sábado, 26 de maio de 2012

Dinheiro é tudo


   

Um movimento com o sugestivo nome de "Endireita Brasil" promove nesta sexta-feira, em São Paulo, uma manifestação que é suprassumo da demagogia: com o pretexto de demonstrar quanto imposto há embutido nos combustíveis, vão vender uma certa quantia do produto sem a parte referente aos tributos - mas só vão aceitar pagamento em dinheiro, porque ninguém é de ferro.
Esse é um típico exemplo do cinismo dos nossos empresários, que estão sempre jogando para a plateia na tentativa de comover o pobre do cidadão de que eles são bonzinhos, que só querem o bem-estar da sociedade, que cobram os preços que cobram porque são obrigados a isso.
A culpa de tudo é sempre do governo - o federal, claro, porque no Estado e na Prefeitura de São Paulo eles contam com os amigos do peito tucanos e assemelhados, amigos que não deixam de recolher, de bom grado, a sua parte da taxação.
Essa história de que no Brasil os impostos são os mais altos do mundo já cansou, primeiro porque eles não são os maiores, segundo porque, na hora do vamos ver, de fazer uma reforma tributária para valer, os prefeitos e os governadores, sejam lá de que partido forem, se unem todos para deixar tudo exatamente como está. Por essas e por outras a presidente Dilma avisou que vai enfrentar o problema tributário de outro modo, promovendo, como está, desonerações setoriais.
Outra coisa que já encheu é esse papinho dos empresários de que os impostos são responsáveis pelo preços que cobram das mercadorias e serviços. Pura cascata, mentira deslavada. Eles conseguiram acabar com a CPMF e não baixaram um centavo sequer de absolutamente nada. Cobram caro porque visam unicamente o lucro, não estão nem aí com a população.
O caso mais recente de manipulação é esse das sacolinhas de plástico. Com a ajuda de algumas ONGs bobocas, de autoridades ou desinformadas ou simplesmente mal intencionadas, os supermercados conseguiram o que queriam, que era cortar um dos custos de sua cadeia, a de embalar as mercadorias que vendem. São R$ 300 milhões a menos por ano.
Num primeiro momento, graças ao marketing poderoso da "sustentabilidade ambiental", seja lá o que isso for, levaram a opinião pública para o seu lado. A maioria das pessoas, ingenuamente, entrou na canoa furada da "ajuda ao meio ambiente" que o fim das sacolinhas iria proporcionar.
Quando, porém, os consumidores se viram diante da dura realidade de ter de carregar com as próprias mãos ou em caixas imundas as compras que faziam nos ambientalmente "corretos" supermercados, a porca torceu o rabo e pimba!, quem era a favor da medida ficou contra: segundo o Datafolha, 69% da população agora quer as sacolinhas de volta.
Por tabela, vários parlamentares, que caminham ao sabor do vento que bate em seus eleitores, já se movimentam, em muitas cidades, para restaurar a obrigatoriedade de fornecimento gratuito das sacolinhas, ou de qualquer outro tipo de embalagem decente.
Esse movimento de reação, porém, teria sido evitado se os donos dos supermercados, logo que baniram as sacolinhas, tivessem baixassem os preços das mercadorias. Isso mostraria que estavam realmente bem intencionados, que tudo o que diziam sobre consumo consciente e outras parlapatices vinha do fundo do coração e não era apenas a mais rasteira, óbvia e pura demagogia.
Uma coisa eu garanto: se todo o esforço que os nossos patrióticos empresários fazem em prol de tantas causas nobres fosse dirigido para satisfazer os seus clientes, eles estariam hoje numa situação muito, mas muito melhor do que estão - e eles estão muito, mas muito bem.
cronicasdomotta

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Dilma veta parcialmente Código Florestal






A presidenta Dilma Rousseff vetou parcialmente o Código Florestal aprovado pela Câmara dos Deputados. Nesta sexta-feira 25, o Planaltou anunciou 12 vetos e 32 modificações no projeto e prometeu enviar uma nova Medida Provisória na próxima segunda-feira ao Congresso. A ideia é restaurar pontos do projeto do Senado que foram retirados pelos deputados e adicionar novos pontos à lei.
Entre os pontos vetados está o artigo que trata da consolidação de atividades rurais e da recuperação de áreas de preservação permanente (APPs). O texto aprovado pelos deputados só exigia a recuperação da vegetação das APPs nas margens de rios de até 10 metros de largura. E não previa nenhuma obrigatoriedade de recuperação dessas APPs nas margens de rios mais largos. O projeto era visto como uma “anistia” para os desmatadores.
Dilma sofreu grande pressão da sociedade para vetar o texto aprovado pelo Congresso. O projeto de lei, aprovado na Câmara dos Deputados no final de abril, foi a primeira grande derrota da bancada governista desde que a presidenta tomou posse. Com o veto parcial, o governo deixa o texto mais próximo daquele aprovado pelo Senado, que ia ao encontro dos desejos governistas.
O anúncio foi feito em Brasília pelos ministros da Agricultura, Mendes Ribeiro, do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, e do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas. “O veto é parcial em respeito à democracia e ao Congresso Nacional”, disse a ministra do Meio Ambiente. “Não admitimos nada que anistie o desmatamento”. Já o ministro da Agricultura disse que “esse não é o código dos ambientalistas, nem dos ruralistas. Esse é o código daqueles que tem bom senso”.
Segundo Mendes Ribeiro, os detalhes de todos os vetos serão publicados na segunda-feira, para que o Congresso Nacional tenha conhecimento deles junto ao resto da sociedade. Os vetos presidenciais podem ser derrubados pelo Congresso Nacional, desde que tenham o apoio da maioria absoluta das duas Casas em votação secreta.
Informações da Agência Brasil

Roncar pode aumentar em 5 vezes o risco de desenvolver câncer




O ronco e outros distúrbios respiratórios do sono podem privar o corpo de oxigênio suficiente por algumas horas.

