sábado, 11 de janeiro de 2014

A Copa do Mundo incomoda muita gente...



Por Flávio Aguiar

O irrequieto sr. Blatter, do alto da montanha suíça onde vive e que não perde oportunidade para não ficar quieto, acusou o Brasil de ser o país que mais atrasou as obras da Copa do Mundo.
Pode-se dizer que ele deu, no plano internacional, o pontapé inicial do que vai ser o jogo do ano de 2014. Do jogo fora das quatro linhas, bem entendido. Porque dentro e fora dos gramados, a Copa do Mundo no Brasil incomoda muita gente, como dizia aquela musiquinha de infância sobre os elefantes.

O time anti-Brasil terá como pontas-de-lança as mídias atacantes The Economist e Financial Times, com o meio do campo reforçado por setores neo-liberais de outras mídias, que incluirão até o New York Times, o The Guardian, Le Monde, Corriere della Sera, El Pais, e provavelmente a germânica Der Spiegel.
Na defesa, dando bico para tudo quanto é lado, estarão os cronistas do desastre anunciado no Brasil, os arautos da velha mídia, que estão apostando em:
  1. Movimentos como o “Não vai ter Copa”, com primeiro jogo marcado para o 25 de janeiro.
  2. Movimentos como “Anônimos”, “Vem pra rua você também”, esperando que manifestações ganhem corpo de meados de junho a meados de julho, com vaias nos estádios cada vez que o tema roçar ou mostrar a presidenta Dilma.
  3. Na esperança inconfessável de que arruaças do tipo “Blackblocks” e possíveis outras provocações pseudo-anarquistas ou de direita mesmo contem com o inestimável apoio de uma brutalidade da polícia, para expor “a farsa Brasil” dentro e fora do país.
  4. Se de tudo sair alguma vítima fatal, mesmo que seja uma única, melhor ainda.

No gol, estarão os candidatos presidenciáveis da oposição, embolados, e provavelmente enredados na rede que teceram.
Parece, diante dos prenúncios cada vez menos desastrosos sobre a economia, apesar de dificuldades na área industrial e na balança comercial, e diante da inépcia embolada das candidaturas de oposição, que esta é a única bala de prata que resta para estas oposições midiáticas ou outras.
Ao invés de apostas programáticas – já que os verdadeiros programas de direita no Brasil são inconfessáveis pelos candidatos, embora existam –, só lhes resta apostar nos antiprogramas, nas catástrofes políticas e sociais possíveis e imagináveis. E nas inimagináveis também.
Que candidato vai fazer a loucura de dizer que vai fechar o Bolsa Família? Ou outros programas sociais?
Que candidato terá a temeridade de dizer que vai cortar o Pro-Uni (a não ser na extrema esquerda) e a política de cotas?
Que candidato vai confessar que vai esvaziar o Mercosul e voltar à velha política de privilegiar “os países que importam”, quer dizer, a velha política de subserviência aos Estados Unidos e à Europa?
E que candidato vai ter a coragem de dizer que, na verdade, vai acabar com essa parolagem de meio ambiente e vai favorecer a expansão desregrada do agrobusiness no Cerrado, na Amazônia legal e ilegal? Mesmo com apoio do Greenpeace e do SOS Mata Atlântica antes da eleição.
Que candidato vai declarar que a política de juros altos e de desindustrialização através da “abertura” será o norte desta nova dependência em relação aos fortes Nortes da geopolítica?
Que candidato dirá que vai retomar uma política de dependência também no campo da defesa militar, seja na Amazônia, no espaço aéreo ou na plataforma marítima (leia-se pré-sal).
Que candidato dirá que vai rifar os ganhos do pré-sal entre multinacionais e outros barões da indústria fóssil, em vez de destiná-los prioritariamente à educação e ao investimento tecnológico?
Ou que vai diminuir ainda mais as verbas da saúde pública em favor das indústrias privadas do setor? Ou que vai tocar do país os médicos cubanos e outros que vieram auxiliar as regiões desassistidas? Ou que voltarão a criminalizar os movimentos sociais, especialmente o MST?
E por aí vai. Mas podem crer: confessem ou não os candidatos e os arautos da velha mídia, é tudo isto que nos espera e muito mais caso as oposições de hoje ganhem a eleição em outubro. Porque as oposições hoje no Brasil têm sobretudo uma visão anacrônica, provinciana e paroquial do mundo que as cerca, incapazes de ver, por exemplo, que mesmo dentro do sistema capitalista a melhor tendência dominante é a da formação de blocos regionais, da Europa desenvolvida à África subdesenvolvida. E por aí também vai.
Mas como tudo isto é inconfessável, só resta a bola, quer dizer, a bala de prata da Copa e da contra a Copa. Deste modo, o jogo opositor contra a Copa torna-se um jogo anti-Brasil, dentro e fora das quatro linhas. Na ilusão de que se a Copa for normal ou próxima disto, e de que, pior ainda, de que se o Brasil ganhá-la, a reeleição da presidenta estará garantida, vão apostar declaradamente na primeira condição – “não à Copa” – e surdamente na segunda – “que o Brasil perca dentro do campo”.
Vamos ver como eles conseguirão conclamar, sem revelar, sem expor, tudo isto para as galeras nas praças e diante da tevê antes, durante e depois dos jogos.
Como diz o Saul Leblon, a ver.
http://www.aldeiagaulesa.net/2014/01/a-copa-do-mundo-incomoda-muita-gente.html#.UtEN59JSbGA


