sábado, 21 de julho de 2012

Desvendada a farsa do escândalo do “mensalão”

PROCURADO

Retrato falado do autor intelectual do escândalo do "mensalão"


Especial da AAA (PressAA)

Em meio ao estardalhaço que a imprensa fazia sobre o escândalo do “mensalão”, em meados de 2005, Fernando Soares Campos escreveu crônica satírica intitulada “Os deuses de Absurdil”, publicada em 26 de junho daquele ano, no diário espanhol La Insígnia. Meses depois, em 3 de fevereiro de 2006, ele escreveu artigo publicado pelo mesmo periódico, tratando do escândalo que envolve políticos brasileiros de diversos partidos, com destaque para os tucanos: “O Dimasduto e os telejornais”.

Em ambos os textos, Fernando se esforça para elucidar o misterioso caso do “mensalão”, fazendo vir à luz as verdades que a mídia em geral escondeu.

Agora, o esforço “metafísico” do nosso autor ganha prova circunstancial, e sua tese começa a tomar forma no mundo real.

Recentemente, FHC e Alckmim foram obrigados a depor a favor de Roberto Jefferson.
Contra vontade própria, os dois caciques do PSDB foram depor na Justiça a favor do subserviente Jefferson, que, por sua vez, havia sido obrigado a delatar um suposto esquema de compra de votos no Congresso, por parte do governo Lula, o que ficou conhecido como escândalo do “mensalão”.


Roberto Jefferson, cassado, é corrupto mas não é trouxa, quer "limpar" o nome e voltar para a política eleitoral o mais breve possível. FHC está pagando o preço, foi obrigado a atender o próprio ex-subalterno.

04/06/2009 - 19h28

Mensalão: FHC e Alckmin depõem a favor de Roberto Jefferson


Rodolfo Torres


O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e o ex-governador de São Paulo, atual secretário de Desenvolvimento daquele estado, Geraldo Alckmin (PSDB), depuseram nesta quinta-feira (4) na Justiça Federal paulista.


Eles foram ouvidos como testemunhas de defesa do ex-deputado e atual presidente do PTB, Roberto Jefferson, no processo do mensalão (suposto pagamento mensal a parlamentares realizado pelo governo federal). O petebista é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no processo, que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF).


FHC e Alckmin foram ouvidos à portas fechadas pelo juiz Márcio Catapani e deixaram o prédio da Justiça sem falar com a imprensa.


Contudo, o advogado de Jefferson, Luiz Francisco Barbosa, explicou que os tucanos foram solicitados para “afastar a acusação no que diz respeito a suposto recebimento de dinheiro [por Jefferson] por causa da votação da reforma da Previdência”. A votação ocorreu em 2003 na Câmara.


Segundo o advogado, FHC e Alckmin confirmaram que Roberto Jefferson sempre atuou no Parlamento para realizar mudanças na previdência.


Para entender toda a trama, o leitor precisa acessar três matérias e ler atentamente:


Os deuses de Absurdil
http://www.lainsignia.org/2005/junio/cul_033.htm

O Dimasduto e os telejornais
http://www.lainsignia.org/2006/febrero/ibe_012.htm

e

Golpe de Estado em Andamento no Brasil: Revelações Estarrecedoras

Por Chico Nader, Morgana White e Alberto Salvador, com colaboradores.
JIBRA – Jornalistas Independentes do Brasil - LONDON UK

http://lists.indymedia.org/pipermail/cmi-ssa/2005-June/0607-s5.html

Se tiver paciência de ler tudo isso, pelo menos não mais se iludirá com o GOLPE DO MENSALÃO.
Nota da AAA - Agência Assaz Atroz (PressAA):
A oposição transformou um caso de Caixa-2, cujo esquema foi "testado e aprovado" no governo de Eduardo Azeredo (PMDB-MG), em "mensalão", suposto pagamento que o governo Lula estaria efetuando a parlamentares para votarem a favor de projetos oriundos do Palácio do Planalto.
PressAA

Atentado contra a Educação praticado pelo governo do tucano Alckmin

Milhões de livros comprados pela FDE (Fundação para o Desenvolvimento da Educação), da Secretaria de Educação do Estado de SP, impressos além da cota necessária, em vez de serem doados para estudantes e instituições públicas, são destruídos e vão para o lixo reciclado. Cláusula no contrato mercenário com gráficas impõe essa condição.


