quarta-feira, 11 de julho de 2018

Eleições: novos nomes para a velha dominação

Nos anos 1980, quando uma chapa concorrente em eleições sindicais trazia a palavra “renovação” em seu nome era quase certo que fosse composta por pelegos. Alguns nomes novos serviam de fachada para velhas práticas sindicais.

Na política eleitoral nunca foi diferente. Mas, ultimamente, renovou-se a moda de apresentar nomes de fora da vida partidária e da política tradicional como solução milagrosa.

Um recente estudo feito pelos pesquisadores Eduardo Cavaliere e Otavio Miranda mostra que nada é mais falso. Divulgado pela Folha em 17/06/2018, o levantamento mostra, por exemplo, que 75% dos deputados federais não ultrapassam o segundo mandato.

A título de comparação, em 2014, 53% dos deputados federais brasileiros foram reeleitos. Nos Estados Unidos, foram 95%; Inglaterra, 90%; Espanha, 88% e Canadá, 72%.

Talvez, fosse interessante acrescentar a esses dados, as conclusões de uma pesquisa da Universidade de Brasília, divulgado em 03/02/2016 pelo portal “Congresso em Foco”.

Segundo o estudo, metade dos deputados federais eleitos em 2014 tinham parentes com atuação política. Além disso, apenas 15% dos deputados com até 35 anos que chegaram à Câmara Federal não receberam o “empurrãozinho de um sobrenome político”.

Ou seja, mesmo quando há alguma renovação na política institucional, ela fica bastante restrita aos laços sanguíneos de algumas poucas e poderosas famílias do País. São os mesmos clãs que, há séculos, não hesitam em derramar o sangue de integrantes dos movimentos sociais que tentam se opor a seus enormes privilégios.  

Tudo isso mostra para as forças de esquerda que limitar sua participação política à via institucional somente contribui para reciclar velhas estruturas de exploração e opressão.
http://pilulas-diarias.blogspot.com/2018/07/eleicoes-novos-nomes-para-velha.html

Os zaps e tuítes e seus antepassados


No livro “O que é fascismo? – e outros ensaios”, de George Orwell, aparece um texto publicado por ele no jornal “Tribune”, em 08/12/1944. Um trecho diz o seguinte:

Durante anos no passado fui um laborioso colecionador de panfletos, e um leitor razoavelmente constante de literatura política de todos os tipos. O que me impressiona cada vez mais – e impressiona muitas outras pessoas também – é a extraordinária depravação e desonestidade da controvérsia política em nossa época. Não estou meramente afirmando que controvérsias são acrimoniosas. Elas têm de ser quando tratam de assuntos sérios. Estou dizendo que quase ninguém parece achar que um oponente merece ser ouvido com atenção, ou que a verdade objetiva importa tanto quanto você ser capaz de marcar ponto num debate. Quando olho para minha coleção de panfletos – conservadores, comunistas, católicos, trotskistas, pacifistas, anarquistas ou sabe-se lá o que mais –, a mim parece que quase todos têm a mesma atmosfera mental, embora os pontos de ênfase variem. Ninguém está em busca da verdade, todos estão apresentando um “caso” com total desconsideração à imparcialidade ou à exatidão, e os fatos mais evidentemente óbvios podem ser ignorados por quem não os quer ver. Em quase todos eles podem-se encontrar os mesmos truques de propaganda. Seria necessário preencher muitas páginas deste papel apenas para classificá-los, mas chamo aqui a atenção para um hábito muito disseminado e controverso – o de desconsiderar os motivos do oponente.

Panfletos estão meio fora de moda. Mas é só trocá-los por “zaps” ou “tuítes” no texto acima para atualizá-lo sem grandes problemas. Com o agravante de terem um alcance muito maior, hoje
http://pilulas-diarias.blogspot.com/2018/07/os-zaps-e-tuites-e-seus-antepassados.html