A televisão diante do desafio da reinvenção



"Com mais erros do que acertos, os jornais e revistas vem tentando encontrar novas fórmulas editoriais e corporativas para sobreviver ao impacto da internet; mas a televisão, aqui e no resto do mundo, permanece atada à um modelo que tem mais de 50 anos. 

A resistência à mudança é mais nítida no segmento dos telejornais, onde, descontadas as inovações tecnológicas e as mudanças no guarda-roupa, as emissoras seguem a mesma fórmula do Repórter Esso, da extinta TV Tupi, o primeiro noticiário em vídeo no Brasil. Trabalhei 11 anos no jornalismo da TV Globo e sou testemunha de que as mudanças no estilo de apresentar notícias foram apenas superficiais e formais.

A televisão está entrando na era digital sem ter conseguido livrar-se totalmente do pecado original de ter herdado o estilo narrativo do jornal impresso. Agora ela está diante do desafio da narrativa não linear e interativa da internet, mas continua agarrada ao estilo linear e unidirecional de contar histórias com imagens e sons.

O espectador permanece alheio às novas possibilidades de comunicação multimídia interativa porque segue hipnotizado pela sucessão de inovações tecnológicas e pelo fascínio da imagem. Os anunciantes, desconfiados da mídia impressa, mantém as verbas publicitarias na TV, garantindo às emissoras receitas que acabam estimulando o medo de arriscar mudanças na programação, apesar da queda das médias de audiência, em comparação aos anos 1980 e 90.

Os telejornais continuam agarrados à fórmula de apresentadores carismáticos e repórteres no local dos fatos, embora nem uns nem outros acrescentem diferenciais significativos ao conteúdo das notícias transmitidas.

A regra de que os stand ups (repórter no vídeo) conferem credibilidade à reportagem continua sendo seguida ao pé da letra, embora os fatos mostrem que há pouca ou nenhuma relação entre o que o profissional viu e a realidade do evento noticiado. O deslocamento de equipes de jornalistas e a presença de correspondentes no exterior acabam funcionando mais como marketing dos telejornais do que como garantia de conteúdo original.

O uso intensivo da notícia como fator de atração de público levou à multiplicação de programas noticiosos, e como a capacidade de produção de novas reportagens é limitada, o recurso à repetição passou a ser onipresente. Os telejornais da noite repetem notícias e imagens já divulgadas nos noticiários da manhã e do meio-dia. Quem assiste ao Bom Dia Brasil muito provavelmente encontrara boa parte das matérias repetidas no Jornal Nacional e no Jornal da Globo.

A repetição em si não é um pecado. O problema é que o enfoque continua o mesmo, mostrando falta de criatividade dos editores, salvo quando um fato novo acontece entre um telejornal e outro. Outra causa da monotonia dos telejornais é o fato de todos eles seguirem a mesma agenda noticiosa. Como os manuais de redação são idênticos, a edição, estilo e apresentação das notícias acabam sendo quase iguais. As diferenças ficam apenas por conta dos gadgets eletrônicos ou do orçamento para financiar deslocamentos de repórteres.