Ortiz teve chilique quando a TV o procurou para falar da FDE



O golpe é velho, mas funciona. O presidente da FDE, Bernardo Ortiz, teve chilique quando uma emissora de TV o procurou para falar sobre o pregão das mochilas da FDE.
Ortiz usou a desculpa que estava passando mal para suspender a entrevista com o canal de televisão sem remarcá-la.
A televisão em questão era a Rede Record.
O mesmo expediente foi usado por Ortiz quando era prefeito de Taubaté.
Para escapar da ordem de prisão emitida por um juiz da cidade, Ortiz passou mal quando viu o oficial de justiça na sua frente e foi se internar no antigo Hospital Santa Isabel.
Era a primeira vez que a Justiça mandava prender um prefeito taubateano no exercício do mandato.
A honra de ser o primeiro engaiolado ficou por conta do canastrão Roberto Peixoto.

Uso de bens públicos para beneficiar campanha do filho



Aquele ar de probidade exibida por Ortiz há mais de trinta anos nesta urbe nada mais é do que a máscara que esconde a verdadeira face do caudilho.
Bernardo Ortiz usa a FDE para tentar facilitar a caminhada do filho rumo ao Palácio do Bom Conselho.
Algumas pistas foram dadas na edição desta quinta-feira (19/07) do Diário de São Paulo.
O descaso com o dinheiro público praticado por Bernardo Ortiz é de fazer corar o prefeito canastrão.
Aqui, uma sequencia de fotos do desperdício do dinheiro público.
Milhões de livros escolares em depósito alugado pela FDE, depois vendidos para reciclagem a preço de banana
Caminhão da transportadora sendo carregado com milhões de livros comprados e desperdiçados pela FDE
Caminhão na Rodovia dos Bandeirantes, escoltado por viatura da FDE, levando livros para a recicladora de papéis
Empresa recebe livros comprados à FDE. Em seguida a esteira os transporta para serem picados e reciclados

Bernardo Ortiz usa bens da FDE para aparelhar entidades taubateanas que possam servir de trampolim para seu filho Junior cair sentado na cadeira de prefeito desta urbe.
Um desrespeito com outras entidades de Taubaté e do Estado de São Paulo e, pior, um grande desrespeito ao dinheiro do contribuinte paulista.
A desastrada atuação de Ortiz à frente da FDE preocupa a primeira-dama de São Paulo, Maria Lúcia Alckmin.
Em ofício ao secretário da Educação, Herman Jacobus Cornellis Voorwald, Lú Alckmin lembra que os bens inservíveis devem ser destinados ao Fundo Social de Solidariedade.
Elegante, a primeira-dama do Estado solicita que o decreto 27.163, de 10 de julho de 1987, seja cumprido pela Pasta da Educação e por seus órgãos vinculados.
No caso, leia-se Fundação para o Desenvolvimento da Educação, órgão vinculado à Secretaria da Educação.
O velho Bernardo ainda se julga acima das leis.
Usa e abusa da FDE. Beneficia entidades de Taubaté sem consultar ninguém.
Faz cortesia com chapéu alheio, com dinheiro do contribuinte paulista para beneficiar a candidatura de seus filho à Prefeitura de Taubaté.
Abaixo, o ofício de Lú Alckmin e o termo de permissão de uso de bens móveis da FDE para a Paróquia Nossa Senhora da Conceição, de Quiririm.
As igrejas evangélicas não merecem tratamento semelhante?