Os cientistas acreditam que os baixos níveis de oxigênio no sangue podem desencadear o desenvolvimento de tumores cancerígenos, promovendo o crescimento dos vasos que os alimentam.

Eles dizem que, no futuro, será possível prever doenças nas pessoas, impedindo que elas ronquem. O estudo americano analisou a taxa de câncer em mais de 1.500 pessoas com problemas de sono, com idades acima dos 22 anos.

Os cientistas disseram que aqueles com a respiração desordenada grave ao dormir tinham quase 5 vezes mais chances de desenvolver câncer do que aqueles sem nenhum problema respiratório no momento do sono.

Um dos problemas do sono é a apneia. Pesquisas recentes dizem que a apneia está diretamente ligada com vários problemas, como obesidade, diabetes, hipertensão arterial, ataques cardíacos e acidente vascular cerebral.




Estudos laboratoriais mostraram que a hipóxia intermitente (ou seja, baixos níveis de oxigênio) promovem o crescimento de tumores em ratos com câncer de pele. A falta de oxigênio estimula o crescimento de vasos sanguíneos que alimentam os tumores, um processo chamado de angiogenese.

Dr. Javier Nieto, líder da pesquisa, comentou: “A consistência das evidências a partir das experiências com animais mostram aspectos epidemiológicos muito atrativos para comparação com humanos”.

“O nosso primeiro estudo revelou uma associação entre o ronco e doenças respiratórias de sono com um elevado risco de mortalidade por câncer em uma determina amostra populacional”, acrescentou.

O pesquisador, no entanto, enfatiza que são necessárias mais provas sobre esta ligação. Os resultados do estudo foram apresentados na Sociedade Torácica Americana em São Francisco, EUA e publicadas na revista American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine.

Jornal Ciência

Composteira doméstica: solução simples e caseira para o lixo urbano


Faz dois anos que deixamos de produzir lixo orgânico na nossa casa, 

através da construção de uma composteira na sacada do apartamento.

Neste vídeo, socializamos a experiência, que se apresenta
como uma solução simples para o grande problema do lixo urbano.

Governador tucano poderia ter evitado a greve dos metroviários



No período de uma semana a população paulista se viu por duas vezes refém da falta de uma política pública de transportes públicos, por inoperância do governo do Estado de São Paulo.
Na sequência de panes diárias nos sistemas da CPTM e do Metrô, os cidadãos paulistas foram vitimados por uma colisão de trens do Metrô e, agora, afetados pelo caos na cidade diante da paralisação dos metroviários.
Essa última situação se dá pela falta de sensibilidade do governo no processo de negociação com o sindicato dos trabalhadores, aliada à ausência de planejamento e ação coordenada para atenuar os problemas previsíveis com a paralisação.
O governo Alckmin, mais uma vez, deixou a população abandonada à própria sorte e se apressou em acionar a força policial para reprimir os protestos da população, que são vítimas diárias do apagão dos transportes em São Paulo, e lançou com celeridade um culpado. Aliás, celeridade não usual em seu governo quando trata de resolver as questões do Estado, mas desta vez ele foi rápido em definir como culpado: “a greve é eleitoreira”.
Há anos a população é mal assistida de serviços de transportes públicos coletivos. A CPTM recebeu nova roupagem de trens novos com serviços velhos, que é facilmente constatada com as paralisações, reduções de velocidades, por conta de problemas nas subestações de energia.
O Metrô está superlotado e também foi atingido pelo descaso do governo do Estado. Diante do caos vivido por milhares de pessoas, que perderam seus compromissos e enquanto outros passaram horas parados em congestionamentos, o governo finalmente cedeu ao bom senso e as negociações avançam.
Na reunião de conciliação do início da tarde, o principal ponto definido foi o índice de reajuste salarial de 6,17%, sendo que até antes da paralisação o governo oferecia 5,71%.
Pelo acordo sinalizado nesta quarta-feira, o vale-refeição dos trabalhadores será reajustado dos atuais R$ 19,50 para R$ 23; vale-alimentação, de R$ 150 para R$ 218 ao mês; mais o pagamento de um adicional de periculosidade de 15% sobre o salário (atualmente é 10%).
Ou seja, o governo tinha margem financeira para fazer a negociação, não havia a necessidade de expor a população paulista a esse sofrimento.
Mas o governador Alckmin optou pela queda de braço com o sindicato, “jogou para a galera” quando atribui a greve à motivação política, como se fosse um agente apolítico,como se não fosse um gesto político buscar solução para o impasse.
O governador poderia ter tido bom senso e sensibilidade de gestão e calcular o custo benefício em defesa dos interesses da população e de, em parceria com os trabalhadores, construir diálogos e soluções.
Deputado Alencar Santana Braga 
Líder da Bancada do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo
No Viomundo

Câmera da Petrobras flagra criatura gigante no fundo do mar



Câmera de equipamento que estava em uma plataforma de exploração de petróleo no Golfo do México, nos Estados Unidos, captou no último dia 25 de abril a imagem de um ser marinho que é, no mínimo, estranho.
A gravação mostra a "criatura" invertebrada se locomovendo calmamente, lembrando até um lençol de cama, a 2.500 metros de profundidade.
O vídeo foi feito no campo de Cascade, próximo ao estado norte-americano da Louisiana, onde a estatal mantém uma sonda de exploração de petróleo. É possível ver a logomarca da empresa no canto esquerdo do vídeo.
Segundo Álvaro Migotto, vice-diretor do Centro de Biologia Marinha da Universidade de São Paulo (USP), que fica em São Sebastião (SP), não se trata de algo de outro mundo, mas sim de um exemplar de medusa do gênero Deepstaria.
No Cutucando de Leve

Como era a parceria Veja-Cachoeira


Hoje, que o araponga Jairo se apresentou como repórter, o capítulo "O araponga e o repórter", da série "O caso de Veja", onde mostro em detalhes a associação criminosa entre as duas organizações: a de Cachoeira e a Abril. Lembrando que a série foi escrita em 2008. De lá para cá aprofundaram-se as relações criminosas entre as duas organizações.


