise existencial e ameaça de crise conjugal do futuro presidente, era deputado federal pelo PSDB.
Com o golpe de 1964, José Serra havia se exilado no Chile, onde conheceu a futura mulher, Monica Allende, parente distante do presidente Salvador Allende. Com o novo golpe, em 1973, agora contra Allende — morto no Palacio de La Moneda —, não se sabe como Serra é liberado do Estádio Nacional, onde estão detidas três mil pessoas, muitas delas assassinadas e desaparecidas; e vai para os Estados Unidos, com Monica Allende.
A amizade com FHC e Serjão estreita‑se na volta do exílio, na década de 1970. Serra vai trabalhar no Cebrap, Centro Brasileiro de Análise e Planejamento — entidade fundada em 1969 com o “ouro de Washington”, conforme veremos no próximo capítulo. A ala liderada por FHC, na qual Serra atuava, foi uma das matrizes ideológicas do PSDB.
Elege‑se duas vezes deputado federal, cargo que ocupa em 1991 quando Miriam Dutra surge nesta história. Sua especialidade, planejamento, consiste agora em planejar o que fazer para evitar danos ao projeto presidencial do grupo. Primeira providência, imediata: instalar a futura mamãe em apartamento melhor e mais bem localizado, na mesma Asa Sul de Brasília; e, a médio prazo, remover o “problema” do Brasil.
Como subir na vida desinventando
a tevê e reinventando o rádio
Alberico Souza Cruz, terceiro bombeiro da trupe, era “o dono da notícia”, segundo reportagem de Hamilton Almeida Filho publicada naqueles tempos na revista mensalInterview. Dono da notícia porque dirigia o jornalismo da Rede Globo, o qual, por força do monopólio, em matéria de audiência surrava de 8 a 2 o resto inteirinho da concorrência.
Alberico assumiu a chefia da Editoria Rio da TV Globo, no começo da década de 1980. Vinha da chefia da sucursal da rede em Belo Horizonte, para onde foi guindado após uma passagem pela assessoria de comunicação da Companhia Vale do Rio Doce. Era bom montador de equipes. Foi ele quem indicou boa parte da “plêiade mineira” que enriqueceu a redação do nascente Jornal da Tarde de São Paulo, “irmão caçula” do Estadão.
Assim que chega à chefia da Editoria Rio, convoca reunião geral, com repórteres, câmeras, produtores, editores, para explanar a filosofia que passaria a nortear a todos ali, sentados na redação. Depois de algumas palavras, resumiu:
“Precisamos de muitas notas ao vivo. Muitas notas ao vivo... e... muitas notas ao vivo.”
Nota ao vivo é aquela em que o âncora do programa, ou a âncora, dá a notícia apenas de viva‑voz, sem imagem alguma. Luís Carlos Cabral, já veterano, subeditor, portanto logo abaixo de Alberico, sussurrou a um colega ao lado:
“Pronto! Desinventou a televisão e reinventou o rádio!”
Ele chegaria ao poder no jornalismo da Globo ao fim daquela década, graças a episódio bastante conhecido da categoria e de boa parte do público externo. Trata‑se da altamente polêmica edição do debate final da campanha que, em 1989, escolheria o primeiro presidente depois da ditadura militar eleito pelo voto direto do povo. Collor versus Lula. Na última edição do Jornal Nacional em que ainda se podia falar da disputa pelo Palácio do Planalto, contando‑se em horas o tempo que faltava para o início da votação no segundo turno, foram ao ar os melhores momentos de Collor e os piores de Lula — edição de Alberico e Ronald Carvalho. Isto, acompanhado de repercussão popular favorável a Collor, “pesquisa” feita por telefone com vitória ampla de Collor, mais um editorial francamente elogioso a Collor lido por Alexandre Garcia, ex‑assessor de imprensa do “presidente” general Figueiredo.
O serviço valeu a Alberico a ascensão ao topo do jornalismo da Globo, e queda da dupla Armando Nogueira e Alice Maria.