No Irani Lima 
Sintonia Fina via   Com Texto Livre          

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Aloprados e aloprados

“Durante as investigações da Operação Monte Carlo, a Polícia Federal apreendeu um material que pode ser a pista para a compreensão de uma dos mais estranhos episódios da história política recente. Trata-se de gravações de uma conversa entre o ex-sargento da Aeronáutica Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, e o jornalista Mino Pedrosa, ex-repórter da Isto É e hoje autor do site QuidNovi, sobre o chamado “escândalo dos aloprados”, como ficou conhecida a suposta tentativa de compra de um dossiê contra o então candidato a governador de São Paulo José Serra (PSDB) em 2006.

O dinheiro apreendido pela PF para comprar o dossiê anti-tucano
Curiosamente, o material foi apreendido na casa de Adriano Aprígio de Souza, ex-cunhado do bicheiro Carlinhos Cachoeira. Souza foi preso em julho pela PF, na esteira das investigações sobre o grupo. Ao analisar o material, a PF encontrou o grampo de uma conversa ocorrida em 2006 entre Dadá e Mino Pedrosa no qual o jornalista dizia ter informações sobre como o dossiê foi negociado. Dadá é apontado pela PF como araponga do grupo de Cachoeira.

O escândalo, que tumultuou as eleições daquele ano, eclodiu após um assessor da campanha de Aloizio Mercadante, candidato do PT ao governo paulista, ser pego ao entrar num hotel em São Paulo para supostamente comprar informações contra o adversário tucano. O material conteria documentos que ligariam o ex-ministro da Saúde à chamada máfia dos sanguessugas, como ficou conhecido o grupo investigado por desviar recursos da saúde.

Na conversa, possivelmente gravada por Dadá, Mino Pedrosa e o araponga conversam sobre as origens do escândalo dos aloprados. O jornalista revela que o dossiê havia sido confeccionado por Luiz Antonio Trevisan Vedoin, pivô dos sanguessugas, e oferecido aos petistas. No entanto, quando a negociação avançou, o mesmo Vedoin entrou em contato com um emissário da campanha José Serra – que teria acionado a Polícia Federal. O plano de Vedoin era criar um fato político contra o PT durante a eleição.

Diálogo gravado por araponga e apreendido pela PF

Em seguida, Mino Pedrosa diz ter em mãos informações que poderiam ser a “bala de prata” para “matar o Barbudo”, numa clara referência ao então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, postulante à reeleição. O jornalista afirma ter informações de que a proximidade de Lula com seu ex-assessor pessoal Freud Godoy, suspeito de participação na compra do dossiê, poderia mudar os rumos da eleição de 2006.

Para comprovar as suspeitas, Pedrosa pede a Dadá que obtenha clandestinamente os documentos junto ao Coaf e à Receita Federal sobre movimentações financeiras de Lula para confirmar as suspeitas.

O episódio mostra como o grupo de Cachoeira agia para alimentar informações para tumultuar o ambiente político – e que nem mesmo o presidente estava imune a ação dos arapongas. Leia estas e outras revelções na edição desta semana de CartaCapital, nas bancas a partir desta sexta-feira 20.”

O novo "líder" da oposição quer adiar o julgamento do 'mensalão?'


