sexta-feira, 3 de outubro de 2014

As Dinastias Midiáticas no Brasil




Na imprensa brasileira mandam as dinastias estamentais. Os pais proprietários entregam a direção dos jornais, das revistas, das rádios e das televisões – das suas empresas – aos seus filhos, que repassam para os netos, perseverando todos no direito que se auto-atribuíram de decidir quem é e quem não é democrático, quem fala e quem não fala em nome da nação!Assim tem sido ao longo de toda a história da imprensa no Brasil. No momento mais decisivo da história do século XX, em 1964, essas dinastias pregaram e apoiaram o golpe militar, assim como a instalação de uma longa ditadura, que mudou decisivamente os rumos do nosso país. Enquanto os militares intervinham nos poderes Judiciário e Legislativo, enquanto suspendiam todas as garantias constitucionais, enquanto fechavam todos órgãos de imprensa que discordaram do golpe e da ditadura, enquanto a maior repressão da nossa história recente se abatia sobre milhares de brasileiros presos, torturados, exilados e mortos, enquanto isso, as dinastias da imprensa mercantil se calaram sobre a repressão e apoiaram o regime militar!



 
Eram estes mesmos Mesquitas, Frias, Marinhos, Civitas, estes mesmos que transmitem por herança – como se fosse um bem privado – seu poder dinástico, transferindo-o para os seus filhos e netos. Os júlios, os otávios, os robertos, os victor, vão se sucedendo uns aos outros, a dinastia vai se perpetuando. Que se danem a democracia e o país, mas que se salvem as dinastias!

Mas, hoje, elas estão vendo seu poder se esvaindo pelos dedos. Conta-se que um desses herdeiros, rodando em torno da mesa da reunião do conselho editorial, herdada do pai, esbravejava irado: “onde foi que nós erramos? onde erramos?”. Estava desesperado porque a operação “mensalão” não conseguiu derrubar Lula elegendo o tucano, da sua preferência.


Se ele tivesse olhado os gráficos escondidos na sua sala, teria visto que, nos últimos dez anos, as tiragens dos jornais despencaram. A Folha de São Paulo, por exemplo, que é um dos de maior tiragem, perdeu em 10 anos, de 1997 a 2007, quase cinqüenta por cento dos seus leitores! Depois de quase ter atingido 600 mil leitores, vai fechar o ano de 2008 com menos de 300 mil! Uma queda ainda mais grave se considerarmos que, nesse período, houve crescimento demográfico, aumento do poder aquisitivo, maior interesse pela informação e elevação do índice de escolaridade dos brasileiros.

Os leitores deste jornal de direita estão entre os mais ricos da população. Noventa por cento dos seus menos de 300 mil exemplares são destinados aos leitores das classes A e B, as mesmas que não atingem dezoito por cento da população brasileira. Em outros termos, nove entre cada dez leitores do jornal pertencem aos setores de maior poder aquisitivo e suas condições de vida estão a léguas de distância das do nosso povo – esse povo que gosta do programa bolsa família, dos territórios de cidadania, da eletrificação rural, dos mini-créditos, do aumento real do salário mínimo, da elevação do emprego formal, etc.





A última e mais recente pesquisa sobre o apoio ao governo Lula, que a imprensa dinástica procurou esconder, realizada pela Sensus, revela que Lula é rejeitado por apenas treze por cento dos brasileiros! É essa ínfima minoria, cinco vezes menor do que aquela dos que apóiam o governo Lula, que povoa os editoriais dessa imprensa, suas colunas, seus painéis de cartas dos leitores! Esse é o índice da influência real que a mídia mercantil – juntando televisão, rádio, jornais, revistas, internets, blogs – tem! Apesar de todos os instrumentos monopólicos de que dispõem, apesar das campanhas diárias para dominar a opinião pública, não conseguem nada além desse pífio resultado dos treze por cento que representam!