Um casal nas noites de Brasília
Para entender melhor o papel de Alberico no caso Miriam Dutra‑Fernando Henrique, precisamos voltar um pouco no tempo, a 1988. Ano feérico na capital federal. Brasília é o coração do Brasil, enfim. Todos os grupos dos mais variados interesses reunidos, índios, quilombolas, representantes dos trabalhadores de todas as categorias — a geleia geral brasileira a discutir a nova Constituição, depois de uma ditadura militar que sufocou toda uma geração.
Imagine você, nesse clima propício à sensualidade, como num pós‑guerra, um senador solto na praça, bonitão e atraente aos 57 anos, e uma repórter de política vinda de Santa Catarina, morena insinuante, 28 anos, que sonha com o estrelato na já bem‑sucedida carreira de jornalista da principal rede de televisão do país. A vocação se evidenciou cedo, quando Miriam era bem mocinha, em fins da década de 1970 — ela é de 1960.
“Fomos amigos. Nós fazíamos um jornal, o Afinal, que ficava nos fundos de um bar e restaurante, o Ceca, Centro Etílico e Cultural Afinal”, lembra Nelson Rolim de Moura, gaúcho havia muitos anos radicado em Florianópolis, dono da Editora Insular.
Um dia, publicaram matéria acusando o governador Jorge Bornhausen de depositar dinheiro na Suíça. Foram processados pela Lei de Segurança Nacional, enquadrados no artigo 33 — “ofender a honra ou a dignidade” do presidente, vice‑presidente, governadores e outras autoridades dos três poderes. “Tivemos de responder ao processo em Curitiba, foi uma coisa desagradável”, recorda Nelson.
Por não ter participado da reportagem, Miriam se livrou da enrascada. Mas, como se verá, futuramente Bornhausen entrará em sua vida. No Ceca, conta Nelson, havia um palco para apresentações musicais, teatrais, exposições.
“Nesse palco fazíamos semanalmente uma entrevista com uma personalidade e a Miriam me acompanhou em algumas delas. Era uma menina muito esperta e já dava pra notar que teria futuro profissional brilhante. Creio que trabalhava na TV Cultura, uma emissora local, depois foi para a RBS.”
Miriam Dutra Schmidt é filha de um policial militar, o coronel Schmidt, da PM de Santa Catarina, e de Marlene Dutra. O avô materno também foi figura conhecida, o despachante Dutra, no tempo em que Florianópolis tinha porto e navegação marítima comercial regular. A menina estudou em tradicional escola da elite florianopolitana, o Colégio Coração de Jesus, que adotava belos uniformes à moda inglesa.
Uma de suas grandes amigas de Florianópolis, Lucinha, viria a ser a segunda mulher de Jorge Bornhausen. Na RBS, afiliada da Rede Globo, chegou a ser apresentadora da edição regional do TV Mulher, programa feminino pioneiro da década de 1980 baseado em São Paulo, criação da jornalista Rose Nogueira, que lançou Marta Suplicy como comentarista de sexualidade.
Miriam acabou repórter de política em Brasília, aonde chega com sonhos mais altos — na política, na TV Globo, um programa só seu, o estrelato. Nesse agitado mundo, fará novas amizades.
Não demora, e os jornalistas notam a regularidade com que Miriam Dutra e Fernando Henrique passam a ser vistos juntos em restaurantes, reuniões sociais, cerimônias públicas, cada vez mais. A jornalista fez uma amiga entre os políticos que entrevistava, a deputada federal Rita Camata, do PMDB do Espírito Santo, mulher do senador Gerson Camata, do mesmo partido. As duas trocam confidências.
No ano da eleição presidencial, a primeira depois da ditadura, Alberico circulará com desenvoltura na capital da República, funcionando como “linha auxiliar” da candidatura Collor, ostensivamente apoiada pela família Marinho. Ao mesmo tempo, não há no Jornal Nacional figura pública mais presente, mais ouvida sobre todo tipo de questão político‑econômico‑administrativa, do que Rita Camata — e esta, cada vez mais solidária com os altos e baixos do romance da amiga.
Uma colega de trabalho, a gaúcha Anna Terra, lembra‑se de que certa vez estranhou uma ausência de dez dias de Miriam.
