sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

PODERES INDEPENDENTES OU MIQUINHOS AMESTRADOS DO EXECUTIVO?


O presidente Michel Temer está sendo festejado pela imprensa canalha como o grande vitorioso do episódio da salvação de umpeculatário útil à custa da degradação dos Poderes republicanos: ele teria articulado nos bastidores, com o apoio de senadores servis e de servis ministros do Supremo, o mostrengo jurídico que deu  ao recordista de processos alguma sobrevida como presidente do Senado, só que oficial e vexaminosamente excluído da linha sucessória da Presidência da República. 

Como parte do troca-troca, o dito sujo (ôps, quer dizer, cujo), por sua vez, prometeu ser um bom menino: não vai mais enfiar o dedo no olho da deusa Têmis, símbolo da Justiça...

Fez lembrar o presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Marco Polo Del Nero, que cumpre mal e porcamente seu papel aqui dentro mas recusa todos os convites para representar a CBF lá fora, pois teme ser preso como corrupto pelo FBI assim que transpuser nossas fronteiras. Ou seja, fez da patriamada seu valhacouto.

É chocante o impudor com que tanta gente aceita como coisa normal a manutenção em tão alto cargo de um cidadão clamorosamente indigno de o exercer, apenas para que ele possa colocar tal ou qual projeto em votação! Enquanto for útil para os poderosos, teremos de o engolir.

Caso o problema seja recuperar nossa economia, podem-se também poupar muitos recursos dissolvendo-se o Legislativo e o Judiciário, já que, em momentos decisivos, ambos se prostram da forma mais abjeta à vontade do Executivo. 

Se as decisões agora serão tomadas única e tão somente segundo critérios utilitários, poderíamos voltar a ter apenas um Poder de verdade, o Executivo, como nos nefandos tempos da ditadura militar.

Mas, eu ainda prefiro outra solução, diametralmente oposta: que os membros do Legislativo e do Judiciário tomem vergonha na cara e deixem de se comportar como miquinhos amestrados do Executivo.
https://naufrago-da-utopia.blogspot.com.br/2016/12/poderes-independentes-ou-miquinhos.html


Sou um eterno otimista.

SAMBA DOS PODERES DOIDOS: O SENADO PROTEGE PECULATÁRIO E O STF SE CURVA A CONVENIÊNCIA POLÍTICA.

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Segundo um dicionário jurídico,peculato é "crime cometido pelo funcionário público contra a Administração Pública em geral", que se configura "quando o funcionário apropria-se de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão da função, ou o desvia em proveito próprio ou alheio".

No último dia 1º, por 8 votos contra 3, o pleno do Supremo Tribunal Federal considerou existirem motivos suficientes para o cidadão José Renan Vasconcelos Calheiros responder a processo por tal crime. 

A acusação: Calheiros era senador e destinou parte da verba indenizatória do Senado (destinada a despesas de gabinete) a uma locadora de veículos que, segundo a Procuradoria Geral da República, não prestou os serviços alegados. Tal locadora (Costa Dourada Veículos) era, como ele, alagoana. Os pagamentos foram feitos entre janeiro e julho de 2005. Em fevereiro de 2005 Calheiros se tornou presidente do Senado. Em agosto recebeu da Costa Dourado um empréstimo de R$ 178,1 mil.