O araponga e o repórter

Depois de se aliar ao araponga, jornalista é promovido.
A matéria foi bombástica e ajudou a deflagrar a crise do “mensalão”. Uma reportagem de 18 de maio de 2005, de Policarpo Jr., da sucursal da Veja em Brasília, mostrava o flagrante de um funcionário dos Correios – Mauricio Marinho – recebendo R$ 3 mil de propina (clique aqui)
A abertura seguia o estilo didático-indagativo da revista:
(…) Por quê? Por que os políticos fazem tanta questão de ter cargos no governo? Para uns, o cargo é uma forma de ganhar visibilidade diante do eleitor e, assim, facilitar o caminho para as urnas. Para outros, é um instrumento eficaz para tirar do papel uma idéia, um projeto, uma determinada política pública. Esses são os políticos bem-intencionados. Há, porém, uma terceira categoria formada por políticos desonestos que querem cargos apenas para fazer negócios escusos – cobrar comissões, beneficiar amigos, embolsar propinas, fazer caixa dois, enriquecer ilicitamente.
A revista informava que tinha conseguido dar um flagrante em um desses casos na semana anterior:
Raro, mesmo, é flagrar um deles em pleno vôo. Foi o que VEJA conseguiu na semana passada.
Anotem a data que a revista menciona que recebeu a gravação: semana passada. Será importante para entender os lances que serão mostrados no decorrer deste capítulo.
A matéria, como um todo, não se limitava a descrever uma cena de pequena corrupção explícita, embora só esta pudesse ser comprovada pelo grampo. Tinha um alvo claro, que eram as pessoas indicadas pelo esquema PTB, especialmente na Eletronorte e na BR Distribuidora. O alvo era o esquema; Marinho, apenas o álibi.
O que a matéria não mostrava eram as intenções efetivas por trás do dossiê e do grampo. Os R$ 3 mil eram um álibi para desmontar o esquema do PTB no governo, decisão louvável, se em nome do interesse público; jogo de lobby, se para beneficiar outros grupos.
Antes de voltar à capa, uma pequena digressão sobre as alianças espúrias do jornalismo.

Os dossiês e os chantagistas

A partir da campanha do “impeachment” de Fernando Collor, jornalistas, grampeadores e chantagistas passaram a conviver intimamente em Brasília. Até então, havia uma espécie de barreira, que fazia com que chantagistas recorressem a publicações menores, a colunistas da periferia, para montar seus lobbies ou chantagens. Não à grande mídia.
Com o tempo, a necessidade de fabricar escândalo a qualquer preço provocou a aproximação, mais que isso, a cumplicidade entre alguns jornalistas, grampeadores e chantagistas. Paralelamente, houve o desmonte dos filtros de qualidade das redações, especialmente nas revistas semanais e em alguns diários.
Foi uma associação para o crime. Com um jornalista à sua disposição, o grampeador tem seu passe valorizado no mercado. A chantagem torna-se muito mais valiosa, eficiente, proporcional ao impacto que a notícia teria, se publicada. Isso na hipótese benigna.
É uma aliança espúria, porque o leitor toma contato com os grampos e dossiês divulgados. Mas, na outra ponta, a publicação fortalece o achacador em suas investidas futuras. Não se trata de melhorar o país, mas de desalojar esquemas barra-pesadas em benefício de outros esquemas, igualmente barra-pesadas, mas aliados ao repórter. E fica-se sem saber sobre as chantagens bem sucedidas, as que não precisaram chegar às páginas de jornais.
Por ser um terreno minado, publicações sérias precisam definir regras claras de convivência com esse mundo do crime. A principal é o jornalista assegurar que material recebido será publicado – e não utilizado como elemento de chantagem.
Nos anos 90 esses preceitos foram abandonados pelo chamado jornalismo de opinião. No caso da Veja a deterioração foi maior que nos demais veículos. O uso de matérias em benefício pessoal (caso dos livros de Mario Sabino), o envolvimento claro em disputas comerciais (a “guerra das cervejas” de Eurípedes Alcântara), o lobby escancarado (Diogo Mainardi com Daniel Dantas), a falta de escrúpulos em relação à reputação alheia, tudo contribuiu para que se perdessem os mecanismos de controle.
Submetida a um processo de deterioração corporativa poucas vezes visto, a Abril deixou de exercer seus controles internos. E a direção da revista abriu mão dos controles externos, ao abolir um dos pilares do moderno jornalismo – o direito de resposta – e ao intimidar jornalistas de outros veículos com seus ataques desqualificadores.
É nesse cenário de deterioração editorial que ocorre o episódio Maurício Marinho.