“Estava em Nova Iorque graças a uma bolsa”, explicou Miriam ao voltar.
Ao comentar com uma colega de redação, passou por ingênua. A amiga sorriu:
“Você é bem bobinha, hein, Anna? Ela foi encontrar o Fernando Henrique.
Última exilada vive na Europa
para não estragar projeto do ex‑amado
Collor cai, entra Itamar Franco, que dá uma reformulada no serviço secreto. Cria a Subsecretaria de Inteligência, SSI, onde atuam ex‑integrantes do Serviço Nacional de Informações, o SNI. E a SSI passará a cuidar com desvelo de “seu” candidato à sucessão de Itamar.
Em abril de 1994, quando FHC deve deixar o cargo de ministro da Fazenda de Itamar, para atender à regra de se desincompatibilizar de cargo público seis meses antes das eleições, sua situação não é confortável. As pesquisas o mostram 20 pontos atrás de Lula. E ele ainda depende do sucesso do Plano Real — tocado por, entre outros, André Lara Resende, Pérsio Arida e Winston Fritsch, criando mais um problema de paternidade para FHC. Itamar resolve a questão falsificando a “certidão de nascimento” do real. As primeiras notas circularão a 1º de julho de 1994 trazendo a assinatura do presidente do Banco Central, Pedro Malan, e a assinatura de seu ex‑chefe, Fernando Henrique Cardoso, que não era mais ministro fazia três meses. Mais uma vez, FHC assume o que não é dele: em 1985, sentou na cadeira de prefeito um dia antes de ser derrotado por Jânio Quadros; agora, assina obra feita por outros.
Embora atrás nas pesquisas, FHC conta com alguns trunfos, além do impacto positivo da entrada em cena das notas e moedas de real. Tem o apoio do PFL, forte nos grotões com seus carcomidos restos da Arena, a Aliança Renovadora Nacional, partido de sustentação da ditadura; dinheiro grosso dos empresários e banqueiros; e a simpatia da maioria dos militares, inclusive do serviço secreto. Não é pouco. E Itamar ainda vai dar uma forcinha para Lula sofrer uma bela despencada nas pesquisas, como veremos no Capítulo 6.
Porém, a SSI, monitorando possíveis problemas de percurso, detecta algo preocupante: a história que circula em todas as rodas de Brasília, a do filho de Fernando Henrique com uma repórter da TV Globo. A SSI classifica o caso como “explosivo” e decide agir para impedir a imprensa de divulgar aquilo. Passa a procurar jornalistas para sentir o clima. De fato, algumas redações se movimentam para investigar o caso, porém mais para ter algo “na gaveta” caso algum concorrente resolva publicar a história — a mídia se calará por seis anos, até que, em abril de 2000, a revista mensal Caros Amigos comemorará seu terceiro aniversário dando na capa a manchete “Por que a imprensa esconde o filho de 8 anos de FHC com a jornalista da Globo?” Chamava para reportagem de seis páginas, “Um fato jornalístico”, assinada por Palmério Dória, João Rocha (de Barcelona), Marina Amaral, Mylton Severiano, José Arbex Jr. e Sérgio de Souza — que você pode ler no Capítulo 32, A reportagem que mexeu com a mídia brasileira.


Se
Caros Amigos
cancelasse esta
reportagem, o governo
despejaria anúncios
nas páginas da revista





Não precisavam se preocupar tanto os homens da SSI. A Globo removerá o problema com criança e tudo. Transferirá Miriam Dutra e seu filho Tomás para Lisboa, onde — ó sorte! — breve encontrará sua amiga Lucinha, segunda mulher de Jorge Bornhausen. No ano seguinte, Bornhausen chegaria à antiga metrópole colonial como embaixador do Brasil em Portugal. Ali, a julgar por outro episódio narrado pela gaúcha Anna Terra, Miriam não precisará “pegar no pesado”, como também podemos avalizar por terceiros testemunhos. Deu‑se que, mal Miriam chega a Lisboa, cai um avião na Europa e o núcleo de matérias especiais da Globo, chefiado por Narciso Kalili, pede‑lhe que cubra. Miriam respondeu com aspereza:
“Estou chegando e já tenho de trabalhar?”