 


As dinastias podem continuar a ter filhos, netos e bisnetos, mas é possível que já não dirijam jornais. Esta pode ser a última geração de jornalistas dinásticos que, talvez exatamente por isso, revelam diariamente o desespero da sua impotência, assumindo o mesmo papel que ocuparam nos anos prévios a 1964. É o mesmo desespero da direita diante da popularidade de um Getúlio e do governo Jango. Nos dois casos, só lhes restou apelar à intervenção das Forças Armadas e dos EUA, estes mesmos EUA que nunca fizeram autocrítica, nem desta nem de qualquer outra das suas intervenções contrárias à democracia da qual pretendem ser os arautos! Depois de terem pedido e apoiado o golpe militar, porque ainda acreditam que podem dizer quem é democrático e quem não é?


http://lobotomiamidiatica.blogspot.com.br/2014/06/as-dinastias-midiaticas-no-brasil.html

Marina continua enganando os trouxas


 Aldir Blanc 

O Jeová no DVD? 
Na ONU, a presidente Dilma foi contra o bombardeio indiscriminado do tal Estado Islâmico, que ninguém sabe direito onde fica. Obama criticou a “indiferença” com que assassinos são tratados. Quer falar sobre assassinos, Obananamole? O mundo viu em, estado de choque, aviões implodirem as Torres. Milhares de mortos numa ação terrorista. Sem dúvida, um assassinato em massa terrível. Em resposta, os EUA e aliados invadiram, com as bênçãos de Cristo e falsos motivos, o Iraque e mataram milhares e milhares de inocentes. Casamentos eram pulverizados, festas de aniversário, idem. Seguia-se o cínico pedido de desculpas. O Afeganistão foi tão bombardeado que montanhas inteiras sumiram do mapa. Resultado: voltou a cultura do ópio, com um gatuno como chefe de governo. Sem contar os trágicos mortos por fogo amigo. O capanga dos EUA, Israel, massacrou crianças refugiadas em escolas na Faixa de Gaza. A CIA patrocinou um golpe no Egito — país onde os EUA têm prisões clandestinas para torturar. Todos os opositores do golpe militar, muito bem pago, foram sentenciados em bloco à morte. Em 2008, na maior fraude já vista, Wall Street quebrou o mundo! Quantas vítimas fatais fizeram em toda a Terra, por desespero, doenças cardíacas, depressões, suicídios, fome etc? Como avaliar o número de vítimas? Tropas especiais assassinaram Osama por vingança. Eu pergunto: os que perderam parentes e amigos na roubalheira podem matar safados do Lehman, Bear Sterns, Merrill, Sachs sem fundos, AIG and so on? Os que tiveram suas vidas destruídas têm esse direito? Quando Obamascarado venceu pela primeira vez, Gore Vidal disse: “Vocês estão loucos? Não vai mudar nada!” Na mosca!

Aqui na Brasunda, um avião também explodiu. Há quem diga que foi sabotado pela CIA, Mossad, a poderosa empresa transacional Testemunhas de Jeová e outros interessados. Das cinzas, surgiu a Fênix Redentora, Marina d’Arc, com a Bíblia na mão, e o apoio financeiro de Nhá Neca Setúbal. Houve, digamos, um fenômeno carismático (Hitler também tinha carisma). E o corpus mysticum de Marina entrou em levitação. Até que foi descoberto o seguinte: o avião que matou, por ação da Providência Divina (?), o governador Campos estava boladão. Tinha empresas por trás com mais fantasmas que castelo inglês. Os documentos da aeronave sumiram, a caixa-preta pifou, e todos mentiram sobre isso: Campos, a cúpula do PSB e Marina. Campos parou de mentir por motivo de força maior. Marina continua enganando os trouxas. Disse que governará racionalmente, que a Bíblia é só inspiração. O que a inspira? A Matança dos Inocentes? Um pai que sacrificaria o filho porque o Velho é um Deus ciumento? O absurdo e cruel sofrimento imposto a Jó? Os incestos e traições? Arcanjos da SS de lança-chamas queimando os alegres moradores de Sodoma e Gomorra, que tinham direito à sexualidade que quisessem?

Na trilha do clássico de Chico Buarque, afastem do povo brasileiro essa bíblia arcaica, cheia de dólares e mentiras. 