A parceria com o araponga

Nas alianças políticas do governo Lula, os Correios foram entregues ao esquema do deputado Roberto Jefferson. Marinho era figura menor, homem de propina de R$ 3 mil.
Em determinado momento, o esquema Jefferson passou a incomodar lobistas que atuavam em várias empresas. Dentre eles, o lobista Arthur Wascheck.
Este recorreu a dois laranjas – Joel dos Santos Filhos e João Carlos Mancuso Villela – para armar uma operação que permitisse desestabilizar o esquema Jefferson não apenas nos Correios. como na Eletrobrás e na BR Distribuidora. É importante saber desses objetivos para entender a razão da reportagem da propina dos R$ 3 mil ter derivado - sem nenhuma informação adicional - para os esquemas ultra-pesados em outras empresas. Fazia parte da estratégia da reportagem e de quem contratou o araponga.
A idéia seria Joel se apresentar a Marinho como representante de uma multinacional, negociar uma propina e filmar o flagrante. Como não tinham experiência com gravações mais sofisticadas, teriam decidido contratar o araponga Jairo Martins.
E, aí, tem-se um dos episódios mais polêmicos da história do jornalismo contemporâneo, um escândalo amplo, do qual Veja acabou se safando graças à entrevista de Roberto Jefferson à repórter Renata Lo Prete, da Folha, que acabou desviando o foco da atenção para o “mensalão”.
Havia um antecedente nesse episódio, que foi o caso Valdomiro Diniz, a primeira trinca grave na imagem do governo Lula. Naquele episódio consolidaram-se relações e alianças entre um conjunto de personagens suspeitos: o bicheiro Carlinhos Cachoeira (que bancou a operação de grampo de Valdomiro), o araponga Jairo Martins (autor do grampo) e o jornalista Policarpo Jr (autor da reportagem).
No caso Valdomiro, era um contraventor – Carlinhos Cachoeira – sendo achacado por um dos operadores do PT, enviado pelo partido ao Rio de Janeiro, assim como Rogério Buratti, despachado para assessorar Antonio Palocci quando prefeito de Ribeirão.
Jairo era um ex-funcionário da ABIN (Agência Brasileira de Inteligência), contratado pelo bicheiro para filmar o pagamento de propina a Valdomiro Diniz.
Tempos depois, Jairo foi convidado para um almoço pelo genro de Carlinhos Cachoeira, Casser Bittar.
Lá, foi apresentado a Wascheck, que o contratou para duas tarefas, segundo o próprio Jairo admitiu à CPI: providenciar material e treinamento para que dois laranjas grampeassem Marinho; e a possibilidade do material ser publicado em órgão de circulação nacional.
Imediatamente Jairo entrou em contato com Policarpo e acertou a operação. O jornalista não só aceitou a parceria, antes mesmo de conhecer a gravação, como avançou muito além de suas funções de repórter.
O grampo em Marinho foi gravado em um DVD. Jairo marcou, então, um encontro com Policarpo. Foi um encontro reservado - eles jamais se falavam por telefone, segundo o araponga -, no próprio carro de Policarpo, no Parque da Cidade. Policarpo levou um mini-DVD, analisou o material e atuou como conselheiro: considerou que a gravação ainda não estava no ponto, que havia a necessidade de mais. Recebeu a segunda, constatou que estava no ponto. E guardou o material na gaveta, aguardando a autorização do araponga, mesmo sabendo que estava se colocando como peça passiva de um ato de chantagem e achaque.
Wascheck tinha, agora, dois trunfos nas mãos: a gravação da propina de R$ 3 mil e um repórter, da maior revista do país, apenas aguardando a liberação para publicar a reportagem.
Quando saiu a reportagem, a versão do repórter de que havia recebido o material na semana anterior era falsa e foi desmentida pelos depoimentos dados por ele e por Jairo à Policia Federal e à CPI do Mensalão.
Pressionado pelo eficiente relator Osmar Serraglio, na CPI do Mensalão, Jairo negou ter recebido qualquer pagamento de Wascheck. Disse ter se contentado em ficar com o equipamento, provocando reações de zombaria em vários membros da CPI.
Depois, revelou outros trabalhos feitos em parceria com a Veja. Mencionou série de trabalhos que teria feito e garantiu que sua função não era de araponga, mas de jornalista. O único órgão onde seus trabalhos eram publicados era a Veja. Indagado pelos parlamentares se recebia alguma coisa da revista disse que não, que seu objetivo era apenas o de "melhorar o pais".
Segundo o depoimento de Jairo:
‘Aí fiquei esperando o OK do Artur Washeck pra divulgação do material na imprensa. Encontrei com ele pela última vez no restaurante, em Brasília, no setor hoteleiro sul, quando ele disse: ‘Eu vou divulgar o fato. Quero divulgar’. E decorreu um período que essa divulgação não saía. Aí foi quando eu fiz um contato com o jornalista e falei: ‘Pode divulgar a matéria’’.
Clique aqui para ler os principais trechos do depoimento do araponga Jairo à CPI.
E aqui para acessar o relatório final da CPMI.

Reações na mídia


A revelação do episódio provocou reações acerbas de analistas de mídia.
No Observatório da Imprensa, Alberto Dines publicou o artigo “A Chance da Grande Catarse do Jornalismo”
O atual ciclo de denúncias não chega a ser uma antologia de jornalismo mas é uma preocupante coleção de mazelas jornalísticas. Busca-se a credibilidade mas poucos oferecem transparência, pretende-se a moralização da vida pública mas os bastidores da imprensa continuam imersos na sombra:
Tudo começou com uma matéria de capa da Veja sobre as propinas nos Correios, clássico do jornalismo fiteiro.
(...) Carece de (...) transparência a ouverture desta triste e ruidosa temporada através da Veja. Dois meses depois, a divulgação do vídeo da propina nos Correios continua envolta em sombras, rodeada de dúvidas e desconfianças.E, como não poderia deixar de acontecer com fatos mantidos no lusco-fusco da dubiedade, cada vez que a matéria é examinada ou discutida sob o ponto de vista estritamente profissional, mais interrogações levanta.
Caso da entrevista ao Jornal Nacional (Rede Globo, quinta-feira, 30/6) do ex-agente da ABIN, Jairo Martins de Souza, autor da gravação. O araponga — que, aliás, se diz jornalista [veja abaixo comentários de Ricardo Noblat] e faz negócios com jornalistas — revelou que ofereceu o vídeo ao repórter Policarpo Júnior, da sucursal da Veja em Brasília, e que este aceitou-o antes mesmo de examinar o seu teor [abaixo, a transcrição da matéria do JN].
Na hora da entrega, o jornalista teria usado um reprodutor portátil de DVD para avaliar a qualidade das imagens. De que maneira chegou ao jornalista e por que este aceitou o vídeo são questões que até hoje não foram esclarecidas.
Tanto o repórter como a revista recusam-se terminantemente a oferecer qualquer tipo satisfação ou esclarecimento aos leitores. Não se trata de proteger as fontes: elas seriam inevitavelmente nomeadas quando o funcionário flagrado, Maurício Marinho, começasse a depor. Foi exatamente o que aconteceu e hoje Veja carrega o ônus de ter se beneficiado de uma operação escusa – chantagem de um corrupto preterido ou ação formal da Abin para desmoralizar um aliado incômodo (o PTB, de Roberto Jefferson).
(...) Araponga não é jornalista, vídeo secreto ainda não é reconhecido como gênero de jornalismo. Talvez o seja num futuro próximo.
O episódio mereceu comentários do blogueiro Ricardo Noblat:
Ao ser contratado para filmar Marinho e grampear André Luiz, a primeira coisa que ele disse que fez foi procurar a Veja e oferecer o material. ‘Foi um trabalho puramente jornalístico’, garantiu.
A amigos, nas duas últimas semanas, Jairo confessou mais de uma vez que espera ganhar o próximo Prêmio Esso de Jornalismo. Ele se considera um sério candidato ao prêmio.
Não é brincadeira não, é serio! Porque ele está convencido de que filmou e grampeou como free-lancer daVeja – embora jamais tenha recebido um tostão dela por isso. Recebeu dos que encomendaram as gravações.
Jairo ganhava como araponga e pensava em brilhar como jornalista.
É, de certa forma faz sentido."
Tempos depois, a aliança com o araponga renderia a Policarpo a promoção para chefe de sucursal daVeja em Brasília. A revista já caíra de cabeça, sem nenhum escrúpulo, no mundo nebuloso dos dossiês e dos pactos com lobistas. E o grande pacto do silêncio que se seguiu na mídia, permitiu varrer para baixo do tapete as aventuras de Veja com o araponga repórter.