Na hora exata se deu sua transferência. Miriam havia recém‑entrado em contato com um editor de São Paulo para negociar livro do tipo “Meu caso com Fernando Henrique”.
Dê asas à imaginação, você que nos lê. Tal livro sepultaria o projeto presidencial de FHC, adeus privatizações, não existiria o neologismo “privataria”, Lula seria eleito não em 2002, mas oito anos antes...
Miriam foi despachada para uma espécie de exílio em Barcelona, na Espanha que, na feitura deste livro, já durava 18 anos. Mas nunca mais sairia da vida de Fernando Henrique.

O Príncipe da Privataria
Autor: Palmério Dória
Coleção: História Agora – 9 vol.
Gênero: Reportagem
Acabamento: Brochura
Formato: 16 x 23 cm
Págs: 400
Peso: 552g
ISBN: 9788581302010
Preço: R$ 39,90
Editora: Geração

Manifestantes jogam esterco na Rede Globo


Manifestantes protestam em frente à sede da Rede Globo na zona sul de São Paulo
Grupo levou dois sacos com esterco e jogou os dejetos no logotipo da emissora na região da av. Luís Carlos Berrini

Um grupo de cerca de 150 manifestantes, segundo a Polícia Militar, se dirigiu para a sede da Rede Globo, na avenida Luís Carlos Berrini, na noite desta sexta-feira (30). No caminho eles picharam muros e fachadas com palavras de ordem contra a empresa de comunicação.
Apesar de garantirem o caráter pacífico do protesto, manifestantes começaram promover atos de depredação contra o logotipo da Rede Globo e a quebrar holofotes.

A polícia, que por enquanto acompanha de perto e sem intervir na manifestação, interditou uma das pistas da marginal Pinheiros para evitar acidentes.Os manifestantes levaram dois sacos com esterco e neste momento estão jogando os 
dejetos no logotipo da Rede Globo. A polícia acompanha de perto.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Quem é o Sr X que gravou a compra da reeleição de FHC


O Senhor X era um segredo de polichinelo. O PiG protege tudo do FHC. Até filho que não é dele…
Chega hoje, sexta-feira, 30 de agosto, às livrarias o ”Príncipe da Privataria”, do jornalista Palmério Dória – autor do best seller ”Honoráveis Bandidos”,que já vendeu 130 mil cópias.
“O Príncipe da Privataria” é Fernando Henrique Cardoso, muitas vezes chamado de “Príncipe da Sociologia”.
“Privataria” está no título de outro best seller da editora Geração, “Privataria Tucana”, de Amaury Ribeiro Junior.
Dos 25 mil exemplares do “Príncipe” já impressos, 17 mil chegam hoje, às livrarias de todo o país.
Para isso, foi necessária uma operação de guerra da Geração.
Ela teve que manter em segredo as gráficas que imprimiam, variou as rotas de distribuição e, com isso, evitar vazamentos que antecipassem o lançamento do livro – e processos judiciais de censura.
O editor da Geração, Luiz Fernando Emediato, conta na “Nota do Editor” que um amigo tucano lhe telefonou para pedir que não publicasse o livro e contar que já constituía advogado.
Na verdade, a editora suspeita que o vazamento da notícia do lançamento do livro tenha partido de uma rede de livrarias paulistas, notoriamente tucana, ao saber da chegada dos exemplares.
O “Privataria Tucana” foi boicotado por algumas livrarias de São Paulo, apesar de se tornar um best seller em poucos dias.
Ser um best seller é o destino que espera “O Príncipe da Privataria”.
Entre as revelações está a identidade do “Senhor X”, personagem de uma série de reportagens assinadas pelo jornalista Fernando Rodrigues, da Folha.
O ”Senhor X” gravava as conversas dos deputados comprados para aprovar a reeleição do Fernando Henrique, em 1997, e entregava a Rodrigues.
Numa série de reportagens, depois de denuncia da compra de votos feita pela CNBB, Conferência Nacional dos Bispos, Rodrigues reproduzia as gravações que recebia do “Senhor X”.