Com o barulho das sirenes dos carros da polícia ficando mais forte às proximidades do covil dos larápios tucanos, dando a entender que Serra e Perillo estão mais perto da cadeia e prestes a ficar à margem da política, a oposição agarra-se a Roberto Jefferson como tábua de salvação, delegando-o o papel de principal protagonista de uma farsa a ser encenada no tribunal, evidentemente com grande repercussão no PIG, cujo enredo novelesco traz a "revelação sensacional" de que não mais Zé Dirceu foi o operador do tal 'mensalão', mas, Lula.
Claro que esse ardil do petebista, em usar algo alheio ao processo e vindo à tona somente sete anos após o surgimento do caso, visa mais repercussão política, por exemplo, tentar neutralizar a influência de Lula nas campanhas petistas e de aliados, principalmente na cidade de São Paulo, do que jurídica, pois Jefferson reiteradas vezes disse publicamente que Lula nada tinha a ver com o episódio, que não houve 'mensalão, enfim,tudo o que diz agora, inclusive o encontro com Arlindo Chinaglia, é o desdizer do que até então havia declarado.
Tal situação, para os tucanos, é o prato que faltava no cardápio do diversionismo à medida que vai ficando mais claro que o grande escândalo das páginas piguentas(vide post anterior) não foi confirmado pelos fatos, então, produz-se outros escândalos retóricos para mitigar o desgaste anunciado. E, para Jefferson, pode significar a improvável possibilidade de adiamento de seu julgamento, sob a alegação do surgimento de algo novo, repita-se, alheio ao que está sendo julgado, porém, não menos importante, na avaliação de sua defesa.
Assim, teríamos a possibilidade do adiamento da sentença e a consequente manutenção do desgaste petista, via PIG, até o final dessas eleições com resultados altamente favoráveis à oposição, fortalecendo-a para 2014. é bizarro, é grotesco. Mas, bastante coerente para quem já teve Demóstenes Torres como paladino de sua moralidade, Carlos Cachoeira como seu empresário padrão, além de Serra e Perillo como modelos de administradores da coisa pública. Credo!
http://nailharga.blogspot.com.br/2012/07/o-novo-lider-da-oposicao-quer-adiar-o.html

Quem são os donos dessas águas?


Ficou fácil lembrar de Mario Farias, agora que estamos às véseperas do Dia Internacional da Luta pela Água como Direito Humano.

Em 21 de junho passado, no Pavilhão Azul da Cúpula dos Povos, um dos cenários alternativos da Rio+20, teria sido oportuno encaixar o que ele me dissera 10 dias antes, enquanto preparava numa calçada ao lado do Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro, a construção de uma cisterna:

"Viemos aqui para divulgar uma teoria social voltada para a captação da água da chuva, especialmente na região do semiárido do nordeste brasileiro e norte de Minas".

Dizia isso com um entusiasmo contagiante, ao mesmo tempo em que estendia um dos braços na direção de Niteroi, como se Afogados de Ingazeira fosse lá e a vastidão do semiárido começasse do outro lado da baía de Guanabara.

Estávamos no Aterro do Flamengo, mais precisamente numa lateral daquele museu. Esse cearense que dedica seu tempo a uma organização chamada Articulação do Semi-Árido brasileiro (ASA), presente em toda a região, logo começou a me contar sobre o programa "Um Milhão de Cisternas" (P1MC), até 2014, uma das ações do governo federal, como parte do Programa de Formação e Mobilização Social para a Convivência com o Semi-Árido. "No fundo, no fundo", disse-me, "tudo não passa de uma proposta de educação". E prosseguiu: "Ela vem desencadeando um vasto movimento de articulação e de convivência sustentável, das famílias com o ecossistema do semiárido. O envolvimento delas é o ponto chave porque quanto maior o número, quanto mais mobilizadas estiverem, mais fortalecida fica a sociedade civil..., se capacita, pra encarar o cotidiano, às vezes duro, da nossa região."
Mario Farias não disse, mas implícito nessa fala, talvez seja legítimo imaginarmos que entre essas famílias, um processo de tomada de decisão mais democrático esteja sendo estabelecido e inserido nas comunidades beneficiadas. E se a relação é de quatro pessoas para cada cisterna esse universo deve contemplar cerca de 4 milhões de habitantes. "Já chegamos a 400 mil, ou seja, 1,6 milhão já estão beneficiados por esse Programa", concluiu animado.