Trata-se, contudo, de uma gota d'água no oceano, pois a trajetória de Calheiros é marcada por denúncias a granel, que se arrasta(ra)m por uma eternidade enquanto ele, belo e lampeiro, continua(va) ocupando altos cargos na República. Eis algumas dessas denúncias, segundo o valente Congresso em Foco:
  • utilização de documentos falsos para forjar uma renda com venda de gado em Alagoas e, assim, justificar gastos pessoais;
  • terceirização do pagamento de pensão à sua amante Mônica Veloso (relativa à filha resultante da relação), de R$ 16,5 mil mensais, que era efetuado pela empreiteira Mendes Júnior, a qual, porcoincidência, recebeu R$ 13,2 milhões em emendas parlamentares de Calheiros, destinadas a uma obra no porto de Maceió;
  • pavimentação ilegal de uma estrada de 700 metros na estação ecológica Murici, no município alagoano de Flexeiras (Calheiros é proprietário da Agropecuária que, para facilitar o transporte de gado, contratou a obra);
  • tráfico de influência no Ministério das Comunicações, em fato relacionado com a compra de emissoras de rádios em nome de laranjas;
  • uso de sua cota de passagens aéreas do Senado em viagem de três personagens acusados de atuarem como seus laranjas em empresas de comunicação e na de um agricultor suspeito de fraudar venda de gado em seu benefício;
  • ter-se hospedado juntamente com a esposa, às custas do Senado, num spa de Gramado (RS)  que é considerado um dos melhores do mundo e cobrou R$ 22,2 mil pelo pacote anti-estresse; e
  • 12 investigações por corrupção ora em curso, oito das quais no âmbito da Operação Lava-Jato.
O Senado nos expôs a ridículo mundial quando, em 2007, aceitou que um senador flagrado em relações tão ilícitas e promíscuas com uma empreiteira pudesse safar-se apenas abrindo mão da presidência da casa, ou seja, entregando o anel para conservar o dedo (o mandato).

Humilhou-nos mais ainda em 2013, ao torná-lo novamente presidente.

E nos avacalhou de vez nesta semana, quando um ministro do STF honrou a toga e determinou seu afastamento da presidência. O Senado não só cerrou fileiras em defesa de um peculatário, como violou as leis brasileiras ao descumprir uma decisão judicial, que poderia ser contestada, mas nunca ignorada.

O pleno do Supremo, por sua vez, fez política em vez de Justiça: face ao temor de que o substituto de Calheiros, petista, utilizasse artifícios regimentais para protelar a segunda votação da chamada PEC do teto dos gastos públicos (cuja aprovação é tida pelo governo federal como essencial  para nossa economia voltar a crescer), insultou a inteligência de todos nós ao decidir-se por um contorcionismo jurídico, um mero jeitinho brasileiro, cuja verdadeira razão de ser foi manter Calheiros no cargo até dar a contribuição que dele se espera para o austericídio.

O presidente do Senado é o segundo nome da linha sucessória, caso a Presidência da República fique vaga. O próprio STF decidiu que um cidadão processado não pode permanecer na linha sucessória. Então, qualquer primeiranista de Direito percebe quão descabida é a gambiarra do Supremo: Calheiros ser excluído da linha sucessória, mas manter a presidência do Senado. 

Isto só faria se ele estivesse na linha sucessória como cidadão; mas ele lá está comopresidente do Senado. Então, tendo se tornado inapto para cumprir uma das principais atribuições do cargo, tem de ser substituído por um senador sem tal limitação. 

Tais regras são institucionais e, portanto, não podem ser adequadas a situações pessoais, como o STF acaba de fazer.  

É algo tão elementar que, desta vez, até ocaro Watson consegue chegar sozinho à conclusão, dispensando as explicações do Sherlock Holmes...
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https://naufrago-da-utopia.blogspot.com.br/2016/12/samba-dos-poderes-doidos-o-senado.html


As mais recentes pizzas de Brasília


A mais recente pizza de Brasília acabou de sair dos fornos do Supremo. Crua, sem nenhum recheio ou tempero. Apesar disso, fomos obrigados a engoli-la pedaço por pedaço.

Mas há outra pizza assando. Gigantesca, aliás. Trata-se da PEC 55, do corte de gastos. O governo diz que precisa diminuir um déficit de R$ 170 bilhões, congelando os gastos públicos por 20 anos. São as Despesas Primárias, dizem governantes, parlamentares, grande mídia, barbeiros e motoristas de táxi. 