E jamais o identificou.
Nem o PiG jamais se interessou em saber quem era o “Senhor X”.
Foi o que fez Palmério.
Ainda na Nota do Editor, Emediato conta que, um dia, num encontro em San Francisco, nos Estados Unidos, Fernando Henrique, em conversa com o sociólogo Bolivar Lamounier e ele, Emediato, teria se referido ao escândalo de Caixa Dois de PC Farias:
Nenhum partido e nenhum candidato pode prescindir de recursos ilegais.
“Mas, a diferença entre ‘nós’ e ‘eles’ – disse FHC – é que ‘nós’ gastamos nas campanhas enquanto ‘eles’ enfiam boa parte em seus próprios bolsos.
O livro descreve pormenorizadamente a Privataria desenfreada – e especial atenção merece a venda da Vale do Rio Doce por um terço do que valia.
E, nela, o papel decisivo de Ricardo Sérgio de Oliveira.
E a pressão “irresistível” do Padim Pade Cerra, como o próprio FHC reconhece neste vídeo.
Ricardo Sergio de Oliveira – um nome que não se deve, por cortesia, pronunciar na frente de um tucano – , depois, reaparece, com raro brilho, na privatização das teles: “só um bobo dá a telefonia para estrangeiros”, disse Bresser-Pereira, antes mesmo de deixar o PSDB.
Ricardo Sérgio é o “Mr Big”, o cérebro articulador das operações do clã Cerra na Privataria Tucana do Amaury.
Palmério descreve, também, a tentativa de vender a Petrobrax.
Trata da relação monetária entre Fernando Henrique e um de seus principais financiadores, José Eduardo de Andrade Vieira, então dono do Bamerindus.
Palmério desmistifica o “Príncipe dos Sociólogos”: FHC levou bomba duas vezes na admissão ao Colégio Militar e uma, ao tentar entrar para Faculdade de Direito da USP.
Um 'jenio'…
No PiG…
Sobre o 'jenio', leia, ali, o que Millôr Fernandes e João Ubaldo Ribeiro diziam do 'jenio'…
Palmerio traz uma tabela com tudo o que o FHC vendeu.
E outra que compara o desempenho do Presidente FHC com o Presidente Lula: é uma surra,como demonstrou João Sicsú.
E mostra, com detalhes, a cumplicidade da Globo, do Padim Cerra – e do PiG – na operação de abafa do que poderia ser um obstáculo à carreira de Fernando Henrique: o filho de uma repórter da Globo, em Brasília, e sua rápida remoção para Lisboa e Barcelona.
O ansioso blogueiro entrevistou nessa quinta-feira (29), por telefone, o autor do livro, o jornalista Palmério Dória.
Paulo Henrique Amorim
Acompanhe a conversa, com modificações para facilitar a leitura.
PHA: Esse livro tem uma revelação – entre muitas – que é a identidade do ”Senhor X”, o homem que conta tudo sobre a reeleição de Fernando Henrique Cardoso. Palmério, quem é o “Senhor X”?
Palmério: O “Senhor X” é uma eminência parda do Acre, isso a gente percebeu logo que o encontrou.
Uma figuraça, elétrica!
Ele é dono de uma retransmissora do SBT; dono de acadêmias de ginástica; prédios e até de um cemitério.
Na campanha da reeleição, ele pegou pela proa a bancada acreana e tirou deles a confissão de que a reeleição estava sendo comprada pelo Serjão Motta (ex-ministro das Comunicações do Governo FHC); Orlei Cameli, então governador do Acre; e pelo Amazonino Mendes (ex-governador do Amazonas).
Isso era só a frente acreana. Na verdade essa compra, pelas contas do Senador Pedro Simon (PMDB-RS), chega a 150 deputados, pelo menos.
PHA: Ele (o ”Senhor X”) se chama Narciso Mendes, não é isso?
Palmério: Isso, chama-se Narciso Mendes.
É um potiguar; passou por Belém; casou com uma moça chamada Célia; foi viver no Acre e fez a vida lá.