O final da história

Parte da história terminou em agosto de 2007. Sob o titulo “PF desmonta nova máfia nos Correios”, o Correio Braziliense noticiava o desbaratamento de uma nova quadrilha que tinha assumido o controle dos Correios (clique aqui).
No comando, Arthur Wascheck, que assumiu o comando da operação de corrupção dos Correios graças ao serviço encomendado a Jairo - grampo mais publicação do resultado na Veja.
Durante a Operação Selo, foram presas cinco pessoas, em dois estados mais o Distrito Federal.
Segundo o jornal:
Entre os presos estão Sérgio Dias e Luiz Carlos de Oliveira Garritano, funcionários dos Correios, além dos empresários Antônio Félix Teixeira, Marco Antônio Bulhões e Arthur Wascheck, considerado pela PF como líder do grupo e acusado de ter sido o responsável pela gravação feita no dia em que Marinho recebia a propina. Os investigadores não quantificaram o volume de recursos envolvidos nas fraudes, mas calculam que seja de dezenas de milhões de reais.
De acordo com os investigadores, “o grupo agia como traficantes nos morros".
“Havia uma quadrilha na ECT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos), que foi desbaratada e afastada. A outra organização tomou o lugar dela. Assim como os traficantes fazem, quando saem, morrem ou são presos, acontece a mesma coisa no serviço público. Quando uma quadrilha sai do local, entra outra e começa a praticar atos ilícitos no lugar da que saiu”, explica o delegado Daniel França, um dos integrantes do grupo de investigação.
A corrupção tinha apenas trocado de mãos:
Para o Ministério Público Federal, o entendimento era o mesmo.
“Não se pode dizer que a corrupção terminou ou se atenuou. O que houve foi uma substituição de pessoas, alijadas do esquema”, afirma o procurador da República Bruno Acioli.
Segundo ele, há pelo menos 20 empresas, muitas delas ligadas a Wascheck, estão envolvidas nas fraudes que podem atingir outros órgãos públicos, conforme investigações da PF.
A ficha de Wascheck era ampla e anterior ao episódio do qual Veja aceitou participar:
O empresário, conforme os investigadores, atuava na área de licitações desde 1994, sendo que um ano depois ele fora condenado por irregularidades em licitação para aquisição de bicicletas pelo Ministério da Saúde.
O valor das fraudes chegava a milhões de reais:
Segundo a polícia, o grupo de Wascheck vendia todo tipo de material para os Correios. De sapato a cofres, sendo que muitos integrantes do esquema eram também procuradores de outras empresas envolvidas nas concorrências. Com a análise dos documentos, que começou a ser feita ontem, os investigadores devem chegar aos valores das fraudes. “O que posso dizer é que esse prejuízo é de milhões de reais. Dezenas de milhões de reais”, diz o procurador da República, ressaltando que seu cálculo se baseia em alguns casos específicos. “Existem licitações na casa de bilhões de reais”, afirma o procurador.
No sistema de buscas da revista, as pesquisas indicam o seguinte:
Operação Selo Wascheck: 0 ocorrências
Operação Selo (frase exata) Período 2007: 0 ocorrências
Revista de 8 de agosto de 2007: nenhuma menção
Na edição de 15 de agosto, nenhuma menção. Mas uma das materias especiais atende pelo sugestivo título de“Porque os corruptos não vão presos”
"Frágil como papel
A Justiça brasileira é incapaz de manter presos assassinos
confessos e corruptos pegos em flagrante. Na origem da
impunidade está a própria lei".
A reportagem fala do mensalão, insinua que os implicados até melhoraram de vida, menciona símbolos midiáticos de corrupção (Quércia, Maluf, Collor etc). Nenhuma palavra sobre a Operação Selo e sobre o papel desempenhado pelas reportagens de escândalo da própria revista no jogo das quadrilhas dos Correios.
Seus aliados foram protegidos.
Luís Nassif
No Advivo

O araponga e o repórter

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Entrevista de Xuxa vista ao contrário traz mensagem subliminar