* Aldir Blanc é compositor 
vi no: http://richardjakubaszko.blogspot.com.br/2014/10/marina-continua-enganando-os-trouxas.html

6 coisas que matam mais norte-americanos que terroristas


"Pesquisa revela o tamanho da paranoia dos norte-americanos: 53% acreditam que podem ser vítimas de ataque terrorista. No entanto, em 2013 até mordidas de cachorro mataram mais nos EUA que terrorismo. Confira outras cinco

Zaid Jilani, Alternet. Tradução: Vinicius Gomes, Revista Fórum

 Com o Oriente Médio roubando as manchetes, muitos norte-americanos estão preocupados com o terrorismo. Uma pesquisa da CNN no início de setembro, constatou que 53% acreditam que os EUA sofrerá ataques terroristas, em comparação aos 39% de 2011.

Mas enquanto o medo do terrorismo aumentou, o fato é que poucos norte-americanos são feridos ou mortos por atos terroristas e os EUA acionaram o alerta de ameaça terrorista além do proporcional.

Na realidade, em 2013, mordidas de cachorro mataram mais nos EUA do que terrorismo – com 32 fatalidades, de acordo com a ONG DogBites.org, comparando com as oito mortes por ataque terrorista dentro dos EUA e dezesseis mortes no exterior. Outros cinco causas que se mostraram mais fatais aos norte-americanos no passado estão listados abaixo:

1. Crianças por gripe: A “estação” de gripe entre 2012 e 2013, o Centro de Controle de Doenças (CDC, sigla em inglês), registrou 149 mortes infantis.

2. Mulheres no parto: Pesquisadores que escreveram no jornal médico The Lancetestimaram que cerca de 800 mulheres morreram durante o parto, fazendo com que mortalidade materna seja três vezes maior do que no Reino Unido.

3. Acidentes de trabalho: De acordo com a Administração de Saúde e Segurança Ocupacional, “4.405 trabalhadores morreram em acidente laboral, cerca de 85 mortes por semana e mais de 12 todos os dias”.

4. Armas de fogo: Em 2013, mais pessoas morreram todos os dias por violência com armas do que por terrorismo – com cerca de 30 pessoas sendo mortas a tirostodos os dias. A maioria foi suicídio.

5. Acidentes de trânsito: Apesar de acidentes fatais no trânsito terem caído em 2013, o Conselho de Segurança Nacional estimou que 35.200 norte-americanos morreram em acidentes de carro.

Isso não significa que não se deva responder à ameaça ao terrorismo, mas os EUA devem manter seu escopo de perigo em perspectiva. Fazendo isso, permitiriam que o governo focasse nas verdadeiras ameaças ao bem-estar de sua população, como melhorar a segurança dos trabalhadores, no trânsito e iniciativas de saúde pública que de fato salvariam vidas."

Por que é tão difícil ganhar uma discussão e mudar a opinião do outro?


Psicólogos sugerem um método alternativo ao confronto, que é o mais comum

Debate ou conversa de botequim?





Eles brigam, eles se esgoelam, mas pouco
 informam o eleitor sobre seus planos de governo
(Foto: Ichiro Guerra/Dilma 13)
@ Debates com candidatos nos moldes dos que são feitos hoje pouco ajudam o eleitor a se informar sobre os programas de governo de cada um. São simples espetáculos midiáticos nos quais os promotores fazem de tudo para que os participantes se hostilizem, briguem, gritem, infrinjam as regras e ajam como se estivessem num desses inúmeros programas popularescos que mantêm alta a audiência da televisão.

@ Muitos talvez até gostem de ver esse show, principalmente os eleitores mais engajados, que são como torcedores de futebol, ou seja, não só têm candidatos, mas fazem campanha para eles. O eleitor médio também pode apreciar a pancadaria. Mas o fato é que o bate-boca é isso: não passa de uma discussão em que os argumentos são espancados em favor da "emoção".


@ A presença de candidatos nanicos, esses que entram na disputa apenas para marcar presença ou faturar uma boa grana servindo de escada para os "grandes" é outro fator que atrapalha os debates. Mas como a legislação obriga que se ature a sua presença, eles bem que poderiam ser ignorados, já que não têm o que falar - e quando falam, invariavelmente é uma bobagem.