Foi deputado na Constituinte, depois não se reelegeu, mas a mulher dele se elegeu. Daí ele tinha acesso livre ao Congresso.
Como é um cara muito simpático, despachado, desempenado, ele foi procurado pelo repórter Fernando Rodrigues, da Folha, que através de uma intermediação feita pelo Carlos Aírton – outro deputado da época (também do estado do Acre) – Narciso começou a gravar com um gravadorzinho pequenino, que o Fernando Rodrigues tinha, japonês.
Nem precisava perguntar, as pessoas já chegavam contando tudo.
Isso dessa porção acreana da compra de votos.
Agora, o Narciso é também um segredo de polichinelo, né?
PHA: Por quê?
Palmério: Porque todo mundo sabe que esse homem existe, que é o Narciso Mendes, e ninguém se ocupou, ninguém quis ouvi-lo; chegar lá e dizer: “então, o senhor é o ”Senhor X”, vamos conversar”.
PHA: E o Fernando Rodrigues reproduziu as gravações na Folha…
Palmério: O Fernando Rodrigues reproduziu, essa matéria teve grande repercussão, o Fernando Rodrigues na época foi capa na revista Caros Amigos. Aliás, a capa foi o próprio gravador que ele usou nas gravações com o ”Senhor X”.
Pena que tenha chegado dez dias depois de a CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil) – que naquela época era a CNBB de guerra – denunciar que havia um esquema de compra de votos. Algum tempo depois, veio a matéria (da Folha).
PHA: Então, o Narciso Mendes gravou, passou a gravação ao Fernando Rodrigues, que transcrevia a gravação e sempre se referia a ele, Narciso, como ”Senhor X”?
Palmério: Sempre se referia a ele como ”Senhor X”, e assim ele apareceu na capa de Caros Amigos.
PHA: Por que o ”Senhor X”, que era um segredo de polichinelo, resolveu sair da toca e se identificar agora?
Palmério: Ele passou por maus bocados de saúde e achou que tinha de contar essa história antes de morrer.
Mas, o fato é que ele está muito longe disso, ele tem saúde para dar e vender e, seguramente, vai viver mais do que eu.
Ele tem um cemitério lá, né? Ele me levou para conhecer o cemitério e eu me candidatei a uma vaga para quando eles implementarem a cremação.
PHA: Você diz que as gravações se referem à compra de votos para a reeleição de Fernando Henrique na bancada do Acre. Quanto se pagava por deputado na bancada do Acre?
Palmério: Pagava 200 mil reais. Era um esquema dos tempos dos coronéis, pagava-se em cheque.
Era uma espécie de pré-pago. Depois (de votar) eles trocariam o cheque.
Mas, ai, alguém os advertiu: cheque, né? É como alguém dar um cheque para um traficante – não estou comparando os deputados com os traficantes, mas é por ai.
Ai alguém falou: “é melhor pagar em dinheiro”. Ai passaram a fazer o pagamento em dinheiro, os deputados saiam com sacolas de dinheiro.
PHA: E quem é que comprava?
Palmério: Nessa operação, no caso do Acre, o Amazonino Mendes, então governador do Amazonas; o Orlei Cameli, do Acre, e outros que eu não sei.
Mas, o Acre é apenas uma ponta, como o Pedro Simon deixa claro.
PHA: O seu livro fala que, nas conversas (gravadas) aparecia claramente, como última instância do processo, o Sérgio Motta, ministro das Comunicações do Fernando Henrique.
Palmério: Isso. Aparece na época claramente nos jornais. Publicaram o envolvimento dele, as acusações contra ele.
E depois, o Fernando Henrique, sem citar o nome de Narciso Mendes, fala desse episódio no livro ”Arte da Política” – um catatau de umas setecentas páginas, naquele estilo gorduroso de que você fala, né?
PHA: Isso, cheio de colesterol…
Palmério: Cheio de colesterol!
O fato é que é segredo de polichinelo, Paulo, porque todo mundo sabia quem era a peça, quem era a figura, quem fez as gravações. A certa altura do livro, o Fernando Henrique, sem citá-lo, começa a falar dele, começa a desqualificá-lo.