É preciso congelar gastos com a máquina pública. O problema é que essas despesas, incluindo desvios, má gestão, salários acima do teto e roubalheiras, representam cerca de 1% do tal déficit. Já o pagamento dos juros da Dívida Pública é responsável por uns 80% do déficit. O restante é queda da arrecadação.

Se ainda não deu pra entender, o gráfico acima pode ajudar. Bem desenhadinho.

Mas, apesar de estar assando a todo vapor, ninguém fala dessa pizza. Será porque o pagamento dos juros da dívida alimenta uma gigantesca ciranda financeira que beneficia, no máximo, umas 70 mil pessoas em uma população de mais de 200 milhões?

Será porque cerca de 98% dos papéis da Dívida Pública estão nas tesourarias de grandes investidores, como empresas, bancos, latifundiários? A mesma minoria que financia a eleição de parlamentares e governantes em geral e anuncia nos grandes meios de comunicação?

São tantas as perguntas...

O certo é que mais uma pizza está assando. E, com certeza, todas as outras, incluindo a dos senhores juízes supremos, serviram apenas como aperitivo para esta. Deliciosa para muito poucos. Venenosa para a enorme maioria. 
http://pilulas-diarias.blogspot.com.br/2016/12/as-mais-recentes-pizzas-de-brasilia.html

Artigo 142: intervenção militar garantida


Crise institucional! Juízes, governantes e parlamentares batendo cabeça. A corrupção reina. Renan reina. Temer agoniza.

Diante dessa confusão toda, vozes da direita pedem a aplicação do Artigo 142 da Constituição. E o que vem a ser tal coisa? 

Ele, basicamente, diz que as Forças Armadas “destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”.

Mas sejamos justos. Esta disposição constitucional jamais ficou esquecida. Foi acionada muitas vezes “por iniciativa” dos “poderes constitucionais”. 

Um mês após a aprovação da nova constituição, por exemplo, Sarney enviou tropas militares para reprimir uma greve de metalúrgicos em Volta Redonda. Três operários mortos. Artigo 142.

Em 1995, Fernando Henrique enviou tropas militares para refinarias da Petrobrás em greve. Artigo 142.

Em 2004, Lula criou a Força Nacional de Segurança Pública, composta por policiais militares “de elite”. Desde então, ela interveio em muitas lutas e manifestações. Artigo 142.

As mais corriqueiras manifestações populares jamais deixaram de contar com a presença repressiva de Polícias Militares estaduais. Artigo 142.

As UPPs cariocas ocuparam comunidades pobres. Vieram os soldados, mas não os profissionais de saúde, professores, assistentes sociais... Artigo 142.

As recentes ondas de ocupação de escolas receberam visitas truculentas das forças policiais militares. Artigo 142.

A população brasileira convive com uma polícia militarizada que trata sua parcela pobre como potencial inimigo. Artigo 142.

“Lei antiterrorista”? Sem comentários.

Os próprios selfies que manifestantes vestindo verde-amarelo fazem com policiais militares acontecem graças ao Artigo 142.

Diante disso, a direita poderia dar um tempo no ódio para comemorar suas vitórias. Não são poucas, afinal.
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quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

MAIS UM ESPETÁCULO GROTESCO DO MAFUÁ DOS PODERES


A atual crise entre Legislativo e Judiciário equivale a um strip-tease destes Poderes, com o Executivo simulando distanciamento enquanto, evidentemente, mexe pauzinhos nos bastidores. Só que nem os viciados em pornografia apreciam a exibição: nus, são todos horrorosos e repulsivos!

A coisa começa com um político alagoano fazendo carreira inexpressiva de deputado estadual e federal, até que a eleição do também alagoano Fernando Collor para a Presidência da República o catapultasse para posição de destaque, como líder do partido governista na Câmara Federal e depois líder do governo no Congresso Nacional.

Na crise do impeachment, Renan Calheiros deu a primeira mostra de sua aptidão para sobreviver a qualquer preço e por quaisquer meios: acusou o tesoureiro PC Farias e outros integrantes do governo de corrupção, além de assegurar que Collor tinha conhecimento de tudo.