Vamos nós agora, divagar. Se supormos que esse processo faça parte e represente muito mais do que a luta pela sobrevivência, o início do entendimento de que mudanças mais profundas precisam acontecer no nosso sistema sócio-político-econômico, nada impede que possamos inclui-lo em um rol de utopias que apontam de fato para o futuro que queremos. "O FUTURO QUE QUEREMOS". Era isso que dizia um dos mais difundidos cartazes oficiais da Rio+20. Mas qual o mundo futuro com que sonhamos para o semiárido? Quem são os donos dessas águas que captamos e que nos garantem sobreviver? Qual a terra futura que aguarda as gerações dos que viverão aqui? Esse sistema que aí está e rege nossas vidas, por vezes miserável, é o melhor da democracia que imaginamos? Ou nos preparamos, desde já, para alterações reais que imprimam um novo significado para o ato de viver numa região tão carente como essa?

A tragédia que acontece na maioria dos governos modernos, disse a professora emérita da Universidade de Toronto, Ursula Franklin, é que eles abraçaram a globalização econômica, que nega o ponto de vista da comunidade ou do meio ambiente a favor do ponto de vista exclusivo para o lucro. Para os governos e corporações, o lucro é grande e está em primeiro plano, e o cuidado com as pessoas, a natureza e os princípios democráticos desaparecem. Se a água do mundo será salva para as gerações futuras, milhões de cidadãos do planeta terão de assumir uma posição baseada num conjunto de princípios e considerações éticas diretamente opostos ao ponto de vista predominante da economia global [1].
Daí porquê, quando o “Fórum Social Temático", preparatório para a Cúpula dos Povos da Rio+20, ocorrido em Porto Alegre em janeiro deste ano aglutinou mais de duas dezenas de Grupos Temáticos em torno do assunto “Crise Capitalista e Justiça Social e Ambiental” e pode "acolher a multiplicidade de experiências e contribuições dos diversos sujeitos que lutam por outro modelo de sociedade, alicerçado na justiça sociale ambiental", e, na sequência de eventos, não só dialogaram com milhares de ativistas, mas - ao final da Rio+20 -, produziu um texto intitulado OUTRO FUTURO É POSSÍVEL, revelou-nos então "uma fotografia do momento presente, ainda inicial, de um processo largo de reflexão, formulação e organização de tod@s que lutam pela construção de um novo paradigma de organização social, econômica e política, a partir das experiências reais e de nossos sonhos de outro mundo possível", ele se apresentou tão convincente e absolutamente tão contraposto ao documento sugerido pelos negociadores oficiais da ONU na Rio+20, “O Futuro que Queremos”, que não nos restaram alternativas a não ser apoiá-lo, levando-nos assim a discordar integralmente do oficial, desde os seus fundamentos até as suas conclusões e recomendações.
Estão aí os Programas da Articulação do Semi-Árido brasileiro, essas e outras anotações do Fórum Social Temático e as formulações de outras tantas propostas surgidas ao sabor das discussões que frutificaram no Aterro do Flamengo apontando para uma cartilha de sobrevivência e de desenvolvimento que passa ao largo dos interesses de organismos como a ONU e a OMC (Organização Mundial do Comércio), e da "economia verde" das megacorporações que, com a globalização, almejam substituir os Estados na condução da humanidade.

Talvez, quem sabe, por não estar explícito naquele documento oficial, como deveria, que este início de século já parece definitivamente marcado como o alvorecer de uma consciência mais aguda sobre a trajetória danosa que o homem vem percorrendo, desde o instante em que imaginou que a natureza está aí, não para se harmonizar com ele, mas apenas como uma mercadoria a mais, posta a seu dispor para ser explorada da forma como ele bem entender, e para ser comercializada da maneira a mais lucrativa que suas ambições possam alcançar.

Ainda mais e provavelmente, por não constar dele proposta alguma no âmbito da cosmologia das águas que contemple experiências sustentáveis como as que inúmeras outras comunidades mundo afora, na Índia, Bolívia, Canadá, França, etc. desenvolveram e vêm levando adiante tendo sempre em mente e exaltando a "cultura da água-vida que enfatize seus valores éticos, seus aspectos culturais, sagrados, simbólicos e a cosmovisão dos povos tradicionais e originários", como preconizam os que defendem a água como um direito essencial, como me assegurou Mario Farias, e não uma mercadoria.