Xuxa (foto acima) não tocou em assuntos polêmicos, como o gosto duvidoso da linha de roupas O Bicho Comeu
PROJAC - Teólogos da USP descobriram mensagens subliminares na entrevista concedida por Xuxa ao Fantástico. "Basta rodar o vídeo ao contrário para encontrar respostas sobre temas proibidos", explicou o professor Tércio Abravanel. Incentivado pela reportagem do i-Herald, Tércio elencou suas descobertas:
Munido de um software que lê vídeos ao contrário e, automaticamente, gera lendas urbanas, Abravanel explicou: "Aos 15 minutos, a apresentadora admitiu que namorou Edson e Pelé ao mesmo tempo". Mais adiante, o pesquisador garantiu que o verdadeiro convite de Michael Jackson não foi um pedido de namoro. "O astro pop queria o knowhow de Xuxa para gravar o DVD Michael Jackson só para Baixinhos", explicou. Em outro trecho, a loira revelou a identidade secreta do personagem Praga: "Era Marlene Mattos", disse, emocionada.
Após negar que canta "Tá na hora / Tá na hora / Tá na hora de brincar" entre quatro paredes, a apresentadora divulgou, pelo twitter, o trecho correto que embala seus enlaces: "Pula, pula / Bole, bole / Se embolando sem parar / Dá um pulo vai pra frente / De peixinho vai pra trás".
Perto do final, a apresentadora anunciou que processará Eike Batista por banalizar o uso da letra X.
Xuxa não conseguiu explicar por que dava espaço em seu programa para Conrado, Patrícia Marx, Cid Guerreiro e Andréia Sorvetão.
Em trecho ainda não revelado, o entrevistador teria perguntado "Quer mandar um beijo para quem?", ao que Xuxa respondeu "Pra minha mãe, pro meu pai e pra você."

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Se vão igualar Agnelo e Cabral a Perillo, faltam Serra e Kassab




A mídia demo-tucana é viva, há que reconhecer. Está tendo algum sucesso em confundir o público para livrar a cara dos dois principais envolvidos no esquema de Carlinhos Cachoeira: a revista Veja e o governador Marconi Perillo. Globo, Folha, Estadão, Veja e certa “esquerda” vão minando a credibilidade da CPI do Cachoeira com bobagens:
1)      Dizem que estaria sendo “a mais demorada da história” – a investigação começou não faz nem um mês –, como se rapidez fosse sinônimo de apuração séria e apesar de a Comissão ter prazo de 180 dias para funcionar, os quais podem ser prorrogados por mais 180.
2)      Dizem que a CPI está virando “pizza” porque não vai – ou não ia – igualar os governadores Agnelo Queiroz e Sergio Cabral a Marconi Perillo, como se houvesse contra estes um milésimo do que há contra o governador goiano.
3)      Estão popularizando como bordão a frase estúpida do SMS do petista Cândido Vaccarezza de tal forma que até petistas desandaram a repeti-la a cada 30 segundos, ajudando a nivelar Perillo a Agnelo e Cabral.  Veremos essa frase na mídia durante anos, por conta disso.
4)      Agora, a Folha de São Paulo pegou pra Cristo uma assessora de gabinete do presidente da CPI, Vital do Rego, para estigmatizar ainda mais a CPI, o que mostra que a mídia está em busca de elementos contra os investigadores em vez de se interessar pelos verdadeiros investigados.
Tudo isso é pressão, é para não haver convocação da Veja e para deixarem Marconi Perillo em paz. Sem a revista e o governador tucano, a CPI desaba e a mídia sai do processo revigorada, discursando contra quem dirá que quis “ameaçar a imprensa livre”.
Com seu principal governador e o presidente da CPI no olho do furacão, espanta que o PMDB não reaja. Claro que parcela relevante do partido é tucana, mas a maioria não é, tanto que aprovou a aliança com o PT. A mídia, no entanto, está triturando o PMDB e este reluta em reagir.
Vai aqui, então, uma ajudinha à CPI para não se deixar trucidar pela mídia e pela ingenuidade de certa militância dita “de esquerda”.
Se querem igualar Agnelo e Cabral a Perillo apesar de só haver uma ou duas menções inconclusivas contra o primeiro nas escutas da Polícia Federal e de não haver uma mísera menção a Cabral, por que o ex-governador José Serra e o prefeito Gilberto Kassab estão de fora do rol de convocações de aliados do governo federal que a mídia e a oposição exigem?
Vamos refrescar algumas memórias.  A CPI do Cachoeira já teve  acesso a conversas telefônicas gravadas com autorização judicial entre junho do ano passado e janeiro deste ano. As escutas mostram que a construtora Delta foi favorecida por José Serra durante seu mandato de governador e pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab.
Por exemplo: em janeiro último, Carlinhos Cachoeira telefona para o diretor da Delta Cláudio Abreu e pergunta se ele teria conversado com o então dono da empreiteira, Fernando Cavendish, sobre “O negócio do Kassab”. Em seguida, diz que o prefeito de São Paulo “triplicou o contrato”. Esse fato é de amplo conhecimento dos membros da CPI e do Ministério Público de São Paulo.
Veja, leitor, os diálogos que fizeram o Ministério Público paulista abrir inquérito e que estão sob escrutínio da CPI