Em 2007, face à revelação de que a empreiteira Mendes Jr. pagava uma mesada a sua amante Mônica Veloso, safou-se com a renúncia à presidência do Senado, mas, incrivelmente, conservou o mandato.

Depois, apesar de ser um dos políticos brasileiros mais investigados por fundadas suspeitas de diversas ilegalidades, foi se mantendo à tona graças à lerdeza habitual da Justiça e da Polícia quando seus alvos são peixes grandes. E, embora encalacradíssimo, seus nobres colegasreconduziram-no à presidência do Senado em 2013.

Tantas fez que hoje as ruas e os cidadãos de bem clamam, uníssonos, por seu afastamento: é o político em posição mais elevada dentre todos os que são tidos como a corrupção personificada. 

Mas, o timing é ruim para o governo federal, que considera imperativa a aprovação do arrocho fiscal e teme que seu substituto, o petista Jorge Viana, use de todos os artifícios regimentais para protelar a segunda e definitiva votação da chamada PEC do teto dos gastos públicos, já aprovada pela Câmara e que ganhou de goleada (61x14) na primeira votação no Senado.

Com Renan prestes a virar réu de processo por peculato e o Supremo Tribunal Federal decidindo que cidadãos respondendo a processos não poderiam permanecer na linha sucessória da Presidência da República, o ministro Dias Toffoli, do STF, interrompeu a votação com um pedido de vistas, há mais de um mês. Ou seja, qualquer que venha a ser o seu voto, os dos seis ministros favoráveis à exclusão dos processados prevalecerão. 

Mas, claro, se Toffoli continuar evitando que o martelo seja batido até o STF entrar em recesso, haverá tempo para Renan garantir a aprovação da PEC 241.

Marco Aurélio Mello, exatamente o ministro que relatou a matéria e se posicionou pela exclusão dos cidadãos processados da linha sucessória, reagiu com o afastamento imediato de Renan da presidência do Senado (embora provisório, pois dependia de confirmação do pleno).

O Senado afrontou a mais alta corte do País, negando-se a cumprir uma decisão que poderia ser contestada, mas nunca ignorada.
O desfecho ocorrerá na sessão do STF desta 4ª feira (7). Os jornalistas que têm fontes bem situadas nos bastidores dos Poderes, desta vez não coincidem. Há quem diga que Toffoli afinal dará o seu voto e existe quem garanta que ele pretende mesmo deixar tudo embanho-maria até 2017.

Outra possibilidade cogitada seria o Supremo decidir que Renan está inabilitado para assumir a Presidência da República no caso de vacância, mas pode continuar presidindo o Senado.

Quando ouço falar em atitude republicana, eu rio. Ninguém verdadeiramente a mantém nos podres Poderestupiniquins, cada vez mais nauseabundos.

Caberia até uma reação na linha da frase célebre de Goebbels: "Quando ouço falar em cultura, saco logo meu revólver". Mas, como brasileiro cordial que sou, tenho de me resignar à condição de espectador impotente de mais um espetáculo grotesco  do mafuá dos Poderes.

Vomitar é permitido.

https://naufrago-da-utopia.blogspot.com.br/2016/12/mais-um-espetaculo-grotesco-do-mafua.html

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

A REALIDADE DESNUDA E A FALSA DICOTOMIA ENTRE DIREITA E ESQUERDA


"A terceira revolução industrial é considerada, e não sem razão,
a causa de longe mais profunda da nova crise mundial. Pela
primeira vez na história do capitalismo, os potenciais de
racionalização ultrapassam as possibilidades de
expansão dos mercados.(Robert Kurz)
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O PÊNDULO DA INEFICÁCIA
Se é verdade que o pensamento socialista sempre teve uma dose elogiável de humanismo, expressa na conquista de avanços sociais e defesa de direitos civis, é igualmente verdade que se constituiu apenas numa forma política de capitalismo. Daí a sua insustentabilidade. 