@ Com os debates pouco esclarecendo os eleitores sobre o que realmente cada candidato pretende fazer se eleito, o programa eleitoral gratuito ainda é uma boa ferramenta para convencer as pessoas - apesar de seu forte conteúdo publicitário.

@ Uma forma de deixar os debates mais informativos talvez fosse dividi-los em grandes temas, para que cada candidato pudesse explicar mais profundamente seu programa de governo. Educação, saúde, infraestrutura, transportes, habitação, política externa, tributação, governabilidade - os assuntos são inúmeros e cada um mais importante que o outro.

@ Dessa forma, ficaria evidente para o telespectador a fraqueza de uns e a solidez de outros. Não daria, por exemplo, para um candidato ficar enrolando a plateia com temas genéricos como corrupção e todo o blá-blá-blá que o acompanha - perfeito para uma conversa numa mesa de bar.

@ O fato é que os debates de antigamente, com regras menos rígidas, eram bem mais divertidos que os de hoje. Claro que naquele tempo a influência dos tais "marqueteiros" sobre os candidatos não estava tão estabelecida quanto agora e por isso eles se portavam com mais naturalidade - e revelavam muito mais a sua alma, a sua personalidade.

@ Resumindo: os debates poderiam ser uma das mais importantes ações para educar o eleitor, fazê-lo participar mais intensamente de uma campanha eleitoral, refletir mais seriamente sobre quem acha que pode governar melhor a sua cidade, o seu Estado e o país. Infelizmente, do jeito que são feitos, não passam de mais um programa em busca de audiência - como tantos outros que infestam e poluem a televisão brasileira.
http://cronicasdomotta.blogspot.com.br/2014/10/debate-ou-conversa-de-botequim.html

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Pitadas pseudoideológicas


Eleição de presidente da República tem de ser isolada. Quando conjunta, ofusca as demais. Eleger governadores e deputados também é muito importante, mas parece que ninguém liga para isso, vota em qualquer um, enquanto só se fala da corrida presidencial. Os casos de São Paulo e Paraná, que devem reeleger péssimos governantes, é exemplar. 

@ Tem muita gente que fala de uma polarização política entre PT e PSDB. Bobagem. O racha que existe é entre petistas e antipetistas. Os tucanos são apenas uma parcela dos antipetistas. Por muito tempo foram a oposição mais forte. Correm o risco, depois desta eleição, de ficarem bem menores. 
@ Em porcentagem, a sociedade brasileira está mais ou menos dividida assim, ideologicamente: 30 e tantos por cento gostam do PT, um número mais ou menos igual não gosta e o restante não está nem aí para a política em geral, quer é mesmo curtir a vida da melhor forma possível. E são esses que decidem qualquer eleição.

@ O antipetismo ficou muito mais explícito com a explosão das redes sociais. Muitos que odiavam o PT em silêncio, que tinham certo pudor em emitir suas opiniões, ao verem semelhantes se expressarem das formas mais violentas possíveis nos facebooks e tuíteres da vida, foram perdendo a inibição. O resultado é esse espetáculo deprimente de preconceito e ódio de classes que as tais redes oferecem.

@ É interessante notar que 90% dessas manifestações antipetistas carecem de qualquer argumento lógico ou factual. São meros boatos, mentiras, fofocas, quando não simples xingamentos. Poucos se arriscam a refutar o governo petista com análises convincentes, estatísticas e dados que provem estar com a razão. 

@ Seja qual for o resultado da eleição, tanto presidencial quanto para os governos do Estado, Câmara dos Deputados e assembleias legislativas, a profecia de alguns supostos "cientistas sociais" e "analistas" de que o PT praticamente sumiria do mapa partidário do país não vai se concretizar. Ao contrário, tudo indica, Dilma ganhando ou perdendo, que o PT vai continuar forte, ou na situação, ou na oposição.

@ Um eventual segundo governo Dilma vai aprofundar a busca da queda da tremenda desigualdade social e econômica que envergonha o Brasil diante da comunidade das nações. De certa forma, o PT é odiado também por isso: infelizmente, há muitas pessoas no Brasil que preferem ver os seus semelhantes em posição inferior a elas, trabalhando em condições vis e por salários irrisórios, sem direitos sociais ou trabalhistas, quase como escravos. 