A Delta começou a atuar em São Paulo em 2005, quando Serra assumiu o comando do município. Naquele momento, os contratos com o governo paulistano somavam R$ 11 milhões. Em 2006, quando Serra deixou a prefeitura e se elegeu governador, os negócios se multiplicaram sem licitação. Em 2010, os R$ 11 milhões já tinham virado R$ 36,4 milhões. Entre 2008 e 2011, a Delta abocanhou R$ 167 milhões em São Paulo.
A CPI e o Ministério Público de São Paulo, porém, estão atentando muito mais para o fato de a Delta ter vencido, ano passado, uma concorrência para limpeza urbana em São Paulo no valor de R$ 1,1 bilhão. O MP abriu inquérito, inclusive, devido à existência de documentos falsos e de um edital aparentemente dirigido.
Se a Delta cometeu essas irregularidades em outros Estados e municípios, precisamos apurar se isso ocorreu também em São Paulo”, diz o promotor Silvio Marques, do Patrimônio Público.
Há muito mais contra Serra e Kassab do que contra Agnelo e Cabral. Por exemplo: em conversa gravada com autorização judicial em agosto do ano passado, um homem identificado como “Jorge” pergunta a Gleyb Ferreira, membro da quadrilha de Cachoeira, se o edital de uma licitação em São Paulo “evoluiu”.
A quadrilha disse que aguardava “Estar com o edital” naquele dia “à tarde” e que Cachoeira queria que os comparsas conversassem com o Heraldo Puccini Neto, representante da Delta na região Sudeste, pois estava conseguindo “Uma prorrogação com o secretário”.
A Polícia Federal garante que o diálogo se refere a uma concorrência de R$ 1,1 bilhão com o governo de São Paulo e que foi vencida pela empresa ligada ao bicheiro.
A Delta também conseguiu negócios suspeitos com o governo do Estado de São Paulo, então sob administração de Serra. Durante o mandato do tucano, a construtora recebeu R$ 664 milhões do governo paulista. O valor corresponde a 83% de todos os 27 convênios firmados pela Delta com o Estado de São Paulo na última década.
A obra sobre a qual se concentram as suspeitas é a de ampliação da Marginal Tietê. Além de  atrasos e falta de compensação ambiental na obra, o valor pago à Delta aumentou 75% após ela ter vencido a licitação. Ou seja: a empreiteira venceu a licitação com preço mais baixo e depois fez um acerto com o governo do Estado para aumentá-lo.
O Ministério Público de São Paulo instaurou Inquérito para apurar a existência de irregularidades na licitação, superfaturamento e conluio entre agentes públicos do governo de São Paulo, mais especificamente por Delson José Amador e Paulo Vieira de Souza, este conhecido como Paulo Preto, que, durante a eleição de 2010, notabilizou-se como um dos arrecadadores de doações eleitorais a Serra.
Paulo Preto e Amador foram alvos da Operação Castelo da Areia, da Polícia Federal, por envolvimento com empreiteiras. Entre os envolvidos da Delta com a aparente negociata com o governo de São Paulo está o diretor da empreiteira para a região Sudeste, Heraldo Puccini Neto, que está foragido após ter a prisão preventiva decretada.
Na disso, porém, saiu em qualquer outro veículo da grande imprensa. Não passa um dia sem que Globo, Folha de São Paulo, Estadão ou Veja equiparem supostas evidências contra Agnelo Queiroz e Sergio Cabral à montanha de evidências que pesa contra Marconi Perillo, mas Serra e Kassab jamais são mencionados.
Aliás, para não ser injusto, há que reconhecer que nem os militantes ditos “de esquerda” que se dizem preocupados com a “blindagem” de Cabral e com o SMS do Vaccarezza têm cobrado que Serra e Kassab sejam nivelados a Perillo como está ocorrendo com os governadores de Brasília e do Rio de Janeiro.
Não ponho a mão no fogo por nenhum desses aí. A Delta celebrou contratos com 21 Estados, com uma imensidão de municípios e até com o governo federal. Apoiarei, portanto, uma CPI da Delta. Acho até necessária. Agora, transformar a CPI do Cachoeira em CPI da Delta ou do SMS do Vaccarezza, é inaceitável. Mas se querem mesmo fazer isso, então vamos chamar todo mundo para depor, desde que esse “todo mundo” envolva Serra e Kassab.
Todavia, essa será a melhor forma de ajudar Veja e Perillo, contra os quais pesam elementos muito mais graves no âmbito das Operações Vegas e Monte Carlo. Para investigar seriamente o esquema Cachoeira, o correto seria focar nos principais envolvidos e deixar os contratos da Delta com todas essas administrações municipais, estaduais e federal para outra investigação.
A recomendação deste blog à parcela da CPMI do Cachoeira que quer apurar alguma coisa, portanto, é a de que comece a cobrar que Serra e Kassab figurem nas cobranças midiáticas que são feitas pelo nivelamento de Cabral e Agnelo a Perillo. É uma afronta a mídia e a oposição esconderem os envolvimentos desses dois com Cachoeira.

300 livros de ciências humanas para download legal




Carlos Willian Leite, Revista Bula

“Liderado pelas Editoras da Fio cruz (Fundação Oswaldo Cruz), UFBA (Uni­versidade Federal da Bahia), Unesp (Universidade Es­tadual Paulista), e Fapesp (Fundação de Apoio à Universidade Federal de São Paulo) o projeto “SciELO Livros”, lançado no mês de março, disponibilizou aproximadamente 300 livros, científicos e técnicos, para download. O projeto visa à publicação on-line de coleções de livros de caráter científico, editados, prioritariamente, por instituições acadêmicas. A previsão para 2012 é que o acervo ultrapasse 500 títulos. Os livros, que estão disponíveis nos formatos ePUB e PDF, são formatados de acordo com padrões internacionais e podem ser lidos no próprio site ou baixados integralmente sem nenhum custo.

O objetivo do projeto é “aumentar a visibilidade, acessibilidade, o uso e impacto dos livros, e contribuir para o aprimoramento continuado das capacidades das editoras participantes em gestão de processos de edição, publicação e comercialização on-line de livros”.

Para integrar o projeto SciELO Livros, editoras e obras são selecionadas de acordo com padrões de controle de qualidade aplicados por um comitê científico. “Uma porcentagem significativa de citações que os periódicos SciELO fazem, principalmente na área de humanas, está em livros. E como um dos objetivos da coleção SciELO é interligar as citações entre periódicos, a ideia é também fazer isso com livros”, disse Abel Packer, membro da coordenação do programa SciELO, à Agência Fapesp “A ideia é contribuir para desenvolver infraestrutura e capacidade nacional na produção de livros em formato digital e on-line”, acrescenta.