É por assim ser que terminou sempre por se quedar à imperiosa lógica autotélica e segregacionista do capital, que se opõe ao melhor sentimento humanista. Daí decorre que o socialismo não passa de um conjunto de ideias bem intencionadas, constituindo-se, no final das contas, em algoz do interesse popular e no contrário do que anuncia ser (mesmo quando suas intenções são honestas e não um mero oportunismo eleitoral para a conquista do poder).   

O capital é uma forma de relação social subtrativa do esforço coletivo de modo a criar riqueza abstrata concentrada num processo de acumulação que tende ao infinito, segregando a maior parte dos seus súditos como forma de satisfação de seu sentido tautológico, vazio de sentido virtuoso. E isto só até o momento de alcançar o limite interno absoluto de expansão, quando definha e morre, não sem antes arrastar toda a humanidade para o abismo, caso não seja contida a sua derrocada final.

As vitórias eleitorais do socialismo de esquerda (1) sempre se deram por conta da ingovernabilidade do aparelho de Estado pela direita e seus métodos segregacionistas de promoção dos privilégios do capital e dos capitalistas.  

Ora, é de se perguntar: por que todos os governos de direita, com todos os mecanismos de controle institucionais, monetários e midiáticos a seu favor, fracassam e ensejam a simpatia popular eleitoral ao pensamento socialista? 

Esta indagação pode ser complementada por outra: por que todos os governos socialistas de esquerda fracassam e ensejam a antipatia popular como se fossem traidores dos seus próprios postulados e bandeiras, acabando por ensejarem a volta da direita, numa eterna e infrutífera alternância de poder  e sem questioná-la como tal?

A resposta é óbvia: isto se dá porque todos os governos apenas obedecem e aplicam os ditames de uma lógica de relação social (o sistema produtor de mercadorias) que, por sua natureza específica, impõe sacrifícios ao povo e transforma o Estado em sua força de coerção militar, além de instrumento de regulamentação legal e de controle monetário. 

Os governantes não governam, mas são governados.   

Os governantes, quando sentam na cadeira dos poderes do Estado, não têm vontade soberana, a não ser em questões periféricas e de escolha de prioridades dentro da escassez de recursos do Estado para atendimento das demandas sociais globais.

QUANDO A REALIDADE BATE À PORTA

Assim, quando é atingido o estágio do limite interno absoluto de expansão e a realidade de sua essência ontológica bate à porta sem subterfúgios sob a forma de miséria e desespero social inesperado, como agora ocorre, isto provoca a explicitação de alguns pontos, a saber: 
a) a identidade na aplicação do receituário da administração financeira da crise por qualquer partido que esteja no poder, independentemente de sua inclinação ideológica, capitalista ortodoxa ou socialista (2). 
b) a verdadeira função e caráter do Estado. Este, antes de ser um provedor das demandas sociais, é um coletor de impostos que mascara o pesado ônus que impõe aos exauridos ombros dos trabalhadores (duplamente extorquidos, pelo capital e pelos tributos estatais) com serviços públicos cada vez mais ineficientes; e que exige do contribuinte a pagamento da conta da infraestrutura da produção mercantil e do funcionamento dos poderes institucionais que sustentam a opressora lógica mercantil. O trabalho e o trabalhador são categorias capitalistas que sustentam o Estado, a máquina de coerção sistêmica. 
c) o desejo de grande parte da população da volta à situação anterior, quando da ascensão capitalista. Então os trabalhadores conseguiam sobreviver, embora miseravelmente, e tinham esperança de subirem na vida, enquanto a minoritária classe média, formadora de opinião, vivia razoavelmente bem – isto com diferenciações de país para país, dependendo do grau de capacidade de produção de mercadorias de cada nação (a classe média dos Estados Unidos sempre teve benefícios estatais e confortos maiores que a classe média do Haiti, obviamente); 
d) a consciência, para uma pequena minoria formada pelos mais argutos, de que a crise não é uma questão de mau gerenciamento do Estado, decorrendo, isto sim, da falência dos próprios fundamentos de uma relação social que se tornou anacrônica e não consegue promover a mediação social de modo minimamente aceitável. 
A tal da classe média, consciente de que seus privilégios ora definham, prefere, por comodidade e medo do novo, embarcar na cantilena midiática de que toda a crise decorre da corrupção com o dinheiro público, como se o combate a tal cancro institucional (que não passa de um subproduto endêmico de uma corrupção sistêmica) fosse uma varinha de condão, capaz de promover a restauração do status quo antigo. E, assim, influencia toda a população.