Naquele 21 de junho, véspera do Final da Cúpula, numa reunião da Rede RAMPEDRE (Relatório Mundial Online para o Direito a Água), na Tenda da Água, coordenada pelo professor Ricardo Petrella, economista e fundador do Comitê Internacional pelo Contrato Mundial da Água, foi subscrito que o dia 28 de julho, data em que se comemora a aprovação da Resolução da ONU que determina como Direito Humano a Água e o Saneamento, seria lembrado também como o "Dia Internacional da Luta pela Água como Direito Humano". Na véspera, numa conversa com jornalistas, Ricardo Petrella explicou o porque dessa luta. "Os países industrializadas, principalmente os da União Européia e os EUA, querem derrubar essa resolução, que contraria os interesses das grandes corporações[2].

 
Podemos até nos regozijar pelo fato de o "direito à água" ter constado da Declaração Final da Rio+20, reflexo de uma crescente oposição, não apenas às instituições de globalização corporativa (como a OMC, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, a "Trindade Profana", no dizer de ativistas sócio-ambientais indianos), mas também aos governos que tentam conciliar o inconciliável através de Agências internacionais - das Águas ou do Meio-Ambiente que almejam criar -, os interesses de grandes grupos econômicos (onde prevalece o lucro antes da vida) com uma necessidade básica de servir ao bem comum como é expressa e transparece dos planos da Articulação do Semi-Árido, nas palavras de Mario Farias. E aqui queremos reiterar nossa preocupação com as conhecidas gigantes da água, como as francesas Suez e Vivendi, a norte-americana Bechtel, a alemã RWE, etc. Entretanto, não podemos deixar de alertar que outras celebridades transnacionais, cujos produtos tradicionais pouco ou nada têm a ver com a gestão de recursos hídricos, como Nestlé, Coca-Cola, Nike, Shell, PepsiCo, etc. há alguns anos começaram a dirigir olhares de cobiça, cada vez mais intensos, às fontes de água doce do mundo. Não é nada desprezível a influência financeira dessas corporações no sentido de forçar os governos a privatizar os serviços de água. Não foi à toa que quase todas enviaram seus representantes à Conferência, participando ativamente de plenárias e encontros, nem que fosse para apenas avaliar em que grau se encontra a resistência dos povos à privatização desse bem e a vontade deles em manter sob seus controles tais suprimentos.

Quando em outubro de 2011 entrevistei o professor Milton Matta, em Belém do Pará, ele me falou de um longo caminho que as cidades ainda terão que percorrer até chegarem a conclusão que o atual modelo de identificação de fontes de água na superfície, cuidados para evitar contaminações dos mananciais, os processos técnicos e operacionais necessários para a captação, tratamento e finalmente, a distribuição através de uma enorme rede de dutos, associados aos indispensáveis serviços de manutenção, de redução do desperdício, de administração e de cobrança é um padrão completamente superado [3]. Matta é um dos estudiosos do sistema de águas de toda a bacia amazônica. Foi ele e sua equipe de pesquisadores das Universidades do Pará e do Ceará que, em maio de 2010, anunciou sua descoberta à comunidade científica, do que seria o maior aquífero do Brasil - quiçá do mundo, em volume de água, o dobro do Guarani -, o Alter-do-Chão com seus estimados 90 mil quilômetros cúbicos de água submersas que se estendem desde a faixa oriental do estado do Amazonas, nas cercanias de Manaus, prolongando-se sob quase todo o estado do Pará e alcançando parte do Amapá.