Em 2012, o Programa SciELO conquistou pela segunda vez o primeiro lugar entre os maiores portais abertos de informação científica do mun­do, de acordo com o ranking Web of World Repositories (We­bometrics), site de auditagem que mede a visibilidade de repositórios científicos nos principais mecanismos de busca da internet. Para acessar:http://bit.ly/HIh2fV

Morte: um fenômeno irritante



“Ei, dor, eu não te escuto mais. Você não me leva a nada”,
Antônio Júlio Nastácia 
“Ah, arrá, o terror vai começar! Uh, vai morrer! Uh, vai morrer!”
Gritos de guerra de torcidas organizadas de futebol 
“Morreu na contramão atrapalhando o sábado”
Chico Buarque 

Por ser ofício invulgar, segurar em alça de caixão, conduzir inanimados definitivos para as catacumbas não deveria jamais se prestar ao regozijo de puxa-sacos e dos baba-ovos. Mas acontece. Eu sei que acontece. Dependendo da importância do defunto, seja ela patrimonial, cultural ou política — principalmente, neste último caso — os aproveitadores de acotovelam para conduzir o pobre diabo pra dentro do buraco. Se pudesse, se o coisa-ruim me acenasse o  seu tridente da escuridão da terra, eu sim os empurraria todos para o vazio da cova.
Sucedeu que o sujeito apagou aos 93 anos de idade, apesar dos cigarros de palha, da aguardente e carne de lata. Viveu pra dedéu e o povo da região garantia: era, sim, um homem de bem. Nasceu, cresceu, casou e procriou na roça, no mesmo casarão antigo em que seu pai e o pai do seu pai também nasceram, viveram e sumiram. Naquelas bandas, nunca se ouviu um só fato que o desabonasse. Ao contrário, era tido e havido como justo e correto, “apesar de namorador e aficionado pela pinga na sua mocidade”. O povão maledicente sempre cavouca, pesquisa ou inventa algum deslize no qual se arvorar para denegrir, nem que seja um pouquinho, a reputação de quem quer que seja. Maldadezinhas básicas. Coisas de ser humano.
Pois bem, acontece que o velho foi pego por uma gripe e terminou adoecendo profundamente. A moléstia evoluiu para uma pneumonia dupla (é assim que se diz vulgarmente quando a infecção atinge ambos os pulmões), que avançou para a tal infecção generalizada. Daí, vocês já sabem: o bicho pega, fica difícil escapulir da senhora da foice.
Atrasado algumas horas, acabei perdendo a hora agá, o dramático último suspiro no leito de morte. O espetáculo gasturento foi testemunhado e chorado pela esposa, com quem permaneceu casado durante quase setenta anos. Na plateia compulsória havia também as filhas. Mulheres, vocês sabem, são mais sensíveis e solidárias que os homens. Não é o que se diz? Na hora da dor, na hora do pega-pra-capá, chamem uma mulher. Pois então. Os inabaláveis senhores da prole oficiavam providências irrelevantes, como vender gado ao frigorífico, trocar os pneus da camioneta e checar os extratos bancários.
Contaram-me que, num esforço terminal, o velho fazendeiro pediu desculpas às filhas, aos filhos, à velha companheira, a todo mundo, enfim, por conta dos mal entendidos, do sofrimento, dos aborrecimentos involuntários ou não que ele pudesse ter provocado àquela gente. Não carecia tomar aquela precaução derradeira, até porque havia um quase nada a se relevar. Ao ouvir o apelo desesperado do moribundo, o núcleo familiar ali presente desabou de vez e chorou sentido, antevendo uma saudade imensurável.
Tratava-se de uma mixuruca cidade interiorana, de tal forma que a única igrejinha local ficou lotada de gente, um verdadeiro alvoroço ao redor do morto. A missa já tinha encerrado e o padre de sotaque esquisito, sem muitas delongas, sem muitos versículos, sem muita paciência com aqueles pobres diabos, como sói ocorre aos padres, abençoou o rebanho e cascou foraem sua Kombirepleta de hóstias: havia ainda um batizado e um casamento na roça naquele mesmo dia.
Era chegada a hora de lacrar a urna. A tampa de jacarandá pesada desceu. O povo curioso chegou mais perto, ficou mais junto. A parentalha debulhou-seem lágrimas. Algunscrentes mais fanáticos despencaram da própria altura, desmaiaram, cederam à histeria, dando show e trabalho adicional ao único doutor médico que atendia naquelas paragens. A esposa velha, senhora octogenária, seca de tanto chorar uma madrugada inteira, encostou a fronte franzida no caixote, a questionar o Bom Deus como é que faria pra seguir vivendo sem a companhia daquele querido.
O baú foi lacrado. Alguém trouxe uma coroa de flores improvisada, vulgar e depositou sobre o recipiente sórdido. Ocorreu então o momento mais emocionante daquele funeral. Seis companheiros, camaradas das antigas (é assim que se diz dos amigos velhos de guerra), pediram licença aos familiares e ao povo que estorvava a passagem. Apesar da musculatura debilitada pela senilidade, cada qual agarrou numa beirada. Olhando assim de longe, a cena era peculiar porque o sexteto primava pela cabeleira branca e bem tosada.
Seis homens velhos, de saúde precária, puxaram o cortejo até o Cemitério Municipal. Foi bonito de ver a multidão dobrando a esquina, com aqueles homenzinhos de cabeça branca espetados de entremeio. Funeral é sempre uma merda, mas aquele foi-me mais didático que o habitual.
É por isto que eu penso: alça de caixão não é instrumento de qualquer um. Que ninguém se ocupe neste ofício só para impressionar ou fazer bonito. Morte não é brinquedo. Morte é dor, saudade, um dos fenômenos naturais mais dramáticos e irritantes ao sempre ignóbil ser humano. Esta crônica é um singelo tributo ao Jairo, meu avô.