Mas, o fato é que falaram em CPI nessa época, e não houve CPI. A Comissão de Constituição e Justiça ouviu alguns deputados – como você sabe, dois deputados acreanos renunciaram logo em seguida, sobre pressão.
Muito bem, o fato que é que quando se falava em ”Senhor X”, ninguém quis ouvi-lo, nem CPI nem a Comissão de Constituição e Justiça.
PHA: Então são 200 mil em dinheiro, para a bancada do Acre. O Pedro Simon calcula que tenham sido comprados 150 deputados. Então é 200 mil, vezes, 150, não é isso? E em dinheiro vivo!
Palmério: Em dinheiro vivo! Bufunfa; maçaranduba; e em sacolas.
E eu acredito que os comprados do “sul maravilha” não se venderam por 200 mil reais.
PHA: Então deve ter sido mais? Mais de 30 milhões de reais?
Palmério: Eu acho que sim, acho que sim.
O problema do tucanato é o seguinte: eu até te perguntei de quanto deveria ter sido a roubalheira e você não consegue mensurar. Eu acho que nem um computador de última geração desses da NASA consegue mensurar a escala de roubo quando você fala de tucanato.
PHA: Agora tem esse negócio de Trensalão.
Palmério: É, não dá pra você calcular…
PHA: Palmério, o Fernando Henrique já se referiu a esse episódio dizendo que ele e o PSDB não precisavam comprar ninguém, porque a maioria absoluta era a favor da reeleição. No seu livro,o Narciso Mendes contesta esse argumento. Como é que o Narciso contesta isso?
Palmério: Ele diz que, por exemplo, o Orlei Cameli não se candidatou à reeleição.
Já começa por ai. No caso acreano, o governador não se candidatou à reeleição. Ele desmonta a tese do Fernando Henrique com esse simples fato.
PHA: Outro argumento do Fernando Henrique é que ele não precisava (buscar a reeleição), mas quem precisava eram os governadores, que estavam tão interessados na reeleição quanto ele. Porque se beneficiariam. Então, pelo mesmo raciocínio do Cameli, você desmonta esse argumento.
Palmério: Claro, Claro, sem a menor dúvida.
Então, você vê o esforço que foi feito para ele ( Narciso) não ser ouvido. Como se passam 13 anos e esse cara nunca foi procurado para falar? Nunca.
PHA: Você acredita que o Luís Eduardo Magalhães – você cita ele no seu livro como presidente da Câmara – interveio nesse processo bombardeando a ideia de uma CPI, é isso?
Palmério: Sim, sim, foi criado ali um bloqueio total.
Era o bate-bola permanente entre os dois, os dois que faleceram, o Luís Eduardo e o Serjão.
O Serjão era o grande operador, ele e seu projeto de 20 anos (de tucanos no poder).
PHA: Você reproduz no livro uma frase muito interessante do Serjão: “95% das coisas que eu digo foi o Fernando Henrique quem falou; os os outros 5% é o que ele pensa e não diz”.
Palmério: Ou seja, é impossível, que o Fernando Henrique não soubesse do que estava rolando nos bastidores.
O desconforto com o qual ele fala disso no livro é a maior bandeira.
PHA: O livro “Príncipe da Privataria” é, na verdade, um perfil muito rico, muito detalhado, uma pesquisa minuciosa feita por você e pela sua equipe, e que trata de muitos assuntos.
Trata da Privataria de uma forma geral; trata de outros tipos de financiamento da campanha do Fernando Henrique, como a ligação dele com o então presidente do Banco Bamerindus (Andrade Vieira); trata do processo vil que foi a venda da Vale do Rio Doce.
Tem um episódio muito importante narrado pelo delegado Protógenes Queiroz, que é uma ligação muito mal explicada pelo Fernando Henrique – a relação dele com títulos da dívida externa brasileira em posse do banco francês Paribas.
Palmério: De quando ele era ministro da Fazenda e o Armínio Fraga era o homem do Banco Central.
PHA: Tem um componente importante desse seu livro que é a cumplicidade da imprensa brasileira no episódio do filho que o Fernando Henrique Cardoso pensou por muito tempo ter tido com uma jornalista da TV Globo.