@ Se o PT fosse um fracasso em seus governos - federal, estaduais e municipais - ele não seria tão odiado por parte da sociedade, pois tudo continuaria como antes. Seu sucesso é a causa do acirramento do ódio contra ele, justamente porque provocou mudanças sociais, pequenas ainda para as necessidades do Brasil, mas suficientes para incomodar os privilegiados - e até os remediados.

@ O PSDB é um partido social-democrata apenas no nome. O PSB foi socialista muito tempo atrás. O PT tampouco é socialista; é social-democrata. Seu projeto de país é tornar o Brasil um país capitalista onde o Estado assume o papel de regulador das relações econômicas e sociais, a exemplo das democracias existentes nos países nórdicos. Ver algum perigo de o Brasil se tornar socialista ou "bolivariano" com o PT no poder não passa de propaganda partidária - nem quem afirma isso acredita no que fala.

@ Esta eleição presidencial, seja qual for o seu resultado, serviu para mostrar à sociedade a indigência da oposição. Marina Silva e Aécio Neves são candidatos fraquíssimos. Se os quadros oposicionistas contassem com alguém capaz de formular um discurso propositivo e lógico, em vez de meramente contrário a tudo o que o governo federal faz - e incoerentemente se propondo a manter vários programas de êxito comprovado -, eles teriam chances bem maiores de interromper o ciclo dos governos trabalhistas. 

http://cronicasdomotta.blogspot.com.br/2014/10/pitadas-pseudoideologicas.html#more

A política de poder da expansão do capitalismo

Capitalismo de empresários-banqueiros-cupinchas

Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

O rótulo da KGB tem alto valor propagandístico na campanha de demonização de Putin, mas não há registro de que Putin algum dia tenha pessoalmente “ticado nome-sim nome-não”, numa lista de gente a ser assassinada por drones e ataques aéreos, como faz Obama em seu mundo cercado por bases militares.

E a KGB seria, por acaso, talvez, mais repressiva e mais assassina que a CIA ou Forças Especiais dos EUA, quando promovem “mudança de regime”? Ou mais invasiva, contra a privacidade dos cidadãos, que os programas de vigilância em massa da Agência de Segurança Nacional de Obama?

Vladimir Putin, segundo a imprensa-empresa "ocidental"
Vale tudo, para demonizar Putin, mesmo se, como hoje, a acusação é que ele viveria cercado de oligarcas – o que é muito mais a própria cara dos EUA, se se olhasse no espelho. Não preciso nem quero discutir ou explicar os negócios da plutocracia local que modelaram a economia russa pós-soviética. Sinceramente, a visão distópica de Jeffrey Sachs, que manda rasgar o socialismo em farrapos, é pior que só ideia infeliz; a aceitação operacional que essa visão recebe na Rússia é trair um Mundo Socialista que, depois da morte de Stálin, poderia ter feito avançar a democratização de largas porções da economia política internacional e mordido porção considerável do poder e do desempenho econômico dos EUA. Em vez disso, parece estar acontecendo o exato inverso.

Agora a Rússia, depois, sem demora a China, entram na alça de mira para serem politicamente enfraquecidas e na sequência politicamente desmembradas e/ou empurradas para o retrocesso econômico, porque a militarização pelos EUA do capital monopolista não tolerará oposição em sua estrutura recém definida de rivalidades intracapitalistas.

Putin e Li romperam a conexão histórica com Marx. Por isso eu, valha o que valer, quero se que veja em Rússia e China versão abastardada do capitalismo de Estado, não alguma espécie de clara opção pelo socialismo democrático. Os bilionários, os palácios de veraneio na Côte d’Azur, os condomínios que são cidades completamente privatizadas na Belgravia, arrastam aqueles países para o nível mais norte-americano de consumismo e desigualdade estrutural.

Mesmo assim, enfatizo aqui a Rússia, porque há uma diferença: Putin não saiu por aí armado para conquistar o mundo; uma Rússia estável numa ordem internacional igualmente estável parece bastar, e mantém dentro de limites estreitos quaisquer aspirações à hegemonia, se houver.

