sexta-feira, 13 de agosto de 2021

QUANDO A DEGRADAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE VIDA DE UM POVO EXCEDE O TOLERÁVEL, AS MUDANÇAS PODEM SER VERTIGINOSAS!

 


"Volta e meia a vida se solta
E vem a reviravolta
E nada volta ao lugar"
(Sérgio Ricardo)
Após a abdicação do tzar em fevereiro de 1917, os bolcheviques eram força minoritária, quase insignificante, no poderoso soviete de Petrogrado. 

Daí a grande maioria dos delegados (liberais, mencheviques e sociais-revolucionários) ter caído na gargalhada quando, à pergunta retórica de um orador sobre se existia alguma força política apta a assumir o poder naquele instante, em substituição ao governo provisório encabeçado por um príncipe latifundiário, Lênin respondeu que seu partido estava preparado para tanto. 

Nem meio ano depois, ficou comprovado que não se tratara de uma bravata. 

É que, nos momentos em que a dinâmica das lutas políticas e sociais se acelera, as situações e as correlações de força mudam tão depressa que nós mesmos, os revolucionários, temos dificuldade para absorver e interpretar tudo que estamos fazendo e tudo que sucede a nosso redor. Foi assim em 1968, quando mal conseguíamos refletir sobre aonde nos levavam as respostas de bate-pronto que dávamos aos desafios surgidos a cada dia. 

Muitos partidos e organizações de esquerda acabavam se dando conta de que, levados pelas circunstâncias, haviam adotado táticas contraditórias com suas definições estratégicas sobre:
— se a revolução brasileira teria caráter democrático-burguês ou socialista;
— se na vanguarda estaria o povo ou o proletariado;
— se haveria o recurso às armas ou as flores venceriam o canhão;
— se o foco principal seria o campo ou as cidades, etc.  

Então, conforme a Eliane Cantanhêde detalhou neste artigo, o significado maior da tríplice derrota de Jair Bolsonaro na última 3ª feira (10)  foi o de acelerar ainda mais a queda galopante de seu prestígio, aproximando-o da inevitável derrocada, pois já perdeu todas as condições reais de conduzir o país em meio à pandemia que nem de longe está controlada; e à depressão econômica que tende a atingir o ápice no próximo semestre (o recente e injustificado otimismo nos mercados já ficou para trás e as previsões para 2022 são nefastas).

Se não houver impeachment, é porque demora mais do que os brasileiros conseguirão suportar, após uma década perdida e dois anos e meio catastróficos. A explosão social chegará antes.

O quadro é tão dramático que há bom tempo eu aposto antes numa renúncia presidencial ou em qualquer filigrana jurídica (na linha das famosas  pedaladas fiscais...)  que os doutos garimpem para responder a esta situação imensamente mais grave que a incompetência de Dilma Rousseff: o clamoroso desequilíbrio mental que Bolsonaro já demonstra e tende a acentuar-se cada vez mais, à medida que seu arremedo de governo afunda. 

Quando a degradação das condições de vida de um povo excede o tolerável, as mudanças podem ser vertiginosas. Quem (sobre)viver, verá. (por Celso Lungaretti) 

NO CIRCO DO BOZO, O BUFÃO NÃO CAI DE BUNDA NO CHÃO PRA FAZER GRAÇA E SIM PORQUE SUA ATUAÇÃO É UMA DESGRAÇA

 

bruno boghossian
GOVERNO TENTA VIRAR O JOGO NA CPI ,
MAS VOLTA A EXPOR ROLOS DAS VACINAS
O governo se embrenhou tanto no camelódromo das vacinas intermediadas por personagens suspeitos que não encontra mais o caminho da saída. O último movimento bolsonarista na CPI da Covid mostra que os aliados do presidente não conseguem mais explicar os rolos identificados nas negociações de imunizantes.

A tropa de choque de Jair Bolsonaro tentou virar o jogo na sessão desta 5ª feira (12), mas acabou se complicando. O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros, disse que a comissão havia espantado os interessados em vender vacinas. Não há mais laboratórios buscando o Brasil, porque não querem se expor a esse tipo de inquirição, declarou.

O esforço de Barros para defender investigados e transferir a culpa para a comissão atiçou senadores governistas. Flávio Bolsonaro pegou carona no descaramento do líder e lançou a nova linha de defesa do Planalto: declarou que 
a única coisa concreta que a CPI conseguiu foi impedir milhões de vacinas nos braços dos brasileiros.

Os aliados de Bolsonaro devem ter esquecido que o próprio Ministério da Saúde cancelou o contrato do imunizante indiano Covaxin, intermediado pela Precisa Medicamentos. A Controladoria-Geral da União, órgão do governo, detectou que dois documentos apresentados pela empresa haviam sido adulterados.

A acusação de Barros também se perde no caso da chinesa Convidecia. O laboratório CanSino desmentiu o líder e afirmou que continua interessado em vender doses para o governo, mas lembrou que interrompeu o processo porque precisou trocar seus representantes no Brasil por motivos de compliance –ou seja, algo cheirava mal no acordo.

A CPI pode ter espantado picaretas que prometiam doses inexistentes, reverendos que simulavam missões humanitárias e empresas em busca de pagamento antecipado, mas quem age para impedir milhões de vacinas nos braços dos brasileiros é o governo, que ignorou dezenas de ofertas da Pfizer e mantém imunizantes parados em galpões. (por Bruno Boghossian)