Qual é a relação desse episódio com a TV Globo? Como que a Globo participa desse processo de acobertar um fato público, que é o presidente da República ter um filho, ou supor ter um filho, com uma jornalista de vídeo, da emissora de televisão mais vista do país.
Onde se casam – sem trocadilhos – Fernando Henrique Cardoso e a Globo nesse caso do filho que ele reconheceu e que, na verdade, não era dele.
Palmério: É o Proer da imprensa, eis aí uma tese de doutorado, Paulo Henrique. A figura central da TV Globo nesse caso é o Alberico Souza Cruz – que tomou o lugar do Armando Nogueira depois que manipulou aquele debate Lula x Collor.
Então, ele passou a circular com desenvoltura por Brasília.
Ele era amigo da Míriam Dutra (jornalista que teve o suposto filho de FHC) – ela era subordinada dele, né? – e era muito amiga da Rita Camata (ex-deputada federal), que, por coincidência, começou a aparecer em todos os espaços (da Globo), especialmente no Jornal Nacional.
Ele (Alberico) era um dos bombeiros. O outro era o José Serra, o planejador; e o Serjão, o operador.
Foram eles que operaram a transferência da Míriam para SIC, (Sociedade Independente de Comunicação), em Portugal (associada à Globo).
Não à toa: o Alberico é padrinho do Tomás (suposto filho de FHC).
PHA: Então, o Alberico remove a Míriam para Lisboa e apadrinha o menino?
Palmério: Apadrinha o menino, depois ela é transferido para Barcelona.
Agora, como houve o Proer dos bancos houve um Proer da imprensa.
Um dinheiro oficial, e até mesmo privado, em uma quantidade imensa, incalculável, para comprar o silêncio da mídia sobre o filho de Míriam Dultra, o “bolsa pimpolho”, como muitos denominaram.
Eu acho que todos os veículos de comunicação investigaram o caso, mas não publicaram. Alegaram que era para ter e usar apenas se o concorrente furasse; matéria de gaveta, como se diz.
Isso lembra um arsenal dissuasório, como se diz: ”olha, há bombas nucleares suficientes para destruir o planeta ‘N’ vezes, mas não é para usar, é para ter”. Então a chantagem campeia pela imprensa, né?
PHA: Na verdade, o que eu chamo de PIG, aqui, no nosso site, não chegou a usar essa bomba.
Palmério: Não, não usou. E depois na matéria da Caros Amigos nós ouvimos, um a um, os diretores de redação de jornais e revistas da época.
PHA: E isso está no livro também. Palmério, só para concluir: depois de muito tempo, ficou confirmado que o filho que o Fernando Henrique supunha ter não era dele, era de outra pessoa.
E tem no livro – e é evidentemente que não podemos revelar aqui – uma cena de comédia italiana, que é o diálogo de Fernando Henrique e Míriam Dutra depois que ficou comprovado que o filho não era dele.
Palmério: É, um amigo meu disse que deu uma estrondosa gargalhada com o fim do livro.
Agora eu só queria dizer uma coisa para você, Paulo Henrique, esse é um bom livro para ler na Semana da Pátria, não é?
PHA: Aliás, o 7 de Setembro que Fernando Henrique qualificou como uma palhaçada.
Palmério: Exatamente, Exatamente…
PHA: Parabéns, Palmério, depois de desmontar o pessoal do ”Honoráveis Bandidos”, do José Sarney – quantos livros já vendeu o José Sarney?
Palmério: O Zé Sarney já vendeu cerca de 130 mil livros. Mas, a turma do Zé Sarney, perto dessa turma do Fernando Henrique, não passa de amadores. É outra escala.
PHA: Os ”Honoráveis Bandidos” são amadores…
Palmério: É, é outra escala, outra escala…
Serviço:
Príncipe da Privataria, da Geração Editorial;
Páginas: 400;
Preço: impresso, R$ 39,90 / e-Book, R$ 24,90;
À esquerda, Palmério, que deixou para o fim uma estrondosa gargalhada. À direita, Narciso na época das gravações
Narciso, de frente para Palmério