Com Putin, nada há da retórica grandiloquente de Obama sobre salvar o mundo para a liberdade e a democracia; nada de orçamento militar que estrangula a sobrevivência do país e que, parece que por projeto, já destruiu a rede de proteção social; e nada, tampouco, com Putin, da expansão drástica da modernização nuclear, para tornar letal todo o estoque de armas e aperfeiçoar os meios para transporte e detonação das armas. Putin é líder mundial muito mais circunspecto que Obama e seus predecessores.

O rótulo da KGB tem alto valor propagandístico na campanha de demonização de Putin, mas não há registro de que Putin algum dia tenha pessoalmente “ticado nome-sim nome-não”, numa lista de gente a ser assassinada por drones e ataques aéreos, como no mundo cercado por bases militares em que reina Obama.

E a KGB seria, por acaso, talvez, mais repressiva e mais assassina que a CIA ou Forças Especiais dos EUA, promovendo mudança de regime? Ou mais invasiva, contra a privacidade dos cidadãos, que os programas de vigilância em massa da Agência de Segurança Nacional de Obama?

Vladimir Putin - agente da KGB
Mas, sim, oligarcas são detestáveis, não importa a nacionalidade. E o The New York Times publicou artigo assinado por Steven Lee Myers, Jo Becker e Jim Yardley, intitulado Bancos Privados Alimentam Fortunas no Círculo Íntimo de Putin  (ing., 28/9/2014), que lança luz sobre a ascensão de Putin ao poder e – embora os EUA insistam em ignorar o assunto e não se veja nenhuma referência ao tema na imprensa-empresa de “informação” − mesmo que seja item que muito contribuiria para demonizar Putin – lança luz também sobre os custos sociais destrutivos da PRIVATIZAÇÃO de recursos do Estado.

Quando a Rússia põe-se sistematicamente a seguir os EUA, causa dano grave ao próprio potencial e realidade humanista. Paradoxalmente, a Velha Guerra Fria refletia diferenças ideológicas; mas a Nova Guerra Fria está parcialmente apagando aquelas diferenças, embora, sim, esteja subindo as apostas, porque dentro do capitalismo esconde-se hoje besta muito mais feroz do que a que se conhecia antes de 1917 e da Revolução Bolchevique: a da competição sem trégua pela supremacia planetária.

De diferente hoje, também, que a Rússia não dá sinais de estar disposta, no governo de Putin, a entrar no jogo; como se invertesse, para parafrasear, o mote de Stálin: “capitalismo num só país”. Quanto a Obama, por que parar às portas da Rússia?

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A matéria do NYT  “denuncia” a ação do Bank Rossiya que teria apoiado Putin e agora recebeu sanções dos EUA. A matéria não é importante [mais do mesmo incansável “denuncismo” de um tipo de jornalismo que visaria a construir mercados & consumidores “éticos” (NTs)], nem confiável. [Interessantes, só, os comentários de Pollack (NTs)].

Obama é mais capitalista, que nacionalista: quando favorece JPMorgan, Chase, Boeing, etc., não mistura, embora possa deliberadamente jogar um/uma contra o/a outro/a, o banco, o banqueiro ou a empresa, e a nação. Porque a nação, para Obama, é secundária ante os interesses dos grupos que o apoiam (razão pela qual as comunidades militar e de inteligência são consideradas ferramentas indispensáveis).  

[E, adiante:] Mas os jornalistas do NYT não informam que várias das tais atividades pouco recomendáveis no Banco Rossiya aconteceram em abril, depois de as sanções já terem sido declaradas; o banco reagiu contra o regime de sanções, muito mais do que “recompensou empresários amigos”. Seja como for, o Bank Rossiya – se se desconta a retórica incendiária dos jornalistas – contribuiu para converter em bilionários “vários apoiadores de Putin, cuja influência sobre setores estratégicos da economia auxiliaram Putin a manter-se firmemente agarrado ao poder”. Parece ser verdade que, sim, a amizade com Putin alterou a distribuição da riqueza, mesmo que Putin, pessoalmente, não se tenha beneficiado.