A escolha dos Sérgio Moro e Joaquim Barbosa da vida como salvadores da pátria desfoca o cerne do problema e, ainda que aprovemos as suas atuações, não podemos ser ingênuos a ponto de crer que a corrupção se constitua na causa maior das nossas agruras. Ademais, o desvirtuamento do foco da crise estrutural para o combate a corrupção é do interesse do sistema, pois serve como desculpa para o seu fracasso e para o aumento da miséria enquanto perdurar a agonia do capitalismo.   
Quando se compreende o significado do processo eleitoral e da função dos partidos e dos políticos como um mecanismo de legitimação jurídico-institucional de uma forma de relação social segregacionista, não há que querermos melhorar o seu desempenho com a eleição de cidadãos honestos e partidos bem intencionados, na esperança de que mudem os padrões éticos de comportamento, quaisquer que sejam os seus matizes ideológicos. 

Isso não passa de sonho de uma noite de verão, pois tal desejo é irrealizável sob uma base de relações sociais de natureza capitalista, mercantil, que tem na subtração do valor produzido pelos trabalhadores (leia-secorrupção original) a sua razão de ser. Sob o capital, toda a institucionalidade funciona em falso, e dessa falsidade não pode nascer nada de bom do ponto de vista coletivo. 

Temos de denunciá-la e combate-la, ao invés de a fortalecer. Temos de buscar a produção fora do mercado, paulatinamente, exaustivamente, como modo de afirmação da vida.

Agora, quando a realidade bate à nossa porta e torna explícita a falsa dicotomia entre direita e esquerda sob o capitalismo, só nos resta negar o próprio capitalismo e suas categorias fundantes (valor, trabalho abstrato, mais-valia, dinheiro, mercadoria, mercado, Estado, política, políticos, democracia, socialismo, nacionalismo, capital, etc.). 

Temos de enfrentar tal gigante de pés de barro com todas as nossas forças; o preço a se pagar por isso não é pequeno, mas a vitória é possível. (por Dalton Rosado)
  1. existe também socialismo de direita, como foram os casos do Partido Nazista de Hitler, que se definia como nacional socialista; e do fascismo italiano de Mussolini, que defendia lemas ditos socialistas e nacionalistas, tendo sua legislação trabalhista sido copiada pelo ditador brasileiro Getúlio Vargas.
até ontem governando a França, Nicolas Sarkozy, de direita, foi defenestrado do poder pelo socialista François Hollande, o qual, por sua vez, hoje não consegue sequer ser candidato à reeleição, com os novos Sarkozys se apresentado como competentes governantes capazes de superar a crise do capital instalada na União Europeia.
 https://naufrago-da-utopia.blogspot.com.br/2016/12/a-realidade-desnuda-e-falsa-dicotomia.html

RENAN CALHEIROS NÃO PRESIDE MAIS O SENADO; ISTO NÃO BASTA PARA O BRASIL DEIXAR DE SER REPÚBLICA DAS BANANAS.


O Senado era presidido por Renan Calheiros, cidadão há muito envolvido em episódios nebulosos ( e que teve de renunciar sob vara à presidência da mesma casa legislativa em 2007, o que não impediu os nobres colegas de a ela o reconduzirem em 2013). 