As redes e emissoras independentes estão desperdiçando preciosos recursos financeiros ao não optarem por uma reinvenção da televisão em ambiente internet. A primeira coisa que os telejornais precisam esquecer é a preocupação em dar notícias que já circularam pela internet e estão em debate nas redes sociais. Também deixa de ser prioritária a regra de trazer a notícia pronta e supostamente completa. Com a multiplicação exponencial dos informantes online, cidadãos praticantes de atos jornalísticos, fica difícil ser inédito e, ainda mais, tentar condensar a diversidade de visões e opiniões numa única reportagem.

A tendência é a TV deixar de ser a referência obrigatória para as pessoas saberem o que está acontecendo porque elas estarão se atualizando por uma miríade de veículos, quase todos alimentados pela internet. Com isso, os telejornais tendem a se tornar menos atrativos e consequentemente menos valorizados em matéria de espaços publicitários. Para manter sua relevância diante do público, o telejornalismo precisa descobrir o que a TV tem de único em relação aos demais veículos de comunicação, algo que muitos sabem mas não aplicam.

A televisão é o melhor veículo para exposição da diversidade de perspectivas e opiniões, desde que os profissionais deixem as pessoas debater, sem impor condicionamentos ou direcionamentos. Os programas jornalísticos na TV em ambiente Web podem assumir duas características: espaços abertos para discussão ou espaços de opinião personalizada diversificada.

Dos dois espaços, a TV comercial, e também a estatal, usam apenas o ocupado por porta-vozes das opiniões ou projetos das respectivas direções.

Na TV paga há mais debates do que na aberta, mas a razão fundamental não é o principio da livre discussão, mas o fato de que programas deste tipo são mais baratos, já que não envolvem produção sofisticada – bem como, quase sempre, encontram participantes interessados na visibilidade e marketing pessoal. 

Nos Estados Unidos, empresas surgidas na internet, com a Yahoo!, estão contratando profissionais da televisão convencional e mostrando interesse em ocupar espaços diante da demora das grandes redes de TV em mudar suas estratégias editoriais na era digital. Além disso, os grandes jornais, originalmente impressos, estão agora investindo pesado na multimídia, abrindo outro flanco de ataque aos territórios antes exclusivos da TV. Quase todos os grandes jornais norte-americanos, europeus e japoneses já têm hoje boa parte de suas notícias na internet editadas na forma de vídeos.

As receitas publicitárias da televisão também estão caindo, mas em ritmo muito menor do que na imprensa escrita. As margens de lucro ainda são compensadoras. O momento da mudança é agora, porque esperar mais significa a possibilidade de ter que tomar decisões complexas em clima de crise ou quase crise, quando a margem de erro aumenta muito."
Carlos Castilho, Observatório da Imprensa

Princípio e fim da elite brasileira: pilhar e expatriar



"Quando conhecemos os princípios – ou a falta destes – das nossas elites e dos nossos governantes mais conservadores e reacionários, fica fácil entender porque existe a indigência, a pobreza, a violência


Lula Miranda, Brasil 247

O princípio do poder imperial, na época do colonialismo, podia ser resumido a essas duas ações: saquear e expatriar. O "direito" ditado pelo chamado poder de guerra e seus consequentes "espólios" é bastante conhecido. Você deve saber que a maior parte das obras de arte expostas nos grandes museus da Europa é oriunda de pilhagens e "expropriações" nas guerras. Deve saber também que países desenvolvidos e "civilizados" da Europa, como Holanda, Inglaterra, Alemanha, Espanha e Portugal fizeram sua acumulação primitiva de capital escravizando povos, extraindo riqueza das "suas" colônias e remetendo para a metrópole. Isso a gente aprende nas aulas de história.

Sociólogos e antropólogos variados já escreveram diversos ensaios e tratados onde analisam e documentam que, depois que as antigas colônias conseguiram sua suposta e só aparente independência, as elites governantes, que ficam e assumem o manietado poder local, curiosamente, ainda mantinham entranhados em seus hábitos e costumes o princípio da subordinação, mas, principalmente, o da pilhagem e da expropriação aprendidos com os colonizadores europeus.

Esse, segundo os estudos e análises desses diversos intelectuais, seria, grosso modo, uma espécie de "determinismo econômico-cultural", de "fatalismo": a grande mazela ou cacoete atávico que acomete nossas elites.

Algo que também poderia ser denominada de "síndrome do Dilúvio" ou "síndrome da arca de Noé. Ou ainda, num linguajar mais popular de nossas áridas paragens, o velho determinismo do ditado "farinha pouca, meu pirão primeiro".