Bank Rossiya
Como paradigma do desenvolvimento capitalista, porém, lá está a transformação, de socialismo burocrático para capitalismo de Estado, com ou sem o papel de vanguarda entregue ao círculo presumido íntimo de Putin. (Bem provavelmente, o mesmo conjunto geral de dinâmicas históricas também se aplica à China, de Mao a Li; mas o capitalismo clientelista parece estar mais claramente identificado na China que na Rússia).

Se a Rússia tivesse conseguido fazer uma transformação pacífica depois do fim da União Soviética, em mundo no qual o capitalismo não tivesse sido veículo para dominação internacional, talvez – só talvez! – o resultado poderia ter sido uma economia mais genuinamente mista, depilada de bilionários e de favoritos do governo.

Não aconteceu. Na matéria do NYT [se se varrem os não-ditos e subentendidos de propaganda], os jornalistas acertam, no essencial geral, quando escrevem que:

Putin chegou ao poder prometendo eliminar, “como classe”, os oligarcas que haviam acumulado fortunas descomunais – e, para o modo de pensar do novo presidente, excessiva parcela de poder político – durante o governo do predecessor de Putin, Boris N. Yeltsin, no caos pós-comunista dos anos 1990s. Em vez disso, o que se viu foi o surgimento de uma nova classe de magnatas, homens de sombrias origens soviéticas que devem a Putin a vasta riqueza que acumularam e que, em troca, lhe garantem total fidelidade política.

Lamentavelmente, bancos sempre serão bancos. O Bank Rossiya (como disse Willie Sutton: “roubo bancos porque é lá que está o dinheiro”), é resultado do talento para o empreendedorismo, de gente como Yuri Kovalchuk, presidente e maior acionista, “físico por formação acadêmica, às vezes chamado “o Rupert Murdoch da Rússia”, pelo papel que teve na coordenação e arquitetura dos interesses do seu banco, na “mídia'’. Recorre também a “sombrias estruturas corporativas”, como empresas em paraísos fiscais, como as Ilhas Virgem britânicas. Quanto aos acionistas, foi gratificante ver na lista o nome de Sergei Roldugin, violoncelista que usou seu investimento no banco para converter um palácio do século XIX em São Petersburgo, em “casa da música e academia para formação de músicos clássicos” (o exemplo-propaganda vai aqui, grátis).

Não se discute o clientelismo – o NYT cita vários exemplos, além de enorme quantidade de oligarcas conhecidos associados ao banco. “Conexões de negócios”, escrevem os jornalistas do NYT, “tornaram-se conexões profundamente pessoais” [também com] “Putin, que, com sete empresários, muitos dos quais acionistas do Bank Rossiya, formaram [em 1996, o que os jornalistas não esclarecem], uma cooperativa de casas de verão, dachas, chamada Ozero [“lago”], no nordeste de São Petersburgo”.  

Dashas Ozero, S. Petersburgo (Google Earth)
(clique na imagem para aumentar)
Mas... e tudo isso será, como esbravejam os críticos, “cleptocracia legalizada”? A discussão seria longa e desinteressante e inconclusiva. Para reduzir ao que importa, basta dizer que o fator pessoal aparece bem separado das considerações de Estado, na cabeça de Putin.

Um daqueles oligarcas, Gennady Timchenko, que negocia petróleo e investe no Bank Rossiya (e que está hoje sob sanções impostas pelos EUA), explicou que:

(...) nunca lhe ocorreria questionar o presidente da Rússia sobre suas políticas na Ucrânia, fosse qual fosse o custo delas para empresas como as suas. “Seria impossível”, disse ele ao NYT, referindo-se ao presidente da Rússia formalmente pelo primeiro nome e nome do pai. Vladimir Vladimirovich age com vistas a defender os interesses da Rússia, sempre, em qualquer situação. Ponto. Parágrafo. Não faz concessões. Nem jamais passaria por nossa “cabeça discutir essas coisas”.

Essa fala é extremamente importante.

O capitalismo de estado não é necessariamente a interpenetração de empreendimentos, empresas, empresários e governo, que tantas vezes apresentei em artigos para CounterPunch em que examinava as dinâmicas estruturais que estão levando os EUA para a fase fascista do capitalismo avançado.