Foi dele, de quem ouvi pela primeira vez, a ideia de substituir parte da complexa rede de distribuição de água dos grandes centros urbanos por unidades menores que captassem águas subterrâneas e de chuva, uma captação bem mais simples e onde a pureza é comprovadamente mais alta, pois estão mais bem protegidas de agentes contaminantes, apresentam melhor qualidade físico-química e bacteriológica, sofrem menos evaporação, o tratamento é menos oneroso e a rede de distribuição infinitamente menos complexa, mais fáceis de construir e de manter, portanto mais econômica, pois cada poço ou cisternas serviriam para abastecer apenas algumas poucas unidades consumidoras.
 ainda mais: não é sem profunda inquietude que sabemos da presença constante de grandes embarcações petroleiras, que ao esvaziarem seus tanques lastreados com águas trazidas de outras regiões - contaminadas inclusive com um tipo de caramujo que na foz do Amazonas não encontra predador natural -, os reabastecem com a água amazônica doce e quase potável, oriunda dos Andes e das dezenas dos afluentes, desde o Marañon e o Solimões até o Amazonas. "Não basta a pirataria dos espécimes dos rios, da nossa biodiversidade e dos lugarejos ribeirinhos, estamos diante também do surrupio descarado das nossas águas que são estudadas na Europa, para em seguida serem vendidas, a peso de ouro, no Oriente Médio e no norte da África, onde um barril de água potável já vale mais do que um de petróleo", denunciou o mesmo professor Matta[4].

A luta enfim, tanto no nordeste quanto no norte, pode apresentar-se de formas diferentes e nada impede que na solidão daquelas paragens semiáridas ou úmidas do Brasil as pessoas assumam o controle desses processos todos. Mais adiante, o que se poderia pensar de um conjunto de "unidades de água", de captação de água da chuva ou até mesmo de parcelas da população organizadas dentro de uma área mais extensa de captação, que se torne capaz de prover, através de um sistema próprio de distribuição, o acesso à água por parte da população? Não chega a ser novidade. Já foi colocado em prática por outras comunidades em distritos remotos da África do Sul, castigados por secas periódicas, mais ou menos nos moldes do que ocorre em nosso semiárido. Aliás, a África do Sul é um dos raros países do mundo onde o direito humano à água é considerado básico e como tal gravado em sua Constituição.

Transplantada para o semiárido, aquela ideia do professor Matta, seria parte de um mundo que se quer sustentável.

Um sistema desses, que compreenderia aquelas pequenas "unidades de água" voltadas para a captação e armazenamento da água que provem da chuva, servida tanto para beber e cozinhar quanto para a higiene e lazer e a ele se agregariam as águas subeterrâneas. No campo e na periferia dos centros urbanos, além disso, e através da irrigação, útil ainda para a produção de hortaliças, temperos e frutas, atividades típicas de uma agricultura familiar integrada a um sistema de distribuição peculiar onde o fato das casas e lavouras - ao contrário das cidades - serem muito distantes uma das outras e em topografias diversas, exigiria quase que um "desenho" específico para cada comunidade.

Isso é tudo que as grandes corporações não desejam.

Essa autonomia que caracterizaria essas "comunidades de água", exercendo a gerência de seus recursos hídricos, contraria todos os planos corporativos que visam transformar a água tornada escassa e cara, e sua distribuição numa mercadoria a mais, no universo de "commodities" e num serviço destinado apenas aos que pudessem pagar, ambos calcados nesse conceito mercantilista que agora nos chega nessa Rio+20, com soluções de mercado apelidadas de "economia verde".

Bate de frente com os esforços dessas megaempresas de se apossar daquilo que muitos estudiosos já consideram como a próxima e mais promissora riqueza de qualquer região, seus recursos hídricos, sejam eles de que origem for, de superfície, subterrânea, das montanhas geladas ou das calotas polares.

Em momento algum levam em conta a adoção de políticas públicas locais e regionais, como as da ASA do semiárido brasileiro, lastreadas por outras tantas, ainda que concebidas e acordadas no âmbito das nações, mas que tenham em comum a garantia do "direito universal à água e ao saneamento através da preservação do recurso na origem, da racionalidade no seu uso e da equidade social em sua distribuição."
O impulso mundial da luta pelo fim da aquisição corporativa dos suprimentos de água do mundo que almejamos, aos poucos se torna ainda mais robusto e universal na medida em que juntam-se às forças dos demais grupos ambientais, das mulheres contra as discriminações de gênero, dos movimentos que representam aqueles que por sua condição social, cor da pele ou realidade sexual são excluídos, por todos enfim, que não rezam por uma cartilha de subjugação capitalista e discriminatória.