Como leopardos não perdem as pintas, ei-lo encalacrado de novo. Como é quase certo que a decisão provisória de Marco Aurélio Mello será confirmada pelo pleno, cabe indagarmos quanto vai durar o ostracismo de Calheiros desta vez. Apenas mais seis anos?

Independentemente de delitos cometidos ou a ele atribuídos, Calheiros recentemente se colocou na berlinda por extrapolar flagrantemente as atribuições do seu cargo:
  • quando articulou com Ricardo Lewandowski, do STF, a não cassação dos direitos políticos de Dilma Rousseff, embora a aprovação definitiva do seu impeachment  a tornasse obrigatória (seria, na minha opinião, uma medida draconiana e desnecessária, mas nenhum dos dois personagens tinha poderes, à luz da Constituição, para tomar tal decisão);
  • ao articular no Senado a completa descaracterização das medidas de combate à corrupção recém-aprovadas, parecendo até (com uma das alterações) querer tolher e intimidar  os futuros juízes dos seus processos.
Deve perder não apenas a presidência do Senado, como também o mandato e, provavelmente, a liberdade. Mas, depois que a onda moralista passar, tende a renascer das cinzas, como ele próprio, seu velho parceiro Collor e tantos outros já conseguiram.

Seu substituto está sendo pressionado a agir como militante do partido a que pertence, desmarcando uma segunda votação já agendada para data próxima. 

Mais uma vez, deixo claro que, por força de convicções que tenho defendido durante toda a minha vida consciente, sou totalmente contrário a ajustes fiscais, redução de direitos trabalhistas e quaisquer outros austericídios
Mas, o vale-tudo que se instalou na política brasileira, com cada personagem agindo como bem lhe dá na telha, sem o mínimo respeito pelos limites dos seus poderes e pela liturgia do seus cargos, comportando-se como se não passasse de um troglodita organizadodos estádios de futebol, faz da pátria (mal) amada uma mera república das bananas.

Daí estarmos cada vez mais embananados, sem solução à vista para uma recessão que sacrifica terrivelmente nosso povo e o está levando ao desespero. Até quando?!
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Por uma obscenidade de esquerda
















Dois artigos publicados na Folha, em 04/12, pediam paciência e humildade diante das recentes manifestações de rua em defesa da Lava-Jato.

Antônio Prata dizia ser “impossível conversar com quem defende a ditadura, a tortura, a homofobia. Mas ao lado desses, hoje, estarão seu primo, seu tio, seu sogro e uma multidão de pessoas decentes...”. Se virarmos as costas a eles, afirma ele, como evitar um “Bolsonaro em 2018”?. 

Rodrigo Nunes vai por caminho parecido:

A identidade de esquerda parece cobrar um preço cada vez mais alto de entrada: os requisitos práticos e teóricos são cada vez mais exigentes, e seu não cumprimento pode implicar não a tentativa de persuasão, mas o fechamento de qualquer via de diálogo.  

Os dois articulistas estão falando sobre a penosa, mas necessária, convivência com um senso comum impregnado de valores retrógados e revoltantes. Realmente, não é fácil ouvir obscenidades como a defesa da tortura, da homofobia, do racismo... 

O sentido da palavra “obsceno” refere-se ao que deve ficar escondido, fora de cena. De forma alguma, aceitamos tortura, homofobia, racismo. Mas combater tais valores com ofensas é continuar no mesmo registro de obscenidades. 

A defesa da livre orientação sexual ou de tratamento digno para criminosos, por exemplo, é obscena para a extrema-direita. Sem problema. Gostamos de escandalizá-la com esta nossa obscenidade e nos orgulhamos dela. Mas se a abandonarmos para trazer à cena principal nossa arrogância e hostilidade, aqueles que queremos convencer só ouvirão os fascistas.

Como diz Nunes em seu artigo, acolher os medos e anseios das pessoas pode ser um “ponto de partida para uma obscenidade de esquerda”.

No:http://pilulas-diarias.blogspot.com.br/2016/12/por-uma-obscenidade-de-esquerda.html