Ainda que Vladimir Vladimirovich não seja exatamente Tolstoy reencarnado, mesmo assim vê-se, em Putin, que o capitalismo na Rússia é mais russo, que nua-e-cruamente capitalista.

Os EUA sempre foram e permanecem puristamente capitalistas, impondo as mais repressivas políticas domésticas (vigilância massiva, clima de hostilidade contra os trabalhadores, o trabalhismo e o trabalho, vasta disparidade na distribuição da riqueza) e também as mais violentas políticas externas (guerra, intervenção, luta pela hegemonia) para tentar dar sustentabilidade ao capitalismo purista dos EUA. Essa é diferença muito grande entre Rússia e EUA, com os EUA declarando intolerável que a Rússia, talvez hoje ainda mais que sob a forma soviética, coloque outros fatores acima e por cima do capitalismo como os EUA o praticam: como sistema integralmente agressivo-expansivo, sem parar ante nenhum obstáculo em seu avanço global.

Foi fácil opor-se e condenar o socialismo. É menos fácil opor-se e condenar essa formação política nacionalista-capitalista que se vê hoje na Rússia de Putin, porque a simples existência dessa formação dentro do capitalismo já obriga a ver outras potencialidades, dentre as quais, que, mesmo no capitalismo, há meios para garantir melhor atenção e melhores condições de vida para os próprios cidadãos, do que o que se vê hoje nos EUA.


Oligarcas do círculo íntimo de Putin
(print screen recortado do NYTimes)

Na sequência, reproduzo meu “Comentário” ao artigo do NYT, mesma data:

Excelente documentação. Mas análise efetivamente e realmente comparativa mostra o quê? Que o capitalismo de empresários-cupinchas (oficialmente chamado “capitalismo clientelista”) está vivo e em ótimas condições tanto na Rússia como no Ocidente. Criticar o ocidente pelos mesmos mal-feitos soa estranho, porque os mesmos pressupostos valem igualmente para EUA e Rússia. Os EUA vivem hoje a fingir as mesmas puras convicções de algum anticomunismo, como na Primeira Guerra Fria (não há como negar que já estamos na Segunda), quando, na verdade os EUA invejam muito o sucesso capitalista da Rússia.

Os EUA atacam Putin como a raposa ataca uvas que não pode alcançar. O que foi o ‘resgate’ dos bancos norte-americanos “grandes demais para quebrar”, se não o capitalismo mais clientelista? O que é o íntimo relacionamento entre o Pentágono e as grandes empresas do complexo industrial da Defesa, se não o capitalismo mais clientelista? Não é preciso que algum líder, no caso Putin, ou exiba ou não exiba ele, pessoalmente, a doença. O capitalismo clientelista pode ser e é SISTÊMICO, nos EUA. E Obama mantém-se passivo e deixa aumentar a enorme clivagem, que só cresce, nos EUA, na distribuição da riqueza.

Putin pode dizer e comprovar que não enriqueceu no capitalismo clientelista de empresários-banqueiros-cupinchas e, na verdade, aceito sem dificuldade seu argumento de que suas políticas são motivadas por considerações geopolíticas e geoestratégicas, não por o que deseje um ou outro banqueiro ou oligarca.

Os EUA e Obama podem dizer o mesmo? Como poderiam, se não fazem outra coisa além de obrar servilmente a favor dos interesses de empresários e empresas norte-americanas por todo o planeta, armados até os dentes e matando sem parar, especialmente, hoje, no Oriente Médio?

O negócio das sanções chega a ser engraçado: folha de parreira que nem esconde o plano ambicioso dos EUA para conter, isolar e enfraquecer a Rússia – na sequência, como já disse, atacarão a China – com os EUA cada vez mais desesperados para recuperarem o trono na estrutura global.   

Com a ascensão de Rússia e China, os EUA que tratem de aprender a partilhar o poder. Será isso, ou o colapso.
__________________

[*] Norman Pollack é o autor de The Populist Response to Industrial America  (Harvard) e The Just Polity (Illinois), Guggenheim Fellow e professor emérito de História na Michigan State University. Seu último livro, Eichmann on the Potomac, foi publicado por CounterPunch/AK Press, no outono de 2013.

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