Parece-me nítido que não havia, e, creio, ainda não há, da parte de porção significativa de nossas elites, uma preocupação em construir uma nação lastreada nos mais básicos princípios civilizatórios e comprometida com o bem-estar de seu povo.

Parecem, no fundo, por mais incrível que isso possa soar, movidos pelo mesmo impulso bestial que move populações mais pobres quando diante de uma carga tombada em um acidente na estrada, por exemplo: "quero é garantir o meu e dos meus. O resto não importa".

O "detalhe" é que, em verdade, o aludido "resto" é o que de fato importa.
Resolvi escrever esse artigo depois que li, em matéria publicada no blog Diário do Centro do Mundo, que a governadora Roseana Sarney teria depositado a soma de 150 milhões de dólares (cerca de R$360 milhões em valores de hoje) nas ilhas Cayman (ou Caimã), segundo informações vazadas pelo Wikileaks lá atrás, em 2009. Se verídica essa informação, o crime dessa governante se agiganta e se torna ainda mais grave do que já é em si. Pois, sabemos todos, o Maranhão é um dos estados brasileiros que vive afundado na mais aviltante pobreza.

Pilhagem e expatriação.

Um ministro do Supremo recentemente comprou um apartamento em Miami. É um direito dele, ninguém questiona isso. Mas a mimese aqui é semelhante a da síndrome dos crioulos colonizados, os brancos nascidos na América, mas descendentes de europeus. Veja bem: um cidadão negro, de origem humilde, sobe na vida por seus próprios esforços, méritos e talentos, mas "ao fim e ao cabo" assume a mesma postura da elite branca, brega e rastaquera: assegura a sua "arca de Noé" no "paraíso" de Miami. Afinal, amanhã ou depois poderá advir o grande Dilúvio e é preciso preservar a própria espécie. Não é mesmo?

Essas notícias não trazem em si nenhuma novidade. Paulo Maluf foi acusado de possuir centenas de milhões de dólares em contas em outro paraíso fiscal – o que ele nega peremptoriamente. Inúmeros outros governantes já foram acusados de possuir semelhante "poupança" – já que o velho, bom e honesto "porquinho" tornou-se brincadeira de criança.

Recentemente, foram descobertas somas milionárias escondidas na Suíça. Depósitos que teriam sido feitos a título de propina em nome de operadores ligados a políticos do PSDB e do PPS. Certamente há, nos chamados "paraísos fiscais", também depósitos feitos por operadores do PT, do PMDB, do PSB, do PTB etc. Mas, como se sabe, é tudo "mentira": "intrigas da oposição"; tudo parte integrante do nosso "folclore político".

Quando conhecemos os princípios – ou a falta destes – das nossas elites e dos nossos governantes mais conservadores e reacionários, fica fácil entender porque existe a indigência, a pobreza, a violência, os latifúndios improdutivos ou o flagelo causado pela seca. Podemos aprender alguns "fins" ou os "porquês".

1º: pelo qual motivo os presidiários são tantos e amontoados como se fossem dejetos humanos em diminutos e superlotados catres.

2º: por que surgiram os comandos e o crime organizado que hoje dominam os presídios e favelas, oprimem o cidadão de bem e submetem o próprio Estado.
3º: por que os pobres não recebem um atendimento minimamente digno nos hospitais e postos de saúde.

4º: por que a educação pública é tão ruim.

5º: por que os ônibus e metrôs são tão poucos e superlotados.

6º: por que o déficit habitacional é tão grande (faltam cerca de 7 a 8 milhões de moradias para abrigar a população mais carente); por que os aluguéis são tão caros.

7º: por que os melhores empregos são para os filhos dos brancos.

Todo esse elenco de iniquidades é fruto de séculos de dominação por uma elite inescrupulosa e egoísta. É fruto da pilhagem, expropriação e expatriação das riquezas da nação. Mas esse sua natureza, inescrupulosa e egoísta, carrega em si o germe da sua própria destruição. Ou seja, os seus princípios espúrios determinarão a sua própria ruína, o seu próprio fim.

O único caminho possível, para muito além do velho proselitismo político e das mentiras e hipocrisia seculares, é procurarmos trilhar uma política cada vez mais progressista e humanista, unindo os melhores talentos da sociedade com esse fim: o da construção de uma sociedade mais justa, e por isso menos desigual.

Assim deve prosseguir caminhando firmemente o Brasil.

Assim caminham os principais países da América Latina – e até mesmo os EUA.

Assim deve caminhar a Humanidade."