Notas:
[1] Maude Barlow e Tony Clarke - Ouro Azul, M. Brooks do Brasil Editora Ltda - São Paulo - 2003 - pags. 245-246

[2] Em janeiro de 2009, Ricardo Petrella, já dera, ao site esquerda.net, uma entrevista em Lisboa, abordando esse mesmo tema. Ver em: http://www.youtube.com/watch?v=F-jUtqpu2AU&feature=player_embedded

[3] Um mundo de águas, minérios e nomes que parecem poemas - parte 6/6 - UM JOGO EM QUE NEM TODOS TRAPACEIAM - Antonio Fernando Araujo. Ver em:http://brasileducom.blogspot.com.br/2011/12/um-mundo-de-aguas-minerios-e-nomes-que_03.html

[4] Um mundo de águas, minérios e nomes que parecem poemas - parte 4/6 - DO ENCONTRO DAS ÁGUAS AMAZÔNICAS COM O MUNDO GLOBALIZADO - Antonio Fernando Araujo. Ver em: http://brasileducom.blogspot.com.br/2011/12/um-mundo-de-aguas-minerios-e-nomes-que_03.html

quinta-feira, 19 de julho de 2012

O PROGRESSO NO COMBATE À POBREZA


Aumento do salário e programas de distribuição de renda fazem pobreza cair 36% no Brasil, diz OIT
Estudo divulgado nesta quinta-feira (19) pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) com diversos indicadores socioeconômicos compilados mostra que, entre 2003 e 2009, a pobreza no Brasil caiu 36,5%, o que significa que 27,9 milhões de pessoas saíram da condição nesse período. Segundo a OIT, são consideradas pobres aquelas pessoas cuja renda fica abaixo de meio salário mínimo mensal per capita.

“A redução da pobreza entre os trabalhadores e trabalhadoras esteve diretamente associada ao aumento real dos rendimentos do trabalho, sobretudo do salário mínimo, à ampliação da cobertura dos programas de transferência de renda e de previdência e assistência social – que contribuíram para o aumento do rendimento domiciliar – e também pelo incremento da ocupação, principalmente do emprego formal”, diz o documento da OIT.

A OIT dedica especial atenção ao programa Bolsa Família, do governo federal. Segundo o organismo internacional, entre 2004 e 2011, a cobertura do Bolsa Família dobrou: passou de 6,5 milhões de famílias beneficiadas para 13,3 milhões, com o investimento de R$ 16,7 bilhões em recursos só em 2011.

De acordo com a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), o Bolsa Família é o maior programa de transferência de renda condicionada da América Latina em número de beneficiários – cerca de 52 milhões de pessoas, o correspondente a quase a metade das 113 milhões de pessoas beneficiadas na região.

Extrema pobreza
Apesar da redução geral da pobreza, o Brasil ainda tem 8,5% de sua população vivendo em condições de extrema pobreza – ou seja, com renda mensal per capita entre R$ 1 e R$ 70. O total de brasileiros nessa condição é de 16,27 milhões de pessoas, segundo estimativa elaborada pelo IBGE com base nos resultados preliminares do Censo 2010.

O documento mostra ainda que o Nordeste tem 9,61 milhões de pessoas extremamente pobres, ou seja, 59,1% do total nacional.

A incidência da extrema pobreza na região era de 18,1%, mais do que o dobro daquela correspondente ao conjunto do país (8,5%). A segunda região com maior incidência de extrema pobreza é a região Norte (16,8%). Por outro lado, a incidência da extrema pobreza era menor nas regiões Sul (2,6% da população), Sudeste (3,4%) e Centro-Oeste (4%). (Fonte: aqui).